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  • CNV: Como dizer “Vai Tomar no…” com Educação

    Quem nunca sentiu um desejo incontrolável de mandar alguém acomodar-se gentilmente no âmago do próprio traseiro?   A vida nos proporciona situações tão incríveis que às vezes chega a parecer que estamos participando de um stand-up comedy  de mau gosto. Com isso em mente, vamos falar da arte de ofender sem ofender. Mas, como a modalidade de “dar patadas com classe” é um esporte que poucos praticam, aqui nós vamos falar um pouco mais sobre isso para que você possa aprender o básico e quem sabe já testar suas habilidades na próxima reunião de família.   CNV - Comunicação Não Violenta: Origens e Fundamentos   A CNV é quem vai nos proporcionar a oportunidade de expressar nossas frustrações de maneira aristocrática com toques de ironia filosófica.   Seu criador foi Marshall Rosenberg  lá no ano de 1960. A prática nasceu a partir dos estudos de Carl Rogers , o cara da psicologia humanista que analisava como o julgamento e a crítica exacerbados levam a conflitos. Rosenberg acreditava que o ser humano pode aprender a se expressar sem ter que parecer um rinoceronte com crise de identidade.   Digamos que a CNV possui em seu íntimo traços de Aristótele s , que valorizava a arte da retórica empática, de Mahatma Gandhi  e Martin Luther King Jr. , os grandes transformadores que, com seus discursos pacíficos e lutas não violentas demonstraram como a força das palavras pode mudar o mundo. O Senhor Rosenberg também bebeu das fontes de Jean-Paul Sartre , que enfatizava a responsabilidade individual na escolha das próprias palavras e ações.   De forma resumida, a CNV nos proporciona:   Dizer o que estamos sentindo, sem apenas reagir como um animal irracional e de uma forma livre de acusações, julgamentos ou drama típico de novela mexicana. O melhor é que isso nos dá a possibilidade de conseguir o que precisamos, mas sem necessidade de entrar em uma guerra fria com alguém. Tudo tão simples quanto emagrecer comendo pão com ovo.   Por que precisamos ter educação ao dizer para alguém ir fazer bom uso do próprio anel muscular posterior?   Você pode até estar pensando por quais motivos você deveria usar de educação para falar algo tão jocoso. A resposta é muito simples: por autorrespeito e para maior eficácia.   Quando um insulto vem acompanhado de polidez, ele atravessa as defesas alheias de maneira mais fácil, sem ocasionar um choque direto no muro do rancor. Seria como se lançássemos um dardo com ponta de veludo, até pode doer no ego, mas não rasga a pele do convívio social. Todo palavrão, mesmo os mais rasos carrega energia. E se você é do tipo de pessoa que acha isso tudo uma besteira, busque por “ As Mensagens da Água ”, obra disponível em livro e filme, nela o Dr. Masaru Emoto  mostra o resultado do seu trabalho de investigação que utiliza ressonância magnética. Se você pesquisar de forma séria, nem que seja um pouquinho, irá perceber que besteira é o que você pode estar pensando sobre o assunto.   Estamos no ano de 2025, a era da tecnologia e da informação. Já era de se esperar que, nessa altura do campeonato nós soubéssemos que ignorar nossos sentimentos é como querer grelhar picanha sem fogo, ou seja, não funciona. Dar voz ao que sentimos, mesmo que sejam nossas frustrações ou raivas, é importante, do contrário, toda a tensão pode se tornar uma úlcera ou até algo pior, os estudos em psicossomática mostram isso. Mas isso não quer dizer que tenhamos que sair por aí desaforando meio mundo, e é aqui que a CNV entra.   Por que continuamos sendo rudes quando sabemos que existem outras formas de lidar com as situações/pessoas?   Mais uma vez, a resposta é simples:   Porque explodir é muito mais rápido do que se explicar de forma coerente; Porque muitos de nós não procuram se conhecer para que assim possam entender seus gatilhos emocionais; Porque ainda achamos que quem fala mais alto vence; Porque ninguém nos ensinou maneiras de discordar de alguém sem precisar soar como um vilão de história em quadrinhos; Ah, e não podemos esquecer da preguiça;   A maioria nem sequer sabe que é possível se expressar, impor limites, manter a própria dignidade e sanidade mental sem sair gritando e bloqueando todo mundo. Isso até pode parecer engraçado, mas muitas das narrativas midiáticas estereotipadas incitam comportamentos reativos.   Nós somos seres que aprendemos na repetição e não importa se esta repetição envolve padrões construtivos ou destrutivos. Tudo vira hábito. Nossa mente não diferencia as crenças limitantes das expansivas sem que nós façamos isso com consciência.   O Uso da Ironia   Para aqueles que já conhecem a CNV em sua forma clássica, a ideia do uso da ironia pode até soar como uma heresia. Mas, pensando nisso, citemos o exemplo de Simone de Beauvoir . Essa senhora de mente afiada desconstruiu as ideias de patriarcado com uma elegância cortante e com um comportamento digno de uma verdadeira Sábia.   Aqueles que leram sua obra “ O Segundo Sexo ” perceberam essa característica. Sua escrita é uma verdadeira investigação intelectual que transmite a forma de conhecimento que questiona a nossa existência, a nossa visão de liberdade e a ética. Em suma, uma obra que possui o seu rigor, suas ironias e sua essência transformadora. Portanto, ao inserir a ironia neste assunto, eu me refiro a algumas atitudes específicas, irei ilustrá-las abaixo através de um diálogo imaginário entre namorados que marcaram um encontro:   Esse encontro deveria iniciar em um determinado horário, digamos que às 20:00 horas da noite em um restaurante luxuoso. Uma das partes chega ao local com mais de 30 minutos de atraso, sendo que essa não é a primeira vez que se atrasava. Desta forma, a pessoa que estava à espera resolve se pronunciar fazendo uso da CNV irônica.   1°  Ela faz uma observação  sobre a situação sem julgar e sem usar adjetivos de novela de baixa produção:   Ex: “Notei que você chegou atrasado(a) outra vez.”   2°  Ela nomeia seu sentimento  sem dramatização e vitimismo, falando sobre ela mesma sem usar o outro como instrumento de tortura:   Ex: “Isso me deixou impaciente - e ligeiramente enfurecido(a).”   3°  Ela expressa sua necessidade  real sem recorrer a chantagem emocional ou exigindo que o outro leia a sua mente:   Ex: “Você poderia ser pontual da próxima vez? Isso é importante para mim.”   4°  Ela insere um pedido  de forma polida, sem ameaças veladas, utilizando ironia de forma leve e com um toque de humor. Tudo desprovido daquele drama nível ‘Reis e Rainhas do Barraco’:   Ex: “Você poderia gentilmente ir se atrasar em outro universo da próxima vez, por favor?” - seguido de uma risada descontraída e um afago na mão da pessoa atrasada.   A partir deste exemplo, podemos citar outras situações da vida cotidiana.   Ambiente de trabalho   No escritório: “Quando você chega na minha mesa e começa a mexer nos meus papéis, sinto-me desrespeitada(o). Seria maravilhoso se você pudesse me fazer um favor, o de retirar minha paciência de dentro deste armário (aponte para um armário ou gaveta) e me entregá-la intacta.”   Com o(a) chefe: “Percebo que existe uma pressão por resultados. Necessito de uma maior clareza sobre os prazos afim de eu potencializar minha performance.”   Ambiente doméstico   Duas pessoas que dividem um apartamento: “Notei que você ‘esqueceu’ de lavar a louça pela quarta vez esta semana. Minha necessidade de higiene está implorando para que você pegue a esponja.”   Familiares inconvenientes: “Aprecio suas histórias, mas agora preciso de um momento em silêncio para poder digeri-las”   No táxi   O passageiro e o motorista ‘imprudente’: “Percebi que sua direção é livre como o vento. Eu, por outro lado, gostaria de estar em um carro inteiro. Que tal manter as rodas na pista e o meu coração menos acelerado?”   Nas redes sociais e aplicativos de conversa   Para responder a comentários e/ou mensagens inadequadas: Use o botão “editar” como um escudo. Refine sua resposta agressiva até que ela se torne uma observação ponderada.   Dois exemplos de explosões educadas:   “Sua postura me faz desejar estar em um templo no Tibet. Poderia, por obséquio, reformular sua abordagem?”   “Estimado(a) colega, sinto neste momento que você deveria ir exercitar o seu imaginário em outro planeta.”   Óbvio que esses exemplos são seguidos das devidas expressões faciais, pois o real entendimento e o real querer melhorar-se são as chaves para qualquer tipo de CNV.   Mas o que fazer naquelas situações em que nós sentimos que o outro está ‘pedindo um mapa do inferno’?  Essa aqui é a clássica “tem gente que pede para levar...”. Sim, sempre tem aqueles que vão testar o nosso nível de articulação intelectual. E é aqui que o CNV se torna ainda mais interessante. A ideia geral não é ser apenas passivo, mas também estratégico. Nós não precisamos engolir sapos, nós podemos cozinhá-los em fogo brando e servi-los com diplomacia. Exemplo:   “Quando você ironiza as minhas falas perante outras pessoas, me sinto humilhado(a). Como qualquer pessoa, eu mereço respeito. Sendo assim, se você tem alguma observação a fazer sobre o que eu digo, da próxima vez faça-o em particular. Pode ser?”   Tradução: “Mais uma dessas e você vai precisar ir ao dentista para encomendar uma prótese completa.”   Alguns análogos filosóficos ao “Vá dar um passeio nas profundezas do seu conduto retal”   Como não poderia deixar de ser, a filosofia nos traz sempre visões diferentes e mais elegantes a respeito das anedotas típicas que são comumente veiculadas pelo senso comum.   Comecemos falando de Platão  e a arte de implicar com classe. O cara amava um debate. No seu Diálogo, o sarcasmo cortava mais que diamante, mas de forma profunda, cirúrgica e elegante como só a filosofia grega é capaz.   O nosso estoico favorito, Sêneca , diria: “Contendo a ira, transformo-a em força.” Uma frase perfeita a se ter em mente antes de mandar qualquer pessoa ir tomar um chazinho no retalho inferior.   O “ Übermensch ”de Nietzsche  não se intimidava em soltar um “toma lá, dá cá” sarcástico. Ele flertava com as ofensas elegantes, chamando os oponentes de “cadáveres ambulantes” (óbvio que no sentido figurado). A audácia nietzschiana nos ensina a colocar sempre um laço de educação em nossas falas.   Já Arthur Schopenhauer  era dono das tiradas mais ácidas e afirmava que “todo aplaudidor comum é um bufão”. Essa frase traduzida para o CNV seria “você aplaude tudo sem refletir a respeito”.   Na visão existencialista, Sartre  defenderia a liberdade de expressão em sua forma pura. Isso até poderia incluir os palavrões, mas com a total consciência de si mesmo.   No Budismo, a compaixão é radical. Dalai Lama  por exemplo, sugeriria enviar amor ao agente irritador antes de verbalizar qualquer injúria ou descontentamento.   Para a grande Hannah Arendt , a palavra significava a nossa ação no mundo. Ela diria para nós usarmos as nossas frases de impacto como uma performance política, incluindo aquelas que mandam as pessoas inserirem-se com delicadeza e convicção em seus próprios abismos intestinais.   Humor Ácido e Sarcasmo nas Relações   É preciso ressaltar que essa ‘arte’ também possui os seus riscos, para tudo na vida existem seus opostos. Portanto, saiba que o sarcasmo pode aproximar ou afastar as pessoas. Se for usar, use como se fosse uma especiaria e não como um tempero principal.   Por outro lado, o sarcasmo também pode se transformar em algo que constrói. Ele pode despertar a reflexão quando utilizado na medida correta, desde que nós monitoremos o nosso tom e o contexto das questões em si.   Portanto, use o bom senso . Não queira humilhar ou diminuir os demais. Utilize as informações para edificar uma maior compreensão sobre si mesmo e aqueles ao seu redor. Não me responsabilizo pelo uso falso e maldoso do que escrevo. Tudo aqui se trata de informação e o que você fará com elas é sua responsabilidade.   Sugestões para falar sem ferir   Faça uma pausa consciente e respire antes de responder. A respiração profunda contando mentalmente até 5 é um calmante que não precisa de bula. Se precisar, faça mais do que uma vez.   Use o “eu” no lugar do “você”. Pode até parecer papinho de coach , mas funciona. Se você tem um problema, resolva-o sem usar os outros como bode expiatório.   Ouça como se você não fosse o personagem principal da trama toda. Nunca é tarde para compreender que o mundo não gira ao nosso redor.   Ao invés de ser sempre fofo, seja firme. CNV não é terapia de abraço, é mais sobre comunicação eficiente sem nenhum tipo de violência.   Troque o “vai tomar no…” por “aprecie uma longa caminhada até Plutão.”   Saiba quando você está sentindo uma saturação no seu ego. Se todos nós respeitássemos nossos momentos de silêncio, automaticamente nós respeitaríamos o silêncio dos outros. E adivinha? Ganharíamos uma convivência muito mais saudável e consciente.   Faça escolhas de um vocabulário mais leve. Não use a palavra “burro”, substitua por “sábio em negação”, por exemplo.   Escreva cartas. Se sentir a necessidade, escreva cartas direcionadas à pessoa que você gostaria de insultar, mas NÃO as mande. Queime-as de forma segura, jogue as cinzas no vaso sanitário e depois dê o assunto como encerrado.   Role-play  da filosofia. Imagine-se debatendo com Sócrates . Pergunte para a pessoa em questão: “Mas, meu caro(a), qual a razão de tanta grosseria?”   Use metáforas cromáticas. Analise sempre a situação primeiro e, se for de contribuição para o momento, diga “Sua atitude é mais cinza do que final de semana chuvoso.”   Aprenda a usar humor autodepreciativo. Se você estiver em dúvida sobre o comportamento da pessoa, comece dizendo “Talvez eu esteja exagerando, mas…”   Feedback  com ‘empatia’. Se a situação condizer, você pode misturar um elogio a uma crítica: “Admiro a sua paixão, mas pode canalizá-la melhor, por favor?”   Utilize referências da cultura pop. Como resposta bem-humorada para um comentário idiota: “Faça-me um favor, jovem padawan , retire-se do recinto.”   A arte do silenciamento elegante. Fique em silêncio por alguns segundos, olhe calmamente nos olhos da pessoa, diga “Bem…” e retire-se.   Rituais de autocuidado. Aprenda a meditar, faça caminhadas relaxantes, ouça músicas que inspirem calma, leia livros de autodesenvolvimento, converse consigo mesmo(a). Cresça em silêncio. Resumindo: Vá cuidar da sua vida.   Dicas para Superar Desafios Comuns   Para quando temos medo de não sermos compreendidos: pratique diante do espelho. Converse consigo mesmo como se você fosse o próprio Michel Foucault  quando falava das “arestas discursivas” - expressão que denota as ideias de discurso e as formas de exclusão, controle e organização do saber elucidadas por esse filósofo.   Para quando os outros reagem exageradamente: lembre-se de que você tem total responsabilidade por aquilo que diz e não pelo que os outros interpretam. Seja coerente e você não precisará ficar remoendo as situações e nem procurando desculpas para as reações alheias. Para quando existe dificuldade em manter a compostura: ancore-se em um filósofo interno, seja seu próprio Marco Aurélio . Aprofunde-se sobre temas que lhe ajudem a lidar com as suas próprias reações e aja de acordo.   Para quando nos julgamos: parar de nos rotular com adjetivos como “rude” ou “fraco” é sempre um começo. Reconheça o seu valor e ressalte suas capacidades, tendo em mente as suas necessidades.   Para quando as reações automáticas querem levar a melhor: crie um gatilho de forma consciente e use-o como ancoragem. Por exemplo: Respirar fundo antes de qualquer impulso. Será necessário fazer algumas vezes para que isso se torne um hábito.   Para quando existe falta de vocabulário emocional: estude sobre sentimentos, necessidades, gatilhos (ex: Rosenthal , Rosenberg …). Saiba como e porque você sente o que sente, procure um bom Terapeuta. Existem muitas formas de nos desenvolvermos.   CNV não é sobre só Paz e Amor, mas sim Liberdade   Ninguém disse que precisamos virar samambaias que aceitam tudo. A ideia é aprender a comunicar o que estamos sentimos de forma coerente e sem parecermos ogros medievais.   Ao contrário da educação comum, a CNV foca em expressar necessidades, não em moldar comportamentos que possam evitar julgamentos. Nos momentos de tensão é onde essa prática pode fazer a diferença, principalmente quando ela é utilizada em seus 4 pilares (Observação, Sentimento, Necessidade e Pedido).   O uso da ironia na prática foi algo sugerido por mim como forma de humor, dissertação sobre o tema e também como forma de lidar com aqueles que ignoram pedidos educados. Nesses casos, tanto a ironia quanto o sarcasmo podem ser usados, contanto que sirvam para ‘iluminar’ e não para ferir, além de sempre estarem em conformidade com os 4 pilares essenciais.   Nós sempre podemos ser claros, diretos e ainda mantermos o respeito - isso se aplica aos ambientes corporativos, se quiser usar o sarcasmo e a ironia aqui, é por sua conta e risco, a ideia deste artigo não é a de você ganhar uma promoção em forma de demissão. Quando usamos humor ácido sempre poderá ocorrer de nós machucarmos alguns egos inflados, mesmo que com elegância. Por isso, é necessário ponderação e parcimônia.   Eu recomendo fortemente para aqueles que gostariam de aprender mais, que lessem “ Comunicação Não Violenta ” de Rosenberg. E não esqueça que é sempre preferível mandar tomar no… coração ou cotovelo, mesmo que a sua vontade seja mandar a pessoa enfiar a própria insignificância naquele lugar onde a anatomia termina e a dignidade não entra.   Agora, se você curtiu esse artigo, continue lendo os outros que estão disponíveis aqui non blog! Sinta-se livre para deixar seus comentários, reclamações, perguntas e para mandar para a galera. Ah, você pode sugerir o próximo tema, “Como parecer calmo enquanto grita por dentro” está na fila.   Te convido também a nos presentear com um café, ( é só clicar aqui ) cada contribuição nos ajuda e incentiva na nossa missão de trazer conteúdo de qualidade, sem você precisar ficar pulando anúncios. 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Jean-Paul Sartre ,   O Ser e o Nada . Masaru Emoto , As Mensagens da Água. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Platão ,   Diálogos . Sêneca , Cartas a Lucílio . Friedrich Nietzsche , Além do Bem e do Mal . Arthur Schopenhauer , A Arte de Insultar . Dalai Lama , o 14° se chama Tenzin Gyatso, líder espiritual mais importante da tradição budista tibetana. O título ‘Dalai Lama’ significa literalmente “oceano de sabedoria”. Hannah Arendt ,   A Condição Humana . Sócrates , Apologia a Sócrates  (escrito por Platão ). Padawan , termo dop universo Star Wars (criado por George Lucas e que hoje pertence a Disney) que designa um aprendiz Jedi. Michel Foucault , As Palavras e as Coisas . Marco Aurélio , Meditações . Robert Rosenthal , psicólogo da área de psicologia social e famoso pelo Efeito Pigmaleão - fenômeno no qual as expectativas de uma pessoa influenciam o desempenho de outra.

  • Interpretação: Nossas Visões de Mundo

    Já parou para pensar que o mundo que vemos pode não ser exatamente o mundo “real”? Cada ser humano carrega em si mesmo uma ferramenta poderosa, essa ferramenta pode ser engrandecedora, mas também perigosamente limitada. Neste artigo, falaremos sobre visões de mundo e o grande jogo do senso de interpretação humana de uma forma simples e direta, no melhor estilo papo reto. O que significa interpretação e as visões de mundo? Digamos que as visões de mundo funcionam como filtros invisíveis, os quais usamos para interpretar a realidade. A partir deles, damos sentido ao que vivemos, ouvimos ou observamos. Cada ser humano no mundo interpreta a realidade de acordo com suas experiências, crenças, conhecimentos prévios, emoções e valores. Um exemplo simples disso é quando duas pessoas presenciam um mesmo acontecimento, mas compreendem e reagem de maneiras diferentes. Isso ocorre porque cada uma delas organiza as informações de acordo com sua própria bagagem emocional. Não sei se você já ouviu a frase que diz: “Somos responsáveis por aquilo que pensamos, sentimos e agimos, mas não pelo que os demais interpretam.” Pois bem, a interpretação, portanto, não se trata apenas do ato de “entender” algo. Esse processo também é responsável pela atribuição (ou não) de significados que relacionam o que ocorre no externo com o que carregamos no interno – e vice-versa. Já o conceito de “visões de mundo” está diretamente ligado ao nosso processo de interpretação. Pois uma visão de mundo se trata de um conjunto de crenças, princípios – ou a falta deles – tradições e perspectivas que moldam a forma como alguém observa a realidade. Esse conjunto de crenças também atende pelo nome de paradigma. Esses paradigmas variam entre os indivíduos, grupos ou sociedades e influenciam o modo como estes compreendem conceitos como justiça, felicidade, progresso, espiritualidade etc. Em outras palavras, as nossas visões de mundo agem no construir ou destruir o que entendemos como sentido coletivo e individual. Interpretação X Realidade Afinal, existe uma realidade objetiva ou tudo não passa de um delírio coletivo pré-acordado? Um bom número de filósofos e cientistas defende a existência de uma realidade independente das interpretações da nossa mente. Eles definem essa ideia de realidade como algo semelhante à gravidade – existe de forma inerente à nossa vontade. Dentro deste conceito, as nossas ideias de “verdade” e/ou “significado” não passariam de uma construção coletiva, um mero resultado do que os grupos e sociedades combinaram em acreditar e valorizar. Estas narrativas “globais verdadeiras” podem até possuir alguma base na realidade objetiva, mas somente de acordo com o que é construído a partir das interpretações humanas envolvidas. Mas, ao olharmos para o ponto de vista de algumas linhas de pensamento existentes, percebemos um verdadeiro sarau de visões de mundo: Ceticismo : fala que não podemos ter certeza absoluta sobre qualquer tipo de visão, pois toda forma de conhecimento pode ser questionada. Construtivismo social : o mundo é construído coletivamente por meio da linguagem e das relações sociais. Empirismo : as visões de mundo nascem das experiências sensoriais e das observações dos acontecimentos. Epicurismo : o mundo deve ser entendido em função da busca pela felicidade e da redução da dor. Estoicismo : a visão de mundo deve se alinhar à razão e à natureza, aceitando o que não se pode controlar. Estruturalismo : toda e qualquer visão é formada por estruturas inconscientes (como a linguagem e os sistemas sociais). Existencialismo : as ideias de visão de mundo são construídas a partir da liberdade e das escolhas pessoais. Fenomenologia : a visão de mundo nasce das experiências diretas e de como a consciência interpreta o que foi vivido. Hedonismo : se guia pelo prazer como princípio fundamental da vida. Humanismo : coloca o ser humano, sua dignidade e liberdade como centro de qualquer visão de mundo. Idealismo : a mente e as ideias moldam a realidade que conhecemos. Marxismo : as visões de mundo refletem as condições materiais e as relações de poder na sociedade. Materialismo : diz que não existe a crença em qualquer tipo de “poder mental”. Para eles, o mundo é físico, matéria sólida, nada mais, nada menos. Niilismo : nenhuma visão de mundo tem sentido último ou valor objetivo, tudo é um grande vazio de fundamento. Perspectivismo : rebate que toda visão de mundo é apenas uma entre tantas possíveis, portanto não existe uma verdade única e exclusiva para todos. Pós-estruturalismo : não existe visão de mundo fixa, mas sim múltiplos significados que vivem em disputa. Positivismo : só o conhecimento científico baseado em fatos verificáveis pode fundamentar uma visão de mundo válida. Pragmatismo : o valor de uma visão de mundo depende da sua utilidade prática para fins de resolução de problemas. Racionalismo : a razão é a principal ferramenta para compreender o mundo e formar uma visão verdadeira dele. Realismo : temos a ideia de que existe uma realidade objetiva, independente das nossas interpretações. Relativismo cultural : cada cultura forma seu próprio paradigma e nenhuma pode ser medida ou comparada pela outra. Transcendentalismo : as visões de mundo se ancoram na espiritualidade e na conexão dos seres humanos com a natureza. Utilitarismo : a visão de mundo deve buscar o bem-estar do maior número de pessoas possível. Sim, estas são apenas algumas poucas visões e interpretações que existem sobre a realidade. E como (ainda) não existe uma prova cabal, aquela que não deixa lacunas e dúvidas, a interpretação do mundo se torna um turbilhão de dados e informações que coexistem como um ruído branco, caótico e incessante. O papel da nossa mente interpretativa é o de transformar todo esse caos ( Khaos ) em cosmos ( Kósmos ), em ordem. Ela capta milhões de estímulos por segundo, os organiza, interpreta, preenche as lacunas e depois entrega uma parte ínfima desses dados à consciência, o restante fica “rodando em segundo plano” de forma inconsciente. Com isso, a questão maior não é a multiplicidade de visões e ideias, mas sim a nossa teimosia em insistir na crença de que somente a nossa versão dos fatos é que está correta. Filtros Distorcidos E eis que chegamos ao lado sombrio da força. Nossa mente interpretativa pode nos salvar da loucura que o caos absoluto pode representar, mas também nos condena à loucura relativa dos vieses de confirmação, dos preconceitos, das lutas de nós contra eles, esquerda e direita, fake news … Nossos filtros de interpretação não são neutros. Eles veem com lente de aumento as informações que confirmam o que já acreditamos e com lentes embaçadas outras que podem nos desafiar. David Hume  cortaria esse barato com apenas uma pergunta: “Você realmente vê causalidade, ou apenas assume que um evento segue o outro?” A fim de esclarecermos um pouco essa pergunta cabeluda, usemos um jogo de bilhar como exemplo. Vemos um jogador atingir a bola A que, por sua vez, bate na bola B, fazendo com que esta se mova em alguma direção. Estaríamos vendo o movimento destas bolas ou apenas observando a sequência dos eventos e interpretando-os como causalidade? A maior parte do que nós chamamos de “leitura interpretativa de mundo” é apenas um hábito mental, um vício de interpretação que se repete até nos darmos conta de que estamos repetindo de forma automática. Palavras criam Mundos Em meio a este jogo, a linguagem age como a ferramenta prima da interpretação, o que faz com que ela se torne também cúmplice de nossos vieses interpretativos. George Orwell , em sua brilhante obra “ 1984 ”, mostra como as limitações de linguagem demonstram ser limitações de pensamento. Por exemplo: se não temos definições reais e aplicáveis às palavras como “união” e “liberdade”, como podemos conceber o significado que esta palavra possui? Não se trata apenas de buscarmos significados dicionários, pois as visões que cada pessoa, cultura ou sociedade possui do que é amar e ser livre são, normalmente, completamente diferentes e múltiplas. Os conceitos destas palavras, apresentados nos dicionários, raramente são aplicáveis às sensações, sentimentos e interpretações subjetivas dos indivíduos em si. Se formos um pouco além dentro deste exemplo, vemos que usamos certas palavras, muitas vezes, como armas. Um “ataque” hoje é também utilizado para denotar “operações de paz”. Um “terrorista” é denominado em certas culturas e situações como um “combatente da liberdade”. Os fatos não mudam, mas sim as interpretações que a mente faz, muitas vezes com sutilezas ajustadas por interesses escusos. Dependendo das narrativas vigentes, outras palavras como “visionário” ou “lunático” passaram a ser usadas para denominar um mesmo comportamento, ganhando assim interpretações opostas ao que elas categorizam nos dicionários. Se quiser ver por você mesmo estas mudanças nos conceitos das palavras, faça uma busca sobre a palavra “empírico” em algum dicionário recente. Se você sabe o que esta palavra quer dizer, veja como ela está sendo narrada nos dias atuais. As Visões de Mundo na Era das Redes Sociais Podemos dizer, sem exageros, que as redes sociais se tornaram um laboratório de estudos sobre as distorções interpretativas e linguísticas, onde cada fragmento de informação reflete uma versão diferente e hiperbólica sobre nós mesmos e o mundo. As redes nos alimentam apenas com as narrativas que aceitamos e gostamos de ver. Em alguns casos e devido a essas “experiências personalizadas”, passamos a nos tornar meras caricaturas de nossas próprias opiniões. A hiperinterpretação está em alta, a partir dela nós não apenas lemos o mundo, mas lemos a leitura que os outros fazem de nossa própria leitura. Tudo isso em um looping  infinito e, por vezes, estéril. Interpretação: Liberdade ou Prisão? Tudo isso não quer dizer que estamos condenados, mas passa a sensação de que estamos sob um regime de liberdade condicional. Mudar nossa visão de mundo, crenças e interpretações é possível, porém exige o desconforto de percebermos que nem tudo que acreditamos ser verdade de fato o é. Digo isso com a consciência de que minhas interpretações também podem se tratar de repetições ou erros de julgamento. Admitir isso não faz com que elas mudem, mas ajuda a ampliar o meu espectro de entendimento. Acredito que ninguém gostaria de viver uma vida inteira acreditando que as sombras projetadas na parede são mais reais do que o mundo que está à espera fora da caverna (“ Alegoria da Caverna ” de Platão ). E para aqueles que tiverem coragem, sugiro a leitura de “ Vigiar e Punir ” de Michel Foucault , uma verdadeira aula de como interpretamos – e de como somos interpretados – pelos sistemas e narrativas vigentes. Em meio a toda esta dança interpretativa, não posso deixar de citar a sabedoria irreverente de Diógenes, o cínico, que andava pelas ruas na Grécia antiga com sua lanterna acesa em pleno sol do meio-dia, bradando a plenos pulmões: “Procuro um homem honesto”. Ele não estava à procura de um homem de carne e osso, mas sim de uma interpretação não corrompida sobre a humanidade. Em sua sátira brutal sobre as convenções sociais, Diógenes nos mostrava que a maioria destas convenções são apenas frutos de uma interpretação coletiva tola, e não de leis naturais. Síntese Simplificada Nossos cérebros não veem a realidade diretamente. Eles a interpretam como uma espécie de tradutor simultâneo. O que faz deste tradutor algo incrível é a capacidade que ele possui de dar sentido ao mundo, mas ele também é, paradoxalmente, um ótimo inventor, que distorce fatos para massagear nosso ego, se apegando às primeiras impressões e repetindo-as em um “eterno retorno”. O segredo aqui não é querer demiti-lo ou apenas “reprogramá-lo”, mas sim ficar de olho nele, checando e questionando seu trabalho quando necessário. Nota da Autora: Acredito, de forma pessimista – e ligeiramente esperançosa – que a humildade interpretativa é uma das virtudes mais negligenciadas do nosso tempo. O assumir que podemos estar equivocados e que nossos filtros podem estar distorcidos são antídotos para o fanatismo cego, a polarização e a ansiedade. Na minha opinião, a inteligência verdadeira, se é que existe uma, não é possuir a interpretação mais certa, mas ter a flexibilidade de questionar e mudar quando diante de novas evidências e informações. Digamos que eu posso ser uma pessoa aberta a se corrigir e não alguém que se denomina sábia, mas teimosamente vive negando o que “conflita” com minhas visões de mundo. Eu prefiro ter ao meu lado pessoas que admitem “não saber de nada” do que aquelas que fingem saber, possuindo certezas absolutas para tudo. Penso que a maior tragédia não é possuir uma visão de mundo limitada, mas sim acreditar que esta visão é a única possível. Interaja (ou não) a escolha é sua! O exercício de olhar para si mesmo e questionar as próprias crenças pode ser a busca que realmente importa. Autoconhecimento não é luxo, é mais como um código que ajuda a afinar nossos filtros. A jornada até pode ser um tanto solitária, mas não precisa ser isolada. Por isso, que tal começar compartilhando a sua própria interpretação sobre este artigo? Nos comentários abaixo, você pode deixar a sua crítica mais ácida, a sua pergunta mais incômoda, o seu elogio mais relutante e até mesmo a sua sugestão para o próximo tema. E se você achou que este artigo não está completamente errado, que tal compartilhá-lo com alguém que também aprecia uma dose cavalar de reflexão? Vá em frente, sinta-se livre. Agora, se a curiosidade reina nos seus filtros interpretativos, adentre no nosso backstage   UN4RT , onde destrinchamos estes conceitos com ainda mais profundidade, arte e irreverência. Ah, se você viu o valor deste trabalho e deseja nos apoiar em nosso projeto, considere nos presentear com um café lá na plataforma “ Buy Me a Coffee ”, lá você encontrará conteúdos gratuitos e planos de membros com conteúdos bônus e ainda mais materiais exclusivos, tudo criado por nós. Seu apoio faz a diferença e, de quebra, você ganha uns presentinhos. Obrigada pela preferência e até a próxima! “ A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT Fontes, referências e inspirações: Daniel Kahneman , Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar . David Hume , Uma Investigação sobre o Entendimento Humano . Diógenes de Sínope , Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres  de Diógenes Laércio. Edmund Husserl , Conceitos da Femonenologia . Eli Pariser , O Filtro Invisível. Epicteto , Manual de Epicteto  e Enchiridion . Friedrich Nietzsche , Além do Bem e do Mal. George Orwell , 1984  e A Política e a Língua Inglesa . Giuliano da Empoli , Os Engenheiros do Caos. Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada. Michel Foucault , Vigiar e Punir . Pesquisas gerais sobre os conceitos de visão de mundo dentro de diferentes linhas de pensamento. Platão , A República  (Alegoria da Caverna). Benjamin Lee Whorf e Edward Sapir , Teoria da Relatividade Linguística ( Hipótese de Sapir-Whorf ) . Shoshana Zuboff , A Era do Capitalismo de Vigilância.

