Se cada Escolha possui uma Consequência, então por que escolhemos tão mal?
- N3ssa UN4RTificial
- há 8 horas
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Escolhas, lindas armadilhas com a forma de liberdade. Dizem que somos livres para decidir nosso caminho - mas esqueceram de mencionar que somos igualmente livres para cavar nossa própria cova. Pois, mesmo sabendo que nossas escolhas carregam consequências - e não estamos falando de pequenas pedrinhas no lago, mas de verdadeiras tsunamis emocionais - a maioria de nós parece completamente inapta quando o assunto é… bem, escolher.
Será que somos burros? Preguiçosos? Ambos? Ou apenas vítimas de um sistema onde escolher mal é mais conveniente, mas aceito, até mesmo mais lucrativo?
Este singelo artigo é um pequeno mergulho sarcástico, filosófico e um tanto ácido nas profundezas dessa pergunta cruelmente relevante: por que, afinal, escolhemos tão mal?
O Paradoxo da Escolha na Era da Abundância
Estamos vivendo na era do “tudo é possível”. Prateleiras infinitas de produtos, caminhos, estilos de vida, cursos, aplicativos de relacionamento, carreiras, dietas, espiritualidades e religiões, tudo pronto para o consumo rápido. Mas, ao contrário do que o status quo sugere, mais opções não significam, necessariamente, melhores escolhas. Significa, muitas vezes, paralisia.

Sartre, do alto de sua visão aguçada, gritou: “Somos condenados à ser livres.” Simone de Beauvoir completou esse grito com: ”… a liberdade sem responsabilidade é ilusão…”. E o que nós fazemos com essa liberdade? Nós compramos cigarros, aceitamos empregos tóxicos por medo de mudar, casamos por conveniência e/ou carência, comemos pizza às 3 horas da manhã e depois culpamos o nosso metabolismo.
A ironia disso tudo é que a liberdade nos paralisa e quanto mais opções temos, pior a decisão. Sim, e isso não é papo de mesa de bar. O psicólogo Barry Schwartz mostra que o “paradoxo da escolha” é real. Em sua obra, ele demonstra com dados que o excesso de opções gera ansiedade, indecisão e arrependimento. Portanto, muitas opções não nos libertam e sim, nos sufocam. E o nosso cérebro, querido, é um conservador preguiçoso que ama atalhos mentais. O resultado? Escolhas rápidas, burras e viciadas nos vícios/hábitos de sempre.
A lógica é, na real, bem simples: quando tudo é possível, nada é satisfatório. E essa insatisfação constante nos empurra para decisões apressadas, baseadas em impulsos e que são sempre mais fáceis de justificar depois com um “ah, pelo menos eu tentei” do que enfrentar a frustração de escolher com consciência.
Outro ponto interessante aqui é que nós adoramos confundir o ter opções com ser livre. Liberdade não é - e nem nunca foi - quantidade de escolha, mas sim qualidade na tomada de decisões. A liberdade real exige responsabilidade. E cá entre nós, responsabilidade não está na lista de desejos da grande maioria da galera.
Escolhas Ruins: Seriam elas uma Herança Genética ou apenas Burrice Contemporânea?
Retrocedendo um pouco na nossa linha do tempo, digamos que o Homo Sapiens evoluiu para sobreviver e não para ser feliz. Nosso cérebro ainda opera com sistemas de recompensa desenvolvidos na Idade da Pedra. Isso explica por que escolhemos prazer imediato em vez de bem-estar a longo prazo. É a clássica troca da paz interior por 5 minutos de dopamina.
É inegável que nós estamos cercados por estímulos manipuladores. Publicidade, algoritmos, gurus de rede social - todos prontos para decidir por nós. Resultado? Decisões impensadas, inconscientes e automatizadas. Em uma época em que a informação é infinita, somos analfabetos emocionais, reféns das próprias vontades mal compreendidas.
Um Debate Antigo, mas Sempre Atual
Mas essa história toda não é novidade nenhuma. O bom e velho Sócrates já dizia que o problema não é o não saber, é o achar que sabe. Estamos em meio à epidemia do “pseudo-conhecimento”. Todo mundo tem opinião sobre tudo e muitos, especialmente sobre o que não entendem. Quando alguém acha que sabe o suficiente para decidir, na real, não sabe porcaria nenhuma, aí o desastre está garantido.
Sócrates dizia que a chave está no “Conhece-te a ti mesmo”, coisa que, eu tenho a impressão, pouca gente está interessada e disposta a fazer. Compreensível, afinal, autoconhecimento dá trabalho, precisa de tempo e energia, machuca o ego, e todo mundo sabe que o ego ama escolhas fáceis.