  • A Arte de Fingir que se Importa - Um Guia para Identificar Interesseiros

    “A hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude” - François de La Rochefoucauld .   Seja bem-vindo ao fascinante mundo da hipocrisia social, onde a sinceridade é tão rara quanto um político honesto! Prepare-se para mergulhar nas águas turvas da falsa empatia, pois hoje, vamos explorar a nobre arte praticada por aqueles que fingem que se importam. Uma habilidade que muitos consideram tão essencial na sociedade moderna quanto a capacidade de sorrir e acenar enquanto aguenta-se o comportamento idiota de alguém.   *Importante ressaltar que essa espécie apresenta indivíduos de ambos os sexos.   O Grande Teatro dos Interesseiros   Vamos fazer de conta que vivemos em um grande teatro social, onde muitos desempenham os mais diversos papéis, mas nem todos merecem um troféu pela atuação. Neste teatro grandioso, cada indivíduo veste uma máscara cuidadosamente esculpida. Essa máscara - ou máscaras - representam papéis que nem sempre correspondem à verdadeira essência do indivíduo que as usa. Alguns destes indivíduos são chamados de "Interesseiros".   Eles são atores exímios que, com sorrisos ensaiados e palavras melífluas, navegam pelas interações sociais com a destreza de um maestro regendo uma sinfonia de falsidade. Esses espécimes são considerados “os meticulosos” dentro da selva urbana, dominando a arte de fingir que se importam eles constroem relações baseadas em conveniência e não em genuína empatia. São verdadeiros professores do teatro social, capazes de derramar lágrimas com tanta convicção que até mesmo um crocodilo ficaria impressionado. Digamos que eles elevam a arte de fingir que se importam a um nível tão elevado que até Stanislavski ficaria boquiaberto.   Se você, em algum momento, já se perguntou por que algumas pessoas parecem tão atenciosas até conseguirem o que querem - e depois evaporam - este guia ajudará você a identificar esses atores da tragicomédia social.   Um Estudo sobre o Personagem, como identificar interesseiros   O interesseiro é como um camaleão, adaptando-se às cores e nuances do ambiente para obter vantagens pessoais. Suas ações são motivadas por um cálculo meticuloso, onde cada gesto de aparente preocupação provém de uma jogada estratégica no tabuleiro das relações humanas.   Essa espécie de humano se molda às nossas necessidades, espelhando gostos, valores e até emoções afim de conquistar nossa confiança. Ele nos parecerá um amigo leal, um parceiro confiável ou até mesmo um colega prestativo, mas na verdade está mais próximo de um investidor: o apoio que ele nos presta tem retorno esperado.   Nietzsche , tão sabiamente já dizia: “O que me preocupa não é o fato de teres mentido, mas que, de agora em diante, não poderei mais acreditar em ti.”. O interesseiro não mente apenas com palavras, mas com atitudes que disfarçam intenções ocultas.   A Dança dos Sorrisos Falsos   Eu já tive o desprazer de observar esta espécie em ação, posso dizer que é como assistir a uma dança elaborada. Cada movimento é cuidadosamente coreografado para criar a ilusão de interesse genuíno. Os olhos arregalam-se em falsa preocupação, as sobrancelhas se franzem em fingida consternação e os lábios se curvam em um sorriso tão artificial quanto açúcar dietético.   Como disse a filósofa Simone de Beauvoir , “O opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos.”. E como os interesseiros são cúmplices habilidosos! Eles possuem expertise  em manipulação emocional e são capazes de nos fazer acreditar que nós somos realmente importantes em suas vidas - pelo menos enquanto formos úteis.   O Espelho de Narciso   Esses indivíduos frequentemente se assemelham a Narciso, personagem da mitologia grega que se apaixonou por sua própria imagem refletida na água de um lago. O interesseiro vê nos outros apenas reflexos de suas próprias ambições e desejos.   Suas interações são como um jogo de espelhos, onde a imagem projetada é cuidadosamente manipulada para enganar e seduzir.   Utilizando de gatilhos mentais eles nos envolvem em narrativas que sempre culminam em algum tipo de “pedido” - não se engane, caso contrário eles não nos procurariam. E como se não bastasse, muitas vezes nos vemos oferecendo justamente o que eles querem, sem que ao menos tenhamos de fato escutado o tal “pedido”.   Digamos que para eles, a vida é um palco onde a seriedade é apenas mais uma máscara a ser usada conforme a conveniência.   O Canto da Sereia   Assim como as sereias da Odisseia de Homero , que com seu canto hipnotizavam os marinheiros, os interesseiros utilizam palavras doces e promessas vazias para atrair suas vítimas. Suas declarações de afeto e preocupação são como iscas lançadas ao mar, destinadas a pescar aqueles que buscam reciprocidade em um oceano de superficialidade. Portanto, não se deixem enganar, seu canto até pode ser sedutor, mas esconde um naufrágio iminente.   O Vocabulário do Falso Interesse   São linguistas extraordinários, fluentes no idioma da preocupação simulada. Eles dominam frases como “Conte-me mais sobre isso” e “Pode contar comigo sempre” com a mesma facilidade com que um político domina a arte de não responder perguntas diretas.   Nietzsche , que já havia profetizado a proliferação descontrolada dessa raça, disse: “Às vezes as pessoas não querem ouvir a verdade porque não querem que suas ilusões sejam destruídas.”. Justamente em função destas ilusões é que, muitas vezes, nos tornamos presas fáceis para esta espécie.   O Labirinto do Dédalo   Interagir com uma pessoa interesseira é como percorrer o Labirinto do Dédalo: cada caminho parece levar a um beco sem saída e a verdade é constantemente obscurecida por intrincadas teias de mentiras e dissimulações. A cada esquina, deparamos com novas ilusões e a saída parece cada vez mais distante.   Como disse Franz Kafka : “A partir de certo ponto, não há retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado.”. Reconhecer o interesseiro é alcançar esse ponto de não retorno, onde a ingenuidade é deixada para trás - assim como a confiança.   Sinais Clássicos de um Interesseiro   Atenção sob Demanda : Enquanto for útil, você receberá mensagens, elogios e convites. Depois, só ouvirá o eco do silêncio. Empatia Performática : Expressões faciais ensaiadas, frases de apoio dignas de autoajuda e um timing  perfeito para oferecer “auxílio” - desde que haja algo que possam ganhar, é claro. O Elogio Estratégico : O interesseiro sabe exatamente quando inflar seu ego, não por admiração, mas para garantir que você continue fornecendo o que ele quer. Desaparecimento Pós-benefício : Conseguiu o favor? A porta do cofre abriu? O networking foi concluído? Ele some como um mágico profissional - ou ao menos até a próxima vez que precisar de algo. Memória Conveniente : Ele lembra com precisão cirúrgica tudo o que já fez por você, mas sofre de “amnésia seletiva” e “esquecimento crônico” quando é a sua vez de receber algo em troca. Urgência Manipulada : Quando precisa de algo, tudo é para “ontem”. Mas, quando você solicita algo, ele se torna mestre na arte de adiar, desaparecer ou dar respostas vagas. Alinhamento de Valores Flexível : Ele adapta seus gostos, opiniões e princípios conforme a conveniência. Enquanto você for útil, vocês terão “tudo em comum” e jamais irão divergir em algo. Conexão Condicional : A amizade dele é forte e presente quando você está em uma boa fase. Se as coisas apertarem para seu lado, ele se torna um expectador distante. Generosidade Teatral : Ele faz questão de parecer generoso, principalmente se tiver uma platéia. Eles apreciam um show. Mas, se não houver reconhecimento ou vantagem, a “bondade” some. Vitimismo Estratégico : Se pressionado por suas atitudes, ele se faz de vítima, invertendo a situação para parecer injustiçado. A culpa sempre é dos outros, assumir responsabilidades não é com eles. Aparições Táticas : Seguem a risca o ditado “Quem não é visto não é lembrado.”. Podem sumir por dias, semanas mas ressurgem magicamente quando precisam de alguma coisa ou se pensam que você pode oferecer algo vantajoso - nem que seja para ouvi-los reclamar. Parceria de Via Única : Esperam que nos esforcemos, ajudando-os e compreendendo-os, mas quando a situação se inverte, sempre terão uma desculpa pronta para não corresponder.   Oscar Wilde resumiu isso tudo muito bem: “Algumas pessoas causam felicidade onde quer que vão; outras, sempre que se vão.”   Como Sobrevier ao Teatro da Hipocrisia?   Desconfie da Perfeição : Se alguém parece sempre saber o que dizer e quando dizer, pode ser atuação - é essencial termos atenção e consciência em nossas relações. Teste de Reciprocidade : Interesseiros não gostam de relações desprovidas de vantagens. Observe como reagem quando precisam fazer algo sem retorno imediato. Peça para eles fazerem algo e veja quais desculpas irão usar para não fazê-lo. Evite ser um “Banquete de Favores” : Não esteja sempre disponível e não faça nada por obrigação. O interesseiro se aproveita da generosidade excessiva. Atenção ao Timing : Surgem com a precisão de relógios suíços quando precisam de algo e desaparecem com a mesma precisão quando nós é que precisamos deles.   Observe a Coerência : Palavras bonitas sem ações concretas são apenas roteiro bem ensaiado. Veja se os atos acompanham o discurso. Cuidado com a Carência Emocional : Interesseiros adoram pessoas que precisam de aprovação. Quanto menos dependente formos, menos espaço daremos para manipulações. Valorize a Autenticidade, não a Adulação : Quem bajula demais pode estar preparando o terreno para um pedido. Prefira quem elogia sem segundas intenções. Estabelecendo Limites Claros : Quanto mais cedermos, mais seremos explorados. Devemos aprender a dizer “não” sem culpa. Reparar no Padrão, não no Episódio : Todos podem falhar ocasionalmente, mas se alguém sempre desaparece quando não há vantagem envolvida, isso não é coincidência. Não cair em Chantagens Emocionais : Interesseiros usam culpa e vitimismo para nos manter na posição de doadores constantes. Não devemos nos deixar levar por histórias tristes quando o padrão já está claro. Desapego da Necessidade de Aprovação : Quanto mais buscamos ser aceitos por todos, mais vulneráveis estaremos para sermos usados. Ser seletivo significa estarmos com quem valoriza nossa presença de verdade. Preferência por Relações Equilibradas : Se sempre damos mais do que recebemos, talvez seja hora de reavaliarmos esse comportamento e consequentemente quem está se beneficiando dele.   Virginia Woolf disse: “Cada um de nós enfrenta uma batalha interna, e muitas vezes, a linguagem é insuficiente para expressar nossas verdadeiras intenções.”. Portanto estejamos atentos, principalmente a nós mesmos, pois, se pessoas assim se aproximaram é porque demos a elas esta oportunidade. O que podemos de fato modificar em tudo isso é: Nossa forma de pensar, sentir e agir.   A Sinfonia da Falsidade   Esta arte de fingir que se importa pode até se tratar de uma habilidade refinada por aqueles que buscam manipular as emoções e expectativas alheias para benefício próprio. É inegável que identificar os interesseiros requer um olhar atento e crítico - principalmente sobre nós mesmos - afim de estarmos capazes de ver além das máscaras e das ilusões cuidadosamente construídas. Sabemos que as relações genuínas não se baseiam em transações, mas sim em conexões reais e mútuas. Pois como já dizia Sócrates: “Uma vida não questionada não merece ser vivida.”. Então, questionemos as intenções por trás das ações e busquemos a sinceridade nas entrelinhas das palavras.   Afinal de contas, para ser uma “pessoa boa”, que ajuda e de fato se importa com os demais não quer dizer - nem minimamente - que tenhamos que ser trouxas! Nós só recebemos aquilo que permitimos. O que o outro faz é sobre ele, o que nós aceitamos é sobre nós. Existe uma diferença entre o que o outro faz e o que nós permitimos!   Aqui, também cabe uma nota de extrema importância: Não se penalize por ter alimentado uma relação com um interesseiro - independente do tempo que possa ter durado. Nós não possuímos o poder de mudar os outros ou as situações passadas, mas podemos mudar a nós mesmos. Com isso em mente, não percamos nosso precioso tempo buscando justificativas e/ou explicações por parte destas pessoas. Se você não tiver a chance de se afastar, talvez possa escolher sorrir, acenar e fingir demência - você não deve explicações sobre seus atos a ninguém, a não ser á aqueles que você acredita que deve.   No fim é melhor encararmos isso como um incentivo para colocarmos nosso foco no que realmente interessa: Nossa vida e nossos projetos/sonhos.   Nunca é tarde para lembrar que “Gente feliz não enche o saco.”, então vá atrás da sua própria felicidade e deixe essas pessoas a mercê de sua própria sorte.   “É tolo aquele que erra o alvo e culpa o arco, ao invés de corrigir a mira.” - Sun Tzu .   Hora da Agir! Você já se pegou performando no palco da falsa preocupação? Ou talvez tenha sido vítima de um mestre da arte de fingir que se importa? Deixe seu comentário com suas experiências e compartilhe este conteúdo com quem precisa abrir os olhos para o teatro da hipocrisia.   E se você quiser explorar ainda mais os bastidores das relações humanas e ter acesso a conteúdos exclusivos, visite UN4RT , o backstage que não utiliza máscaras.   Até a próxima e lembre-se: num mundo de interesseiros, o verdadeiro rebelde é aquele que genuinamente se importa. Mas ssshiiii, não espalhe esse segredo - afinal, tenho uma reputação de cinismo a manter!   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT     Ah! As fontes, inspirações e referências estão aí!   Experiência pessoal : algumas foram extremamente dolorosas pois vieram de pessoas que eu realmente considerava amigas. François de La Rochefoucauld , Máximas. Konstantin Stanislavski , foi um ator, diretor e teórico russo de teatro, criador do Sistema Stanislavski, um método revolucionário de interpretação baseado na verdade emocional e na construção psicológica dos personagens. Seu trabalho influenciou profunamente o teatro e o cinema modernos. Friedrich Nietzsche , Assim falou Zaratustra e Além do Bem e do Mal . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Narciso , na mitologia grega, era um jovem de extrema beleza que desprezava aqueles que se apaixonavam por ele. Como punição, os deuses o fizeram se apaixonar por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de se afastar da água, ele definhou até a morte, e no lugar de seu corpo nasceu a flor que leva seu nome. Homero , A Odisseia. Labirinto do Dédalo , uma construção da mitologia grega, projetada pelo arquiteto Dédalo a mando do Rei Minos, de Creta. Foi criado para aprisionar o Minotauro. Franz Kafka , O Processo (publicado postumamente). Oscar Wilde , O Retrato de Dorian Gray. Virginia Woolf , Um Teto todo Seu. Sócrates , Apologia de Sócrates (escrito por Platão ). Sun Tzu , A Arte da Guerra.

  • Se Ame como Você É - Mas com Botox, Procedimentos e Dieta Detox

    Ah, o mantra moderno: “Se ame como você é.”. Uma frase tão nobre quanto hipócrita em um mundo onde o Botox é mais comum que o café da manhã. Seja Bem-vindo ao circo da autoaceitação, onde os malabaristas equilibram seringas de preenchimento facial enquanto recitam seus slogans  de defesa ao amor próprio. O Mito da Autoestima de Boutique “Conhece-te a ti mesmo.”, dizia Sócrates. Mas a indústria reformulou essa máxima para “Conhece-te a ti mesma e descobre tudo o que precisa melhorar.”. E assim surge um ciclo perverso: a ideia de que autoestima não é um estado de espírito, mas sim um kit de skin-care de sete passos.   O conceito de autoestima foi sequestrado e transformado em um produto Premium . Você já reparou como as campanhas de beleza dizem que seus produtos vão “nos empoderar”? Curioso, porque o empoderamento real jamais dependeria da compra de um batom de 300 reais.   Apesar que, até certo ponto eu entendo, pois amar-se como se é não significa abraçar a decadência cutânea com resignação. Significa, na verdade, reconhecer que a perfeição natural é uma falácia e que há meios eficazes para aperfeiçoar a obra do acaso.   Tanto nós quanto a ciência, possuímos o conhecimento de que o corpo humano é uma máquina biológica programada para a obsolência. Nietzsche já dizia que ”… o homem é algo que deve ser superado…” - e por mais que saibamos que ele não se referia a Industria da Beleza - porque não nos superar com uma agulhada estratégica de toxina botulínica? Que mal a nisso?!   Somos como escultores de nós mesmos, constantemente retocando nossa própria arte. Michelangelo olhou para um bloco de mármore e viu Davi. Nós olhamos no espelho e vemos um potencial upgrade .   Digamos que essa ironia toda é tão palpável quanto aquele suco detox que tomamos para “limpar” nosso organismo dos pecados alimentares do fim de semana. A Dieta Detox da Hipocrisia   A mesma sociedade que grita “Se ame como você é!” é a mesma que venera peles impecáveis e corpos simetricamente esculpidos - sem esquecer das roupas, sapatos e acessórios de grife, é claro. O mercado da “beleza” não cresce por acaso. Existe uma dúbia realidade onde a naturalidade é exaltada - e ao mesmo tempo - retocada com filtros e softwares  de edição fotográfica.   E além disso, aqui também entra as dietas criadas para “perder aqueles quilinhos indesejados”.   Pegaremos como exemplo a mais sagrada das dietas. Aquela que promete verdadeiros milagres: a dieta detox. Se engana quem pensa que essa dieta serve somente para eliminar toxinas (ou a culpa pelo consumo excessivo de substâncias e bebidas alcoólicas no fim de semana). Ela também é usada para purificar nossa consciência da hipocrisia e da falta de autoresponsabilidade. O Paradoxo do Amor-próprio Esteticamente Aprimorado Digamos que “amar-se” é um conceito bastante elástico. Para alguns, significa aceitar-se sem filtros, sem maquiagem e sem ajuda de intervenções externas. Para outros, significa aceitar-se ao ponto de investir em aperfeiçoamento estético. Afinal, se podemos otimizar um software , por que não otimizar a própria aparência? O amor-próprio moderno é a combinação sutil entre autoaceitação e autocura cirúrgica.   Os estoicos acreditavam que devíamos aceitar a natureza como ela é, sem resistir ao seu fluxo. Mas e se a própria natureza nos deu a tecnologia para desafiar o tempo? Seria um ultraje não usá-la. Como já dizia Oscar Wilde , “A beleza é um gênio por si só. Ela dispensa explicações.”. Logo, um preenchimento labial bem feito é um ato de genialidade. O Maior Truque da Indústria da Beleza foi Convencer Você de que está Sempre Incompleta  Vamos a uma pequena reflexão:   Imagine você acordando pela manhã e ao olhar-se no espelho você descobre que está… perfeita. Sim, perfeita, não falta nada, tudo está no devido lugar. Sua pele brilha naturalmente como se tivesse sido besuntada com o orvalho dos deuses, seu cabelo tem um volume e um brilho digno de comerciais de shampoo, seus olhos não foram parar nos joelhos e sua autoestima está mais estável que um monge em transe.   Agora, com essa imagem em mente pergunte-se: O que aconteceria com a indústria da beleza se esse fosse o estado natural das coisas? Simples. Ela entraria em colapso.   A Máquina da Insuficiência Perpétua A grande jogada da indústria nunca foi apenas vender produtos, mas sim fabricar necessidades. Como já dizia o nosso querido Jean Baudrillard , “A publicidade não vende um produto, mas sim um estilo de vida.”. E que estilo de vida é esse? Aquele em que você precisa de um novo sérum, um novo ácido, um novo procedimento milagroso - que deixa a sua cara em carne viva - para, quem sabe um dia, alcançar um ideal que nunca existiu.   A verdade é que a perfeição, como conceito comercializável, precisa ser inatingível para que o mercado continue rodando. E, para isso, é necessário plantar em nós a semente da insuficiência perpétua. Sempre falta algo. Se está firme, talvez seja a simetria que falta. Se está simétrica, então é hora de investir na “beleza natural” - que, ironicamente, demanda um arsenal de cosméticos para parecer que não usamos nada. A Beleza como a mais Moderna Religião Nietzsche afirmou que “Deus está morto”, e talvez a indústria da beleza tenha tomado seu lugar. Ela tem seus templos (clínicas dermatológicas e spas), seus sacerdotes ( influencers  e esteticistas) e suas escrituras sagradas (as promessas das propagandas e das embalagens).   Ela te oferece um paraíso - um rosto sem marcas do tempo, um corpo eternamente jovem - mas, assim como qualquer religião bem estruturada, esse paraíso nunca chega de fato.   Estamos sempre na busca, sempre na penitência, sempre precisando de “só mais um produtinho...” e/ou “só perder mais uns quilinhos...”. Autoimagem e o Mainstream   Se Michel Foucault estivesse entre nós, talvez dissesse que a indústria da beleza não vende apenas produtos, mas um modelo de vigilância internalizada. Nos observamos, nos julgamos e nos punimos antes mesmo que os outros o façam por nós. “Será que minha pele está muito opaca?”, “Meu nariz parece estranho na luz?”, “Minha testa é muito grande, melhor esconder!”, “Estou gorda demais…”. Nós nos tornamos nossas próprias carcereiras.   E não pense que essa opressão estética se aplica apenas às mulheres. O mercado masculino está crescendo a passos largos, afinal, homens também precisam ser convencidos de que são imperfeitos.   Se antes bastava um desodorante, agora há hidrantes para “a pele masculina” (como se ela fosse feita de titânio), géis rejuvenescedores e até tinturas capilares que prometem reverter o tempo - e olha que, nem estou falando das cirurgias para aumentar certas partes do corpo. O jogo é o mesmo, só mudam as embalagens.    O que a Indústria Nunca vai te Contar   A maior heresia que nós podemos cometer contra esse império é perceber que já estamos completos. Que nossa pele, nossos traços, nossas pequenas “imperfeições” são, na verdade, apenas marcas de uma vida vivida.   Que o envelhecimento não é uma doença a ser combatida, mas um processo natural. Que a beleza real não é uma meta de consumo, mas um estado de ser.   “Nada é suficiente para quem considera pouco o suficiente.” - Sêneca .   E, talvez, o maior ato de rebeldia que podemos cometer hoje seja olhar no espelho e simplesmente dizer: “Estou bem assim.” A Imperfeição como Filosofia Existencial A indústria da beleza construiu sua fortuna em cima da ideia de que estamos sempre em falta. A perfeição inatingível é seu maior trunfo e a insatisfação é seu combustível. No entanto, a liberdade começa quando percebemos que não precisamos consertar nada, pois nunca estivemos quebradas. A beleza está na aceitação - e essa, ironicamente, não pode ser comprada.   Agora, se este artigo fez você repensar sua relação com a estética, ótimo! Se não, ótimo também! Até porque você é que sentirá a potência do ácido na sua cara (e no seu bolso), não é mesmo?   Deixe seu comentário, sugira temas e compartilhe! E, se quiser uma dose extra de informação continue explorando os artigos do blog ou vá direto para nosso backstage UN4RT , lá nós exploramos as entrelinhas da cultura, arte e sociedade. Porque no fim das contas, o conhecimento é o único skin-care que realmente perdura e transforma.     “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT     Para os masoquistas intelectuais as fontes, referências e inspirações estão aí. Vai lá ler, estudar e questionar!   Sócrates , Apologia de Sócrates (escrita por Platão ). Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra e A Gaia Ciência. Toxina Botulínica , substância produzida pela bactéria Clostridium botulinum, usada para reduzir rugas e outras condições médicas. Michelangelo , artista renascentista italiano que criou esculturas como Davi e Pietà, além dos afrescos da Capela Sistina. Estoicos , filósofos da Grécia Antiga que defendiam a virtude, a razão e o autocontrole como caminho da felicidade, aceitando o destino com serenidade. Oscar Wilde , O Retrato de Dorian Gray. Rodrigo Polesso , Este não é mais um livro de dieta. Jean Baudrillard , A Sociedade do Consumo . Michel Foucault , Vigiar e Punir. Sêneca , Cartas a Lucílio.

  • O Algoritmo da Vida Digital: O Paradoxo do Ser Feliz ou Parecer Feliz

    Estamos na era digital! O momento mais confortável da nossa história, onde a autenticidade é cuidadosamente planejada enquanto a espontaneidade é ensaiada como um monólogo shakespeariano. Digamos que a felicidade deixou de ser um estado de espírito para se tornar uma performance pública com direito a edição.   Nesta nova ordem, o genuíno é meticulosamente calculado e misturado a naturalidade plástica, para assim formar o que chamamos de feed  das redes sociais.   “Vivemos numa sociedade onde a simulação precede e determina o real.” - Jean Baudrillard .   Mas, calma, nem tudo são críticas. Sabemos que, em meio ao palco digital existem aqueles que realmente procuram fazer a diferença - sim, eles existem, mas são poucos.   A Dança da Autenticidade Fabricada   A estética do descuido exige um planejamento rigoroso. É a mesma lógica de um reality show : Espontâneo até certo ponto, roteirizado na medida certa.   A ironia atinge o ápice quando influenciadores postam “momentos reais”. Por exemplo: cafés da manhã na cama, cuidadosamente posicionados em meio a lençóis alinhados e estrategicamente ao lado de flores ou livros de filosofia (talvez nunca lidos). Tudo isso feito “sem edição” mas, por algum motivo, tudo segue enquadramentos cinematográficos e iluminação impecável. O ideal do “ser real” virou uma nova meta de marketing pessoal.   Sartre dizia “O inferno são os outros.”. Na era das redes sociais, o inferno são os outros, sim mas… aqueles com vidas aparentemente mais perfeitas do que a nossa. É hilário, o como todos aparentamos estar participando de uma competição não declarada de quem consegue parecer mais feliz, bem-sucedido e despreocupado. Mas, enquanto isso, nos bastidores, muitos se afogam em ansiedade e insegurança.   Será que realmente ganhamos maior liberdade de expressão com o advindo das redes, ou apenas ficamos muito bons em parecermos livres enquanto a curadoria da nossa imagem digital se torna uma nova forma de escravidão?   Ah, é inegável o quão delicioso esse paradoxo é. Somos incentivados a “sermos nós mesmos”, mas apenas se esse “nós mesmos” for suficientemente atraente, inspirador e, acima de tudo, “curtível”.   A Sociedade Digital e sua Moeda Emocional   Na sociedade de aparências, a perfeição tornou-se a moeda de troca. Quanto mais perfeita a nossa vida parecer aos outros, mais valor teremos - independente de tudo isso ser, ou não verdade. As empresas, por exemplo, contratam pessoas que irradiam positividade, independente de suas reais competências. Influenciadores digitais acumulam seguidores ao exibirem vidas “de cinema”, mesmo que elas sejam tão autênticas quanto uma nota de 3 Euros.   Como já dizia Oscar Wilde : “A vida é demasiado importante para ser levada a sério.”. E, aparentemente, demasiado superficial para ser vivida com profundidade e longe dos likes .   A Economia da Falsa Felicidade   Não vamos ser ingênuos. Por trás da fachada de felicidade e perfeição constantes, existe uma máquina econômica bem oleada. Empresas vendem-nos produtos e serviços que prometem a felicidade instantânea. Desde cremes (ou outras substâncias) anti-rugas que garantem juventude eterna até cursos online que asseguram o sucesso em 10 passos fáceis. Estamos todos a comprar ilusões e a principal delas é a de que a felicidade é um produto ao alcance de um clique.   Afim de deixar as coisas mais interessantes - e mais polêmicas - lembremos que em 1844, Karl Marx alertava sobre a alienação do trabalhador. Mal sabia ele que, em 2025, estaríamos alienados não só dos produtos do nosso mercado, mas de nós mesmos. Hoje o proletariado digital produz conteúdo gratuito para corporações bilionárias em troca de dopamina (olha eu aqui, também fazendo parte da roda - mas sobre a parte da dopamina tenho minhas dúvidas).   Se antes vendíamos a força de trabalho, agora vendemos nossa própria imagem.   Jean Baudrillard dizia que estamos vivendo na hiper-realidade, onde não importa mais o que é real, mas sim o que parece ser. Não somos avaliados pelo o que somos, mas pelo que conseguimos encenar para uma plateia dispersa, cujos aplausos são apenas cliques silenciosos.   A Filosofia das Aparências   Friedrich Nietzsche afirmou que “As convicções são as inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.”. Aplicando está lógica, a nossa convicção na necessidade de parecer feliz é mas prejudicial do que a própria infelicidade.   Estamos obcecados em mostrar uma fachada alegre e esquecemos de questionar o que realmente nos faz felizes. Tornamos-nos prisioneiros de uma imagem que nós próprios criamos - e por influência de quem?   Se Michel Foucault nos ensinou que o poder se manifesta através do olhar disciplinador, então as redes sociais são os novos panópticos. A vigilância não vem mais de uma torre central, mas do próprio desejo de ser visto e aprovado. E a necessidade de parecer espontâneo torna-se um novo tipo de disciplina social, onde cada um se vigia e se ajusta para não parecer forçado na busca por naturalidade.   Schopenhauer , que via a vida como uma eterna frustração de desejos, teria uma crise existencial ao ver que, agora, desejamos ser espontâneos e, para isso, seguimos regras invisíveis de engajamento e branding  pessoal. Nossa “vontade de viver” foi substituída por um algoritmo que dita quais tipos de autenticidade performada são mais bem aceitos.   Narciso Atualizado: Versão 5G   O Mito de Narciso nunca esteve tão atualizado. Mas ao invés de um lago cristalino, nos contemplamos nos reflexos filtrados do feed. A tragédia original permanece: era para apenas amarmos nossa imagem, mas terminamos consumidos por ela. Freud chamaria isso de uma forma moderna de neurose, enquanto Nietzsche provavelmente riria da nossa cara e diria que somos apenas escravos de um novo deus: a opinião alheia.   E se você pensa que a solução é simplesmente “desligar a Wi-Fi”, lembre-se que a angústia do ser humano não começou com as redes sociais - só foi (e ainda é) usada por elas. Pascal já dizia: “Toda a infelicidade dos homens provém de uma única coisa: serem incapazes de permanecerem sozinhos em seus quartos.”. Com Wi-Fi ou sem, continuamos desesperados por significado.   A Psicologia do Like   B. F. Skinner , o pai do behaviorismo, ficaria fascinado com as redes sociais. Elas são o experimento perfeito de reforço intermitente: postamos uma foto e, se os likes  vierem em enxurrada, sentimos um pico de prazer. Se forem escassos, sofremos uma leve abstinência. O ciclo recomeça. E quem controla os reforços? O algoritmo.   Enquanto isso, Carl Jung reviraria os olhos e diria: “Você não é o que os outros pensam sobre você.”. Mas quem se importa com Jung quando o engajamento está abaixo da média?   A Busca pela Imperfeição Perfeita   E eis que surge uma nova tendência: a busca pela imperfeição perfeita. Sim, você leu certo. Agora, ser autêntico significa mostrar “suas falhas”… mas apenas aquelas bonitas, é claro. Uma manchinha de café na camisa branca? Um charme. Olheiras após uma noite mal dormida? Sinal de uma vida agitada e interessante. Uma famosa com celulite? Nossa, ela é gente como a gente! Que símbolo de empoderamento e militância.   Como diria o filósofo Slavoj Žižek , “A escolha verdadeiramente livre é aquela em que eu não escolho apenas entre duas ou mais opções, mas escolho mudar o próprio conjunto de escolhas.” . No contexto das redes, isso poderia significar escolher não apenas entre postar a foto perfeita ou a foto “autenticamente imperfeita”, mas questionar a própria necessidade de postar.   O Algoritmo como Novo Deus   Neste novo panteão digital, o algoritmo reina supremo. É o oráculo moderno, decidindo o que veremos, o que curtiremos e, consequentemente, quem seremos. Sacrificamos nossa privacidade, nosso tempo e, muitas vezes, nossa saúde mental no altar deste deus binário, esperando suas bençãos na forma de likes , compartilhamentos e seguidores.   A Ironia da Conexão na Era da Solidão   Estamos mais conectados do que nunca e, ainda assim, a epidemia de solidão cresce a cada dia. É como se estivéssemos todos gritando em uma sala cheia de gente, mas ninguém realmente escutasse. Postamos, curtimos, comentamos, mas quantas dessas interações são verdadeiramente significativas?   A filosofa Hannah Arendt uma vez disse que “A solidão organizada é consideravelmente mais perigosa que a impotência desorganizada de todos os dominados.”. Será que nossas redes sociais cuidadosamente curadas não são exatamente isso - uma forma de solidão organizada?   O Futuro da Autenticidade Digital   Então, para onde vamos a partir daqui? Continuaremos nessa busca incessante pela perfeição imperfeita, ou encontraremos uma forma de ser verdadeiramente autênticos online?   Uma resposta possível pode ser: não procurarmos uma resposta. Nas palavras de Oscar Wilde : “Seja você mesmo, todos os outros já existem.”. Ou, pelo menos, procuremos ser nós mesmos sem precisarmos de três tentativas e um ajuste na saturação. Abracemos o caos, a imperfeição e a vulnerabilidade real - não as versões editadas e filtradas da vida. O rebelde neste quesito seria aquele que desliga o celular e vai viver uma vida que não precisa ser documentada para ser validada.   Talvez - e apenas talvez - a espontaneidade genuína resida no ato subversivo de não querer provar nada para ninguém. Ou, ironicamente, no extremo oposto: assumir que toda nossa vida é um teatro e parar de fingir que não sabemos disso. Afinal, se Shakespeare já dizia que “o mundo inteiro é um palco…”, por que fingirmos que não estamos atuando?   Saída de Emergência?   O objetivo deste artigo não é demonizar as redes sociais, mas compreender que nossa autoestima não precisa depender de um número volátil. Se Epicuro nos ensinou que o prazer verdadeiro vem da moderação, talvez seja hora de reprogramarmos nossa relação com a autoimagem digital.   Se você chegou até aqui, parabéns! Pois você já leu mais do que a maioria das pessoas aguenta ficar sem rolar o feed .   Conclusão que não é uma Conclusão Que a naturalidade online morreu no dia em que a primeira selfie foi tirada pela terceira vez, todo mundo já sabe. Mas isso não precisa ser um problema - desde que estejamos conscientes do jogo. Fingir naturalidade virou arte, e como toda arte, precisa ser apreciada com a devida ironia.   E você aí, o que pensa sobre esse paradoxo da vida perfeita online? Deixe seu comentário, compartilhe suas experiências e sugestões de temas que gostaria de ver abordados aqui no blog. Sua opinião é valiosa e pode ajudar outros leitores a navegarem nesse mar turbulento das redes.   Não esqueça de compartilhar este artigo com a galera - afinal, sharing is caring , mesmo no mundo digital!   E se você esta sedento por mais conteúdos que desafiam o status quo , que tal dar uma espiada no nosso backstage ? Visite o site da UN4RT  para uma experiência exclusiva com conteúdos que vão além da superfície. Até a próxima!   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT   Sim, sim… as fontes, referências e inspirações estão aí, não precisa ser mimizento!   Experiência pessoal , minha relação com as redes sempre foi “8 ou 80”, ou postava muito,ou postava nada. Cheguei a criar contas para depois excluí-las - um bom número de vezes - e já perdi a conta do número de postagens que fiz e também exclui. Durante um período, tive uma profunda repugnância por tudo o que via ali. Muitas vezes, julguei os usuários de maneira ferrenha e desrespeitosa. Hoje - além da opinião que você leu acima - eu também possuo o entendimento de que cada um é livre pra fazer a merda que quiser - inclusive eu. Então vai lá e seja feliz sem encher o saco de ninguém. Jean Baudrillard , Simulacros e Simulação. Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada  e Náusea. Oscar Wilde , Frases e Aforismos. Karl Marx , Manuscritos Econômico-Filosóficos . Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra, A Gaia Ciência  e Humano, Demasiado Humano . Michel Foucault , Vigiar e Punir. Arthur Schopenhauer , O Mundo como Vontade e Representação . Mito de Narciso , na mitologia grega, era um jovem de extrema beleza que desprezava aqueles que se apaixonavam por ele. Como punição, os deuses o fizeram se apaixonar por sua própria imagem refletida na água. Incapaz de se afastar da água, ele definhou até a morte, e no lugar de seu corpo nasceu a flor que leva seu nome.  Sigmund Freud , O Mal-Estar na Civilização. Blaise Pascal , Pensamentos. B. F. Skinner , Ciência e Comportamento Humano. Carl Gustav Jung ,  O Eu e o Inconsciente. Slavoj Žižek , a frase mencionada no texto não provém de uma obra específica, mas encapsula temas recorrentes no trabalho do filósofo relacionados a liberdade, escolha e transformaçõa das condições existentes. Hannah Arendt , As Origens do Totalitarismo. William Shakespeare , Como Gostais . Epicuro , Carta a Meneceu . Tristan Harris , O Dilema das Redes (Documentário). Eli Pariser , O Filtro Invisível. Nir Eyal ,  Indistraível. Giuliano da Empoli ,   Os Engenheiros do Caos.

  • Como Sobreviver a Pessoas Irritantes sem ir para a Prisão

    Ah a vida, eterno experimento social onde somos obrigados a coexistir o que resulta em um desafio hercúleo: lidar com gente pé-no-saco sem cometer um crime digno de documentário de plataforma de Streaming  - sim, eles estão por toda parte.   Desde o vizinho que decide escutar funk às sete da manhã, até aquela colega de trabalho que insiste em explicar para você o óbvio, como se ela fosse Einstein revelando a Teoria da Relatividade. Por isso é importante que você saiba que: não importando quem você seja - Médico ou Monstro - cedo ou tarde, você será confrontado pelas criaturas mitológicas da chatice.   Mas calma, há esperança! Pegue sua xícara de café (ou algo mais forte) e venha comigo, pois hoje vamos explorar as formas de sobreviver a esses seres sem acabarmos atrás das grades.   Um Breve Estudo sobre a Irritação Humana   Seja o sujeito que conversa cutucando, o ser iluminado que decide contar seu testemunho a plenos pulmões na parada de ônibus, ou o ser humaninho que termina cada frase com “Entendeu?” é inegável que a humanidade está repleta de personagens que desafiam nossa paciência e testam nossa capacidade de convívio social sem homicídios acidentais.   Jean-Paul Sartre , sempre muito esperto, já havia nos avisado quando disse “O inferno são os outros.”. Mas será que precisamos realmente considerar a mudança para uma caverna longínqua só para evitarmos um colapso nervoso? Eu acredito que não necessariamente. Há maneiras mais civilizadas e menos juridicamente comprometedoras de lidar com a fauna irritante ao nosso redor. Portanto comecemos compreendendo o que define essa espécie.   Pessoas Irritantes: Uma Definição   A irritação é subjetiva, mas algumas criaturas parecem ter o dom universal de esgotar as reservas de paciência alheia. Schopenhauer via as interações humanas como uma dança de porcos-espinhos: nos aproximamos para buscar calor, mas acabamos nos espetando.   Em função disso, afirmo que: o cidadão que escuta música ruim sem fones de ouvido, a tia que pergunta quando você terá filhos (mesmo sabendo que você não quer te-los), o motorista que freia de soco na sua frente: todos têm algo em comum. Eles apenas não percebem (ou não se importam) com o impacto de suas ações no mundo ao redor.   “A paciência é amarga, mas seus frutos são doces.”, disse Jean-Jacques Rousseau . Mas, Rousseau , querido, você já tentou manter a compostura enquanto alguém mastiga de boca aberta na sua frente?   Estratégias para Sobreviver (Emanando Paz Interior)   Bom, já que o código penal ainda considera homicídio um crime, precisamos encontrar meios menos extremos para lidar com essas criaturas. Por isso aqui vai alguns métodos testados por mim - principalmente durante o período que trabalhei como Bartender   em Berlim.   O Método Estoico Adaptado - Seja uma Rocha, Uma Montanha, Um Wi-Fi com Senha Sêneca , o estoico dos estoicos, dizia: “A vida é muito curta para ser pequena.”. O que em outras palavras significa: não desperdice energia emocional - ou de qualquer outro tipo - com quem não merece.   Ele pregava a indiferença emocional perante adversidades. Se aplicado corretamente, o estoicismo permite que você reaja a um sujeito inconveniente (bêbado ou não) com a mesma impassibilidade de uma estátua de praça pública.  Alguém está lhe contando uma história interminável a respeito de qualquer merda que não te interessa? Imagine um deserto, um campo de lavanda, um filme mudo. Pratique a “face neutra de museu” - aquela expressão inalterável que os seguranças do Neues Museum esboçam ao ouvir os turistas perguntarem onde está o Busto de Nefertiti (quando ela está bem ali, na frente deles).  Outro estoico famosão, Marco Aurélio , em sua obra “ Meditações ”, nos lembra que “A melhor vingança é não ser como o seu inimigo.”. Portanto você pode utilizar também a “Arte da Esquiva Verbal”, essa é outra arma poderosa do nosso arsenal. Ela se resume no uso do escudo do sarcasmo e da espada da ironia. Quando alguém disser algo irritante e inconveniente, responda com um sorriso a la Esfinge e uma frase como: “Que perspicácia! Você deveria patentear essa ideia.”.  O Método Zen Versão 2.0 - O Caminho do Monge Desapegado O budismo nos ensina que a irritação é uma construção da mente. Isso significa que, em teoria, você não precisa se irritar com o cara que decide pagar um cafezinho com uma montanha de moedas de dois centavos. Em teoria. Na prática, sua alma já está gritando internamente como uma sirene de evacuação de incêndio. O segredo? Respire. Medite. Imagine-se flutuando no cosmos enquanto a humanidade continua com sua mediocridade habitual - é só mais um dia no paraíso, aproveite. Outra forma seria você se imaginar como um monge que observa as ondas do oceano: elas vêm e vão, assim como as pessoas irritantes na sua vida. Não tente controlar ou mudar essas pessoas: apenas aceite a existência efêmera delas no grande esquema das coisas. Buda dizia que o sofrimento vem do apego. Talvez a irritação seja, no fundo, um reflexo do que esperamos dos outros. Experimente observar a pessoa irritante como um estudo de caso, um fenômeno da natureza, uma tempestade passageira. A voz dela parece uma taquara rachada ou um pato com rouquidão? Imagine que pode ser um pato em época de acasalamento.  O Método a partir da Abordagem Nietzscheana - A Arte do Desprezo Intelectual Se a paciência realmente não é a sua praia e você é fã de uma abordagem mais audaciosa, por que não experimentar o desprezo refinado? Ao invés de revirar os olhos como um adolescente contrariado, adote a atitude aristocrata intelectual: um olhar de leve superioridade, um suspiro resignado e uma frase que envolva pelo menos duas palavras que o interlocutor não conheça.   Exemplo:  Pessoa irritante diz - “Eu não gosto muito de ler, acho meio chato.” Você responde: “Ah, compreendo. Há mentes que se desenvolvem melhor por meio de outros estímulos primitivos.” (E saia andando).  Devemos admitir que Nietzsche dominava a arte do desprezo refinado, ele nos ensinou que “Aquilo que não nos mata, nos fortalece.”. Uma resposta afiada, mas elegante, pode transformar uma interação insuportável em um pequeno triunfo pessoal. Apenas tome cuidado para não cruzar a linha e acabar com uma treta desnecessária. Use o bom senso sem moderações.  O Método Poderoso do Sarcasmo reforçado pela Fuga Estratégica Oscar Wilde foi o mestre da ironia refinada. Quando confrontado por alguém irritante - o que na era vitoriana queria dizer quase toda a população - ele respondia com humor ácido - mas sem perder a elegância. Afinal, nada desarma uma pessoa irritante mais rápido do que perceber que suas provocações são recebidas com uma indiferença espirituosa.  Sun Tzu escreveu que “A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar.”. Às vezes, a melhor forma de lidar com os insuportáveis é simplesmente sair de perto. Evite, desvie, suma como um ninja. Se não for possível, invista em fones de ouvido, um bom podcast ou uma viagem astral momentânea. Ah, você sempre pode fingir que a pessoa é parte do cenário, como um poste ou um vaso de plantas. Você pode responder com um olhar vago ou até mesmo com a Técnica da Candidata a Miss .  O Método do Experimento Social Esse é extremamente simples, é só transformar o incômodo em diversão. Tente interagir com a pessoa irritante de uma forma inesperada. Se um chato no trabalho está monopolizando a conversa, pergunte algo absurdamente filosófico como: “Você acha que o tempo é linear ou uma ilusão coletiva?” Com sorte, ele se distrai e você escapa ileso (funcionou todas as vezes comigo).  O Método da Conclusão Final (Metaforicamente falando) Mas se tudo falhar e sua paciência atingir níveis críticos, a melhor solução pode evitar esses indivíduos como um vampiro evita a luz do sol. Existem diversas técnicas avançadas para isso e aqui podemos dar asas a criatividade.   O fone de ouvido falso : mesmo sem música, ele protege sua sanidade. A “cara de quem está ocupado” : funciona principalmente no trabalho. O interesse em um livro : finja estar profundamente compenetrado na leitura de um livro (mesmo que este seja apenas um manual de instruções de alguma porcaria que você comprou por impulso). Sempre andar na rua de óculos escuros : as pessoas nunca sabem para onde você está olhando, portanto você sempre pode fingir que não viu quando a pessoa chata acena - em conjunto com os fones de ouvido, isso vira um suprassumo. A desculpa clássica : “Preciso atender a um telefonema importante.” e desaparecer na fumaça da sua própria genialidade.   O Dilema Moral   Aqui surge uma questão filosófica intrigante: será que as pessoas irritantes são realmente culpadas por serem assim? Ou será que somos nós, com nossas expectativas irreais e falta de tolerância, os verdadeiros vilões? Simone de Beauvoir dizia: “O homem é livre; mas ele encontra a lei em sua própria liberdade.”. Talvez devêssemos refletir sobre nossa própria responsabilidade em nutrir sentimentos negativos diante dessas inevitáveis interações humanas.   No que resulta no desenvolvimento da empatia, esse sentimento raro e esquivo, também pode ser útil. Tente imaginar a pessoa irritante como um ser humano com seus próprios problemas e inseguranças. Talvez ela esteja apenas tentando chamar atenção, como um pavão desesperado por elogios e reconhecimento. Ou talvez ela seja apenas… irritante e esta tudo bem.   O Grande Desafio da Convivência com Humanos   O mundo está repleto de pessoas irritantes e, a não ser que você se mude para uma caverna no Himalaia, vai ter que aprender a conviver com elas. Esse convívio pode ser um teste diário de resistência mental e autocontrole. Portanto se pensarmos bem, esses indivíduos nos proporcionam um exercício constante de evolução espiritual - ou pelo menos uma grande oportunidade para treinar nossa habilidade de evitar um colapso.   Não esqueçamos que no fundo, todos somos apenas parte do espetáculo caótico da vida humana e nós não controlamos as ações dos outros, somente nossas próprias. Sendo assim, se todos os métodos, técnicas e estratégias de convívio falharem nós sempre podemos fingir demência ou um ataque de amnésia seletiva.   Na minha opinião as pessoas irritantes são como espelhos distorcidos; elas nos mostram nossas próprias falhas e inseguranças sob uma luz desconfortável. Talvez seja hora de abraçarmos esse desconforto e usá-lo para crescer - ou pelo menos para rir enquanto seguimos em frente.   Agora, se você chegou até aqui sem querer jogar seu celular na parede, parabéns! Você está pronto para sobreviver sem precisar de boletins de ocorrência. Então que tal explorar mais um pouco?   Curta, deixe nos comentários seu testemunho, quais as técnicas que você usa afim de não utilizar o seu réu primário? Ah e não esqueça de compartilhar com aqueles que precisam de uma dose de sarcasmo filosófico.   E se você quiser acessar conteúdos exclusivos e mergulhar no “ backstage ” das ideias mais ousadas, visite o site da UN4RT  - um refúgio gratuito para mentes brilhantes que precisam de um respiro desse mundo exaustivo.   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT     Sim, as fontes, referências e inspirações estão aí! Boa sorte, você vai precisar!   Médico ou Monstro , referência a obra clássica da literatura escrita pelo escocês Robert Louis Stevenson : " O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde / O Médico e o Monstro ". Jean-Paul Sartre , Entre Quatro Paredes . Arthur Schopenhauer , Parerga e Paralipomena . Jean-Jacques Rousseau , a citação do artigo se trata de uma adaptação de um provérbio popular, e não uma citação direta vinculada a uma obra específica. Sêneca , Cartas a Lucílio . Neues Museum , em português “Novo Museu” é um dos cinco museus que compõe a Ilha dos Museus (Museuminsel) em Berlim, Alemanha. Busto de Nefertiti , importante obra feita em calcário e com aproximadamente 3400 anos, que retrata Nefertiti, a Grande Esposa Real do faraó Akhenaton. O busto se encontra exposto no Neues Museum em Berlim, Alemanha. Marco Aurélio , Meditações. Buddha ou Buda ,  Dhammapada . Friedrich Nietzsche , Crepúsculo dos Ídolos. Oscar Wilde , escritor, poeta e dramaturgo irlandês. Sun Tzu , A Arte da Guerra . Simone de Beauvoir , Para uma Moral de Ambiguidade .

  • Como ter mais disciplina sem precisar virar um Robô

    No paraíso selvagem da internet, sempre aparece algum guru dizendo que acordar às 5 horas da manhã e tomar banho gelado é o segredo do sucesso. E se tem uma coisa que está bombando nas trends , é a produtividade - assim como o primo dela, o famoso burnout .   No teatro da vida moderna, ser disciplinado virou um esporte violento - quase uma competição sobre quem consegue ignorar mais seus desejos humanos em nome de uma alta performance.   Imagine um mundo onde você acorda às 05h15, bebe um suco verde ou um bulletproof coffee e corre 10 km enquanto ouve um podcast sobre “produtividade quântica”. Se esse exemplo lhe parece um sonho de consumo, parabéns! Você acabou de desejar estar no modo máquina, onde até seu lazer é cronometrado para gerar relatórios de “eficiência existencial”.   A ironia disso? A disciplina é de fato necessária para a vida, mas a nossa sociedade pegou essa ideia e passou a vendê-la no melhor estilo “ life hacks ”, tudo a um preço módico, é claro.   Parece muito prático e bonito, mas auto lá, filhote de gafanhoto capitalista. Antes que você se transforme em um autômato movido a cafeína e planilhas, vamos filosofar um pouco sobre como domar essa fera da disciplina sem precisar vender a alma para o deus do lucro desenfreado.   Ser disciplinado e produtivo é perfeitamente possível, melhor ainda é realizável e você não vai precisar virar um ciborgue programado por algum coach de camisa justa. Tudo sem colapso nervoso e até mesmo sem precisar ler “A mágica da manhã”, achando que aquilo é uma revelação divina (experiência própria). Sim, mesmo que ninguém te conte, existe meio-termo entre a preguiça absoluta e o culto à alta performance e tudo isso, sem transformar a nossa vida em um episódio eterno de “ Black Mirror ”.   Vamos começar dando um peteleco - bem de leve - na ferida do status quo .   O Grande Mal-Entendido: Disciplina ≠ Escravidão Moderna   Digamos que a palavra disciplina foi sequestrada. Antigamente, filósofos como Aristóteles viam a disciplina como um caminho para a virtude - o ethos  de quem buscava excelência (não seguidores). Hoje, ela foi repaginada e virou sinônimo de trabalhar até ficar doente ou morrer. (Ps: Isso não é disciplina, é alienação com filtro de produtividade, fica a dica.)   Disciplinar-se não é virar uma máquina eficiente, mas sim construir uma relação honesta consigo mesmo. É mais sobre autodomínio e menos sobre autoexploração.   Simone de Beauvoir dizia que ”…a liberdade é o ato de escolher a si mesmo a cada instante… ” - isso, Senhoras e Senhores, é disciplina e não se acorrentar a uma agenda de produtividade tóxica. É decidir com consciente lucidez onde nós vamos investir o nosso tempo, nosso foco e nossa energia.   Como ter mais Disciplina: O Dilema entre o Zen e o Zumbi Corporativo   A problemática de hoje em dia é que passamos a confundir disciplina com obediência. A obediência é escrava; a disciplina é livre.   Pensadores como Michel Foucault já nos alertavam sobre as técnicas de poder às quais a disciplina se inclui. Essas técnicas são sutis formas de controle que internalizamos e que moldam nossos comportamentos. A disciplina, nesse contexto, pode ser vista como uma tecnologia de poder que nos é imposta, nos domesticando para o bom funcionamento da sociedade.   Mas, e se pudéssemos subverter essa lógica? E se a disciplina fosse uma ferramenta de libertação pessoal, um meio de alcançar nossos próprios objetivos, desvinculados da incessante busca pelo acúmulo de capital?   Nietzsche , com sua habitual audácia, nos falava sobre a “vontade de poder”, não como dominação dos outros, mas como a força motriz para a auto-superação. Uma disciplina genuína, portanto, não seria imposta de fora, mas emanaria de um desejo interno de crescimento, de conquista de si mesmo. É a diferença entre ser o robô programado para obedecer e um artista que esculpe a própria vida com esmero e dedicação.   Óbvio que essa ideia não cairia muito bem nas fábricas do século XIX, onde os operários aprendiam a dançar conforme a música das máquinas - hoje, as coreografias são feitas para as métricas de engajamento. A escola? Nada mais é do que uma linha de montagem de “mentes úteis”.   Simone de Beauvoir já falava brilhantemente sobre a liberdade como um projeto constante, uma construção ética diária. Nesse espírito, disciplina não é prisão, é ponte. Entre o que você quer ser e o que você está disposto a fazer para chegar lá.   Você não precisará acordar às 5 horas da manhã. Mas poderia parar de rolar o feed  das redes sociais até de madrugada, o sentido para a sua vida não vai aparecer no próximo story .   O Monstro Invisível   Você o conhece bem, talvez você até seja ele - às vezes - apenas não percebe.   É aquele que acorda com um ou vários alarmes irritantes - e que aperta o ‘modo soneca’ várias vezes antes de levantar e já vai escutando um podcast de produtividade enquanto está no banheiro, depois responde e-mails ou dá uma 'escroladinha' nas redes sociais enquanto mastiga uma barra de proteína isolada e trata toda forma de descanso como uma falha na moral e inutilidade “por não estar fazendo nada”.   Esse robô aí é filho legítimo de uma sociedade que te convenceu de que sua única função neste planeta é produzir. Não refletir. Não sentir. Não criar. Apenas produzir, bem fácil de entender e executar. Você é só mais um no coletivo Borg . Ele vive em nós sempre que nos sentimos culpados por descansar e quando olhamos para um lindo pôr do sol, enquanto pensamos “eu devia estar fazendo algo de útil com a minha vida”.   Deixa eu te contar uma coisa, esse pensamento não é seu, mas sim de pessoas que monetizam sua atenção, sua ansiedade e seu tempo. Exagero? Continue lendo.   As Visões da Disciplina   Simone de Beauvoir , com sua lúcida análise da condição feminina, nos mostrou como as estruturas sociais muitas vezes nos impõem disciplinas invisíveis, limitando nossas escolhas e nos moldando a papéis predefinidos. Sua busca por autonomia e liberdade exigiu uma disciplina pessoal implacável, uma recusa em se curvar às expectativas alheias.   Com suas ideias matemáticas e filosóficas, Pitágoras falava sobre a relevância da ordem e da harmonia. Ele acreditava que a disciplina era algo que se estendia para muito além do simples cumprimento de normas, algo mais profundo que refletia a nossa busca pelo equilíbrio interno, a consistência entre nossos pensamentos e ações.   O estoicismo, por sua vez, defendia a autodisciplina como sendo a estrada para a virtude e a aceitação das coisas que não podemos controlar. Enquanto isso, o hedonismo sussurra em rouca voz que o prazer momentâneo e imediato é o único objetivo verdadeiramente relevante.   O meio-termo, como sempre, parece ser o ideal - e o mais trabalhoso em alcançar. Nós podemos buscar o prazer, sem dúvidas, mas sem que isso nos desvie completamente de nossos objetivos de longo prazo. Digamos que é como comer meia forma de bolo de cenoura com cobertura de ganache de chocolate belga no fim de semana, sabendo que teremos uma consulta com o nutricionista na segunda-feira.   O behaviorismo, com seus experimentos de reforço e punição, tenta nos condicionar a comportamentos desejáveis por meio de recompensas e castigos. Mas será que queremos mesmo ser como os cachorrinhos de Pavlov, salivando ao som do sino da produtividade? A disciplina genuína vem de uma compreensão interna do porquê fazemos o que fazemos, e não apenas da busca por uma recompensa externa.   Disciplina e Liberdade: Um casamento improvável?   A contradição aparente entre disciplina e liberdade é só isso: aparente. Usando novamente os estoicos como exemplo - principalmente Epicteto - que já nos ensinava que a liberdade verdadeira vem do domínio interno. Não é sobre fazer o que quiser e quando quiser, mas sim, saber o que vale a pena fazer e manter-se firme, mesmo - e principalmente - quando ninguém está olhando.   Virginia Woolf , do alto da sua escrita visceral, diria que é preciso “um quarto todo seu” - um espaço interno de reflexão e escolha, que se resume em espaço, tempo, silêncio.   Ambos, tanto Epicteto quanto Virginia , falavam da mesma coisa, de formas diferentes: Estrutura como liberdade, não como prisão. A disciplina saudável é uma arquitetura da existência. Um pacto entre você e sua capacidade de criar sentido, mesmo em meio ao caos.   Mas é importante não cairmos na armadilha de acharmos que disciplina e austeridade são sinônimos. Pois, na verdade, tudo isso também se resume a curarmos a nossa relação com o tempo. Deveríamos parar de ver as horas como moedas e começar a vê-las como pincéis.   Desmistificando a Autodisciplina   A disciplina é aquele músculo teimoso que você precisa exercitar. No início, dói, você sua, pensa um milhão de vezes em desistir e talvez até chore um pouco em posição fetal. Mas, com o tempo e a prática constante, ele se fortalece, permitindo que você levante pesos maiores - metaforicamente ou literalmente, depende - e tudo isso sem que a sua sanidade mental “vá comprar cigarros e não volte mais”.   Portanto, ser disciplinado - de acordo com a minha experiência - é ter consistência com seus próprios objetivos, não com os do RH da sua empresa e nem com os de outras pessoas. É ter coragem de escolher uma cadência confortável e constante em um mundo que valoriza a pressa errante. É dormir oito ou nove horas por noite com o celular em modo avião. É ler pelo menos 10 páginas de um livro sem ficar checando o celular a cada três minutos.   A disciplina real é subversiva. Porque ela implica em autoconhecimento, e o autoconhecimento é a arma mais perigosa contra um sistema que nos quer alienados, cansados e doentes.   Práticas & Dicas para Disciplina Descolada (tudo sem precisar virar um Drone)   Vamos ao que interessa. Aqui estão várias práticas (não tão) secretas que eu busquei, estudei e pratiquei - algumas até hoje, não só do como ter mais disciplina, mas também de como optimizá-la.   Escolha a(s) que mais fizerem sentido para você e só vai!   Desconfie dos gurus da produtividade:  eles lucram com a sua insegurança. Se alguém promete que sua vida vai mudar em 7 passos (com ou sem planner ), corra. A vida é mais caótica do que isso, e o que serve para um pode não servir para todo o restante da população. Lembre-se: Buddha aprendeu a meditar sem precisar de um curso online, portanto você também consegue. Defina seus “porquês” com clareza : por que você quer ser mais disciplinado? Se a resposta for apenas “para ganhar dinheiro e impressionar meus vizinhos”, talvez te falte um propósito mais profundo. Estabeleça prioridades que façam sentido para você : não para o seu/sua chefe. Não para marido/esposa/filhos, ou seja, ninguém mais além de VOCÊ. Comece pequeno, pense grande (mas não se cobre demais no início) : não tente correr uma maratona no primeiro dia. Comece com metas pequenas e alcançáveis e vá aumentando-as gradualmente. Tenha uma rotina, mas trate-a como um esboço, não como uma sentença judicial : flexibilidade também é disciplina. A rigidez é o caminho mais rápido para a desistência. Gerencie suas distrações (a não ser que elas sejam realmente divertidas) : identifique o que te impede de se concentrar (redes sociais, conversas paralelas, a divagação da sua própria mente) e encontre estratégias para lidar com isso. Evite o multitasking  como quem evita um golpe de pirâmide financeira - a não ser que você REALMENTE tenha capacidade para isso : fazer tudo ao mesmo tempo é o caminho mais curto para não fazer nada direito. Inclua o descanso como parte do processo, não como prêmio : descansar não é recompensa. É necessidade fisiológica, mental, emocional e criativa. Use a técnica Pomodoro com vinho, trabalhe 25 minutos, descanse 5 e no quinto ciclo substitua o cafézinho por um vinho, por exemplo. Abrace a arte de dizer “não”:  dizer não a reuniões inúteis e a outras coisas das quais nós não queremos e não precisamos (inclusive pessoas) é como dizer “não” a uma overdose de açúcar - dói no começo, salva depois. Use a tecnologia a seu favor (sem virar escravo dela) : existem diversos aplicativos e ferramentas que podem te ajudar a organizar seu progresso. Mas lembre-se, eles são ferramentas, não mestres. Pratique atenção plena e o autocuidado (robô quebrado não produz) : durma bem, alimente-se com comida de verdade e reserve tempo para atividades que te dão prazer. Concentre-se em seu presente, você não precisa virar o Dalai Lama. Só precisa estar  consciente onde está. Crie rituais (sem cair na neurose), não apenas tarefas : Fazer café pode ser um ritual de foco. Escrever pode ser um ritual de presença. Tomar café lendo um livro é mais eficaz que marcar “ler 10 páginas” na agenda. Rituais dão sentido às ações e criam prazer na prática. E prazer vicia - ou você acha que os rituais são ainda tão usados nas religiões e etc. por quê?! Rituais são sagrados, rotinas são burocráticas. Use isso a seu favor. Solte a chibata da penitência, esteja confortável com a inconstância e permita-se falhar : A disciplina não é linear. Haverá dias bons e outros nem tanto. O importante é não desistir na primeira escorregada, portanto, treine como um monge zen, mas permita-se um dia de preguiça. Até os samurais tinham dias de folga. Desenvolva a autocompaixão (porque você não é - ainda - um super-humano, independente de achar ou tentar ser um) : Seja gentil consigo mesmo, principalmente nos momentos de dificuldade. A autocrítica excessiva é paralisante. Lide com a procrastinação como um sintoma, não como um defeito de caráter : Você não procrastina porque é preguiçoso. Talvez seja medo, ou insegurança, ou cansaço, ou até mesmo tédio… Investigue! Reinterprete o fracasso : Errou? Ótimo. Agora você tem dados, não um motivo para se flagelar. Troque autocrítica por autoresponsabilidade : “Eu só faço merda” é autopunição. “Eu cometi um erro, posso fazer melhor” é maturidade. Uma frase constrói, a outra destrói. Abrace o ócio criativo:  a disciplina mora onde o entretenimento morre. Quem não consegue ficar 10 minutos em silêncio consigo mesmo vai ser refém do algoritmo. Desinstale as mídias sociais. Pelo menos por uma semana. Vai lá, seja forte. Como já dizia Bertrand Russell : “O tédio é um terreno fértil para as ideias.” Dê férias ao algoritmo e tempo à sua intuição : quem vive pautado por notificações vira produto. Silencie o celular e ouça a si mesmo. Ps: Você tem ideias que são muito boas, de verdade. Escute-se. Tenha um motivo maior que sua conta bancária : objetivos motivados apenas por grana ou validação social viram areia escorrendo entre os dedos. Disciplina exige propósito. Pergunte-se: “Para quê, exatamente, eu quero isso?”   Crie micro-hábitos, não maratonas existenciais : Não tente virar um monge budista em 3 dias. Comece com 10 minutos de leitura, 5 minutos de meditação, 2 de respiração consciente. É o acúmulo de pequenas ações que move montanhas. Automatize o que não importa, priorize o que te move : Steve Jobs usava sempre a mesma roupa. Não porque era um monge zen e muito menos porque não tinha dinheiro para comprar outras, mas porque ele entendia que foco é um recurso limitado. Economize energia para criar, não para decidir entre calça jeans ou moletom. Duvide sempre do “ótimo é inimigo do bom” : A perfeição é uma armadilha para justificar  burnout . Prefira o “feito, não perfeito” - até seu café pode ser ruim e ainda assim, funcionar. Recompense-se sem culpa, celebre microvitórias, mas com moderação : Celebre suas conquistas, mesmo as que você considera pequenas, isso te ajudará a reforçar os hábitos positivos. Terminou um e-mail sem mandar alguém para o inferno? Parabéns. Só quem convive/trabalha com pessoas sabe o quanto isso conta como uma vitória. Pratique a “ignição fria” : Comece tarefas chatas sem pensar e por primeiro. Como Nietzsche diria: “Às vezes, é preciso pular no abismo e descobrir que ele é raso.”. Misture trabalho e prazer (de forma moderada é claro) : escreva relatórios ouvindo heavy metal . Leia um livro de filosofia em um bar. O caos pode ser extremamente produtivo. Só não use isso como desculpa para a falta de organização na sua casa ou atos de natureza sexual em público. Cultive a disciplina como um romance, não como um regime militar : A disciplina não é algo que se impõe, é algo que se seduz. É um flerte diário com sua melhor versão, não um grito de ordem. Pratique a paciência (a disciplina é uma maratona, não uma corrida de 100 metros) : Resultados significativos levam tempo. Não se frustre se não vir mudanças da noite para o dia. Encontre um “parceiro de disciplina” (se você é do tipo que suporta a companhia de outra pessoa ou que precisa de incentivo de alguém) : Compartilhar seus objetivos com alguém pode te ajudar a se manter motivado e responsável, MAS, tenha absoluto cuidado com isso. Escolha alguém que seja realmente de confiança e (de preferência) que compartilhe do mesmo objetivo que você. Caso contrário: Cresça em silêncio! Não precisa sair contando seus sonhos, metas, planos para qualquer um. Lembre-se de que seu valor não está no que você produz : Você é valioso mesmo se passar o dia olhando para o teto, ou coçando a bunda ou até mesmo, enquanto arrasta correntes pela casa.   Em Resumo (para quem chegou agora e está com preguiça)   Disciplina não é chibata, é bússola. Ela serve para te orientar, não para te punir.   Ser disciplinado sem virar escravo do trabalho é encontrar um equilíbrio entre a busca por objetivos e o respeito pela própria sanidade. É usar a disciplina como uma ferramenta para alcançar o que realmente importa para você, sem se deixar consumir pela pressão de um sistema que, muitas vezes, nos quer como meras máquinas de produção. É sobre ter foco, criar hábitos saudáveis e persistir, mas também sobre saber quando desacelerar e aproveitar a vida.   A sociedade tenta nos vender a ideia de que disciplina é sinônimo de obediência - a algo ou alguém. Mentira. A disciplina real é uma rebelião silenciosa contra a tirania do “não tenho tempo”.   Curtiu o artigo?   Aqui, cada texto é uma conversa sem filtro que também possui sua versão em áudios, sem cortes, sem censura, perfeita para quem quer consumir conteúdo no trânsito, na faxina, na privada ou até mesmo naqueles momentos em que o silêncio grita.   Deixe seu comentário, sugira temas, xingue minhas analogias, mande perguntas, compartilhe com os amigos que são escravos dos planners … A gente lê tudo e responde com gosto!   Ah, e se você é do tipo mais exigente, mais questionador, mais fora da curva, então corre pro site da UN4RT  - nosso backstage  com conteúdo ainda mais ousado e visceral, feito especialmente para aqueles que não engolem a superficialidade nem com açúcar mascavo.   Disciplina, sim. Alienação não. Resista, seja disciplinado mas, do seu jeito e com estilo! Nota da Autora : Este artigo “se escreveu em minha mente” entre 3h e 5h da manhã, com auxílio de mosquitos zumbindo em meus ouvidos, uma briga de gatos na minha janela e com um ódio saudável às minhas planilhas de organização de ideias do Notion. A ironia nunca é acidental - mas sim, uma técnica de sobrevivência.       “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT       Ah, pega as fontes, referências e inspirações aí, só não enche o saco!     Black Mirror, série de televisão britânica que foi comprada pela Netflix. Foi criada por Charlie Brooker e se concentra em temas obscuros de uma forma satírica, onde o principal foco é a sociedade moderna. Particularmente fala a respeito do como a tecnologia pode transformar nossas vidas em um "pesadelo high-tech " . Aristóteles , Ética a Nicômaco . Ethos, palavra de origem grega com conceito filosófico. Define-se como o conjunto de características e modos de ser que definem o caráter ou a identidade de um grupo. Para os gregos antigos essa palavra tinha como significado original a morada do homem, ou seja, a natureza. O Ethos seria moldado por meio da educação, do exemplo e da prática constante, o que forma o caráter virtuoso. Simone de Beauvoir , Por uma Moral de Ambiguidade. Michel Foucault , Vigiar e Punir e a História da Sexualidade - Volume I: A Vontade de Saber. Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra. Borg, "Resistir é inútil", frase conhecida pela "espécie" de organismos cibernéticos do universo ficcional Star Trek . Eles acreditam que a solução para todos os problemas do universo é transformar todo mundo em robô sem opinião própria. Pitágoras de Samos, filósofo e matemático grego, fundador do Pitagorismo. Estoicismo, filosofia que ensina a viver de acordo com a razão, buscando tranquilidade interior ao aceitar o que não podemos controlar, focando em nossas reações diante das adversidades. Hedonismo, filosofia que defende a busca por prazer como principal objetivo da vida. Behaviorismo, abordagem psicológica que foca no estudo do comportamento observável, rejeitando a análise de processos mentais internos. Cachorrinhos de Pavlov, referência a um famoso experimento conduzido pelo psicólogo Ivan Pavlov, que demonstrou o princípio do condicionamento clássico. No experimento, Pavlov usou um som (estilo toque de campainha) sempre que oferecia comida a um cachorro. Depois de várias e várias repetições, o cachorro já começava a salivar apenas ao ouvir o som da campainha e mesmo que não recebesse nenhuma comida. Isso ocorreu pois o som foi associado a comida, e o cachorro começou a responder automaticamente ao som com a salivação, sem a necessidade da presença da comida em si. Esse fenômeno mostrou como os comportamentos podem ser condicionados por associações com estímulos externos. Epicteto , Manual de Epicteto (Enchiridion). Virginia Woolf , Um Teto Todo Seu. Buddha , Buda ou Siddhartha Gautama, foi um príncipe indiano que viveu aproximadamente entre os séculos VI e V a. C. Dalai Lama, título dado ao líder espiritual do Budismo Tibetano, considerado como a encarnação de Avalokiteshvara, o Bodhisattva da Compaixão. O atual Dalai Lama, Tenzin Gyatso , nasceu em 1935 no Tibete e foi reconhecido como a décima quarta encarnação do Dalai Lama quando tinha 2 anos de idade. Bertrand Russel , A Conquista da Felicidade. Steve Jobs , foi um dos fundadores da Apple Inc.. Era amplamente conhecido por sua visão, perfeccionismo e sua habilidade em antecipar as necessidades do mercado, bem como sua insistência na simplicidade e experiência do usuário. Notion, aplicativo de produtividade que integra diversas ferramentas. Desenvolvido pela Notion Labs Inc. e lançado em 2016.