Nietzsche chutou o nosso rim com a ideia de que viver é afirmar-se no caos. Chega até a ser engraçado, a maioria de nós prefere a zona de conforto, onde as decisões são terceirizadas por líderes, empresas, algoritmos, gurus, tarólogas, aos pais, cônjuges, amigos(as) e por aí vai. Escolher com autonomia é também aceitar o peso da consequência e, para isso, exige-se coragem - uma virtude em extinção, infelizmente.
Simone de Beauvoir, por sua vez, não deixou barato e nos lembra que somos livres, sim, mas também responsáveis por aquilo que escolhemos ser. E como ninguém curte admitir que é autor da própria novela ruim, então preferimos culpar o horóscopo, o movimento dos planetas, a infância, nossos pais, o diabo etc. A responsabilidade nunca foi glamourizada, mas é ela que define se nós vamos continuar fazendo escolhas ruins ou vamos começar a decidir com um pouco mais de consciência.
A Repetição de Padrão e a Maldição da Procrastinação
Ah, mas errar é humano. Sim, é. Mas repetir o erro é burrice - e transformar em hábito é quase uma obra de arte moderna. As más escolhas não acontecem isoladamente, jamais. Elas vêm sempre em pacote, estilo promoção de supermercado: “Leve uma má decisão agora e ganhe de brinde três arrependimentos futuros!”

Agora, se tem algo que mina as boas decisões é a famosa “na segunda eu começo”. Postergar a escolha é, muitas vezes, escolher pelo abandono. Quem empurra tudo com a barriga, uma hora tropeça nela. A procrastinação nos dá a falsa sensação de controle - “eu escolho quando escolher” - mas, na prática, só adiamos o inevitável. Pessoas que procrastinam vivem na esperança de uma inspiração divina de última hora.
Autoengano e a Preguiça de Pensar
É superconfortável enganar a nós mesmos. Quando tomamos uma decisão equivocada, nosso cérebro entra em modo de defesa e começa a criar justificativas plausíveis para o que, no fundo, sabemos que foi uma cagada.
A psicologia chama isso de dissonância cognitiva, o velho incômodo mental causado por pensar uma coisa e fazer outra. Ao invés de encararmos o erro de frente, preferimos reescrever a história - “não foi tão ruim assim…”, “melhor isso do que nada…”, “nunca mais vou fazer isso de novo…”.
E assim seguimos, jogando justificativas em cima de escolhas duvidosas, como quem constrói um castelo em cima de um pântano. Nessa hora, a pergunta que fica é: Tudo isso pode ser medo de errar ou preguiça de pensar?
Ah, perguntinha cruel. Muitas más decisões são tomadas não por ignorância, mas por pura preguiça de refletir. Pensar dá trabalho, exige energia, até dói em alguns casos. Portanto, não é de se admirar que a maioria prefira delegar essa tarefa a outros.
O medo de errar paralisa sim, mas a preguiça anestesia. E, em meio a esse limbo existencial, as escolhas vão sendo feitas por tudo e por todos, menos pelo sujeito que de fato deveria fazê-las. Muitas vezes achamos que estamos no comando, mas estamos apenas apertando “aceitar todos os cookies” da vida sem lermos os termos.
A Terceirização do Pensar
Cara, nada contra quem busca conselhos, eu mesma já fiz isso, mas hoje temos uma verdadeira indústria vendendo receitas prontas para a vida. É óbvio que a massa amorfa não tem mais a necessidade de buscar, estudar e aplicar por si mesma. É coach para tudo que é coisa, desde finanças até propósito existencial. E o mais interessante é que multidões seguem as fórmulas destes “especialistas” como se fossem manuais sagrados, sem refletir, sem questionar. Como se aquilo que ensinam realmente fizesse sentido para todos, e se algo dá errado, a culpa é do cliente que não fez direito - óbvio.
Estamos na era da terceirização do pensar. “Fulano disse que esse é o melhor caminho para mim, então eu vou por aqui.” E se der merda? A culpa é do fulano que falou. Conveniente, né? Tem gente seguindo conselho de vídeo de dancinha de 15 segundos e ainda se pergunta por que escolheu mal.
Práticas para Evitar (ou ao menos tentar) Fazer Escolhas Ruins
Tá beleza, a vida é um caos, a sociedade está perdida, as redes sociais nos manipulam, a mídia só mente e o nosso cérebro adora nos sabotar. Como a culpa sempre é dos outros, é melhor a gente manter a calma, pois nem tudo está perdido.
As pessoas não dão valor para o que se dá de graça (se quiser nos pagar um café, clique aqui), mas mesmo assim vou colocar algumas sugestões de práticas. Quer fazer, faça, se não quiser, não faça, a responsabilidade é tua.

Medite - não é papo de hippie, é ferramenta de autoconsciência e autocontrole.
Respire antes de decidir qualquer coisa - o impulso é inimigo da clareza.
Questione suas intenções - para que você está escolhendo isso? Vai te aproximar do teu objetivo?
Escreva - coloque no papel suas opções, leia-as em voz alta. Como elas soam? Às vezes, só assim para perceber a merda que certas ideias são.