  • “Eu Só Preciso de Motivação” – Disse Alguém Que Nunca Terminou Nada

    Ah, a motivação! Palavra linda, cheia de promessas e que mais parece uma criatura mítica. Ela é o elixir dos coaches , o unicórnio dos preguiçosos e a desculpa perfeita daqueles que vivem no “modo soneca” existencial.   Mas, cá entre nós, quem nunca escutou - ou disse - essa joia da procrastinação disfarçada de autoconhecimento?   Neste artigo, vamos analisar essa declaração universal dos iniciados eternos, dos especialistas em começos e dos mestres da não-ação. Vamos dar uma viajada até o mundo dos que nunca terminam nada, mas acreditam piamente que tudo mudaria se ao menos a motivação aparecesse.   Há algo de podre no Reino da Autoajuda - e é por isso que falaremos deste tema com toda a seriedade de uma comédia.   O que é motivação?   De acordo com os dicionários comportamentais, motivação é o impulso interno que nos faz agir. Blá, blá, blá… Na vida real e na prática, é o fogo no rabo que te faz levantar da cama e escrever aquele ensaio sobre “ A Ilusão do Eu ” - que já estava mofando há meses. Ou começar aquele programa de alimentação saudável. Ou responder às pessoas que te escreveram há mais de uma semana.   Mas, vamos encarar os fatos: motivação é um amante péssimo - lindo e cheio de promessas no começo, mas que “na hora do vamo vê”, desaparece.   Friedrich Nietzsche , sempre audaz, já dizia que o ser humano cria ilusões para sobreviver ao vazio. E a motivação, com certeza, é uma dessas ilusões.   A Síndrome do Eterno Começo: Uma paixão chamada Ponto de Partida   Falando sério, a maioria pode até discordar, mas não podemos negar que: Começar é fácil. Sim, tudo que é novo tem mais brilho. Os começos embriagam e oferecem a ilusão de infinitas possibilidades. Kierkegaard já dizia: ”… a angústia é a vertigem da liberdade...” e é justamente na liberdade de escolha, no mar de possibilidades, que muitos se afogam.   Mas, por que será que é tão complicado terminar o que começamos? A resposta pode ser simples, a conclusão de algo exige enfrentamento. Finalizar algo significa olhar no espelho e encarar tudo o que fomos, o que deixamos de ser e tudo aquilo que poderíamos ter sido. É ver fracasso e mediocridade onde deveria somente existir responsabilidade. Já o começar, por outro lado, é romantismo puro, tem cheiro de café passado e de caderno caro que não será riscado e usado até o fim.   Motivação não é causa. É consequência.   E a dura verdade que ninguém quer ouvir é: Ninguém age porque está motivado. Mas, todo mundo se motiva porque começou a agir. A ação sempre virá primeiro. A motivação é só o aplauso que ecoa no fim.   Um exemplo disso é começar a fazer caminhada (ou qualquer outro tipo de exercício físico). O primeiro dia é enrolação. No segundo ainda estamos dando desculpas para não ir. No terceiro, talvez, a gente sinta menos dor. Lá no décimo, olhamos no espelho e vemos um mínimo de definição - mesmo ilusória, não importa - mas, algo dentro de nós acende. E eis a motivação ali, como o fogo e não como a faísca.   O Unicórnio Corporativo da Era Moderna e a Geração do Quase   Digamos que, além de vivermos na era do “quase”, a motivação virou fetiche. Ela é vendida e embalada em vídeos de três minutos com trilha sonora épica e frases de impacto fora de contexto. O interessante é que muitos de nós precisam disso para continuar “tocando a vida” - sim, é triste. Tal qual um vício, o mercado da motivação funciona da mesma forma.   O que ninguém diz é que motivação é algo que dá e passa. Ela age da mesma forma que a ressaca moral de domingo à noite, que sempre promete mudanças na segunda-feira - coisa que nunca se cumpre. Mas, a questão aqui não é a ausência de motivação, e sim a falta de disciplina. É muito fácil se sentir motivado com um pôr do sol e prometer-se que amanhã tudo vai mudar. Difícil é acordar cedo na segunda-feira e fazer o que precisa ser feito - mesmo sem vontade.   Nosso querido, azedo e genial Nietzsche disse: “Aquele que tem um porquê enfrenta qualquer como.” Ou seja, se você não sabe o que quer da vida, nenhuma motivação vai ser suficiente para você.   Ninguém ergue estátuas para quem quase fez história. Jean-Paul Sartre dizia que somos condenados a ser livres e nessa liberdade, escolhemos, muitas vezes, a inércia fantasiada de planejamento. E não é que nos falte capacidade, o que nos falta é encarar o fato de que, por trás do discurso da falta de motivação, o que pode existir é medo do fracasso, do julgamento, da mudança e até mesmo de ser bem-sucedido.   Motivação se tornou uma desculpa gourmet  para a falta de disciplina  e vergonha na cara. Vivemos tempos em que a ideia de ser produtivo requer a compra de cursos, contratação de coaches  e ser seguidor de pessoas que nem ao menos sabemos se suas vidas são de fato reais. E, como se não bastasse, onde estão aqueles que compram essas ideias e “técnicas” mas continuam travados e se sentindo ainda mais frustrados? Os “efeitos colaterais” não são mencionados e, quando são, obviamente que em letras ilegíveis.   O que quero dizer é: o problema não são as técnicas, mas a identidade que está por trás da necessidade delas existirem. Enxergar-se como alguém fadado a desistir: “Ah, eu sou assim mesmo.”, “Eu simplesmente não consigo!”... Não, meu caro. Você escolheu ser assim. Assuma! Liberdade implica responsabilidade, inclusive sobre os próprios fracassos.   Práticas brutais e honestas para: se livrar da maldição da não-finalização, parar de depender de motivação e agir com mais consistência   Bom, chega de falácia e vamos ao que interessa. Se você estiver disposto a sair do papel de vítima e assumir a responsabilidade pela sua vida, essas sugestões são para você!   Tenha objetivos claros  - não adianta de nada querer “ser melhor”. Melhor para quê? Por quê? Pra quê? Desligue as notificações quando estiver focado em algo importante  - Sério. Todas. Foco não nasce no barulho (a não ser que você treine). Aprenda a gostar do tédio  - a repetição constrói resultados. Pare de se comparar  - Isso não te leva a lugar nenhum, pois a maioria das pessoas usa a comparação como autoflagelação e não como inspiração. Crie consequências reais  - o que vai acontecer se você não fizer o que deve ser feito? Vai continuar da forma que você não quer. Tem castigo maior do que ser medíocre na própria vida? Para mim, não. Seja seu próprio “chefe”  - autoindulgência é o berço do fracasso. Estabeleça um “prazo da vergonha”  - marque datas, compromissos com você mesmo. Risque do seu diálogo (interno e externo) frases como: “quando der eu faço…”, “segunda eu começo…”, “amanhã eu faço…”   Recompense-se pelo esforço e não pelo resultado  - torne o processo mais agradável do que o resultado em si. Aprenda a começar pelo que você odeia  - as tarefas menos prazerosas devem sempre ser feitas por primeiro e sem pensar demais. Não lhe dê chances de desistir antes mesmo de começar. Aceite o fato de que nada vai estar perfeito  - faça, pois o que está feito é de longe melhor do que o ideal. O perfeccionismo é só outra forma de medo. Leia mais biografias e menos frases de autoajuda  - as pessoas se acostumaram a desejar as coisas prontas, ignorando o processo por detrás delas. Vai lá ver como a coisa foi construída, quanta disciplina esteve envolvida. Entenda seus ciclos de energia  - pare de se cobrar até a exaustão. Principalmente nós, mulheres, que não possuímos uma linha mensal estável. Respeito é a palavra de ordem aqui! Mantenha uma lista de coisas finalizadas  - assim você vai ver o quanto é capaz. Crie rituais, não esperança  - quem tem esperança está sempre à espera de alguma coisa. Pare de esperar, crie seus próprios rituais, eles dão prazer e o prazer vicia! Recompense-se, mas com parcimônia  - muito mimo cria o quê? Adulto mimado, então pare de proliferar essa “raça”. O mundo já está cheio de gente mimizenta, você não precisa também ser um, para variar.    O Paradoxo da Motivação   Curiosamente, quem precisa de motivação é justamente aquele que mais foge da ação. Sim, é cruel, mas é real. Quem vive buscando se motivar é - muitas vezes - quem já decidiu, mesmo que inconscientemente - que não irá finalizar a coisa em si. Esses são aqueles que buscam no externo o que na verdade deveria ser um compromisso interno.   A disciplina é chata, mas é fiel. A motivação pode até ser sexy, mas é uma traíra.   Simone de Beauvoir diria: “É pelo trabalho que a mulher se liberta do homem, e o homem do tédio.” Substitua a palavra “trabalho” por “ação” e você virará uma chave.   Resumo para os motivados   Se você chegou até aqui esperando uma fórmula mágica de motivação, sinto muito. O que você precisa não é de motivação, talvez só um pouco de vergonha na cara e uma dose de autoironia. Motivação não dá em árvore. Mas talvez você compreenda que ela não salva ninguém de nada.   Ela pode inspirar, mas quem irá construir será a disciplina. O hábito molda, mas é a persistência, aquela chata insistente, que irá transformar qualquer projeto em realização.   O que precisamos é de mais atitude, mais ação e não mais motivação. É necessário criar coragem para continuar, mesmo sem o aplauso interno. Pois, a motivação irá embora, mas o hábito ficará.   Portanto, não nos enganemos mais. Comecemos agora. Mesmo que sem vontade, mesmo sem ânimo. Ninguém irá nos salvar da prisão confortável que nós mesmos construímos. E se você é do tipo que curte um soco filosófico e um chute de ironia, continue lendo os outros artigos do blog. Aqui o papo é reto e sem maquiagem, onde cada texto possui sua versão em áudio - sem cortes e sem edição - para você ouvir enquanto vive.   Comente, pergunte, critique, sugira temas, mande para sua mãe, mande para seu crush  ou para aquele amigo que vive falando de motivação. E é claro, dá um pulo no site da UN4RT  - o nosso backstage gratuito de conteúdos mais profundos e exclusivos, feito especialmente para aqueles que não temem pensar, sentir e transformar.   E lembre-se: A dor do arrependimento é silenciosa, mas insuportável. A dor da ação é ruidosa, mas libertadora. Na hora da morte, é preferível morrer com memórias do que com sonhos.     “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT     Aqui estão as fontes, referências e inspirações. Vai lá ler vai.   Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra . Søren Kierkegaard , O Conceito de Angústia . Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo .

  • Manual de Práticas para Não Ter Expectativas

    Pega um café, adoça-o com desdém e senta aí. Concentre-se e vamos lá, alma inquieta, porque hoje nós vamos falar sobre um vício social que ninguém gosta de admitir que tem, mas que todos praticam.   Sabe aquela sensação de que alguém te deve alguma coisa? Aquela pontinha de frustração que aparece quando alguém não corresponde às suas expectativas mais simples? Pois bem, criatura esperançosa, vamos rasgar o véu da ilusão, porque sim, esperar é a arte de sofrer por antecedência, e nós merecemos melhor!   Respira fundo. Solta. Repita comigo: “ Ninguém me deve nada ”   E agora, continue lendo…   A Origem do Vício   Por que esperamos tanto dos outros?   Desde a infância, somos doutrinados pela maior indústria de ilusões que já existiu, a “sociedade”. Ela, como uma boa vendedora, sempre nos empurra o pacote completo: amor incondicional, lealdade eterna, disponibilidade fraterna 24 horas, chefes compreensivos e “humanos”, relacionamentos dignos de contos de fadas… E tudo isso por um precinho módico: nosso tempo, atenção e, em alguns casos, a sanidade. Sartre , nosso lúcido mal-humorado predileto, já dizia: “O inferno são os outros.” E não porque os outros sejam monstros sem coração, mas porque insistimos em projetar sobre eles tudo aquilo que gostaríamos de receber - mesmo que esse recebimento, por algum motivo místico-cármico, jamais chegue.   Expectativas: a Mãe da Frustração (e o Pai Ausente da Paz de Espírito)   Já parou para pensar que toda decepção é filha bastarda de uma expectativa não comunicada? Normalmente fantasia-se, projeta-se, romantiza-se e depois reclama-se que o outro não corresponde, quando ele se quer sabia que fazia parte de um roteiro de novela mental.   Esperar que o outro retribua, entenda, perceba e leia nas entrelinhas das nossas ladainhas neurais… é como usar uma rede de Wi-Fi aberta e achar que vamos navegar seguros.   O problema não é o outro, mas sim a conexão que esperamos ter.   Galera inteligente que já tinha sacado essa muito antes de virar trend   Epicteto , o estoico raiz, já falava que devemos controlar o que depende de nós e ignorar o resto. Esperar que os outros façam algo é o contrário da filosofia estoica. Se queremos paz, temos que abandonar o “ele(a) devia” e abraçar o “tanto faz”.   Nietzsche , com o seu eterno retorno e a aceitação do caos inevitável, já tinha cantado a pedra: “se você tivesse que viver sua vida, com todas as suas decepções, infinitas vezes… você viveria?”. Pois é, né, então é melhor parar de ser igual a CD riscado, repetindo o mantra de esperar que os outros sejam como você é com eles. Querer que o mundo se encaixe em nossos valores é pura arrogância. O sofrimento é inerente à existência, mas resistir a ele nos transforma. O Übermensch  ("Super-Homem"/"Além-do-homem") não espera nada de ninguém. Ele cria. Ele transforma o “você me decepcionou” em “tô nem aí! Vou me autosuperar!”. Portanto, não esperar nada dos outros é parar de resistir ao óbvio: o outro é e sempre será imprevisível.   Simone de Beauvoir , maravilhosa e sarcástica, já avisava: “…o outro é livre, mesmo quando isso nos fere...”. Esperar que os outros nos compreendam ou nos tratem como nós gostaríamos é negar a liberdade deles. Não deveríamos querer moldá-los ou manipulá-los só porque queremos carinho, atenção, aceitação ou boletos pagos. A liberdade alheia raramente é simpática aos nossos caprichos emocionais.   Simone Weil , a filósofa mística, já afirmava que dar sem esperar é o único ato que caracteriza a verdadeira liberdade. O amor genuíno se doa sem pedir ou esperar retorno. Não porque quem assim o faz seja fraco, mas porque este é consciente de sua força.   Schopenhauer , aquele tio pessimista de cara fechada, dizia que toda forma de apego se trata de um potencial sofrimento. “A vida oscila como um pêndulo entre a dor e o tédio.” Então, adicionar “expectativas sobre algo ou alguém” nesse pêndulo seria como pedir para levar uma tijolada nos dois lados da cara. Portanto, esperar algo é cavar a cova da nossa própria tranquilidade com uma colher de chá.   Lacan falava que o desejo é sempre do outro, ou seja, estamos fodidos. O que queremos que nos ofereçam - seja lá o que for - é algo que os outros não fazem ideia que existe. Esperar é como controlar algo inconsciente, coisa que nem o “destinatário da tal espera” compreende.   Chico Xavier - sim, vamos dar um tempero espírita na coisa - pregava o “Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier.”. É, até o médium predileto da galera sabia disso e jogou essa sabedoria estoica embalada de espiritualidade na cara da sociedade brasileira.   O Paradoxo Social: quanto mais esperamos, mais nos dizem para ter paciência   Quem nunca escutou a frase irritante “Tudo a seu tempo.” não sabe o que é querer dar na cara de alguém. Nós temos consciência de que vivemos ‘á mercê de leis temporais’, já dizia Severo Snape : “O tempo e o espaço contam na magia, Potter.” Mas, mesmo assim, existem os ‘Einsteins’ da vida que amam repetir essa frase como se ela fosse o elixir da resolução de problemas, quando quem está do outro lado - na maioria das vezes - se encontra em meio a uma tempestade emocional.   É curioso como muitos de nós exigimos somente o mínimo - respeito, consideração, uma resposta que não seja apenas um emoji... - muitas vezes, apenas esse mínimo já se torna motivo suficiente para ouvir um “calma” ou “pois é, uma pena, mas isso é normal…”.   Mais curioso ainda - na minha opinião - é quando paramos de esperar, de dar atenção, ou de chamarmos um comportamento escroto de “normal” é aí que, como num passe de mágica, nos transformamos em frios, egoístas, “desiludidos”, negativos… e até mesmo loucos niilistas.   Dependência Emocional em Tempos Líquidos   Nossas relações possuem prazo de validade curto, mas com cobranças eternas. Sendo assim, não podemos depender emocionalmente de gente que muda de avatar a cada semana e promete amor com 233 caracteres e emojis.   Esperar é dar poder e a espera é o altar onde o desespero se casa com a desilusão. É quando transformamos os outros em donos da nossa paz.   E por que isso nos dói tanto?   Porque somos treinados a agradar e sermos agradados. Condicionados, feito os cachorros de Pavlov, salivando a cada migalha de aprovação.   Porque o ego sempre grita “eu mereço mais!”. E talvez até mereça mesmo, mas o universo não tem a menor obrigação de entregar nada, quando o ser não faz isso por ele mesmo.   Práticas para Mandar as Expectativas para o Inferno   Isso aqui são sugestões, faça por sua conta e risco. A ideia é sempre criar unicórnios, mas não criar expectativas.   Comece o dia dizendo “ ninguém me deve nada , mas eu me devo tudo”  - Repita isso feito um mantra. Escreva no espelho. Imprima em uma camiseta. Isso liberta mais do que terapia barata. Cole na testa: “não sou o centro do universo”  - Isso não é falta de autoestima. É maturidade emocional. Aceitar que ninguém tem obrigação de agir como você quer é o puro suco da liberdade. Tenha uma lista de tudo o que o mundo não te deve  - A lista é longa, mas começar a escrevê-la é perceber o quanto de responsabilidade você tem sobre você mesmo. Mantenha o sarcasmo em dia  - O sarcasmo é o escudo filosófico dos sensíveis. Use com parcimônia e com ironias pontuais. Pratique a generosidade anônima  - Faça o bem e esqueça, porque esperar um “obrigado” é só mais um vício não diagnosticado. Desconfie de promessas (inclusive as suas ) - Valorize mais quem te surpreende do que quem te promete alguma coisa. Promessas são iguais a balas de goma vencidas, têm boa aparência, mas o gosto decepciona. Aprenda a rir do drama antes que ele resolva rir de você  - Se tudo der errado, ria. Mas ria com força, quase gritando. O riso é a forma mais barata e indolor de vingança emocional. Quando alguém falhar com você, repita: “Isso é sobre ele(a), não sobre mim.”  - A responsabilidade por criar expectativas é e sempre será sua, mas o fato de o outro ter feito alguma cagada não é problema seu. Esteja presente, mas com um pé na porta  - Isso não quer dizer que você deva ter relacionamentos rasos. Empatia, sim. Mas com bom senso. Se a porta do afeto bater, que não seja na sua cara. Use o “foda-se” com consciência espiritual  - Não se trata de ser insensível, mas sim de saber onde começa a sua paz e onde termina a ‘obrigação’ do outro. Desenvolva um relacionamento erótico com a palavra “não”  - Ela é curta, honesta e vai te poupar o dinheiro de algumas sessões de terapia. Tenha planos de fuga emocional  - Sim, eles funcionam como um botão de emergência. Quando a merda começar a feder, pelo menos você tem para onde ir (nem que seja tomar um banho gelado). Recompense-se quando não explodir  - Nada como um chocolate, uma caminhada ou um bom livro para comemorar a maturidade. Portanto, a cada vez que você não manda aquele textão, ou aquele podcast em formato de áudio, comemore. Isso é evolução espiritual. Faça de você a sua melhor companhia  - Existe uma diferença bem grande entre solidão e se sentir sozinho. Portanto, quando a solidão vira escolha, ela deixa de ser prisão e todos que estiverem ou se aproximarem de você poderão ir e vir como quiserem. Crie vínculos, não dependências  - Quem precisa, se prende. Quem compartilha, se liberta. Desconfie de elogios exagerados  - Eles são tipo aquele aperitivo que vem antes do prato principal: cobrança disfarçada de afeto. Desapegue do “reconhecimento”  - A maioria só vai te reconhecer depois que você morrer. Então, vá viver de forma mais leve. Construa sua rotina sem depender do “vamos marcar”  - Se alguém quiser, pode ter certeza, vai aparecer. Quem quer, dá um jeito e quem não quer, dá um ghost   ou uma desculpa. Faça planos consigo mesmo e convide os outros, mas sem pressão  - Se alguém vier, ótimo. Se não, o rolê continua e é vida que segue. Esteja inteiro antes de esperar pela metade de alguém  - Isso aqui é para os adeptos do termo “alma gêmea”, “outra metade da laranja” e sei lá mais o que... Invistam em autodesenvolvimento e amadureçam emocionalmente, assim vocês não precisarão de alguém para completar e sim para multiplicar. Aprenda a curtir e a respeitar o silêncio dos outros  - Nem todo vácuo é rejeição - e mesmo se for, ninguém é obrigado a aceitar quando não quer. Às vezes é só falta de vontade de responder ou alguém sendo… ele mesmo. E tudo bem. Evite usar frases como “no seu lugar eu faria diferente”  - Você não está no lugar do outro e talvez nem aguentasse estar. Então, se não tiver algo melhor para falar, só cale a boca. Não se esqueça, sempre terá alguém pronto para julgar o que você faz, sente ou escolhe. Mas essas pessoas nunca estão no seu lugar, né? Coincidência? Seja generoso por escolha, nunca por carência  - Não seja um mártir das boas intenções, até porque martírio não paga as tuas contas. Fazer o bem esperando palmas é só teatrinho e dar alguma coisa já esperando algo em troca é transação, não generosidade. E, como toda boa transação, sempre existe o risco de um calote. Faça se quiser e esqueça se não vier retorno. Trate expectativas como ex: agradeça e vá embora  - Elas fizeram parte da sua vida e agora só te atrapalham. Dê tchau com classe. Crie uma lista de ilusões quebradas e leia-a de vez em quando  - Nada educa mais do que um bom choque de realidade documentado. É terapêutico.   Não esperar é ser livre, não se trata de frieza   É bem fácil confundir. A ausência de expectativas não é cinismo, é só clareza. A gente segue amando, se doando, convivendo, amaldiçoando - mas sem deixar que o outro defina nossa paz. Nós fazemos, oferecemos, contribuímos… porque escolhemos assim e não porque esperamos retribuição.   A real é que a única pessoa que pode garantir alguma coisa para você é… você mesmo. Esperar dos outros é uma aposta alta em um cassino. Você pode até ganhar, mas vai perder mais vezes do que gostaria. O segredo da paz está em deixar ir, desapegar, soltar… expectativas, idealizações, sonhos terceirizados. Quem não espera nada de ninguém não se decepciona e ainda se surpreende de vez em quando.   Para não deixar dúvidas:   Ninguém está aqui para atender às suas expectativas. E isso não é ruim. Isso é, na verdade, libertador.   Se libertar da necessidade de aprovação, reconhecimento e retorno emocional nos deixa mais leves. E não, isso não nos torna insensíveis. Nos torna mais lúcidos. A vida fica melhor quando nós paramos de carregar a bagagem emocional dos outros.   “ Preguiça mata ambição, ciúmes mata paz, raiva mata sabedoria, medo mata sonho .” (Agora leia isso ao contrário) - Augusto Cury .   Se você gostou dessa surra filosófica, então chega mais:   Leia mais artigos do blog - diretos, afiados e sarcásticos. Prefere ouvir? Temos tudo em versão áudio, sem cortes e sem filtros. Comente, critique, sugira, pergunte. Este espaço também é seu e a revolução começa na troca. Compartilhe com aquelas pessoas que vivem esperando migalhas e chamando isso de banquete. E claro, visite o site da UN4RT  - o nosso backstage  onde só os corajosos têm acesso. Lá tem conteúdo exclusivo e gratuito, nu e cru, só esperando por aqueles que realmente querem sair do script .   PS : Para o caso de alguém estar se perguntando como praticar isso tudo com pessoas próximas, tipo família, amigos… A resposta é simples: Com a mesma leveza de quem visita uma exposição, ou seja, admire, respeite… e vá embora. Mas, caso você queira esperar algo de alguém mesmo assim, a resposta seria: Esperar é humano, só não construa castelos em cima das promessas alheias...     “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT     Ah, dê uma olhada nas fontes, referências e inspirações que estão aí embaixo. Tire suas próprias conclusões e pare de ser papagaio dos outros.   Jean-Paul Sartre , Huis Clos  ( Entre Quatro Paredes ). Epicteto , A Arte de Viver   e Manual de Epicteto ( Enchiridion ) . Friedrich Nietzsche , Assim falou Zaratustra  e A Gaia Ciência . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Simone Weil , A Gravidade e a Graça . Arthur Schopenhauer , O Mundo como Vontade e Representação . Jacques Lacan , Os Escritos. Chico Xavier , médium e filantropo brasileiro. Embora a frase tenha sido amplamente divulgada como parte do seu pensamento, ela não aparece de forma explícita em uma obra única, mas sim em suas mensagens espirituais e conselhos durante suas palestras e escritos ao longo da vida. Severo Snape , um dos personagens mais complexos e intrigantes da saga “ Harry Potter ”, escrita por J.K. Rowling . Zygmunt Bauman , Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos  e  Modernidade Líquida . Cachorros de Pavlov , referência a um famoso experimento conduzido pelo psicólogo Ivan Pavlov, que demonstrou o princípio do condicionamento clássico. No experimento, Pavlov usou um som (estilo toque de campainha) sempre que oferecia comida a um cachorro. Depois de várias e várias repetições, o cachorro já começava a salivar apenas ao ouvir o som da campainha e, mesmo que não recebesse nenhuma comida. Isso ocorreu pois o som foi associado à comida, e o cachorro começou a responder automaticamente ao som com a salivação, sem a necessidade da presença da comida em si. Esse fenômeno mostrou como os comportamentos podem ser condicionados por associações com estímulos externos. Augusto Cury , O Vendedor de Sonhos .

  • Se cada Escolha possui uma Consequência, então por que escolhemos tão mal?

    Escolhas, lindas armadilhas com a forma de liberdade. Dizem que somos livres para decidir nosso caminho - mas esqueceram de mencionar que somos igualmente livres para cavar nossa própria cova. Pois, mesmo sabendo que nossas escolhas carregam consequências - e não estamos falando de pequenas pedrinhas no lago, mas de verdadeiras tsunamis  emocionais - a maioria de nós parece completamente inapta quando o assunto é… bem, escolher.   Será que somos burros? Preguiçosos? Ambos? Ou apenas vítimas de um sistema onde escolher mal é mais conveniente, mas aceito, até mesmo mais lucrativo?   Este singelo artigo é um pequeno mergulho sarcástico, filosófico e um tanto ácido nas profundezas dessa pergunta cruelmente relevante: por que, afinal, escolhemos tão mal?   O Paradoxo da Escolha na Era da Abundância   Estamos vivendo na era do “tudo é possível”. Prateleiras infinitas de produtos, caminhos, estilos de vida, cursos, aplicativos de relacionamento, carreiras, dietas, espiritualidades e religiões, tudo pronto para o consumo rápido. Mas, ao contrário do que o status quo sugere, mais opções não significam, necessariamente, melhores escolhas. Significa, muitas vezes, paralisia.   Sartre , do alto de sua visão aguçada, gritou: “Somos condenados à ser livres.” Simone de Beauvoir completou esse grito com: ”… a liberdade sem responsabilidade é ilusão…”. E o que nós fazemos com essa liberdade? Nós compramos cigarros, aceitamos empregos tóxicos por medo de mudar, casamos por conveniência e/ou carência, comemos pizza às 3 horas da manhã e depois culpamos o nosso metabolismo.   A ironia disso tudo é que a liberdade nos paralisa e quanto mais opções temos, pior a decisão. Sim, e isso não é papo de mesa de bar. O psicólogo Barry Schwartz mostra que o “ paradoxo da escolha ” é real. Em sua obra, ele demonstra com dados que o excesso de opções gera ansiedade, indecisão e arrependimento. Portanto, muitas opções não nos libertam e sim, nos sufocam. E o nosso cérebro, querido, é um conservador preguiçoso que ama atalhos mentais. O resultado? Escolhas rápidas, burras e viciadas nos vícios/hábitos de sempre.   A lógica é, na real, bem simples: quando tudo é possível, nada é satisfatório. E essa insatisfação constante nos empurra para decisões apressadas, baseadas em impulsos e que são sempre mais fáceis de justificar depois com um “ah, pelo menos eu tentei” do que enfrentar a frustração de escolher com consciência.   Outro ponto interessante aqui é que nós adoramos confundir o ter opções com ser livre. Liberdade não é - e nem nunca foi - quantidade de escolha, mas sim qualidade na tomada de decisões. A liberdade real exige responsabilidade. E cá entre nós, responsabilidade não está na lista de desejos da grande maioria da galera.   Escolhas Ruins: Seriam elas uma Herança Genética ou apenas Burrice Contemporânea?   Retrocedendo um pouco na nossa linha do tempo, digamos que o Homo Sapiens  evoluiu para sobreviver e não para ser feliz. Nosso cérebro ainda opera com sistemas de recompensa desenvolvidos na Idade da Pedra. Isso explica por que escolhemos prazer imediato em vez de bem-estar a longo prazo. É a clássica troca da paz interior por 5 minutos de dopamina.   É inegável que nós estamos cercados por estímulos manipuladores. Publicidade, algoritmos, gurus de rede social - todos prontos para decidir por nós. Resultado? Decisões impensadas, inconscientes e automatizadas. Em uma época em que a informação é infinita, somos analfabetos emocionais, reféns das próprias vontades mal compreendidas.   Um Debate Antigo, mas Sempre Atual   Mas essa história toda não é novidade nenhuma. O bom e velho Sócrates já dizia que o problema não é o não saber, é o achar que sabe. Estamos em meio à epidemia do “pseudo-conhecimento”. Todo mundo tem opinião sobre tudo e muitos, especialmente sobre o que não entendem. Quando alguém acha que sabe o suficiente para decidir, na real, não sabe porcaria nenhuma, aí o desastre está garantido.   Sócrates dizia que a chave está no “Conhece-te a ti mesmo”, coisa que, eu tenho a impressão, pouca gente está interessada e disposta a fazer. Compreensível, afinal, autoconhecimento dá trabalho, precisa de tempo e energia, machuca o ego, e todo mundo sabe que o ego ama escolhas fáceis.   Nietzsche chutou o nosso rim com a ideia de que viver é afirmar-se no caos. Chega até a ser engraçado, a maioria de nós prefere a zona de conforto, onde as decisões são terceirizadas por líderes, empresas, algoritmos, gurus, tarólogas, aos pais, cônjuges, amigos(as) e por aí vai. Escolher com autonomia é também aceitar o peso da consequência e, para isso, exige-se coragem - uma virtude em extinção, infelizmente.   Simone de Beauvoir , por sua vez, não deixou barato e nos lembra que somos livres, sim, mas também responsáveis por aquilo que escolhemos ser. E como ninguém curte admitir que é autor da própria novela ruim, então preferimos culpar o horóscopo, o movimento dos planetas, a infância, nossos pais, o diabo etc. A responsabilidade nunca foi glamourizada, mas é ela que define se nós vamos continuar fazendo escolhas ruins ou vamos começar a decidir com um pouco mais de consciência.   A Repetição de Padrão e a Maldição da Procrastinação   Ah, mas errar é humano. Sim, é. Mas repetir o erro é burrice - e transformar em hábito é quase uma obra de arte moderna. As más escolhas não acontecem isoladamente, jamais. Elas vêm sempre em pacote, estilo promoção de supermercado: “Leve uma má decisão agora e ganhe de brinde três arrependimentos futuros!” Agora, se tem algo que mina as boas decisões é a famosa “na segunda eu começo”. Postergar a escolha é, muitas vezes, escolher pelo abandono. Quem empurra tudo com a barriga, uma hora tropeça nela. A procrastinação nos dá a falsa sensação de controle - “eu escolho quando escolher” - mas, na prática, só adiamos o inevitável. Pessoas que procrastinam vivem na esperança de uma inspiração divina de última hora.   Autoengano e a Preguiça de Pensar   É superconfortável enganar a nós mesmos. Quando tomamos uma decisão equivocada, nosso cérebro entra em modo de defesa e começa a criar justificativas plausíveis para o que, no fundo, sabemos que foi uma cagada.   A psicologia chama isso de dissonância cognitiva, o velho incômodo mental causado por pensar uma coisa e fazer outra. Ao invés de encararmos o erro de frente, preferimos reescrever a história - “não foi tão ruim assim…”, “melhor isso do que nada…”, “nunca mais vou fazer isso de novo…”.   E assim seguimos, jogando justificativas em cima de escolhas duvidosas, como quem constrói um castelo em cima de um pântano. Nessa hora, a pergunta que fica é: Tudo isso pode ser medo de errar ou preguiça de pensar?   Ah, perguntinha cruel. Muitas más decisões são tomadas não por ignorância, mas por pura preguiça de refletir. Pensar dá trabalho, exige energia, até dói em alguns casos. Portanto, não é de se admirar que a maioria prefira delegar essa tarefa a outros.   O medo de errar paralisa sim, mas a preguiça anestesia. E, em meio a esse limbo existencial, as escolhas vão sendo feitas por tudo e por todos, menos pelo sujeito que de fato deveria fazê-las. Muitas vezes achamos que estamos no comando, mas estamos apenas apertando “aceitar todos os cookies” da vida sem lermos os termos.   A Terceirização do Pensar   Cara, nada contra quem busca conselhos, eu mesma já fiz isso, mas hoje temos uma verdadeira indústria vendendo receitas prontas para a vida. É óbvio que a massa amorfa não tem mais a necessidade de buscar, estudar e aplicar por si mesma. É coach  para tudo que é coisa, desde finanças até propósito existencial. E o mais interessante é que multidões seguem as fórmulas destes “especialistas” como se fossem manuais sagrados, sem refletir, sem questionar. Como se aquilo que ensinam realmente fizesse sentido para todos, e se algo dá errado, a culpa é do cliente que não fez direito - óbvio.   Estamos na era da terceirização do pensar. “Fulano disse que esse é o melhor caminho para mim, então eu vou por aqui.” E se der merda? A culpa é do fulano que falou. Conveniente, né? Tem gente seguindo conselho de vídeo de dancinha de 15 segundos e ainda se pergunta por que escolheu mal.   Práticas para Evitar (ou ao menos tentar) Fazer Escolhas Ruins   Tá beleza, a vida é um caos, a sociedade está perdida, as redes sociais nos manipulam, a mídia só mente e o nosso cérebro adora nos sabotar. Como a culpa sempre é dos outros, é melhor a gente manter a calma, pois nem tudo está perdido.   As pessoas não dão valor para o que se dá de graça (se quiser nos presentear com um café, clique aqui ), mas mesmo assim vou colocar algumas sugestões de práticas. Quer fazer, faça, se não quiser, não faça, a responsabilidade é tua. Medite  - não é papo de hippie, é ferramenta de autoconsciência e autocontrole. Respire antes de decidir qualquer coisa  - o impulso é inimigo da clareza. Questione suas intenções  - para que você está escolhendo isso? Vai te aproximar do teu objetivo? Escreva  - coloque no papel suas opções, leia-as em voz alta. Como elas soam? Às vezes, só assim para perceber a merda que certas ideias são. Evite decidir qualquer coisa sob emoções fortes  - elas distorcem completamente a realidade da situação. Faça listas de prós e contras  - seja pragmático como o Ross. Nesses casos, é uma ferramenta simples e eficaz. Faça a análise de riscos  - o que pode dar certo? E errado? Eu sei, isso assusta, mas ajuda bastante. Estude suas escolhas passadas  - os erros ensinam mais do que coaches, se você deixar, é claro. Faça terapia  - sim, um BOM terapeuta (são escassos, mas existem) te ajuda a enxergar além das tuas próprias desculpas. Tenha um “conselho consultivo pessoal”  - (isso é para aqueles que necessitam de opiniões alheias), amigos sensatos valem ouro. Use a técnica do “semana que vem”  - imagine os efeitos da sua decisão no futuro. Consulte especialistas  - me refiro a especialistas reais, você não precisa saber tudo, por isso pode ouvir quem entende, de fato, sobre o assunto. Leia  - sobre filosofia, neurociência, psicologia… extremamente úteis, ajudam e muito a entender teu próprio caos. Pratique a leitura crítica  - leia livros de autores que possuem opiniões diferentes das suas. Isso ajuda a expandir a mente e o repertório decisório. Evite a multitarefa mental  - decisões exigem foco. Estude outros casos  - aprenda com os acertos (e os erros) dos outros, mas sem ficar paranoico. As experiências alheias são um MBA gratuito, só cuidado na escolha de qual você analisará. Aceite seus erros  - faz parte da vida, só não use isso como desculpa para repeti-los. Faça uma pausa estratégica  - durma com a ideia antes de decidir, espere 24 horas. A urgência é inimiga da sabedoria. Revise suas crenças  - o que você acredita ainda faz sentido para você? Ou é só uma bobagem emocional inútil? Analise seus hábitos  - a vida é feita de repetições, não de momentos isolados. Porém, o hábito e o vício se formam no mesmo lugar em seu cérebro. Elabore um plano B - se der errado, o que você vai fazer? Ter alternativas, para alguns, traz mais segurança para ousar.   PARE!   Sim, isso mesmo. Pare. Respire. Pense. Reflita sobre o que você realmente quer, não o que você acha que deve querer. Escolher bem não é sobre ter todas as respostas, mas sim sobre fazer as perguntas certas.   Preferir a ilusão do controle à disciplina do autoconhecimento  não é pecado. Portanto, deixarmos de ser imediatistas e emocionalmente desorganizados é necessário. Nós vivemos em uma sociedade onde somos bombardeados por influências externas e ainda tem gente que acha que está no comando das coisas.   Quer mudar isso? Comece entendendo seus padrões. Pare de seguir conselhos que prometem a plenitude e felicidade eternas. Aceite que você e sua vida podem ser muito mais complexos do que simplesmente seguir a técnica do vídeo de dancinha! A ideia é dar o primeiro passo em rumo às decisões menos idiotas. Lembre-se:   Mesmo o não escolher já é uma escolha e isso também terá suas consequências. O preço da omissão geralmente é mais alto do que o da ação. Não existe uma fórmula mágica para tomar boas decisões. O que existe são práticas e cultivar o hábito de pensar, questionar e assumir a responsabilidade. Se você é do tipo de pessoa que acha que os outros escolhem melhor do que você, provavelmente você está observando apenas o resultado e não o processo. Ninguém posta o drama da indecisão, só o sucesso da escolha. O arrependimento nasce da ilusão de que existe uma “escolha ideal”. Não existe. Escolher é uma habilidade como qualquer outra, o que quer dizer que ela se aprimora com o tempo, com a reflexão e a autocrítica sincera.     E se você chegou até aqui, parabéns. Essa já foi uma boa escolha. Por isso, te convido a continuar essa jornada. Leia os outros artigos  do blog, comente, critique, sugira temas e mande suas dúvidas. Mas se você quiser mergulhar mais fundo, visite nosso site da UN4RT , o nosso backstage de conteúdos exclusivos e gratuitos, para aqueles que não possuem ouvidos e olhos sensíveis. “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT     Tá afim de dar uma olhada nas fontes, referências e inspirações pata esse artigo? Foi o que pensei. Toma, estão todas aí.   Jean-Paul Sartre , Huis Clos (Entre Quatro Paredes) e  O Ser e o Nada. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Barry Schwartz , O Paradoxo da Escolha . Sócrates , Apologia de Sócrates  (escrita por Platão ). Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra e  Além do Bem e do Mal. Ross Geller , personagem da série “ Friends ” no episódio “ The One with the List/Aquele com a Lista ” (Temporada 2, Episódio 4), ele faz uma lista de prós e contras para decidir se ficaria com Julie (sua atual namorada) ou com Rachel (quem ele sempre foi apaixonado).

  • Resistência: A voz que vem de fora, mas mora dentro

    Já reparou que toda vez que estamos prestes a fazer algo importante, que nos fará crescer, evoluir e nos auto desenvolver, acontece alguma coisa que nos impede? É como se existisse uma trava de segurança que paralisa nossa realização. Essa “trava” pode ser em forma de um pensamento que diz para não seguirmos em frente ou através de comentários/julgamentos de pessoas próximas ou até mesmo como sentimentos que nos fazem congelar.   É como se tudo ao nosso redor se tornasse mais importante do que fazer aquilo que queremos fazer…   Não existe um ser humano sequer que já não tenha se deparado com essa “força” que se disfarça de consciência, bom senso e maturidade. Mas o que nós não sabemos é que ela é o eco do mundo, disfarçado de pensamento íntimo e que não se trata de preguiça ou indisposição. É mais como um mecanismo interno maquiavélico, quase que transvestido de prudência e perfeccionismo.   Estamos falando da Resistência é claro, algo que parece ter nascido do cruzamento incestuoso entre medo, condicionamento social e um sistema nervoso já cansado de levar porrada. Na maior parte do tempo, nós achamos que estamos escutando nossa consciência, quando na verdade estamos escutando a voz coletiva de tudo o que nos disseram para não ser.   O Sabotador de Gravata Borboleta   Ao contrário do que muitos pensam, a resistência não chega gritando ou metendo o pé na porta. Não, muito pelo contrário. Ela é sorrateira, tira os sapatos, entra de fininho e se acomoda no sofá da nossa mente com um sorriso sarcástico, pronta para iniciar o seu discurso.   A desgraçada é mais articulada do que político em ano eleitoral e mais convincente do que vendedor de pirâmide financeira. A resistência é, em sua excelência, o algoritmo mental mais potente que aprendeu a nos manter em “modo de segurança e economia de energia”.   Ela mais parece um comando, programado como um antivírus em nossa psique, que detecta qualquer tentativa de transcendência, rechaçando-a como se fosse uma ameaça. Pois é, tente escrever um livro, lançar um projeto, sair de um relacionamento falido, iniciar uma dieta… voilá , a resistência aparece.   Ela é o inimigo ardiloso dos artistas, dos criadores, dos empreendedores e dos apaixonados, mas acima de tudo de qualquer um que ousar querer sair da mediocridade. E não se engane, quando escutamos a voz da resistência, nós não estamos sendo “apenas realistas”. Não. Nós estamos sendo domados.   No Buffet da Autossabotagem, a Resistência é o prato de entrada   A resistência é uma força ancestral e coletiva. Ela reverbera em nossa mente. Um eco das vozes da sociedade que disseram que você era medíocre, que não prestava para nada, que você era ordinária e desnecessária, burra e sem juízo, daqueles chefes que exigiram cada vez mais produtividade, mas mataram sua criatividade...   Com o tempo, todas essas vozes foram se tornando tão constantes que acabaram por virar uma parte da mobília mental. Elas se tornaram a resistência, aquela que adora uma resposta sofisticada, que usa terno, gravata borboleta e fala difícil, às vezes até citando alguns filósofos.   É aquela parte nossa que adora procrastinar projetos com a desculpa clássica: “estou amadurecendo a ideia”, mesmo quando a ideia em si já está podre de tão madura…   Não acredita? Te dou alguns exemplos:   “Estou esperando o momento certo.” (esse momento aí nem existe) “Eu comprei mais um curso, custou baratinho. Esse vai me ajudar.” (tudo para adiar a ação só mais um pouquinho) “Ah, mas o fulano já faz isso melhor do que eu…” (e daí?) “Não quero parecer egoísta ou arrogante…” (então parecer medíocre é melhor?)   A sabotagem interna é um ciclo vicioso de baixa intensidade. Não mata de forma rápida, mas suga a vida em doses homeopáticas.   O Diagnóstico de um Mal Invisível   Se você ainda não leu “ A Guerra da Arte ” de Steve Pressfield , seria legal que o fizesse. Faça antes de resolver comprar mais um curso online que promete destravar sua produtividade e disciplina.   Steve fala da Resistência como a força mais insidiosa do universo criativo. É uma coisa, quase metafísica, que age contra qualquer impulso de evolução, inovação ou expressão autêntica.   Se em algum momento da sua vida, você tentou montar um negócio, eliminar peso ou simplesmente mudar aquele hábito nocivo (como fumar, por exemplo), e de alguma forma você fracassou misteriosamente… parabéns. Você já deu de cara com a Resistência.   O mais perverso dessa força é que ela se disfarça de racionalidade, usando os nossos próprios argumentos contra nós mesmos. Pressfield afirma: “… quanto mais importante é o projeto para a nossa alma, mais forte será a resistência …”, ”… a resistência é impessoal, implacável, inesgotável …”. Ela age como a gravidade, ela não quer saber da nossa biografia, apenas irá transformar nosso tropeço em queda.   O interessante é que, se nós reconhecermos sua existência e criarmos o compromisso diário com o nosso ofício (escrever, pintar, criar, meditar, viver com propósito…), nós também podemos superá-la. Não de uma forma heroica e definitiva, mas em batalhas diárias.   Pressfield nos introduz também à figura do Profissional, aquele que, diferentemente do amador, aparece todos os dias para fazer o trabalho. O Profissional pode estar com medo, sem inspiração, com dor de barriga… não interessa. Ele enfrenta a Resistência com disciplina e não com motivação barata.   O Medo como Capital Simbólico   Mas se você está aí, achando que a Resistência se trata apenas de uma questão individual, tanto Pressfield quanto outros pensadores poderiam discordar educadamente de você ou até te dar um tapa na cara metafórico...   Nós vivemos em uma sociedade que lucra com a nossa paralisia. Toda uma indústria está montada em cima da nossa baixa autoestima e falta de autovalorização. A máquina lucrativa do bem-estar espiritual, do coaching  motivacional e até de certos nichos da psicologia pop explora justamente a lacuna deixada pela resistência: aquele buraco existencial do “eu poderia, mas não consigo”. O resultado? Todo mundo gastando dinheiro em pílulas que prometem livrar da ansiedade e dar coragem, cursos de como encontrar propósito e, enquanto isso... a sociedade segue batendo palmas para o esforço inacabado. O fracasso, como sempre, sendo socialmente aceitável.   Todo mundo já falava dessa peste   Embora o Senhor Pressfield tenha batizado com o nome Resistência, não é novidade que diversos filósofos, pensadores e criadores de ambos os sexos e que ousaram viver fora da norma também já tenham sido vítimas dessa “força”.   Arthur Schopenhauer , aquele tio de cara triste, por exemplo, acreditava que a vida era dominada por uma “vontade cega” e irracional que nos empurra para a dor e o tédio. O que, em outras palavras, significa que a resistência seria uma consequência natural da nossa existência. Ela se trata de uma força que, se não for devidamente dominada, nos arrastará para a resignação.   Por outro lado, Angela Davis falou da resistência como ato político. Ela dizia que o ato de resistir se trata de sobrevivência e reinvenção, não só pessoal, mas coletiva. Quando decidimos enfrentar a resistência interna, estamos dizendo “não” às estruturas que nos querem inertes, conformados e calados.   O filósofo Søren Kierkegaard já falava que o maior desespero é não ser a si mesmo. A resistência age nesta ferida aberta, ela nos impede de sermos a nós mesmos, mas nos propicia o sermos como todos os outros. Ela assim o faz, não porque nos quer mal, mas porque ela é, de fato, a força da inércia fantasiada de autopreservação - e como toda força de inércia, ela só perderá quando a força da ação a superar.   O pai da Psicanálise, Sigmund Freud , chamaria a resistência de “mecanismo de defesa do ego”. No momento em que estamos prestes a encarar nossos desejos mais profundos ou traumas mais intensos, nossa mente sempre dá um jeitinho de sabotar o processo.   Já Jung dizia que aquilo que mais tememos confrontar guarda o maior tesouro da nossa psique. O que, em outras palavras, significa que aquilo que ignoramos, resistimos e não queremos é, na verdade, exatamente onde deveríamos estar focando nossa atenção.   Nietzsche falou amplamente sobre superar o “homem comum”, em matar o “espírito de rebanho” para tornarmo-nos o Übermensch  (além-do-homem/super-homem). Isso tudo, não no sentido fascista que alguns ignorantes interpretam, mas a fim de sermos seres que criam seus próprios valores. Porém, para que isso ocorra, se faz necessário silenciar o eco da moral imposta.   Simone de Beauvoir , em “ O Segundo Sexo ”, falava de resistência, expondo como a mulher é educada desde cedo para ser o “outro”, o coadjuvante, a sombra. Somos educadas a renunciar, a recuar, a duvidar de nós. Ela falava no quanto o outro nos define, nos limita e nos molda. Essa resistência seria, às vezes, apenas o reflexo do olhar do outro, tatuado a fogo em nossa testa.   Quando analisamos essas diferentes visões, percebemos um certo ar de dualidade. Enquanto alguns veem a resistência como prisão, outros a transformam em ferramenta de libertação. Digamos que é, exatamente em meio a essa tensão de opostos, que nós, indivíduos modernos, nos encontramos - entre nos deixar levar ou nos tornarmos mestres de nosso próprio caminho.   A questão é que a resistência, tal qual os deuses do panteão hindu, possui muitas faces… e, para enfrentá-la, é preciso reconhecer todas elas. Para isso, talvez devêssemos pensar um pouco mais como Albert Camus , que, ao olhar para o absurdo da vida, não se deixou cair no niilismo, mas encontrou sua própria liberdade. A resistência até pode nos dizer que é inútil tentar, mas a resposta camusiana é: sempre tentar e fazer mesmo assim.   Quando a Resistência “Veste” um Rosto Conhecido   Provavelmente você já deve ter assistido ao clássico The Matrix . No filme, o antagonista Agente Smith - aquele homem de terno escuro, óculos escuros, fala monocórdica (“…  Why, Mr. Anderson? Why?, Why do you persist?... ”) e presença onipresente - papel brilhantemente interpretado pelo ator Hugo Weaving. O cara não é só um vilão, mas o sistema encarnado, a resistência em sua forma mais pura e agressiva. O que assusta não é o Smith em si, e sim o fato de que qualquer pessoa pode se tornar um agente. É muito fácil lembrar da cena em que um civil comum e aparentemente inofensivo presencia um potencial risco à estabilidade da Matrix  e, em segundos, seu corpo é possuído pelo programa. E assim, como num passe de mágica, surge mais um Smith para manter a ordem.   É exatamente desta forma que a resistência age no mundo real. Ela infiltra-se em amigos bem-intencionados, na família superprotetora, nos casamentos… tudo para nos “poupar de frustrações”. Desta forma, frases do tipo surgem: “Você tem certeza...?”, “Não seria melhor esperar mais um pouco?”, “Eu no seu lugar faria…"...   Frases revestidas de carinho e atenção, mas embebidas na lógica da contenção. As pessoas que usam essas frases, inconscientemente, viram agentes da resistência. Claro que elas não se tratam de pessoas más, elas só foram plugadas no sistema que considera perigoso qualquer um que ouse sonhar fora dos padrões aceitáveis.   Identificação de Possíveis Agentes   Sim, eles estão por toda parte. Muitas vezes, nós somos eles - principalmente em dias de cansaço, baixa autoestima ou quando estamos vivendo no piloto automático. O maior problema não é que esses agentes/pessoas existam em nossa vida. O problema é quando nós damos ouvidos a eles.   Abaixo seguem alguns truques que podem ajudar na identificação de um “Agente Smith” infiltrado no seu cotidiano.   Possuem o hábito de projetar as frustrações deles nos outros  - Tudo o que não tiveram coragem de fazer, tentarão nos impedir de realizar. Sempre apelam para a lógica conservadora  - Estabilidade, segurança e não se destacar demais. Esses são os argumentos utilizados. Não chamar atenção, ser somente mais um. Isso é com eles. Muitos usam a palavra amor como arma  - “Só digo isso porque me importo…”. Pois é, a maioria cai nessa, pois todos esquecem que um amor mal interpretado aprisiona o outro. Quando estamos prestes a romper um limite interno, eles aparecem  - Coincidência? Definitivamente, não. A resistência sempre sabe quando agir. Gostam de zombar de forma discreta e sutil  - Piadas sem graça, ironia e sarcasmo… o alvo? Seu sonho. Tudo, muito bem disfarçado de “brincadeira”.   Essa galera não usa terno, mas está por toda parte, inclusive no seu espelho. Pois é, às vezes, o Agente Smith mora dentro de nós - e nós nem percebemos.   Qual Pílula Escolher?   Neo inicia sua saga de forma insegura, frágil e duvidando de tudo, inclusive dele mesmo. Exatamente como nós, quando decidimos agir contra a resistência. O escolher a pílula vermelha, no fundo, não é sobre enxergar a verdade de uma vez só. É sobre decidir ver a verdade diariamente, mesmo quando ela é dolorosa.   A resistência odeia questionamentos, perguntas, movimento, improviso. O sistema ama e incita a previsibilidade e é por isso que qualquer ação criativa, ousada ou contraintuitiva é vista sempre como ameaça.   Toda vez que alguém reage com desdém ou medo ao que eu almejo, eu visualizo a cara do agente Smith. Vejo seus óculos escuros, sua testa franzida e seu tom de voz robótico. E então eu pergunto-me: É essa a pessoa que irá definir a minha vida?   Essa ação pode parecer extrema para alguns, mas lembre-se: a voz da resistência pode vir da sua tia ou com a assinatura do RH da sua empresa. Portanto, se estivermos vivendo de acordo com a nossa verdade, nós estaremos fora da Matrix , mesmo que ainda estejamos aprendendo a voar.   Quando o Gatilho vira Granada   Já sabemos que a resistência é uma mestra da manipulação, que ela não entra pela porta da frente e anuncia sua presença. Portanto, é bom que saibamos que ela também pode entrar rastejando pela fenda deixada pelo passado mal resolvido.   Ela vasculha nossos traumas tal qual um hacker  emocional faria e, uma vez que encontre algum gatilho, transforma qualquer frase inocente em um cenário de guerra.   Sabe aquele comentário bem bobinho de alguém, que não deveria ter nos afetado tanto, mas nos faz explodir? É, pois é.   Ela se alimenta daquilo que não curamos, daquilo que varremos para baixo do tapete persa da mente. Não importa se isso foi uma rejeição na infância ou um abuso disfarçado de brincadeira, uma comparação feita entre irmãos e até mesmo o silêncio depois da primeira desilusão amorosa pode servir de munição.   A resistência irá reciclar nossos traumas e bloqueios, colocando-os na boca dos outros. E esses outros, muitas vezes, são os mais próximos, queridos e íntimos.   Por isso, não se engane. Não serão os haters  da internet que mais te impedirão de crescer. Serão aqueles que amamos. Não por maldade! Mas porque essas pessoas, muitas vezes, têm medo, medo de nos perder, medo que mudemos e as deixemos para trás… Assim, nossos gatilhos acabam por virar verdadeiras granadas emocionais.   Uma simples frase como “Você está diferente ultimamente…” pode se transformar em uma discussão ridícula. Tudo isso por quê? Porque toca naquele ponto onde ainda sangramos. Aquele trauma de não nos sentirmos aceitos, de sermos rejeitados e julgados… e isso é o que a resistência mais adora.   Esse ciclo de sabotagem acontece de forma silenciosa, além disso, se trata de algo socialmente aceito. Começamos a nos moldar a fim de não “incomodarmos”, para evitarmos o “conflito”, para não nos “indispormos” e mantermos as coisas “em paz”. Mas adivinha? Essa paz aí se torna o túmulo onde a nossa evolução e crescimento têm seu descanso eterno.   O que enfraquece a Resistência   Enquanto permitirmos que o nosso passado dite o nosso presente, a resistência sobreviverá. E isso não é papinho motivacional barato, é apenas biologia. O nosso cérebro reage a gatilhos com o mesmo nível de ameaça de um assalto à mão armada. Ele paralisa e nos faz reagir feito uma criança assustada e não como um adulto consciente.   Em função disso, o curar-se não é mais um luxo, é estratégia de guerra. Cada trauma que nós reconhecemos, nomeamos e processamos se torna um pedaço de arsenal que retiramos das mãos da resistência. Cada conversa difícil que enfrentamos com vulnerabilidade torna-se uma armadura construída por nós.   Não devemos esperar que os outros mudem para que possamos nos libertar. A iniciativa da mudança começa por nós. Mudamos para que os outros revelem suas verdadeiras intenções. Se algumas de nossas relações irão acabar? Sim, mas somente aquelas que funcionavam tendo como base a nossa versão limitada.   Pois, se tem uma coisa que a resistência odeia é quando nós nos curamos. Quando nos curamos, passamos a agir diferente. Passamos a responder com clareza onde antes havia raiva. Começamos a dizer “não” onde antes havia apenas silêncio. Passamos a acreditar mais e a dizer “sim” para nós mesmos e isso, queridos, é a maior afronta que podemos fazer ao sistema.   Quanto menor o alvo, mais difícil de acertar   Imagine o seu ego como um alvo, aquele com um círculo vermelho no centro. Quanto maior esse alvo for, mais fácil será para qualquer um - independente de amigo, parente ou desconhecido - acertá-lo em cheio com críticas, desprezos sutis, julgamentos e olhares enviesados.   Agora, imagine que esse alvo encolha significativamente. Digamos que ele diminua até caber em nosso bolso. Fica muito mais difícil de acertá-lo, não é? Pois é. Essa é a ideia que eu faço de um ego saudável. Pequeno, centrado e firme. Ele é invisível quando precisa e presente quando necessário.   A resistência sempre vai querer inflar o nosso ego. Quanto maior, melhor, pois um ego grande e pomposo é sempre muito mais fácil de ferir - e quanto mais ferido ele for, mais vulnerável a pessoa estará para a autossabotagem.   A Síndrome da Vítima Universal   Quando levamos tudo a sério demais, tudo vira ataque. Uma opinião divergente se torna uma ofensa. Uma crítica construtiva se torna desrespeito. Além disso, toda e qualquer forma de desacordo será vista como uma ameaça direta à nossa identidade.   O ego desproporcional, aquele que necessita de aprovação, reconhecimento e validação externa, é o alvo que a resistência mais gosta. Ela sussurra no ouvido do ego inflamado: “Você é especial demais para fracassar…”. Quando lá no fundo, ela gostaria de dizer: “Você não deve arriscar absolutamente nada, porque não suporta falhar.” O velho truque do falso orgulho, aquele que se disfarça de autoestima.   Mas, por mais paradoxal que pareça, quando conseguimos diminuir nosso ego, é aí que crescemos por dentro. Quanto menos espaço nosso ego tomar, mais lugar sobra para tentarmos sem medo de parecermos ridículos.   Nietzsche amava um paradoxo e dizia que “… você precisa ter caos dentro de si para poder dar à luz uma estrela dançante…”. Isso se torna possível no momento em que desinflamos nosso ego ao ponto de podermos nos mover com maior liberdade. Um ego inflado é como uma prisão invisível, estaremos sempre mais preocupados com o que aparentamos ser, do que com o que realmente somos.   A resistência trabalha duro para que nós nos ofendamos, para que nós retruquemos, para que briguemos… tudo em prol de defender algo que não precisa ser defendido. Ela quer sempre manter nosso ego como um alvo fácil, destacado, exposto, carente e emocionalmente dependente da opinião dos outros.   Algumas formas de enfrentar a Resistência, educar o Ego e Crescer como Ser Humano   Dê nome aos bois  - identifique a voz da resistência, personalize-a se quiser, utilize uma frase do tipo “Salta para o campo, princesa” ( Spring ins Feld, Prinzessin !). Seja ridículo de vez em quando  - faça isso de propósito, conte piadas ruins, use roupa brega, dance e cante em público. Isso desestabiliza a vaidade. Estabeleça micro-metas  - elas podem ser absurdamente pequenas, não interessa. A ideia é te levar até o próximo passo. Peça desculpas por primeiro  - independente de você ter razão ou não, peça desculpas. Isso ajuda a educar o orgulho. Escreva para a resistência  - escreva uma carta, dialogue com ela como se ela fosse um ex-namorado tóxico. Ouça críticas sem rebater  - anote, analise e talvez aprenda algo com elas. Questione suas desculpas como se fosse Sherlock Holmes  - investigue quais as desculpas que você adora dar para você mesmo e os outros, depois pergunte-se por que você as usa. Fale menos sobre si mesmo  - em conversas, interesse-se genuinamente pelo outro, caso contrário, não converse com ninguém. O ego sempre esperneia com essa, ignore-o. Visite sua “caverna do medo” uma vez por semana  - sim, analise e questione seus medos. Saiba exatamente por que você ainda os carrega. Cite seus pensadores favoritos  - Use citações como quem usa uma arma. “ Nietzsche disse: torna-te quem tu és, então cala a boca, resistência.” Saia imediatamente da caverna de Platão  - se você está sentindo dor ao encarar a claridade do dia de forma consciente, então parabéns, você deixou a caverna. Adote a dúvida como filosofia  - o ego ama certezas e a resistência também. Nós evoluímos por meio das perguntas, portanto use isso a seu favor, não contra. Volte amanhã  - não deu certo hoje? Sem problemas, amanhã você tem mais uma chance. A resistência odeia persistência.   A Resistência não nos quer mortos, ela nos quer neutralizados   Para deixar bem claro. A resistência não quer que desistamos, ela quer apenas que nós nos tornemos inofensivos, medianos, silenciosos, previsíveis… Em suma, que nós continuemos existindo sem viver de verdade. Ela quer nos ver postando stories motivacionais, enquanto evitamos confrontos reais. Ela quer nos observar enquanto lemos sobre espiritualidade, mas sem meditar sequer uma vez ou aplicar o que acabamos de ler. Ela quer que a gente diga, eternamente, “um dia eu vou…” até o nosso último suspiro.   A resistência sempre irá se adaptar, evoluir e, às vezes, ela até irá parecer uma aliada, mas o que ela realmente almeja é que nós continuemos no limbo existencial confortável, aquele que fica entre a ação e o potencial. A ideia é que continuemos sendo zumbis emocionais com aparência de pessoas bem-sucedidas.   E a única saída para essa merda toda é o enfrentamento consciente. É quando desenvolvemos coragem emocional para nos posicionar diante da vida e dos outros. Não como mártires, mas como indivíduos que finalmente entenderam que viver se trata de um ato criativo.   A resistência é a voz de um sistema que está, também, dentro de você, tentando te manter exatamente onde você está. Não a escute mais. Faça algo. Comece de uma vez. Se errar, tudo bem, ria. Se doer, se trate. Mas, não pare, não mais!   Bom, se você curtiu esse artigo, continue explorando os outros aqui do blog. Interaja, deixe seu comentário, sua crítica, suas sugestões, perguntas, histórias enfim… faça alguma coisa! E, é claro, recomende esse blog para quem precisa ouvir ironias com afeto.   Ah, se você é do tipo que gosta de conteúdo mais underground , nu e cru, acesse o site da UN4RT  - nosso backstage  gratuito, mas reservado apenas para as mentes mais exigentes, inquietas e livres.   PS : Algumas informações finais dignas de serem citadas. A resistência nem sempre será negativa, ela pode sinalizar as áreas importantes da vida onde existe medo, traumas não resolvidos, bloqueios inconscientes… Enfrentá-la leva sempre à evolução pessoal. Para saber se você está agindo por você mesmo ou por influência da resistência, questione-se: “Estou evitando isso por medo ou por escolha consciente?” A resposta será muito clara caso você seja honesto consigo mesmo. As pessoas próximas podem, muitas vezes, reforçar a resistência em função de proteção inconsciente, medo de perder ou até simplesmente porque também estão dominadas pela própria resistência. A terapia, quando facilitada por um bom profissional, ajuda a identificar os padrões, resgatar a autonomia emocional e desmontar os mecanismos invisíveis da autossabotagem. Tudo isso ajuda efetivamente no combate a resistência. Não é possível viver sem a resistência. Ela é onipresente, sempre irá existir. A diferença é que, quando agimos conscientemente, a tornamos menor e enfraquecida. Mas para isso é necessário que estejamos em movimento, em criação e, acima de tudo, em presença.     “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT     Pega aí as fontes, referências e inspirações. Boa sorte!     Steve Pressfield , A Guerra da Arte. Arthur Schopenhauer , O Mundo como Vontade e Representação . Angela Davis , A Liberdade é uma Luta Constante . Søren Kierkegaard , O Desespero Humano . Sigmund Freud , Inibições, Sintomas e Ansiedade , A História do Movimento Psicanalítico  e Conferências Introdutórias à Psicanálise . Carl Gustav Jung , Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo . Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra  e Ecce Homo . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Albert Camus , O Mito de Sísifo. The Matrix , filme de ficção científica lançado em 1999, escrito e dirigido pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski. É considerado um marco do cinema por sua profundidade filosófica, estilo visual inovador e por popularizar o conceito da “realidade simulada”. Agente Smith , é um programa de inteligência artificial criado pelas máquinas dentro da Matrix. Sua função original é manter a ordem e eliminar ameaças ao sistema, como Neo e os humanos despertos. Ele é uma espécie de "anticorpo do sistema", que age contra tudo o que tenta perturbar o status quo . “… Why, Mr. Anderson?. Why?, Why do you persist?...” , Essa frase ocorre no clímax final do terceiro filme da franquia Matrix , " The Matrix Revolutions " (2003), durante a última batalha entre Neo e o Agente Smith, em uma versão chuvosa e apocalíptica da Matrix . Smith, já corrompido em um vírus descontrolado e cínico, questiona isso a Neo em tom de desprezo e incompreensão. Traduzindo para o português seria: Por quê, Sr. Anderson? Por quê? Por que você insiste (ou persiste)? Hugo Weaving , é um renomado ator australiano, nascido na Nigéria. É conhecido por sua presença e voz marcantes e por interpretar personagens icônicos, como: Agente Smith na Trilogia The Matrix (1999–2003) , Elrond nas Trilogias O Senhor dos Anéis (2001–2003) e  O Hobbit (2012) , V (voz e corpo) no filme V de Vingança (2005)  e Crânio Vermelho ( Red Skull ) no filme Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) Neo , protagonista da série de filmes The Matrix , interpretado por Keanu Reeves. Seu nome verdadeiro no mundo real é Thomas A. Anderson, um programador de software que vive uma vida dupla como hacker codinome Neo . Ele representa o "escolhido" — uma figura messiânica destinada a libertar a humanidade da ilusão da Matrix, um mundo simulado criado por máquinas para manter os humanos sob controle. Spring ins Feld, Prinzessin! , se trata de um ditado alemão que, basicamente, significa “Vai para o mundo, princesa!”, um chamado a sair da segurança da zona de conforto e encarar o mundo real. Essa frase é muito usada aqui em casa pelo outro UN4RT . Sherlock Holmes , personagem fictício criado pelo escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle  em 1887. Ele é considerado o detetive mais famoso da literatura e um ícone da cultura ocidental, conhecido por seu intelecto afiado, lógica implacável e habilidade em resolver crimes complexos com base na arte da dedução.