Evite decidir qualquer coisa sob emoções fortes - elas distorcem completamente a realidade da situação.
Faça listas de prós e contras - seja pragmático como o Ross. Nesses casos, é uma ferramenta simples e eficaz.
Faça a análise de riscos - o que pode dar certo? E errado? Eu sei, isso assusta, mas ajuda bastante.
Estude suas escolhas passadas - os erros ensinam mais do que coaches, se você deixar, é claro.
Faça terapia - sim, um BOM terapeuta (são escassos, mas existem) te ajuda a enxergar além das tuas próprias desculpas.
Tenha um “conselho consultivo pessoal” - (isso é para aqueles que necessitam de opiniões alheias), amigos sensatos valem ouro.
Use a técnica do “semana que vem” - imagine os efeitos da sua decisão no futuro.
Consulte especialistas - me refiro a especialistas reais, você não precisa saber tudo, por isso pode ouvir quem entende, de fato, sobre o assunto.
Leia - sobre filosofia, neurociência, psicologia… extremamente úteis, ajudam e muito a entender teu próprio caos.
Pratique a leitura crítica - leia livros de autores que possuem opiniões diferentes das suas. Isso ajuda a expandir a mente e o repertório decisório.
Evite a multitarefa mental - decisões exigem foco.
Estude outros casos - aprenda com os acertos (e os erros) dos outros, mas sem ficar paranoico. As experiências alheias são um MBA gratuito, só cuidado na escolha de qual você analisará.
Aceite seus erros - faz parte da vida, só não use isso como desculpa para repeti-los.
Faça uma pausa estratégica - durma com a ideia antes de decidir, espere 24 horas. A urgência é inimiga da sabedoria.
Revise suas crenças - o que você acredita ainda faz sentido para você? Ou é só uma bobagem emocional inútil?
Analise seus hábitos - a vida é feita de repetições, não de momentos isolados. Porém, o hábito e o vício se formam no mesmo lugar em seu cérebro.
Elabore um plano B - se der errado, o que você vai fazer? Ter alternativas, para alguns, traz mais segurança para ousar.
PARE!
Sim, isso mesmo. Pare. Respire. Pense. Reflita sobre o que você realmente quer, não o que você acha que deve querer. Escolher bem não é sobre ter todas as respostas, mas sim sobre fazer as perguntas certas.
Preferir a ilusão do controle à disciplina do autoconhecimento não é pecado. Portanto, deixarmos de ser imediatistas e emocionalmente desorganizados é necessário. Nós vivemos em uma sociedade onde somos bombardeados por influências externas e ainda tem gente que acha que está no comando das coisas.
Quer mudar isso? Comece entendendo seus padrões. Pare de seguir conselhos que prometem a plenitude e felicidade eternas. Aceite que você e sua vida podem ser muito mais complexos do que simplesmente seguir a técnica do vídeo de dancinha! A ideia é dar o primeiro passo em rumo às decisões menos idiotas.

Lembre-se:
Mesmo o não escolher já é uma escolha e isso também terá suas consequências. O preço da omissão geralmente é mais alto do que o da ação.
Não existe uma fórmula mágica para tomar boas decisões. O que existe são práticas e cultivar o hábito de pensar, questionar e assumir a responsabilidade.
Se você é do tipo de pessoa que acha que os outros escolhem melhor do que você, provavelmente você está observando apenas o resultado e não o processo. Ninguém posta o drama da indecisão, só o sucesso da escolha.
O arrependimento nasce da ilusão de que existe uma “escolha ideal”. Não existe.
Escolher é uma habilidade como qualquer outra, o que quer dizer que ela se aprimora com o tempo, com a reflexão e a autocrítica sincera.
E se você chegou até aqui, parabéns. Essa já foi uma boa escolha. Por isso, te convido a continuar essa jornada. Leia os outros artigos do blog, comente, critique, sugira temas e mande suas dúvidas. Mas se você quiser mergulhar mais fundo, visite nosso site da UN4RT, o nosso backstage de conteúdos exclusivos e gratuitos, para aqueles que não possuem ouvidos e olhos sensíveis.
“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT
Tá afim de dar uma olhada nas fontes, referências e inspirações pata esse artigo? Foi o que pensei. Toma, estão todas aí.
Jean-Paul Sartre, Huis Clos (Entre Quatro Paredes) e O Ser e o Nada.
Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.
Barry Schwarz, O Paradoxo da Escolha.
Sócrates, Apologia de Sócrates (escrita por Platão).
Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra e Além do Bem e do Mal.
Ross Geller, personagem da série “Friends” no episódio “The One with the List/Aquele com a Lista” (Temporada 2, Episódio 4), ele faz uma lista de prós e contras para decidir se ficaria com Julie (sua atual namorada) ou com Rachel (quem ele sempre foi apaixonado).
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