  • Guia Definitivo para Parar de Ser Trouxa

    Se você está aqui, provavelmente já deve ter percebido (ou ainda desconfia) de que ser trouxa se trata de algo não muito agradável. Essa virtude indesejável pode até parecer um termo carregado de humor e um tanto pejorativo, mas que na realidade se trata de um problema da filosofia cotidiana e que possui as suas implicações existenciais.   Se Freud ainda estivesse vivo, poderia ressaltar que parte desse conceito provém de um “popularismo emocional” com origens nos padrões de apego infantil. O que quer dizer que, todo o nosso trouxismo poderia ser uma questão mal-resolvida do nosso passado.   Mas, como o pai da psicanálise já está a sete palmos a um bom tempo - e eu não sou psicanalista - vamos dizer que deixar de ser trouxa envolve ter a consciência de que alguém está nos fazendo de trouxa e de que nós estamos incentivando este comportamento.   Seria legal pararmos com esse padrão, ele só existe porque nós, em algum momento - e independente dos motivos - , rebaixamos os nossos valores em prol de uma falsa necessidade de migalhas emocionais e aprovação.   O que significa “Ser Trouxa”?   Colocando de uma maneira radicalmente direta, ser trouxa é permitir que outras pessoas se aproveitem da nossa bondade, ingenuidade ou falta de limites. É quando somos aquela pessoa que sempre se doa em excesso, que sempre está pronta a ajudar/escutar a tudo e a todos, que deixa as próprias resoluções e problemas de lado para prestar suporte fraterno.   Na maioria das vezes, os trouxas não recebem reconhecimento ou reciprocidade. Depois que eles fornecem apoio, informações, dinheiro, etc., ficam apenas apreciando o som do silêncio que provém da contraparte.   Não sei o que você pensa sobre isso, mas eu sei que não existiria a necessidade de cada um de nós possuir uma média de 86 bilhões de neurônios para compreender que isso não é algo tão bacana de se viver. Até uma planária, se tivesse emoções, não iria gostar muito.   E o mais interessante, é que somente o trouxa é capaz de mudar essa condição. Ele que é 100% responsável pelo o que permite que façam com ele.   A Filosofia da Trouxisse   Se o “ser feito de trouxa” existisse como um ramo filosófico, com certeza estaria centrado no conceito de que:   “ Trouxisse reflete a postura referente a uma pessoa ingênua, com excesso de confiança e quase que total falta de percepção diante de situações em que ela pode ser prejudicada e/ou enganada .”   Diferente de tolice, a trouxisse aconteceria dentro das dimensões afetivas e relacionais. E seus princípios básicos seriam:   Confiança extrema : O trouxa acredita de maneira profunda na bondade e na honestidade das pessoas, mesmo diante de evidências que apontem o contrário.   Persistência nos erros : O trouxa acaba repetindo os mesmos erros, pois acredita piamente em dar uma segunda chance, justamente por acreditar na redenção de determinadas situações.   Ingenuidade consciente : Apesar de o trouxa ser enganado repetidas vezes, ele permanece fiel ao princípio da boa-fé. Ele não o faz por burrice, mas sim por ética pessoal e resistência inconsciente ao cinismo alheio.   Com o conhecimento dos conceitos e princípios da trouxisse filosófica, percebemos as questões fundamentais que seguem abaixo:   Seria possível viver sem ser trouxa? Ou a trouxisse se trata de uma característica inevitável da raça humana?   A trouxisse poderia ser considerada uma virtude ética? Pois, de certa forma, ela revela uma abertura emocional, vulnerabilidade e confiança, qualidades muito valorizadas por algumas tradições filosóficas.   A trouxisse é uma escolha ou uma condição existencial?     Ser Trouxa ou Não Ser, Eis a Questão…   Nietzsche , nosso bigodudo preferido, diria que a trouxisse é um pecado mortal contra si mesmo. O trouxa não está só sendo feito de bobo por outros, ele está, sobretudo, negando sua própria individualidade - e dignidade. Ele bradaria nos ouvidos do trouxa: “Torna-te quem tu és!” Justamente para lembrá-lo de que, em primeiro lugar, o trouxa precisa descobrir, de fato, quem ele realmente não é.   Já Kierkegaard poderia chamar isso de “uma escolha existencial mal resolvida”. O que em outras palavras significa que: o trouxa prefere agradar aos outros do que honrar a sua própria essência. E Simone de Beauvoir miraria o trouxa com olhos de piedade e o ensinaria sobre a importância da autonomia e do empoderamento legítimo.   O tio da cara séria, Arthur Schopenhauer , ressaltaria que “as expectativas são a raiz de todo sofrimento”. O trouxa tende tanto a acreditar nas boas intenções alheias, que passa a alimentar ilusões, muitas vezes inconscientes, que lhe levam a sofrer decepções dolorosas. O velho conto do otimismo ingênuo que torna o “trouxa-empolado” em uma presa fácil para os oportunistas.   Agora, imaginemos um cenário onde ocorre um debate hipotético, cujo tema são as questões fundamentais da filosofia da trouxisse. Adotaremos aqui uma abordagem dialética, utilizando duas personagens fictícias que reconhecem a presença de paradoxos e valores ambíguos da linha filosófica em questão.   De um lado, temos a filósofa Arthemísia II de Delfos, mestra fundadora da Ordem de Delfaía .   Do outro lado, temos Erixane de Halicarnasso, filósofa regente da Escola Hýlaxica . Questão n° 1: Seria possível viver sem ser trouxa?   Arthemísia - Sim. A vida exige discernimento, confiar em todos os indivíduos, independente de quem eles sejam, não se trata de uma falha na moral, porém devemos nos ater também às experiências e aprender com elas. Repetir constantemente e indefinidamente os mesmos erros não se trata de virtude, e sim de imprudência. O mundo exige que o indivíduo possua uma dose saudável de ceticismo. E o desenvolvimento da razão e da inteligência emocional fazem parte do amadurecimento de qualquer ser humano.   Erixane - Não. Todo e qualquer indivíduo já é ou será um trouxa em algum determinado momento. Nas relações humanas, a vulnerabilidade é fato inevitável. Toda forma de confiança sempre implicará risco. Desta forma, a “trouxisse” ocorre como uma espécie de abertura ao outro. Sentimentos e ações como amor e ajuda são formas pelas quais nós nos expomos à possibilidade de sermos enganados. Se não existisse nenhuma forma de “trouxisse”, a vida não passaria de um ato isolado e triste, como uma prisão emocional o seria.   Questão n° 2 : A trouxisse poderia ser considerada uma virtude ética?   Arthemísia - Não. O exercício da virtude ética é algo que exige equilíbrio. É necessária a existência da harmonia entre a confiança e a prudência. Toda forma de bondade que insiste no não aprendizado, não passa de conivência. A ética que ignora os contextos e as diversas repetições de erros pode acabar se tornando algo imoral, justamente pela sua omissão.   Erixane - Sim. Quando entendida como forma de boa-fé no próximo, a trouxisse transforma-se em um ato de amor radical. Poderíamos dizer que os trouxas deveriam ser vistos como indivíduos que protestam contra a frieza das relações atuais. Portanto, a coragem emocional que esses indivíduos possuem em não desistir dos outros não deveria ser vista como um sinal de fraqueza.   Questão n° 3 : A trouxisse é uma escolha ou uma condição existencial?   Arthemísia - O engano faz parte da experiência humana, principalmente quando falamos de relacionamentos afetivos, independente de estes serem ou não românticos, fraternos e familiares. A trouxisse não é somente uma decisão, ela é uma consequência inevitável que tem origem na necessidade profunda que os seres humanos possuem de pertencer, se doar e se conectar com os demais.   Erixane - Qualquer pessoa opta por confiar, amar ou perdoar e isso independente de estar ou já ter sido ferida. Desta forma o ato de ser trouxa recebe agência moral. Pois, existem aqueles que possuem total e plena consciência da própria “trouxisse” assim resolvendo assumir essa “posição” de forma ética.   A Terceira Visão   Isso não é uma conclusão para esse debate imaginário e sim um adendo.   Essa história de aprisionar a “trouxisse” em categorias fixas pode se tratar de um erro. Falando, por experiência própria, obviamente, o “ser trouxa” não se trata de uma virtude a ser abraçada e muito menos de uma fraqueza a ser vencida.   Não devemos esquecer que a confiança, o erro e a vulnerabilidade coexistem em meio ao fluxo real da existência humana. A polarização demonstrada pelo debate fictício entre Arthemísia e Erixane foi uma forma lúdica que encontrei de demonstrar como nós nos habituamos a “ter de escolher” um dos lados.   A grande maioria das pessoas, quando se depara com situações de debate tende, mesmo que inconscientemente, a escolher a opinião que mais se aproxima de suas crenças. Com isso, elas podem deixar de ponderar sobre a outra visão, mesmo que essa possua maior coerência. Isso se chama viés de confirmação.   Portanto, seria interessante refletir sobre a seguinte informação: a vida nos coloca constantemente diante do desejo de confiar e o senso de auto-proteção. Existirá momentos em que o ser trouxa será uma escolha feita de maneira consciente, já em outros será apenas o resultado de uma ilusão, mesmo que involuntária. E curiosamente, esses momentos de trouxisse e não trouxisse fazem parte de todo o aglomerado complexo de nossa condição humana.   As máximas: “Para cada escolha uma renúncia.” e “Nós estamos ganhando e perdendo a cada decisão que tomamos.” Podem ser utilizadas como reflexão e até mesmo levadas em conta na tomada de atitudes. Nós vivemos, muitas vezes, em função de minimizar os nossos erros, mas mesmo assim, isso não evita que eles aconteçam. Confiar, ser sincero e acreditar nas pessoas é opcional, mesmo que sejam condições importantes em qualquer relação significativa.   Ao mesmo tempo que uma atitude pode ser heroica - insistir em uma amizade em função do passado, por exemplo - também pode ser autoaniquiladora. A ética e a virtude, portanto, não estão no ser ou não ser trouxa, mas sim em sabermos reconhecer quando a nossa bondade está nos construindo e quando ela está nos esvaziando. A empatia é necessária, sim, mas a lucidez e o bom-sendo também.   Escolhas e condições não são coisas opostas, elas são camadas. A trouxisse pode ser em parte uma questão de condição humana, pois todos nós, sabemos o que é confiar e acreditar em quem não deveríamos. Mas, o que nós fazemos com essa experiência é, de fato, uma escolha que cabe somente a nós.   Podemos nos tornar cínicos e “usar” o outro lado tanto quanto nos usa, podemos continuar apostando no outro de forma mais consciente, podemos simplesmente nos ausentar… as possibilidades são muitas. Mas, nenhuma delas deveria ser escolhida em prol do outro e sim, de nós mesmos. Pois, ao contrário do que muitos dizem, isso não é egoísmo, é liberdade de escolha.   Em resumo, a fictícia Filosofia da Trouxisse, em sua essência, não defende a burrice e nem glorifica a ingenuidade. Ela nos convida a entrar na zona neutra, no caminho intermediário. Onde a vulnerabilidade encontra com a sabedoria, o erro da à luz ao crescimento e onde o ser trouxa, às vezes, se trata apenas de um nome mal escolhido para aqueles que insistem em confiar naqueles que não sabem ou desaprenderam a respeitar.   A dignidade da trouxisse habita em meio a essa harmonia. Não é destino e nem bandeira. É apenas parte do caminho.   A Zona Neutra   Agora, diante dessa reflexão e possível compreensão mais ampla e compassiva da trouxisse, nós podemos perceber que o objetivo não precisa necessariamente ser o de banir essa experiência da nossa vida. Talvez seria mais interessante cultivar a consciência e o autoquestionamento para que possamos identificar quando ela está acontecendo e assim agir com mais sabedoria.   Afinal, existe uma lacuna bem grande entre confiar e se perder. E de modo que possamos preencher essa lacuna com autoconhecimento , senso de limite e intuição, algumas práticas podem ser úteis.   Reconheça os padrões repetitivos   Sartre dizia “…existimos primeiro, definimo-nos depois…”, então, se nós só reconhecemos o nosso valor depois de alguém nos usar, algo de errado não está certo nisso. Se você sente que está sempre repetindo as mesmas situações - ajudando demais (mesmo quando não te pedem), perdoando além dos limites, dá tudo e depois é deixado de lado - isso não é apenas uma coincidência, é um padrão.   Observe-se com honestidade (e possível, sem se cobrar), a trouxisse mora na repetição que não quer virar aprendizado.   Defina Limites Claros   Aprender a dizer “não” é o novo “eu me amo”. Não vai adiantar de nada só saber o que você merece, é preciso praticar e é aí que o “não” entra. O trouxa sempre vai procurar flexibilizar seus próprios limites por medo do conflito, da perda ou da rejeição, para dar uma de bom samaritano, para agradar os outros… A frase clichê “A vida é curta demais para querer agradar todo mundo.” exemplifica isso muito bem.   Equilíbrio entre dar e receber   O coração do trouxa sofre de desequilíbrio emocional, ele dá mais do que recebe. Por isso, quando só um dos lados está investindo, só um dos lados está se desgastando. A generosidade é maravilhosa, mas é interessante que seja recíproca, mesmo que de formas completamente diferentes.   Valorize mais o seu tempo   Em tempos de redes sociais o tempo virou ouro. Que recurso mais valioso, portanto não o desperdice esperando gratidão ou com quem não merece. Faça o que acredita ser correto sem necessidade de retorno emocional.   Escute e confie na SUA intuiç ão   O trouxa sempre sente o problema chegando, mas o apego emocional sempre acaba calando o instinto. A nossa intuição é sutil e nos deixa desconfortáveis, mas é certeira. Ela é como cachorro, o dono pode estar a quilômetros de distância, mas o cachorro sempre sabe que ele está a caminho.   Cultive o Você antes do Eles   Nenhuma filosofia ou prática supera o valor de amar a si mesmo de forma genuína. Se você não sabe o que é isso, então trate de aprender! Todo ser humano busca a felicidade, mas a raiz disso tudo tem a ver com se conhecer, se amar, se respeitar. Saber o que e quem te faz bem decide o quanto você vai se permitir ser pisado, ou seja, se você se trata mal, você está, automaticamente, permitindo que outros façam o mesmo.   Desconstrua o Mito do Salvador da Pátria   Prestar apoio é bem diferente de ser uma muleta. Nietzsche diria que todo o idealismo é uma forma de esconder as frustrações. Portanto, se você anda bancando o super-herói, pergunte-se o seguinte: “Do que eu gostaria de me salvar?” Ou “Para quê essa redenção toda?”. Todo excesso esconde uma falta.   Construa sua autonomia emocional   Nós não precisamos de aprovação constante e nem de conselhos alheios para cada decisão que tomamos. Clarice Lispector já dizia: “Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome.”   E lembre-se, tem gente por aí que é a prova viva de que a evolução não é obrigatória. Portanto, não seja um amontoado de palavras vazias ao discutir com alguém que já perdeu a razão antes mesmo de abrir a boca.   Nós também podemos ser aqueles que iluminam o ambiente quando saem dele. Pois, nem todos os espaços precisam de nossa presença. Se você curtiu esse artigo, deixe teu comentário, sugestão, reclamação, enfim, sinta-se livre. E não esqueça de indicar o blog para aqueles que andam sendo trouxas assumidos. Ah, e se você curte conteúdos mais exclusivos, sem filtros e feito sob medida para mentes mais afiadas, visite o site da UN4RT  - o nosso backstage gratuito, mas reservado apenas para os mais ousados.   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT     Aqui vai as fontes e referências. Aprecie sem moderações.     Experiência Pessoal , eu fui trouxa durante muito tempo, conheço todas as nuances do que isso significa. Aprendi muito com as experiências que tive, mas hoje, não sigo mais essa filosofia. Sigmund Freud , O Mal-Estar na Civilização Friedrich Nietzsch e , Assim Falou Zaratustra e Além do Bem e do Mal . Søren Kierkegaard , O Conceito de Angústia . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Arthur Schopenhauer , O Mundo como Vontade e Representação . Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada . Clarice Lispector , Perto do Coração Selvagem.

  • A Culpa é Minha e Eu a Coloco em Quem Eu Quiser

    Se você é do tipo que acha que a culpa se trata de algo sério, de um peso na consciência ou até mesmo de um castigo divino, então prepare-se.   Neste breve artigo nós vamos desconstruir essa musa das noites insones, porque, convenhamos, se a culpa fosse dinheiro, muitos de nós estaríamos ricos - ou até pior, muitos escolheriam gastar essa fortuna na arte da transferência.   Mas afinal, o que é a culpa?   Todo mundo conhece essa fera a qual muitas vezes é a protagonista dos melhores e piores dramas da vida. Para alguns ela é uma companheira que ronda as decisões, os tropeços e as desventuras cotidianas. Já para outros, ela se trata de uma invenção extremamente flexível, tanto que pode ser usada como uma máscara a ser vestida ou despida à vontade.   Que ela pode ser tão caprichosa quanto a imaginação de um poeta, é algo que todos nós já sabemos. Por isso, sem mais delongas e de forma curta e grossa eu diria que a culpa é um sentimento que vive na fronteira entre o real e o imaginário. Ela habita a “zona cinza” da nossa mente, aquele mesmo lugar onde moram as informações que estão “na ponta da língua” e que frequentemente não conseguimos verbalizar.   Ela nasce naqueles momentos em que acreditamos que erramos, que fizemos algo o qual desagradou o outro ou a nós mesmos. A questão é que a culpa se trata de um conceito bem complexo, uma mistura de sentimentos morais, sociais e até mesmo biológicos.   Mas, antes de iniciarmos, vamos refrescar a nossa memória lembrando do significado desta palavra ( dicionário Michaelis ):   Culpa  - Responsabilidade por algo, condenável ou danoso, causado a outrem.   Agora, daremos um pouco mais de profundidade ao assunto.   Responsabilidade & Culpa - Parentes distantes ou Gêmeos siameses?   Vamos usar como exemplo algo que já aconteceu com - quase - todo mundo. Ser demitido. A culpa foi nossa? Pode ser. Do chefe? Talvez ou provavelmente. Da crise econômica? Com certeza. A culpa sempre funciona como um jogo de luz ou sombra em uma obra expressionista: dependendo do ângulo que se olha, ela muda.   E é justamente em função destes diferentes ângulos que muitas pessoas insistem em confundir culpa com responsabilidade, e vice versa. Parece que o povo ama jogar tudo sempre no mesmo saco. Culpa e responsabilidade. Pensar e ter pensamentos. Esses conceitos diferentes se amam e se odeiam, tudo ao mesmo tempo. Falando da responsabilidade, ela é algo que nos leva adiante. É através dela que nós tomamos conhecimento das consequências dos nossos atos ao mesmo tempo que olhamos para o futuro. Já a culpa seria mais como uma jaula, a qual nos prendemos ao passado, nos condenando a reviver nossos erros em looping  infinito.   Nesse ponto, um bom exemplo seria a visão do rígido senhor da ética, Immanuel Kant , pois ele falava muito sobre dever e moralidade. Para ele a responsabilidade é colocada como o dever de agir conforme a razão e a moral. Nesse contexto, a culpa seria o peso que sentimos ao falharmos no cumprimento do nosso dever.   Note que, esse peso que sentimos estaria mais relacionado a nossa percepção do que com a realidade objetiva. Mas isso não significa que devemos virar mestres em sair culpando todo mundo por tudo - mesmo que a maioria faça isso. A ideia aqui é refletirmos sobre como a culpa pode ser manipulada, usada como espada, escudo ou até mesmo como um espelho de reconhecimento de falhas, só que, de uma forma mais consciente.   Pois, ao obtermos conhecimento e controle sobre a culpa, ela perde o poder de nos atormentar e com isso nós percebemos o quanto nós utilizamos esse “a culpa é do/da...” como mecanismo de defesa. Muitas vezes, sem nos darmos conta que esse ato se tornou um ciclo vicioso que não ajuda em nosso desenvolvimento, mas que nos incentiva a delegar a responsabilidade da nossa própria vida à terceiros.   O Jogo do Empurra-Empurra   Nós ainda achamos difícil admitir que a culpa já virou um esporte nacional, onde pouco importa o ambiente ou contexto, a arte de apontar o dedo é sempre mais fácil e mais praticável do que assumir a própria confusão. Isso acontece porque a culpa é amplamente usada como moeda de troca à séculos. Os motivos são diversos, seja para fins de manipulação, de dominação ou até mesmo para sobrepujar alguns, enquanto outros - os verdadeiros culpados - escapam ilesos das consequências de seus atos.   Maquiavel  já explicava em sua obra “ O Príncipe ” que o poder se mantém, na maioria das vezes, através da arte da manipulação, por isso, nada melhor do que “jogar a culpa” em algo ou alguém para que assim se possa manter o controle. Nós vivemos em um mundo onde admitir os próprios erros pode significar a perda de status, emprego ou até mesmo afeto. Portanto, não é de se admirar que o assumir a culpa acaba não virando nenhuma trend .   O Duelo das Mentes   Ao adentrarmos a espiral de conceitos unívocos da culpa, nós percebemos uma gama bem interessante de interpretações. Diferentes correntes filosóficas, religiosas e psicológicas abordam esse tema sob perspectivas, muitas vezes, conflitantes e, às vezes, complementares.   Começaremos com Sócrates , aquele cara que dizia que não sabia de nada (“ Só sei que nada sei ”), mas ao mesmo tempo vivia repetindo que a pessoa precisava se conhecer (“ Conhece-te a ti mesmo ”). Para ele, autoconhecimento era essencial. A base para se viver bem e não algo opcional como muita gente pensa hoje em dia. Sua visão é bem direta, se o indivíduo se conhece, ele não precisa sentir culpa por suas atitudes.   Pois é, mas antes que resolvamos jogar toda essa história na vala comum da autoindulgência, vale lembrarmos de Sartre . Sim, o francês dos óculos e da mente grandes não nos deixaria esquecer que “Nós estamos condenados a ser livres...”. No existencialismo, a culpa se trata de uma condição inevitável que está atrelada a liberdade. E, essa liberdade, por sua vez, anda de mãos dadas com a responsabilidade. A escolha sempre é nossa, por isso que com ela, muitas vezes, vem o peso do arrependimento e do remorso.   Traduzindo para o português isso significa que a culpa pode ser apenas uma assombração criada pela nossa própria consciência que, mal e porcamente, tenta ter nossas escolhas sob controle. Ela seria apenas um sinal de que nós vivemos de verdade e não um castigo a ser evitado custe o que custar.   Ainda dentro do existencialismo, Simone de Beauvoir , falava da culpa como uma reação natural da consciência que não deve ser ignorada, mas sim confrontada e utilizada como combustível para a verdadeira autenticidade e liberdade. Essa abordagem mais equilibrada, fala de encararmos a culpa como um fardo o qual não precisamos carregar eternamente, deveríamos simplesmente soltá-lo e seguir em frente. Essa ideia do ponto de vista tradicional cristão poderia soar como uma heresia. A culpa aqui, possui um papel central, sendo vista como o reconhecimento do pecado que necessita de penitência. Esse conceito molda a cultura ocidental à séculos e deu origem ao conceito de culpa paralisante e opressora que conhecemos.   Nietzsche  chega rasgando, dizendo que a culpa se trata de algo criado pelos fracos com o objetivo de subjugar os fortes. Essa história toda não passaria de um jogo de poder entre o que chamamos de “moralidade de escravos” e “moralidade de senhores”. Ele não concordava com a culpa cristã e via isso como uma forma de escravidão mental repressora que impede os indivíduos de expressar a “vontade de poder” - o desejo de todo ser humano de se tornar o “além-do-homem” ( Übermensch ), aquele que rompe as amarras internas e externas e se torna quem realmente é.   Citando novamente o nosso amigo Kant . Ele via isso tudo de uma forma mais “normalzinha”, a culpa estava sob a luz da responsabilidade e do dever, ou seja, se não fizermos o que devemos, o sentimento de culpa nos açoitará sem dó nem piedade.   A psicanálise por sua vez, fala das camadas sutis. Tanto tio Freud , pai da psicanálise, quanto Lacan  jogam a culpa para baixo do tapete do nosso inconsciente. Eles dizem que a culpa emerge de conflitos internos, muitas vezes inconscientes, que nos impelem a agir em busca do equilíbrio psíquico. Nesta visão, a culpa seria tanto um sintoma quando uma solução.   Enquanto isso, nos templos tranquilos do budismo a culpa é tratada de uma forma mais engrandecedora. Os budistas vêem a culpa como um sentimento a ser compreendido, aceito e superado para que assim o sofrimento cesse. Não existe castigo divino, apenas aprendizado e libertação.   Tudo muito bom, tudo muito bem, mas realmente… esses contrastes nos fazem refletir sobre como encaramos a culpa real e a culpa inventada. Sim, existe também aquele tipo de culpa que nós imaginamos e saímos distribuindo por aí.   Como essas visões moldam as nossas decisões e nossa forma de viver? E passássemos e usar a culpa - e a responsabilidade - como ferramenta ao invés de prisão? A escolha é nossa.   O Supremo Tribunal do Coletivo   Michel Foucault , o mestre da análise das relações de poder, nos chama atenção para como a sociedade usa o controle o social afim de manter seus próprios interesses e a culpa aqui, é uma ferramenta super eficiente para esse controle continuar se perpetuando.   Quando falamos das caças às bruxas, ou nos Julgamentos da Inquisição, lembramos das “massas enfurecidas”, multidões de pessoas que, muitas vezes, eram movidas apenas pela culpa coletiva ou pelo medo do outro e até mesmo do desconhecido, decidindo quem deveria pagar pelo “pecado” social.   No mundo moderno a culpa aparece muito claramente nas redes sociais, onde o “cancelamento” virou a personificação máxima da “culpa em grupo” e da transferência desenfreada de responsabilidade. A culpa sempre foi espetáculo, onde o público - massa de manobra - é o juri e o carrasco, tudo com um toque dramático, pois quem não ama um teatrinho em nome da justiça, não é mesmo? Nem toda culpa jogada nas redes é verdadeira, assim como nem toda crítica é injusta. Mas como identificar isso quando não possuímos - pois não aprendemos a ter - senso crítico e quando a sanidade digital é quase inexistente?   O Monstro no Sótão   Quando a culpa deixa de ser algo externo e se instala dentro de nós, ela se transforma em uma sombra que nos acompanha a cada passo. Essa culpa internalizada gera efeitos corrosivos afetando a nossa autoestima, nossa capacidade de decisão e até mesmo nossa saúde mental.   Carl Gustav Jung  trouxe a baila esses sentimentos reprimidos com seu conceito de “sombra” - as partes rejeitadas e reprimidas que fazem parte do nosso ser. O acúmulo de culpa, muitas vezes, faz parte dessa sombra a qual não queremos encarar. O ato de ignorar ou negar essa culpa e a própria sombra não faz com que elas desapareçam, muito pelo contrário, elas ganham ainda mais força. Quanto mais tentamos fugir da culpa, mais nos prendemos a ela.   Justamente por isso que o reconhecer as emoções e trabalhá-las com intuito de entendê-las se faz tão importante. Afinal, a culpa não é um castigo divino, mas sim uma reação emocional complexa que merece toda a atenção e cuidado. A liberdade talvez resida em aceitarmos a culpa como parte do pacote premium da vida, mas sem deixar que ela nos defina.   Brincando de “Mestre do Próprio Destino”   Já sabemos que a culpa é algo que podemos controlar, mas para transformar um sentimento carrasco em aliado nós precisamos de tempo e prática. Sendo assim, abaixo seguem algumas sugestões.   Pratique o autoconhecimento Sim. Aprenda a reconhecer e re-significar suas emoções, entenda a origem delas, questione-as. Identifique padrões e crenças, Mude-os se necessário. Esse é o tipo de trabalho que ninguém pode fazer por você.   Nós não controlamos tudo As únicas coisas as quais nós realmente temos controle são: os nossos pensamentos, sentimentos e atos. A culpa diversas vezes vem do desejo de controlar o incontrolável, como as atitudes alheias por exemplo.   Aprenda a separar o joio do trigo Questione-se e aprenda a reconhecer a culpa real e descarte a culpa inventada. Nem toda culpa é, de fato, sua Portanto, seja brutalmente honesto consigo mesmo e separe a responsabilidade legítima do que é apenas uma projeção ou desculpa sua para agir não agir - sempre de acordo com a situação.   Nada de se afogar Ao reconhecer a culpa real procure não se afogar nela. Olhar para o que se sente é fundamental, não ignore, MAS não fique remoendo. Trate-se como você trataria uma pessoa querida.   Ninguém é perfeito Frase bem clichê que significa que ninguém sai dessa vida sem errar. Quem define seus erros é você mesmo e quando aceitamos que eles irão acontecer nós nos permitimos ser imperfeitos e automaticamente damos um passo gigante em direção a liberdade de ser. Portanto, se errar faz parte do show, perdoe-se.   Busque ajuda se necessário Terapia não é só “coisa de louco”. Estamos no ano de 2025. Vê se acorda! A maioria das pessoas sofre em silêncio, não é a toa que o índice de ansiedade e depressão nunca estiveram tão altos. Terapias e conversas com quem entende são aliadas. Ajude-se.   Desenvolva inteligência emocional e aprenda a dizer “não” Estabeleça limites, a culpa alheia não precisa virar sua. Se você é do tipo de pessoa “esponja” - que absorve as questões alheias - já hora de você aprender que isso não significa empatia.   Saiba a origem das coisas Da onde ou de quem esta vindo a culpa que você está sentindo? Questione-se. Você está culpando alguém ou a si mesmo em função de algo real ou imaginário?   Nada de looping Aprenda com seus erros, ou seja, não os repita. Veja-os como um aprendizado e não como uma sentença.   Nem tudo que o status quo noticia faz sentido Desenvolva sua consciência crítica, questione normas e padrões que te fazem sentir culpado sem razão. Estude, pesquise, o mundo está cheio de culpas sociais impostas.   Reconheça-se antes de esperar que outros o façam Sentimentos de culpa e vergonha tendem a camuflar o reconhecimento pelas coisas que fizemos de bom. Cabe a nós nos valorizarmos de maneira honesta para que não tenhamos pensamentos absolutistas. Ninguém é 100% bom ou ruim.   Esteja presente na sua vida. Já deu de ficar com a cabeça no dia anterior ou no dia seguinte. Quem assume o controle da própria culpa, assume o comando da própria vida. A Culpa é Nossa e o Controle Também   Nós ousamos afirmar que a culpa é uma invenção humana complexa, maleável, multifacetada e quase que inevitável. Mas como todo sentimento, nós também podemos aprender a manejar e redirecionar. Não se trata de uma sentença e nem de um fardo eterno. Nem tudo que acontece ao nosso redor é nossa culpa, mas é de nossa responsabilidade. Sim, a escolha do como agir é sempre nossa. Nós podemos escolher nos afogar na culpa ou surfá-la e as melhores formas de fazermos isso é reconhecendo-a, questionando-a e transformando-a em aprendizado.   Continue explorando ideias “fora da curva” aqui do blog. Interaja se quiser, comente, reclame, sugira temas, questione… sinta-se livre mas com responsabilidade. E para aqueles não possuem olhos e mente sensíveis é só visitar o nosso backstage   UN4RT , um espaço gratuito mas reservado para quem é realmente exigente no conhecimento e pensamento crítico.     “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT       E para os questionadores espertos as fontes, referências e inspirações estão aí.    Experiência pessoal , por diversas vezes culpei e fui culpada. Algumas dessas culpas eram reais, já outras eram completamente imaginárias. Já sofri por elas, principalmente pelas ilusórias. Já fiz muitas coisas as quais não me orgulho, mas arrependimento é uma palavra que não existe no meu dicionário. Cada lição, cada erro, cada culpa serviu para o que precisa servir. Aprendi e não as repeti. A vida acontece no agora, assim como é no agora que as culpas podem ser re-significadas. Immanuel Kant ,   Fundamentação da Metafísica dos Costumes . Nicolau Maquiavel , O Príncipe . Sócrates , Apologia a Sócrates  (escrito por Platão ) e Máxima de Delfos . Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Friedrich Nietzsche , Além do Bem e do Mal  e Genealogia da Moral . Sigmund Freud , O Mal-Estar na Civilização . Jacques Lacan , Escritos . Michel Foucault , Vigiar e Punir . Carl Gustav Jung , O Homem e seus Símbolos . Albert Camus , O Mito de Sísifo . Zygmunt Bauman , Modernidade Líquida .

  • A Filosofia da Comparação

    Porque a grama do vizinho é sempre mais verde? Esse artigo é para aqueles que, em sua rotina de olhar as redes sociais, já se pegaram pensando como a vida de algumas pessoas por lá parece ser melhor. Pois é, esse sentimento possui nome, endereço e até certidão de nascimento filosófica.   Chama-se Comparação  - um dos esportes mentais mais praticados pela humanidade.   Vamos analisar o que está além da metáfora e o que se esconde nos fundilhos da comparação cotidiana, pois esta prática, até pode parecer inofensiva, mas carrega consigo uma série de reflexos psicológicos e implicações existenciais.   Vamos, afinal, entender por que diabos nos importamos tanto com a grama do outro e por que olhamos para a vida alheia com lentes de aumento enquanto usamos um espelho retrovisor quebrado para analisar a nossa.   A Origem da “Síndrome da Comparação Crônica”   Como já era de se esperar, desde a Grécia Antiga os filósofos procuram entender esse comportamento quase patológico.   Platão  falava sobre a inquietude da alma humana e a busca por sempre obter algo além do que já se possui. Seu discípulo Aristóteles  argumentava que a virtude está na felicidade, e não no que os outros tem.   Epicteto  pregava sobre os simples prazeres da vida, aqueles que nos permitem aproveitar sem dor e com a aceitação sobre o que já se possui. Sêneca , por sua vez, dizia para ignorar a opinião dos outros, pois o que realmente importa é viver em paz consigo mesmo. O que em outras palavras significa: O foco é no que se pode controlar, e comparação não consta na lista.   Com o avançar dos séculos, esse tema continuou sendo debatido. Até chegar nas mãos de Freud e sua psicanálise. Sim, o cara que achava que tudo era culpa da mãe, foi um dos primeiros a dar nome e forma àquilo que sentimos quando olhamos para o gramado alheio. Ele chamava isso de “complexo de castração”, que seria uma sensação de perda ou falta de algo essencial, a qual se projeta no outro e vê-se somente o que se deveria ter.   Lacan  não ficou atrás e deu uma boa refinada nessa ideia, dizendo que o desejo nunca é nosso, ele é sempre do outro. Ou seja, desejamos o que o outro deseja, simplesmente porque o outro deseja. O cidadão aí praticamente nos chamou de papagaios emocionais, dizendo que não é a grama alheia que nós queremos e sim a validação por sermos donos da grama mais desejada do bairro.   Saltamos agora para o ponto de vista de Schopenhauer , o tio rabugento da filosofia, que dizia que o desejo é a fonte de todo o sofrimento. Para ele, nós vivemos a vida em função de desejar, conquistar, nos frustrar e voltar a desejar. Um ciclo infernal que transforma a comparação em mais lenha para a fogueira do desespero.   Simone de Beauvoir , por sua vez, falou que, historicamente, a mulher foi ensinada a se comparar utilizando padrões, ideais inatingíveis e até mesmo a ver as demais mulheres como rivais, fazendo com que elas se comparem com estas também.   Para Mademoiselle   Beauvoir , a comparação é um mecanismo de dominação e autossabotagem, pois o ser humano se constrói pelo outro e o problema reside em quando essa construção se torna uma competição.   Ou seja, a filosofia já cansou de nos dizer que se comparar é perda de tempo.   As Enraizadas   Desde pequenos ouvimos frases como: “Por que você não é como…” ou “Olha o(a) filho(a)…”. A cultura da comparação nos é ensinada desde tenra idade como método de motivação, mas o que ela realmente faz é plantar insegurança profunda e um senso de inadequação que carregamos até a vida adulta.   A psicanalista Melanie Klein  falou sobre como a infância molda nossa relação com o mundo. Quando crescemos sendo comparados, passamos a comparar tudo. Como se nossa autoestima fosse constantemente avaliada por critérios externos.   Não precisa ser gênio para perceber o quanto isso é cruel - o veneno perfeito para matar a autenticidade. Começamos a viver uma vida tentando agradar olhares que não nos veem em essência.   Desconstruir isso exige consciência e ação. Ao notarmos padrões automáticos de comparação, podemos questioná-los ao invés de repeti-los.   Utilizando a frase do pesquisador Rodrigo Polesso : “ Compare o você de hoje com o você de ontem e se inspire no você que quer ver amanhã. ”   A Autoexploração Moderna   Estamos todos tentando performar algo que, no fundo, sabemos que não somos, já dizia o filósofo Byung-Chul Han , que cunhou o termo “sociedade do desempenho”. Ele também acrescentou que estamos vivendo na era do cansaço, onde a sociedade trocou a opressão externa pela autoexploração. Agora, somos nossos próprios chefes e carrascos, tudo ao mesmo tempo.   E isso teria tudo a ver com o nosso desejo pela grama do vizinho. A autoexploração nasce da comparação. Nos forçamos a correr mais rápido pois vemos o outro produzindo mais, lucrando mais e achamos que estamos ficando para trás.   Comparações que Matam (a nossa grama)   O roqueiro do pensamento ocidental Friedrich Nietzsche  defendia a ideia de que deveríamos viver segundo nossa própria “vontade de potência” - ou seja, realizar aquilo que nos é singular. Mas como podemos fazer isso se estamos continuamente olhando para os lados, sendo bombardeados de informações que nos mostram tudo o que não temos e o que não somos?   Nesse contexto, a comparação seria uma forma silenciosa de violência simbólica. Hannah Arendt  já alertava sobre isso quando disse que os grandes males não vêm de monstros e sim da normalização do absurdo.   Aqui, esse absurdo é a constante sensação - que nos é transmitida e a qual alimentamos - de que estamos atrasados, somos insuficientes e pequenos diante do gramado “perfeito” do vizinho.   Voltando para Nietzsche , ele também falava sobre o “eterno retorno”, a ideia de que tudo se repete infinitamente. A comparação nesse caso também é uma dessas repetições. Ela seria como a coceira, depois que começa não para, virando um hábito.   Segundo ele, essa condição possui uma saída e esta se chama amor fati  - amar o que temos, o que vivemos e o que somos. Viver de uma forma tão intensa e autêntica que, se tivéssemos que repetir tudo eternamente, ainda assim faríamos tudo do mesmo jeito.   A Grama Verde como Gatilho de Frustração   Existe um conceito na psicologia que se chama “ hedonic treadmill ” que significa esteira hedonista. Essa ideia é basicamente a de que não importa o quanto conquistemos, nós sempre iremos querer mais.   Compramos um carro novo? Logo vamos desejar o próximo modelo, mais novo, mais acima do primeiro. O vizinho está reformando a cozinha? Vamos cogitar pegar um empréstimo para trocar, nem que seja, a geladeira.   Assim, essa história fica parecendo mais um ressentimento silencioso que cresce cada vez mais ao observamos os outros realizando o sonho que nós constantemente adiamos. Esses são os primeiros sintomas de quando a comparação começa a se tornar um tipo de inveja passiva-agressiva.   Esse ressentimento, assim como as desculpas, são um veneno que tomamos enquanto invejamos ao invés de nos inspirar. A filósofa brasileira Marcia Tiburi  fala sobre como o ressentimento é um dos motores da sociedade atual - funcionando melhor do que motivação. Esse sentimento paralisa, cega e, principalmente, nos desconecta de nós mesmos.   O Combustível da Frustração e Ressentimento Modernos   Agora a pergunta de um milhão é:   Quem plantou em nós a ideia de que precisamos ter tudo, o tempo todo e o mais rápido possível?   Ah, pois é. A nossa amada indústria do consumo. Na era da meritocracia, quem não consegue alguma coisa é fracassado. Até por que, quem nunca viu a propaganda “achadinhos que eu não sabia que precisava até comprá-los”? Pois bem, mais um ponto para o marketing . Pois, o trabalho dele não é vender produtos e sim vender-nos problemas que nem sabíamos que tínhamos, para depois nos oferecer a solução. Touché .   Onde existir um gramado ressecado por falta de rega, existirá um novo fertilizante orgânico com nanopartículas de felicidade sintética. A vida amorosa anda morna? Não tem problema, um novo perfume com feromônios de tubarão vai resolver o problema! Está triste? Então compre algo!   Assim a grama do vizinho vira produto. A comparação vira negócio. O descontentamento um motor de vendas. E nós, consumidores dóceis, continuamos nessa roda viva, procurando comprar a felicidade que parece morar apenas no quintal ao lado.   A escritora Clarissa Estés  escreve sobre o “arquétipo da mulher selvagem”, aquela que não se curva às exigências externas e vive de acordo com sua própria verdade. Mas o que se vê por aí é, muitas vezes, a venda do oposto - cultos a perfeição fabricada, onde não há espaço para dor, a dúvida, a lentidão e muito menos a autenticidade.   Isso tudo nos leva a perceber que ao esperarmos demais de nós mesmos, tendo como base a vida editada dos outros é a receita certeira para um colapso emocional. As expectativas  são uma armadilha com laço de fita dourada.   The dark side of the grass   Quem tem jardim sabe que toda grama tem suas pragas. Toda vida possui suas rachaduras. Mas quando a luz bate de forma enviesada, nós só vemos o brilho, mas nunca as sombras.   A grama do vizinho pode até parecer mais verde porque nós só vemos o lado iluminado dela. A sombra, fica escondida. Assim como a nossa própria. Todo mundo conhece ou já conheceu alguém que parecia ter a vida perfeita até que, como num passe de mágica, tudo desmorona. Sim, essas coisas acontecem o tempo todo. A comparação se baseia apenas em projeções - e projeções são ilusórias por natureza. Olhar o jardim dos outros com admiração cega é esquecer que até as mais belas flores crescem em meio a sujeira.   Ironias, Hipocrisias e Contradições   Só a vida e a experiência são capazes de nos proporcionar certas ironias. Ás vezes, o vizinho está olhando a sua grama e achando ela mais verde do que a dele. Essa troca de cobiça mútua é patética e genial ao mesmo tempo. Até parece que somos todos espelhos quebrados, procurando nos completar com os cacos dos outros.   Mas esse ciclo de troca é, no fim das contas, uma piada de mal gosto: a grama dele parece melhor para nós, a nossa parece melhor para ele, e no fim ninguém aproveita o próprio jardim.   É aqui que entra o humor ácido da nossa existência. Nos levamos a sério demais, quando, lá no fundo, estamos todos apenas procurando parecer menos perdidos do que realmente estamos.   A Ilusão Verdejante   A grama do vizinho parece mais verde não porque ela de fato é, mas porque nós a enxergamos assim. Isso se chama ilusão perceptiva, e é a base de todo o circo emocional. Olhamos a vida do outro através de uma lente que destaca apenas os pontos altos, ignorando as ervas daninhas e o adubo fedido que ele também usa para manter o gramado bonito.   Mas afinal, por que queremos o que não temos?   Porque o que temos se torna invisível com o tempo. O hábito é o maior assassino da gratidão. O novo, o diferente, o proibido… tudo isso brilha com mais intensidade na vitrine da comparação.   O Papel da Gratidão (sem papinho de coach )   Quem nunca escutou: “Seja grato” em um momento difícil e não quis dar uma voadora na pessoa, já pode se considerar um ser iluminado. Todo esse papo é muito bom, contanto que não vire aquele clichê de almofada de loja de 1,99.   Gratidão não é negar a dor, é mais como uma lente de realidade. Ao olharmos ao nosso redor e reconhecermos o que já temos, não importando o quão imperfeito seja.   Usar essa prática diariamente ajuda a desintoxicar a nossa mente do veneno da comparação. Quando começamos a valorizar nossas pequenas vitórias - como conseguir não mandar pessoas irem passear em seus orifícios anais, por exemplo - já começa a diminuir o peso de achar que não temos ou somos o suficiente.   Viktor Frankl , sobrevivente do Holocausto e criador da logoterapia, dizia que mesmo nos piores cenários a vida pode ter sentido. Se ele conseguiu encontrar significado num campo de concentração, nós podemos encontrar sentido em nossa rotina, seja ela de planilhas e boletos.   A gratidão verdadeira, no meu ponto de vista, é rebelde. Ela grita no meu ouvido: “Mesmo sem ter tudo, eu tenho o suficiente por hoje, agora cala a boca e vai fazer uma coisa que te agrade.”   Saindo do Espelho do Outro   Já tentou se olhar no espelho por mais de dois minutos? Sem se julgar, sem procurar defeitos, só se observar? Esse exercício é brutal, a primeira vez que o fiz com consciência, comecei a chorar.   A maioria de nós se enxerga através do olhar dos outros.   A escritora Audre Lorde  dizia que “cuidar de si é um ato de resistência.” E é mesmo. Parar e olhar-se com compaixão, reconhecer nossas sombras e luzes, é algo revolucionário. Não há comparação que resista ao poder de quem se conhece ou procura se conhecer profundamente.   Se vivemos tentando nos adequar a moldes que não foram feitos para nós, isso pode terminar em deformação emocional.   O desafio que eu lanço aqui é: sair do reflexo dos outros e voltar a olhar para si.   Essa tarefa não se realiza em um estalar de dedos, mas já dizia Dumbledore : “… escolher o certo e não o fácil...”   A liberdade mora no viver dentro da nossa verdade, mesmo que ela tenha suas falhas, mas sem abrir mão da consciência.   Ser jardineiro de si mesmo Comparar-se constantemente é o equivalente emocional de correr numa esteira, só exaure nossas forças, mas não saímos do lugar.   Essa prática é a ilusão mais democrática que existe, ela atinge pobres e ricos, jovens e velhos, filósofos e blogueiros. Mas também é uma escolha. Podemos continuar desejando o jardim alheio… ou podemos começar a construir o nosso próprio paraíso, um metro quadrado de cada vez.   Portanto, se você leu até aqui, pare e respire. Permita-se sair dessa espiral de comparação e autossabotagem. A grama do vizinho só parece mais verde porque nós ainda não percebemos que a nossa possui raízes profundas e fortes.   Agora, se você gostou do artigo, continue com a gente! Aqui no blog, todo texto vem com sua versão gravada em áudio — sem cortes, sem censura.   Quer comentar, sugerir temas, mandar perguntas ou simplesmente reclamar? Vai fundo! Os comentários são abertos e sua participação é muito bem-vinda.   Ah, te convido também a nos presentear com café ( é só clicar aqui ). 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Viktor Frankl , Em Busca de Sentido. Audre Lorde , Uma Explosão de Luz .

  • Por que nos sentimos perdidos?

    A sensação de estar perdido não é exatamente nenhuma novidade na história da humanidade. Desde que deixamos de caçar mamutes e iniciamos o pagamento de contas, as nossas noções de confusão existencial apenas trocaram de narrativa: saímos do campo aberto para os escritórios e fábricas. Há quem diga que essa “perda de rumo” se trata apenas de um sintoma moderno, um simples efeito colateral da hiperconectividade contemporânea. Quando, na verdade, desde a Grécia Antiga, filósofos e pensadores já se questionavam a respeito do sentido da vida. Sócrates  se perguntava: “Quem sou eu?”, Diógenes  respondia com um olhar cínico, enquanto vivia em seu barril, rindo da seriedade das pessoas. Hoje, este “barril” se tornou, em alguns casos, um apartamento de 40m² financiado em 30 anos. Os tempos podem ter mudado, mas as ironias continuam as mesmas. Será que a sensação de rodar em círculos realmente se trata de um problema ou é apenas uma característica inevitável daqueles que respiram e pensam? “Afinal, por que nos sentimos perdidos, mesmo diante de tantas opções?” Estamos vivendo em uma era em que temos opções de aplicativo para praticamente tudo. Podemos pedir comida, encontrar o amor, chamar um carro, meditar, nos distrair… A lista é longa. Em meio a isso, percebemos que não existe aplicativo, site, IA ou rede social que seja capaz de nos dizer com precisão qual é o nosso papel no mundo. Não existe algoritmo que substitua a complexidade da experiência humana, e isso não é por falta de tentativas na criação de uma inteligência que nos responda o porquê das coisas serem como são. A ilusão do GPS existencial é quando acreditamos que existem caminhos certos, lineares e seguros para seguirmos. Parece que, muitas vezes, entendemos a vida como uma espécie de bússola espiritual automatizada: “Em 300 metros, vire à esquerda em rumo à felicidade plena”. O querido e mal compreendido Nietzsche  costumava dizer que precisamos criar nossos próprios valores, pois o “mapa” universal das ideias de moralidade desmoronou. Já Jung falava sobre a integração da “sombra”, o lado obscuro e reprimido de nossa psique, pois só assim nós realmente nos conheceríamos. Essa ideia soa muito poética, mas isso é só até percebermos que, para integrarmos a nossa sombra, nós precisamos encará-la nos olhos. Teríamos que nos despir da persona que usamos para interagir com o mundo, dizendo adeus aos sorrisos falsos e as frases do tipo: “está tudo bem!”, quando, na verdade, tudo está menos do que bem. O Marketing da Positividade Digamos que, se o status quo fosse uma religião, o seu principal mandamento seria: “Serás o tempo todo feliz, ou morrerás tentando.” As nossas narrativas atuais nos vendem um cardápio interminável de soluções para os nossos problemas, mesmo aqueles que não temos. Navegamos em meio a um mar de cursos de produtividade, mindset  milionário, coaching , livros de autoajuda, retiros espirituais, terapias diversas, e até mesmo consultorias e masterclasses  que nos ajudam a encontrar o nosso propósito. A diversificação deste mercado, bem como a busca por ajuda, não são atos a serem condenados. A questão aqui são as interpretações diversas que navegam em meio às entrelinhas destas práticas, ferramentas e métodos que, muitas vezes, são vendidos como estilos de vida 100% eficazes. Ao acreditarmos que a felicidade é algo que pode ser comprado com dinheiro ou promessas de uma vida perfeita e sem limites, muitos de nós acabam presos em um novo ciclo. A cada nova técnica ou método milagroso que compramos, renova-se a motivação. E esta, dura quanto tempo? Quando não conseguimos manter a constância, criar disciplina ou seguir cegamente o passo a passo, o vazio retorna e a cobrança interna também, só que agora acompanhados de 12 prestações a serem pagas. Desta forma, parte-se em busca de uma nova solução, seja ela mais uma técnica, mais um método, mais um emprego ou mais um agente externo que preencha o nosso espaço interno. Estoicos, como Sêneca , já nos alertavam. Eles diziam que a vida é repleta de incertezas, e a busca por eliminar o sofrimento é inútil. O objetivo não seria evitarmos o caos a qualquer custo, mas sim aprendermos a dançar com ele, a vê-lo como um fenômeno de mudanças – o caos criativo, que nos impulsiona a seguir em frente, a nos abrirmos para as nossas próprias soluções. Afinal, quem sabe melhor sobre a nossa própria vida do que nós mesmos? Ninguém calça os nossos sapatos e não existe método ou passo a passo no mundo que substitua o nosso próprio entendimento de nós mesmos. Mas, vivendo em uma sociedade onde é preferível a venda de ilusões de conforto, é óbvio que possamos nos sentir ainda mais perdidos. Principalmente, quando percebermos que o pacote “felicidade premium ” não funciona com a eficácia que vinha impressa em sua embalagem. A Cultura da Comparação Nada nos deixa mais confusos do que a insistência que possuímos em nos comparar com os outros. O ditado popular: “O gramado do vizinho é sempre mais verde.” ( clique aqui para ler o artigo sobre isso ), nunca foi tão profético e universal. Essas comparações mentais são alimentadas pela lógica de “escassez emocional”, ao vermos os outros felizes – mesmo que sejam apenas aparências – podemos pensar que estamos falhando em alguma coisa. E, como resultado, perde-se a referência interna. Em vez de nos perguntarmos “O que eu quero?”, passamos a nos perguntar “O que é aceitável querer para não parecer um fracassado?”. Quando refletimos com mais coerência sobre nossas crenças, percebemos que esses mecanismos comparativos são apenas repetições herdadas. Elas ainda estão presentes, simplesmente porque não nos questionamos sobre elas. A Ideia de Separação   Ao contrário do que escutamos, é curioso perceber que o se sentir perdido não se trata apenas de uma questão mental. O nosso corpo também dá sinais muito claros de que algo precisa mudar. Cansaço crônico, insônia ou excesso de sono, dores e alergias sem causa aparente, tudo isso pode ser o nosso físico gritando: “Ei, você está ignorando o que realmente importa.” Nós ainda possuímos certas crenças cartesianas que colocam o nosso corpo em segundo plano. Estas crenças vêm se agravando ao longo dos anos, uma das consequências desta visão separatista é o crescimento da produção de alimentos altamente processados. Damos, muitas vezes, preferência a substâncias altamente palatáveis que nos alimentam, mas não nutrem. Um exemplo disso é a diferença de preço: substâncias comestíveis se tornaram muito mais baratas do que os alimentos naturais, aqueles que nossos antepassados plantavam e colhiam. O filósofo Maurice Merleau-Ponty  foi um dos tantos que defenderam e ainda defendem o fato de a nossa consciência não ser algo separado do nosso corpo, nós somos o corpo. Na vida moderna, a nossa mente virou uma espécie de painel de controle lotado de notificações e botões vermelhos, já o nosso corpo… bem, ele passou a servir apenas para carregar a nossa cabeça até o próximo objetivo. Reconectar-se com o próprio corpo, seja por meio de caminhadas, exercícios que utilizam o nosso próprio peso, meditação, diálogos com nós mesmos, cozinhar sem pressa utilizando produtos naturais…, nos ajuda, tanto na resolução de nossos dilemas existenciais quanto na percepção de que estamos nos cobrando mais do que vivendo. O Labirinto das Escolhas Ao escutarmos as histórias e vivências de nossos avós, percebemos que as opções de vida até podiam ser poucas, porém eram muito claras. Hoje, temos uma “liberdade” maior dentro do nosso escopo de escolhas. Essa diversidade de profissões, conhecimentos e marcas de shampoo até pode parecer algo libertador. Mas, para muitos de nós, essa infinidade de possibilidades pode ser também paralisante. O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre  dizia que “estamos condenados à liberdade”, o que significa que cada escolha, mesmo a mais ínfima, carrega o peso de todas as outras as quais deixamos de escolher. Portanto, para quem se sente perdido, essa visão funciona, praticamente, como mais um galão de gasolina despejado em cima do fogo da indecisão. Expectativas Terceirizadas Agora, se existe um combustível que alimenta ainda mais o incêndio do "Por que nos sentimos perdidos" e, consequentemente, a nossa confusão mental, é: as expectativas - nossas e alheias ( clique aqui para ler o artigo sobre isso ). Desde tenra idade, nós recebemos um manual invisível escrito pelas crenças familiares, sociais e culturais. Este manual diz o que é “ser bem-sucedido”, “ser responsável”, “ser adulto”, praticamente ele nos diz como devemos ser para sermos aceitos e vistos como membros da sociedade. Até certo ponto, não há problema algum nisso. Porém, esse manual, na maioria das vezes, não leva em consideração quem nós realmente somos. Poderíamos querer viver de estudos e escrita, mas a narrativa grita que o certo é buscar “um emprego vitalício”, sendo que este, muitas vezes, é relacionado a algo o qual não temos real interesse. Uma consequência possível deste cenário é que passamos a viver uma vida projetada para outros, não importando se estes são nossos pais, amigos ou estranhos. A vida e a carreira que deveríamos escolher para nos satisfazer se tornam uma limitação de escolha. Søren Kierkegaard  falava muito a respeito de que “a maioria das pessoas vive em um estado de desespero silencioso”, justamente por escolherem seguir caminhos que não escolheram de forma consciente. E, o que é mais irônico nisso, quanto mais se tenta atender às expectativas, mais nos afastamos de nós mesmos e, por consequência, ficamos ainda mais perdidos. O Medo Um dos motivos que intensifica toda a confusão é quando evitamos o silêncio e o vazio a qualquer custo. Nesses momentos, paradoxalmente, é quando encontramos mais distrações: televisão ligada, celular à mão, música nos fones de ouvido, qualquer coisa serve para não encararmos o eco das nossas próprias perguntas. O vazio, por mais que tenhamos aprendido o contrário, nunca foi nosso inimigo. Ele é um terreno fértil, de onde imergem as soluções das quais não somos capazes de perceber em meio às tantas distrações. É nele que as novas ideias nascem e que a intuição fala mais alto. Filósofos como Pascal possuem extenso material sobre o assunto. Ele já dizia que “toda a infelicidade do homem provém de não saber ficar quieto em seu quarto”. Nós trouxemos, hoje, para dentro de nosso quarto, ambiente de descanso e acolhimento, timelines  infinitas. O que faz com que prestemos muito mais atenção a elas do que a nós mesmos. Aceitar o nosso próprio vazio como uma parte natural de nossa existência pode não ser algo que aconteça em um estalar de dedos. Exige, sim, a coragem de desligar o barulho externo e encarar o que sobra. E, que sobra, muitas vezes, somos apenas nós, sem filtros nem distrações. As Armadilhas Existe uma narrativa popular de que todos nós possuímos um propósito fixo ou único, como uma espécie de missão secreta à espera de nós a descobrirmos. Essa ideia, mesmo que sedutora, também exige uma certa cautela. Pois, se acreditamos na existência de um único propósito ou caminho específico o qual precisamos tomar as decisões certas para encontrá-lo, nós passamos a viver com ansiedade. A filosofia oriental, especialmente o taoísmo, nos sugere algo bem diferente: em vez de perseguirmos um destino fixo, que vivêssemos de forma alinhada ao fluxo natural da vida (o Tao). Isso significaria aceitar as mudanças de rota, os interesses temporários e as múltiplas paixões que surgem ao longo da nossa existência. Talvez, a ideia de “propósito” tenha muito mais a ver com a nossa forma de caminhar, do que com um endereço final. A Nossa Bússola Interna Como não podemos comprar um GPS existencial, que tal afinarmos a nossa bússola interna? Sim, isso existe e se chama: Autoconhecimento a partir do autoquestionamento. Quando observarmos nossas reações às situações e questioná-las quando necessário, passamos a perceber e a entender de uma maneira mais ampla, os nossos gatilhos emocionais. Aprendemos sobre o que nos faz avançar e o que nos prende a ciclos infrutíferos. O autoconhecimento nos ensina a diferenciar o que de fato queremos, daquilo que fomos treinados para querer. O filósofo estoico Epicteto falava: “Não são as coisas em si que nos perturbam, mas as opiniões que temos sobre elas.” Ao conhecermos essas opiniões, e de onde elas vêm, se trata de um grande passo para sairmos da sensação de estarmos perdidos. O Tempo e a Nossa Confusão É inegável que o tempo é um dos maiores ilusionistas da existência. Quando somos jovens, parece que ele se arrasta. Mas quando envelhecemos, ele voa. A sensação de estarmos perdidos, muitas vezes, vem por meio da percepção de que “o tempo está passando” e nós ainda não “chegamos lá” – seja lá onde esse “lá” for. Heidegger, o filósofo que já se intrigava com o tempo, falava que viver de maneira autêntica significa reconhecer a nossa finitude e que deveríamos usar o tempo como um aliado, e não como um carrasco. O nosso problema, neste contexto, talvez não seja a “falta de tempo”, mas sim o não saber o que queremos fazer com ele. E se a lógica não der conta? A sensação de estar perdido não significa, em nenhum momento, que possamos estar completamente à deriva. Pequenos hábitos, quando inseridos em nossa rotina, podem funcionar com grande eficácia. Eles nos proporcionam uma espécie de âncora no meio da confusão. Isso não quer dizer que tenhamos que seguir uma rotina rígida e inflexível, mas sim criar pontos de referência que nos lembrem quem somos. Não importa se estas pequenas ações são em forma de um café da manhã tranquilo sem celular, um caderno de anotações, alguma forma de exercício físico ou até mesmo um momento diário de silêncio. Essas pequenas âncoras podem não eliminar completamente a dúvida, mas nos auxiliam a navegar por ela sem sermos engolidos. Seria como se usássemos boias salva-vidas para atravessar um rio extenso, nós ainda precisaremos nadar, enquanto sabemos que não afundaremos.   Aceitação Em meio às nossas rotinas, talvez a maior virada de chave que podemos ter neste momento seja entender que se sentir perdido não é um problema, não é um defeito, não é um sinal de fracasso. É simplesmente um lembrete de que estamos vivos, procurando fazer o nosso melhor ao mesmo tempo que nos movemos por territórios desconhecidos. A própria palavra “encontrar-se” pressupõe que, em algum momento, nós estivemos perdidos. Isso pode ocorrer em diversos estágios de nossa vida, onde cada transição – trabalho ou carreiras novas, mudanças de cidade ou país, fins e começos de relacionamentos – um pedaço de nós precisará se reorganizar. O truque é parar de vermos isso como falhas e começarmos a encarar como oportunidades para nos reinventar. O Luxo de Estar Perdido Se pararmos para pensar, o sentir-se perdido é um privilégio da consciência. Uma pedra não se sente perdida. Um gato, provavelmente, também não. Mas, nós sim, porque temos pensamentos demais e pensamos de menos. Talvez, o estar perdido seja “o preço” de termos liberdade. Como diria Sartre : “a liberdade é o que você faz com aquilo que foi feito de você”. E, se for assim, estar perdido não é um problema a resolver, mas sim um estado a se atravessar. Simplificando Sentir-se perdido é normal. É resultado da liberdade, das expectativas externas, das comparações, do excesso de escolhas e da dificuldade de ouvir a si mesmo. Não existe uma fórmula pronta que evite isso. Mas o que existe são pequenas práticas, reflexões, questionamentos e coragem para vivermos em meio às possíveis incertezas da vida. Na minha visão, essa busca excessiva por “encontrar-se” pode ser tão opressora quanto estar perdido. Talvez seria um negócio melhor se nos permitíssemos viver sem precisar saber o próximo passo o tempo todo. Às vezes, é no improviso que encontramos nossos momentos e ideias mais autênticas. Obs. : a ideia para escrever este artigo surgiu exatamente no dia em que eu deveria postá-lo, ou seja, quando, ao me sentir perdida por não saber sobre o que escrever, foi que este tema surgiu. Até nos momentos de autocobrança, nós podemos tirar algumas lições. No fim das contas, podemos dizer que o autoconhecimento é essencial, e não um luxo. Portanto, se você leu até aqui, convido-o(a) a refletir sobre o que realmente importa para você hoje. Assim chegamos ao fim de mais um artigo, interaja (ou não) deixando seus comentários, sugestões, perguntas, reclamações ou apenas recomendando este texto para alguém que também está “se procurando”. Visite nosso site oficial UN4RT , o nosso backstage  gratuito com conteúdos exclusivos e, um tanto quanto ousados (no bom sentido, é claro). E, além disso, se você quiser, pode apoiar este projeto acessando o nosso perfil no “ Buy Me A Coffee ”, lá você encontra materiais gratuitos, e-books escritos por nós, plano de membros e muito mais. Obrigada e até a próxima! “ A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” – UN4RT Fontes, referências e inspirações a vista. Faça uma viagem segura! Sócrates , Diálogos de Platão . Diógenes o cínico , Tradições e anedotas filosóficas. Friedrich Nietzsche , A Gaia Ciência . Carl Gustav Jung , O Homem e seus Símbolos . Sêneca , Cartas a Lucílio . Søren Kierkegaard , O Desespero Humano  e O Conceito de Angústia . Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Albert Camus , O Mito de Sísifo . Maurice Merleau-Ponty , Fenomenologia da Percepção . Blaise Pascal , Pensamentos . Epicteto , Enchiridion . Lao Tzu , Tao Te Ching . Martin Heidegger , Ser e Tempo. Barry Schwartz , O Paradoxo da Escolha. Viktor Frankl , Em Busca de Sentido.

  • Se a Vida te der Limões, Pergunte-se quem pode estar Lucrando com Isso

    Todo mundo já ouviu, ao menos uma vez na vida, a frase motivacional clichê: “Se a vida te der limões, faça uma limonada.”. Inofensiva, otimista e quase ingênua. Essa frase nos é “empurrada goela abaixo” como se fosse uma filosofia de vida infalível.   Desde os primórdios da humanidade, temos o estranho hábito de transformar derrotas em frases de impacto. O que de certa forma é compreensível - pois quem gosta da ideia de que as coisas possam estar acontecendo sem um motivo, não é mesmo?   Mas, aqui entre nós, você já se perguntou: quem está lucrando com toda essa abundância cítrica? Quem realmente ganha com a ideia de que você deve aceitar os desafios e transformá-los em uma “oportunidade”? Porque, sejamos francos: a vida não distribui limões gratuitamente, e se estão despejando uma carga inteira na nossa direção, tem alguém tirando proveito disso.   O Mercado do Limões Existenciais   A dor sempre foi uma mercadoria valiosa. Se você acha que todas as dificuldades que enfrentamos são apenas infortúnios aleatórios que fazem parte do acaso ou do “destino”, então é melhor você repensar isso. O sofrimento humano sempre foi uma mina de ouro para aqueles que sabem capitalizá-lo.   O incompreendido filósofo Friedrich Nietzsche disse que “A esperança é o pior dos males, pois prolonga o tormento do homem.”. E o que fazem com o nosso sofrimento? Embalam em livros de autoajuda, transformam em cursos de produtividade, vendem em pilulas milagrosas.   Exagero? Quer um exemplo? O mercado da autoajuda é uma indústria bilionária. Existe um verdadeiro império construído em cima da ideia do “ mindset  milionário”. Enquanto estamos aí, procurando “vencer na vida”, tem alguém vendendo o segredo do sucesso por apenas R$ 997,00 ou em 12X de R$ 83,08 sem juros. Mas calma, se você agir agora, ganha um e-book gratuito! Claro, porque tudo o que nos falta para prosperar é um webinário gravado em vídeo e um e-book de 50 páginas.   O que não nos contam é que o verdadeiro jogo é fazer com que continuemos comprando, afinal nós adquirimos apenas o Volume I. Dependência, vício, hábito, necessidade… chame isso do jeito que quiser.   Mas não me entenda mal. Não estou desmerecendo o conhecimento e o trabalho daqueles que desenvolveram sua expertise  e a oferecem aos demais - eu estaria sendo hipócrita se assim o fosse. A questão aqui é o USO consciente de nossas dores afim de atingir-se um maior lucro.   Este artigo fala sobre aqueles que almejam apenas uma coisa: se beneficiar as nossas custas. E acredite, você ficaria admirado o quão “na cara” isso está. Somos nós que, nem ao menos percebemos. Infelizmente, isso não se trata de teoria da conspiração - antes fosse.   O Sistema Não Quer Você Saudável ou Morto: Ele o quer Doente (e Exausto)   Jean Baudrillard nos alertou para o fato de vivermos em uma realidade distorcida, uma espécie de “simulação” cuidadosamente projetada através de narrativas que nos mantêm funcionando como engrenagens produtivas. Mas Byung-Chul Han foi mais longe e descreveu nosso tempo como a era da autoexploração: “O sujeito neoliberal se explora e acredita que isso o realiza.”. Ou seja, não precisamos mais de um chefe gritando ordens. O sistema fez com que nós mesmos nos torturemos. Acreditamos que só precisamos nos esforçar mais, dormir menos, trabalhar mais horas, produzir mais e se não conseguirmos é porque não tentamos o suficiente.   E assim, seguimos na roda de hamster, sem perceber que o jogo foi armado para que poucos vençam. Enquanto uns colhem os frutos, outros ficam exaustos tentando fazer limonada com limões que não pediram.   Importante ressaltar que aqui, também entra o mito da meritocracia, que faz parte dessas distorções. “Trabalhe duro e você vencerá”, “Trabalhe enquanto os outros dormem.” são slogans  criados para que aceitemos a exploração como se fosse uma virtude.   O capitalismo não quer que você descubra que as laranjas do vizinho são irrigadas com subsídio governamental. Ele prefere que você continue acreditando que tudo se resolve com mais esforço e uma mentalidade positiva. Não é à toa, que a máquina não para de produzir conteúdos sobre “resiliência” e “ mindset  milionário” enquanto os donos do jogo seguem multiplicando seus patrimônios.   A Economia do Otimismo Tóxico   ”O otimismo é o ópio do povo.”, poderia ter dito Karl Marx , se tivesse vivido o suficiente para ver a indústria florescer - e também ver suas ideias serem praticadas e fracassarem de forma igualitária.   Uma coisa interessante seria: Ao invés de abraçarmos cegamente essas narrativas, decidíssemos questionar o sistema que nos bombardeia com esses limões. Como sugeria a brilhante filósofa Simone de Beauvoir , “Não se nasce mulher, torna-se mulher.”. O que tomando a licença poética, também poderia significar: “Não se nasce otimista, torna-se otimista.”. E, aparentemente, tornamos-nos otimistas comprando uma série interminável de produtos para lidar com os limões da vida.   Os Fins Justificam os Meios?   Maquiavel , se estivesse vivo, provavelmente diria que as dinâmicas de poder que estão por trás desse sistema, são de fato brilhantes. Ele já havia ensinado que “os fins justificam os meios”, e essa filosofia foi elevada a um novo patamar pelo capitalismo moderno. Criam-se problemas artificiais para depois vender-se soluções a preços de uma “banana banhada em ouro”.   A ideia de que “basta se esforçar o suficiente” é um engodo dos bons. Não porque o esforço seja irrelevante, mas porque ignorar as desigualdades estruturais é conveniente para quem está no topo. A laranja do vizinho é irrigada com subsídio, enquanto nós lutamos para cultivar nossos limões no deserto. Ou seja, a genialidade da exploração moderna é fazer você pensar que tudo isso é culpa sua.   A Metafísica do Azedume   Pensemos por um momento: o que são esses “limões” que a vida supostamente nos dá? Problemas no trabalho? Relacionamentos fracassados? Escassez de dinheiro? Contas a pagar? Ou seriam eles meras construções sociais, projetadas para nos manter eternamente insatisfeitos e, portanto, eternamente consumindo?   Como Nietzsche poderia ter dito (se tivesse uma obsessão por frutas cítricas): “Quando olhas para o limão, o limão também olha pra ti.” Profundo, não? Ou talvez seja apenas o ácido cítrico corroendo minha retina metafórica.   O Paradoxo do Espremedor   Aqui vai uma questão para fazer seu cérebro dar um nó de marinheiro: se nós fizermos limonada com todos os limões que a vida nos der, não estaremos, na verdade, perpetuando o ciclo? Quando mais eficiente nos tornamos em lidar com os problemas, mais problemas “o universo” parece jogar em nosso colo. É como se o cosmos fosse um barman sádico, sempre pronto para reabastecer nosso copo de desafios.   Com isso em mente, como seria se ao invés de aceitarmos passivamente os limões ou transformá-los em limonada, decidíssemos modificar um pouco as coisas? Imagine uma sociedade onde, ao receber um limão, as pessoas perguntassem: “Quem plantou essa árvore? Quem colheu esse fruto? Quanto de agrotóxico foi usado? Tem certeza que isso pode ser consumido? E por que diabos estou recebendo isso agora?”   O Grande Esquema Cítrico   Talvez - apenas talvez - toda essa conversa sobre limões seja apenas uma distração elaborada. Enquanto estamos ocupados fazendo limonada, os verdadeiros jogadores estão negociando futuros de laranja, monopolizando as limas e criando híbridos geneticamente modificados de toranja.   Edward Bernays , considerado o pai das relações públicas, foi um dos primeiros - e com certeza o mais famoso - a compreender que as emoções humanas poderiam ser manipuladas para impulsionar o consumo. Inspirado nas teorias psicanalíticas de seu titio, Sigmund Freud , Bernays ajudou a criar a sociedade de consumo moderna, onde as pessoas não compram apenas produtos, mas sim narrativas e sentimentos (Marcas).   O mercado da venda e exploração de dores é um reflexo direto das ideias de Bernays : primeiro, cria-se um desconforto ou insegurança (seja através da mídia, publicidade ou influenciadores), depois, vende-se uma solução que promete aliviar a angústia. Assim, o sistema não apenas lucra com os problemas, mas se torna o próprio criador deles, garantindo um ciclo interminável de consumo. Bem, agora que você sabe disso, abra suas redes sociais e analise como são vendidos produtos, cursos e etc.   Portanto, a solução não é apenas “fazer mais limonada” ou “jogar os limões fora”, mas sim entender o sistema que coloca os limões em nossa mesa. Questione. Quem está ganhando com isso? Como você pode jogar o jogo sem ser apenas um peão? Ao invés de engolir o otimismo forçado, aprenda a negociar suas próprias condições. Se possível, pare de comprar limonadas prontas, cultive seu próprio pomar e aprenda a vender suas próprias maçãs.   Repare que, o objetivo deste artigo é descortinar essas “jogadas”. De modo que, quando você resolver consumir/comprar algo, isso seja de fato sua escolha consciente  e não através de um sentimento de necessidade, que na realidade, foi “plantado” em sua mente. As emoções humanas são facilmente manipuláveis e a grande maioria da população não tem ideia do que de fato significa “usar a cabeça”.   Um Gole do Suco de Realidade   Na minha humilde opinião de escritora - que passou tempo demais pensando em limões - acredito que é hora de mudarmos esse ditado. Ao invés de “Quando a vida te der limões, faça limonada.”, que tal: “Quando a vida te der limões, questione o sistema agrícola, econômico e social que levou esses limões até você e então decida conscientemente o que fazer com eles.”   A ideia de transformar dificuldades em oportunidades é sedutora, em alguns casos ajuda e faz sentido, mas também é perigosa. Nem tudo é um “aprendizado” ou uma “lição de vida”; às vezes é só exploração e/ou autossabotagem disfarçadas. Portanto, antes de aceitar a próxima dose de positividade tóxica, faça a pergunta essencial: quem está lucrando com isso?   Entenda, a vida não é um conto de fadas e a economia da desgraça é real. Enquanto muitos seguem tentando transformar dificuldades em oportunidades, há quem esteja as empacotando e vendendo-as como um produto.   O verdadeiro poder está em enxergar o sistema e não apenas jogar o jogo que criaram para você.   “Todos nós somos marionetes Laurie. Eu apenas sou a marionete que consegue ver as cordas.” - Dr. Manhattan.   Agora me diga: você está apenas bebendo a limonada ou já começou a se questionar quem está engarrafando-a?   Independente de você ter gostado de texto ou não, explore mais artigos aqui do blog e continue questionando. Deixe seu comentário, sugira temas, compartilhe. E se quiser acesso ao backstage do pensamento crítico, visite o site da UN4RT . Porque enquanto alguns tomam suco, outros estão escrevendo o cardápio. Obrigada pela confiança e até a próxima dose de vitamina C intelectual!   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT     Tá, vai lá pesquisar mais. Faz bem! As fontes, inspirações e referências estão aí. Pega, curte, compartilha, leia outros artigos e depois pode vazar se quiser.   Friedrich Nietzsche , Humano, Demasiado Humano e Além do Bem e do Mal. Jean Baudrillard , Simulacro e Simulação. Byung-Chul Han , A Sociedade do Cansaço. Karl Marx , O Capital. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo e A Ética da Ambiguidade . Nicolau Maquiavel , O Príncipe . Edward Bernays , publicitário e teórico da comunicação que revolucionou o marketing e a propaganda ao aplicar conceitos de psicanálise ao comportamento de massa. Sobrinho de Freud , ele utilizou ideias da obra “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, onde Freud explora como os indivíduos perdem a racionalidade quando inseridos em grupos. Bernays transformou esse conhecimento em estratégias para manipular desejos e emoções que ainda hoje caracterizam (e permitiram) a sociedade de consumo, descrito em seu livro “ Propaganda ”. Michael Sandel , A Tirania do Mérito e Justiça: O que é fazer a coisa certa . Dr. Manhattan , personagem de Watchmen. Retratado como um ser divino que transcende tempo e espaço. Michel Foucault , Vigiar e Punir.

  • A Arte de Tolerar Idiotas sem Perder a Sanidade

    Os idiotas são criaturas onipresentes que parecem brotar do chão como ervas daninhas. Digamos que a nobre arte de lidar com a estupidez alheia sem perder pedaços da própria sanidade tornou-se uma habilidade de sobrevivência nos dias atuais.   Se engana aquele que supõe que trata-se apenas de uma questão de paciência. Não. Trata-se de uma disciplina filosófica e uma prática estoica em tempos de redes sociais. Uma verdadeira academia mental para quem insiste em manter aos menos dois neurônios funcionando em sincronia.   Vamos explorar neste artigo a habilidade essencial de navegar pelo mar revolto da idiotice cotidiana sem perder a cabeça - bom… pelo menos essa é a proposta.   A Epidemia Silenciosa que Fingimos Não Ver   Talvez o único recurso verdadeiramente renovável e inesgotável do planeta seja a idiotice humana e ninguém que vive em meio a pessoas pode negar esse fato.   Albert Einstein já havia nos alertado quando disse: “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. E não tenho certeza sobre o universo.”. Nunca uma frase científica foi tão profética e, ao mesmo tempo, tão empiricamente comprovável no dia a dia.   Mas o que define um idiota moderno? Pois, não nos referimos aqui, a aqueles que possuem uma baixa escolaridade ou que possuam alguma limitação cognitiva. Estamos falando do tipo de idiotice contemporânea que é muito mais sofisticada e democrática - que atinge também PhDs, CEOS, políticos, influencers com milhões de seguidores e até mesmo aquela tia que tem opinião formada sobre geopolítica internacional baseada exclusivamente em áudios de aplicativo de conversa.   O Idiota: Uma Espécie em Constante Evolução   Essa criatura fascinante que, como um camaleão social, se adapta a qualquer ambiente, sempre encontra novas formas de testar nossa paciência. Como já dizia o filósofo Jean-Paul Sartre : “O inferno são os outros.” e francamente, ás vezes parece que o inferno está tão superlotado que alguns exemplares andam soltos em meio ao paraíso.   Mas não nos precipitemos em nosso julgamento. Afinal, como sabiamente observou Sócrates, “Só sei que nada sei.”. Talvez, em nossa arrogância, não percebamos que também somos os idiotas de alguém. Por isso é crucial reconhecer as diferentes espécies que habitam o mundo.   Arthur Schopenhauer , filósofo alemão do século XIX, já alertava sobre a proliferação de obras medíocres e a importância de pensar por si mesmo, evitando a reprodução mecânica de ideias alheias.   Manual de Reconhecimento de Espécies da Fauna Social   Se fossemos criar uma taxonomia da idiotice humana, precisaríamos de vários volumes e uma equipe interdisciplinar de antropólogos, psicólogos e comediantes. No entanto, podemos destacar algumas espécies particularmente comuns:   O Burro mesmo : este espécime é aquele que, mesmo cercado de informações por todos os lados, não consegue “juntar os pontinhos”. É o indivíduo que participa de uma manifestação democrática que clama pela volta da ditadura, sem nem ao menos perceber a contradição gritante de seus atos. Sua capacidade de raciocínio é tão limitada que chega a ser quase cômica, se não trágica.   O Idiota cool : Este é o sujeito que lê o que o “idiota mercenário” escreve e repete suas ideias na esperança de ser aceito socialmente. Ele exibe suas leituras de blogs e jornais como troféus, usando as ideias dos outros para parecer inteligente. Segue a tendência dominante sem questionar, esforçando-se para estar na moda, mas sem originalidade ou pensamento crítico.   O Representante do Conhecimento Paranóico : Também chamado popularmente de Idiota Mercenário. Este tipo pode ser genial em certos aspectos, mas sua falta de dúvida o torna um idiota. Ele tem certezas absolutas e vê monstros a serem abatidos em qualquer ideia que desafie suas convicções. Sua incapacidade de experimentar outras formas de ver o mundo mortifica sua inteligência, aproximando-o do “Burro mesmo” e do “Idiota cool ”.   O Mansplainer Invicto : aquele que explica com detalhes minuciosos o seu próprio campo de expertise para você - mesmo que você seja, literalmente, a autoridade máxima no assunto. Como aquele homem que tenta explicar para uma neurocientista como o cérebro funciona baseado em um documentário da internet que ele viu pela metade.   O Especialista de Mídia Social : Formado na prestigiosa Universidade das Redes Sociais, essa espécie possui doutorado em “Eu Pesquisei” e pós-doutorado em “Eu Vi um Vídeo”. Suas fontes são sempre “confiáveis”, embora nunca possam ser nomeadas ou verificadas.   O Opinador Compulsivo : Sofre de uma condição rara onde o silêncio causa dor física (tem quem diga que eu pertenço a essa espécie). Precisa opinar sobre absolutamente tudo, especialmente assuntos dos quais não possui o mais básico conhecimento.   O Negacionista Seletivo : Aceita toda a ciência que permite que ele use smartphones , GPS e antibióticos, mas rejeita veementemente as mesmas metodologias científicas quando os resultados contrariam suas crenças pessoais.   O Interruptor Crônico : Aquele que considera sua fala infinitamente mais importante que a sua, independente do contexto. Acredita firmemente que conversas são competições onde vence quem fala mais alto ou por mais tempo.   A Filosofia da Tolerância aos Idiotas: Uma Perspectiva Histórica   A questão de como lidar com a idiotice alheia não é nova. Filósofos de diferentes épocas quebraram a cabeça (e possivelmente quiseram quebrar algumas alheias) pensando neste dilema.   Sócrates, um mestre da ironia, desenvolveu seu método de perguntas não para ensinar, mas para expor gentilmente a ignorância de seus interlocutores. Sua forma elegante de dizer: “Você não sabe do que está falando, mas vou deixar que você mesmo descubra isso” é lendária. Seria uma abordagem passivo-agressiva avant la lettre  que ainda hoje seria útil em reuniões de família.   Já o nosso amigo Schopenhauer , com seu otimismo característico (pura ironia), declarou que ”...a estupidez em si mesma não é dolorosa; a dor vem quando a estupidez colide com a inteligência…” Basicamente, nós só sofremos com idiotas porque, infelizmente, nós não somos um deles. O filósofo alemão sugeria o isolamento como solução - conselho que ganhou viabilidade inédita na era do home office  (oh, glória!).   Já Hannah Arendt , em sua análise sobre a banalidade do mal, nos oferece uma perspectiva inquietante: muitas vezes a idiotice não é fruto de malícia, mas de ausência de pensamento crítico. Como ela observou ao analisar Eichmann: “O problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais.”. Uma reflexão que nos faz pensar se o verdadeiro idiota não é apenas alguém que terceirizou o pensamento.   Simone de Beauvoir , com sua lucidez característica, afirmou que “Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres do que o homem inseguro sobre sua própria inteligência.”. Uma observação que poderia ser expandida para: ninguém é mais assertivo em suas opiniões do que aquele que menos estudou o assunto.   A Tolerância: Um Exercício de Sanidade Mental   Tolerar idiotas é como praticar ioga em um campo minado: requer equilíbrio, concentração e a constante consciência de que um movimento em falso pode resultar em uma explosão catastrófica - para os nossos nervos. É um exercício diário de paciência, uma ginástica mental que faria até mesmo Buddha questionar suas escolhas de vida.   A brilhante Dorothy Parker disse, “A única cura para o tédio é a curiosidade. Não há cura para a curiosidade.”. Talvez seja este o segredo: encarar a idiotice alheia com curiosidade antropológica. Quem sabe assim possamos transformar nossa frustração em um estudo fascinante sobre a capacidade humana de ser… bem, humano.   Práticas para Sobrevivência Mental   Agora que entendemos o problema e identificamos os diferentes tipos de idiotas, fica a pergunta:   Como podemos lidar com eles sem perder a sanidade e/ou desenvolver uma úlcera?   Técnica do Buddha Digital : Pratique o desapego informacional. Nem toda opinião errada precisa ser corrigida, nem toda postagem absurda merece seu comentário. Como diria o filósofo contemporâneo (e ficcional) Tyler Durden : “É só depois de perdermos tudo que estamos livres para fazer qualquer coisa.” - inclusive ignorar idiotices.   Método Socrático Adaptado : Pergunte-se: “Essa discussão me traz alegria?”. Se a resposta for não, agradeça mentalmente e descarte a interação. Aplique o minimalismo às suas interações sociais.   O Distanciamento Estoico : Como ensinou Marco Aurélio , “Você tem poder sobre sua mente, não sobre os eventos externos. Perceba isso e você encontrará força.”. Lembre-se que a idiotice do outro não precisa contaminar nosso estado mental.   A Estratégia do Antropólogo : Observe o comportamento como um cientista estudando uma cultura exótica. “Fascinante como este espécime forma opiniões sem qualquer evidência empírica. Notável exemplo de pensamento mágico em adultos do século XXI.”   Carpindo um Lote para Semear Paciência : Devemos lembrar que nem todos tiveram as mesmas oportunidades de aprendizado ou desenvolvimento crítico. A paciência é uma virtude que nos permite lidar com a ignorância alheia sem nos exasperarmos.   Dar Risada, Nem Que Seja de Nervoso : O humor é uma ferramenta poderosa para desarmar situações tensas. Uma resposta bem-humorada pode neutralizar a idiotice e ainda arrancar risos dos presentes.   A Arte de Não Ler : Schopenhauer já dizia que a vida é curta e devemos evitar ler livros ruins. Da mesma forma, podemos evitar dar atenção a opiniões idiotas que não acrescentam nada de valor à nossa vida. Vá Fazer Algo que Preste : Assim como as flores que cumprem seu destino florescendo ao seu tempo, devemos nos concentrar no que realmente importa, sem nos deixar distrair pelas idiotices alheias.   Método da Candidata a Miss : Sorria, acene - e finja demência. Nem toda batalha vale a pena ser lutada. Às vezes, é mais sábio deixar o idiota em sua ignorância do que tentar convencê-lo do contrário. Portanto, engulamos nossos concelhos e deixemos que cada um vá para o inferno do jeito que mais lhe apetecer.   Técnica da Tradução Simultânea : Quando confrontado com uma idiotice particularmente exasperante, tente traduzi-la para uma língua que você não entende. Subitamente, aquela opinião absurda sobre política se torna um fascinante exercício linguístico em klingon .   Quando a Paciência Acaba: O Limite da Tolerância   Nietzsche tem uma frase a qual gosto muito, que é: “Se olhas por longo tempo para dentro de um abismo, o abismo também olha para dentro de ti.”. Será que, ao tolerarmos idiotas, não corremos o risco de nos tornarmos um pouco idiotas também? Ou será que essa exposição nos torna mais sábios, mais pacientes, mais… humanos?   Existe sempre um ponto, porém, em que tolerar se torna conivência. Como nos lembra Karl Popper no “Paradoxo da Tolerância”: uma sociedade tolerante sem limites eventualmente será destruída pelos intolerantes. O mesmo se aplica à nossa sanidade mental.   Algumas formas de idiotice transcendem o irritante e entram no território do perigoso: o negacionismo que coloca vidas em risco, a desinformação deliberada, o preconceito disfarçado de “opinião”, os dogmas fantasiados de verdades. Nesses casos, o silêncio não é ouro - é cumplicidade.   Como Audre Lorde procurou ensinar, ”…seu silêncio não vai proteger você…” - e muito menos sua ignorância. Às vezes confrontar a idiotice não é apenas uma questão de preferência, mas de necessidade ética. O truque está em escolher nossas batalhas com sabedoria, como um general que sabe quer não pode vencer todas as guerras, mas pode selecionar os campos de batalha mais estratégicos.   A Ciência da Idiotice (Sim, Existe Uma)   Para entender melhor como lidar com a idiotice e assim escolhermos a melhor estratégia, vale a pena examinar o que a ciência tem a dizer sobre o assunto.   A psicologia analítica nos oferece insights  sobre por que pessoas inteligentes às vezes agem como completas idiotas. O Viés de Confirmação faz com que busquemos apenas informações que confirmem o que já acreditamos. É como ter um filtro em nossos cérebros que só deixa passar o que está de acordo com nossa visão de mundo - o equivalente mental a só seguir pessoas que concordam com você e que só dizem o que você quer ouvir. A semelhança disso com o funcionamento do Algoritmo das redes sociais é mera coincidência (haha ah tá).   O Efeito Backfire  é ainda mais perverso: quando confrontadas com evidências que contradizem suas crenças, algumas pessoas não apenas rejeitam as novas informações, mas reforçam ainda mais suas convicções “originais”. É como se o cérebro ativasse um sistema de defesa contra fatos inconvenientes, criando uma fortaleza de idiotice impenetrável. Vá dar uma olhada sobre o que significa o Sistema de Ativação Reticular (SAR) do seu cérebro.   O neurocientista Robert Sapolsky sugere que quando nos sentimos ameaçados em nossas crenças fundamentais, nosso cérebro reage de forma similar a uma ameaça física - ativando mecanismos de luta ou fuga que literalmente desligam partes do córtex pré-frontal responsáveis pelo pensamento crítico. O que em outras palavras quer dizer: a idiotice muitas vezes é o cérebro em modo de pânico, não necessariamente falta de capacidade intelectual.   Compreender esses mecanismos não torna a idiotice menos irritante, mas pode nos ajudar a desenvolver mais compaixão - ou pelo menos, menos vontade de cometer algum crime inafiançável após discutir política ou religião com alguém.   A Arte como Refúgio e Resistência   Mas é quando todas as estratégias falham, que nos resta a sublimação artística. A arte sempre foi um refúgio contra a estupidez humana, seja através do humor, da literatura ou da música.   Mark Twain uma vez disse: ”Contra a estupidez, os próprios deuses lutam em vão.”. Porém, onde os deuses falham, os comediantes prosperam. O humor é talvez a ferramenta mais poderosa para processar a idiotice sem enlouquecer. Não é coincidência que alguns dos melhores humoristas surgiram em épocas ou sociedades particularmente desafiadoras.   A literatura nos oferece companhia nessa jornada. De Dom Quixote lutando contra moinhos de vento a “ O Alienista ” de Machado de Assis questionando quem realmente é louco numa sociedade insana, os livros nos lembram que nossa luta contra a estupidez humana é atemporal e universal.   Como escreveu Virginia Woolf : “Se você não contar a verdade sobre si mesmo, não poderá contá-la sobre outras pessoas.”. Talvez o antídoto para a idiotice comece com o autoquestionamento honesto. Afinal, todos nós temos nossos momentos de sublime estupidez e reconhecer isso talvez seja o primeiro passo para desenvolver empatia genuína.   O Lado Positivo da Idiotice Alheia   Acredite se quiser, há um lado positivo em estar cercado de idiotas. Eles nos fornecem:   Material infinito para anedotas. Um senso de superioridade intelectual (na maioria das vezes ilusório). Oportunidades de bancar os bons samaritanos ao praticar a nossa paciência e compaixão. Uma apreciação renovada por pessoas inteligentes.   Como já dizia Oscar Wilde , “O mundo é um palco, mas o elenco é péssimo.”. Então vamos encarar isso como uma comédia ao invés de uma tragédia. Melhor né?   Sobrevivência no Apocalipse da Razão   Tolerar idiotas sem perder a sanidade não é apenas uma habilidade social - é uma forma de arte, uma disciplina espiritual e em alguns casos, um ato de resistência política. Como diria Camus , devemos imaginar Sísifo feliz, mesmo enquanto rola eternamente sua pedra montanha acima. Da mesma forma, devemos encontrar alguma alegria na absurda tarefa de conviver com a idiotice humana sem nos tornamos cínicos irreparáveis (ha, eu que o diga).   A verdadeira sabedoria talvez esteja em aceitar que nenhum de nós está imune à idiotice ocasional. Como nos lembra o filósofo contemporâneo Alain de Botton , “Ser humano é sofrer de uma amnésia peculiar sobre nossos próprios defeitos enquanto mantemos na memória cristalina os defeitos dos outros.”   Portanto, tolerar idiotas não significa aceitar passivamente a idiotice. Significa reconhecer que, por trás de opiniões absurdas e comportamentos irritantes, existem seres humanos complexos, falíveis e - em algum nível - tão confusos quanto nós sobre como navegar neste mundo. E se isso soa muito zen para você, lembre-se de que é perfeitamente aceitável, de vez em quando, tirar um dia para gritar no travesseiro.   Em minha opinião, a verdadeira arte não está em tolerar idiotas, mas em encontrar o equilíbrio delicado entre compaixão e autopreservação. Entre entender as limitações humanas e estabelecer limites saudáveis. Entre não perder a paciência e não perder a si mesmo. E talvez, o mais importante: aprender a rir do absurdo da condição humana - incluindo nossa própria contribuição para o grande circo da insensatez coletiva.   Convite à Reflexão (e a Ação)   E você, como tem lidado com os idiotas do se convívio sem cometer um crime ou precisar de terapia intensiva? Tem alguma técnica especial ou já está considerando mudança para uma caverna remota?   Sinta-se a vontade para compartilhar nos comentários sua experiência ou suas estratégias de sobrevivência mental - afinal, estamos todos juntos nessa jornada de sanidade em tempos insanos. E claro, se esse conteúdo ressoou com você, compartilhe-o com amigos e familiares.   Mas se você achou que este artigo foi apenas a ponta do iceberg  da insanidade humana, não deixe de visitar o site da UN4RT , nosso backstage intelectual e artístico onde a loucura e a genialidade se encontram em conteúdos exclusivos que farão seu cérebro dar mortal nas paredes.   Ah e lembre-se: em um mundo de idiotas, ser sano é a verdadeira loucura. Então, vamos abraçar nossa insanidade coletiva e rir da absurdidade da existência. Afinal, como diria o grande filósofo anônimo de um bar em Kreuzberg : “Se podemos vencê-los, que tal confundi-los com nossa genialidade disfarçada de idiotice?”   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT   Bom, mas se você ainda está aí, tentando provar para você mesmo que não é nenhum idiota, as fontes, referências e inspirações para este artigo estão aqui. Só não venha encher o saco depois.   Albert Einstein , a citação é frequentemente atribuída ao físico teórico conhecido por desenvolver a Teoria da Relatividade, embora não haja registro definitivo de onde ou quando ele a teria dito. Jean-Paul Sartre , citação da obra “ Huis Clos ”, traduzida para o português como “ Entre Quatro Paredes ”, peça de teatro escrita pelo filósofo. Sócrates , Apologia de Sócrates (escrita por Platão ) e o Método Socrático. Arthur Schopenhauer , A Arte de Escrever, Aforismos para a Sabedoria de Vida e O Mundo como Vontade e Representação. Avant la lettre , expressão francesa que significa literalmente “antes da letra” ou “antes do nome”. É usada para descrever algo ou alguém que já apresentava características de um conceito ou movimento antes que esse conceito fosse formalmente nomeado ou definido. Hannah Arendt , Eichmann em Jerusalém: Um Relato sobre a Banalidade do Mal. Adolf Eichmann , oficial nazista que foi um dos principais responsáveis pela logística do Holocausto. Ficou famoso por ter sido julgado em Jerusalém em 1961. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Buddha ou Buda , foi Siddartha Gautama, um príncipe e filósofo que viveu na Índia entre os séculos VI e V a.C. e é considerado o “fundador” do Budismo. Dorothy Parker , a citação colocada neste artigo é normalmente atribuída a escritora e poetisa americana conhecida por seu humor ácido, porém não existem evidências concretas. Tyler Durden , personagem ficciconal do livro “ Clube da Luta ” de Chuck Palahniuk . Marco Aurélio , Meditações. Klingon , idioma falado pela raça guerreira alienígena Os Klingons do universo Star Trek. Friedrich Nietzsche , Além do Bem e do Mal . Karl Popper , A Sociedade Aberta e seus Inimigos. Audre Lorde , A Transformção do Silêncio em Linguagem e Ação - " Irmã Outsider " Viés de Confirmação , tendência humana de buscar, interpretar e lembrar de informações de maneira que confirmem nossas crenças pré-existentes, ignorando ou descartando dados que as contradizem. Efeito Backfire , ou Efeito Rebote é um fenômeno psicológico em que, ao confrontar crenças profundas com evidências contrárias, as pessoas não só rejeitam as novas informações, mas reforçam ainda mais suas convicções. Isso ocorre porque aceitar ideias opostas exige um esforço cognitivo maior, gerando desconforto emocional. Sistema de Ativação Reticular (SAR) , uma rede de neurônios que age como um “filtro cerebral”, decidindo quais estímulos merecem nossa atenção e quais podem ser ignorados. Robert Sapolsky , Comportamento: A Biologia Humana no Nosso Melhor e Pior. Mark Twain , a citação é frequentemente atribuída ao escritor e humorista estadunidense, embora seja atribuída também ao poeta alemão Friedrich Schiller. Dom Quixote , fidalgo louco, protagonista do romance Dom Quixote de la Mancha, escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes . Machado de Assis , O Alienista. Virginia Woolf , Um Teto Todo Seu . Oscar Wilde , não há registros de que a frase seja realmente do escritor irlandês. A citação pode se tratar de uma versão irônica da famosa citação de Shakespeare em " Como Gostais ": “O mundo todo é um palco, e todos os homens e mulheres, meros atores.”. Albert Camus , O Mito de Sísifo. Thomas Bulfinch , O Livro de Ouro da Mitologia. Sísifo , personagem da mitologia grega, conhecido por sua astúcia e por enganar os deuses. Alain de Botton , Como Proust Pode Mudar sua Vida. Kreuzberg , é um dos bairros mais famosos de Berlim. Faz parte do distrito Friedrichschain-Kreuzberg e é conhecido por sua diversidade, cena artística alternativa e vida noturna intensa.

  • Ninguém te Deve Nada: A Dura (e Libertadora) Verdade sobre as Expectativas

    (Alerta aos desavisados : Este texto possui sarcasmo, ironia e humor ácido. Já prepare um chá de boldo! Você vai precisar)   Todos amamos a doce ilusão de que o mundo, ou até mesmo a vida nos deve algo. Pois bem, sente-se e prepare-se para uma dose cavalar de realidade.   Sim, essa pílula é amarga e muitos se recusam a engoli-la, preferindo viver em um mundo de expectativas frustradas e decepções constantes. Mas é chegada a hora de despertar deste sonho pueril e encarar o "mundo real". Portanto, já começaremos "colocando fogo no parquinho".   A Falácia do Merecimento   Desde a mais tenra idade, somos alimentados com mentiras. Pera aí, eu explico: nós passamos a acreditar na ideia contada de que, se nos comportarmos direitinho, o Papai Noel - o Coelho da Páscoa, a Fada do Dente entre outros - nos trarão presentes. Assim crescemos e trocamos o bom velhinho (e os demais) por outras figuras: chefes, parceiros, amigos... Extremamente conveniente! Que bom que já aprendemos não é mesmo?! Nós passamos a acreditar que, se seguirmos todas essas regras, seremos recompensados.   Mas, afim de deixar isso aí mais claro, vamos a um exemplo simples:   Imagine o universo como um imenso restaurante cósmico. Você entra, senta-se à mesa e espera ansiosamente que o garçom apareça para atendê-lo com um sorriso no rosto e um cardápio repleto de maravilhas. Bem, surprise , surprise ! Não há garçom. Não há cardápio. Na verdade, nem mesmo há uma cozinha. Bem-vindo ao Planeta Terra! Nesse restaurante, você é o  chef , o garçom e o cliente. Por isso se quiser comer, vai ter que levantar a bunda do sofá e preparar sua própria refeição.   Como diria o sarcástico filósofo Friedrich Nietzsche : "Você tem o seu caminho. Eu tenho o meu caminho. Quanto ao caminho certo, o caminho correto e único caminho, isso não existe." O que em outras palavras significa, ninguém vai servir sua felicidade em uma bandeja de prata.   Hannah Arendt nos presenteou com uma perspectiva interessante quando disse: "Ninguém tem o direito de obedecer.". Parafraseando agora de forma mais ácida: ninguém tem o direito de esperar que a vida seja justa, simplesmente porque decidiu ser uma pessoa decente.   "A vida não é justa e graças a isso nós não recebemos o que realmente merecemos" - um provérbio budista que acabei de inventar, mas que bem poderia ser verdadeiro.   Sim, tudo isso pode parecer bem ridículo, no entanto é exatamente assim que muitos de nós agimos.   Dívida Universal e Expectativas   Muitos de nós crescemos acreditando que o mundo nos deve algo. Talvez seja felicidade, sucesso, amor ou simplesmente um tratamento justo. Mas, como a brilhante e ácida Dorothy Parker uma vez disse: "A gratidão é uma doença canina." E, aparentemente, a expectativa é uma pandemia humana.   Pense por um momento no seguinte: se todos acreditassem que o mundo lhes deve algo, quem seria o credor universal? Seria como um esquema de pirâmide cósmico, onde todos esperam receber, mas ninguém está disposto a dar.   E é aqui que entra uma verdade inconveniente: quanto mais esperamos algo dos outros, menos ficaremos satisfeitos. É como tentar espremer água de uma pedra - só ficaremos com os dedos esfolados e com uma pedra que agora nos odeia.   A escritora britânica Virginia Woolf afirmou: "Não há barreira, fechadura ou ferrolho que possas impor à liberdade da minha mente.". No entanto, somos, mestres em criar prisões mentais e a maior delas é a expectativa de que os outros nos devem algo. Esperamos que nossos amigos nos entendam sem que precisemos falar, que nossos parceiros antecipem nossos desejos e que o mundo nos recompense por simplesmente existirmos.   Vou ser honesta: ninguém está pensando em você tanto quanto você mesmo. As pessoas estão ocupadas lidando com suas próprias vidas, inseguranças e dilemas. Achar que elas têm tempo ou obrigação de atender às nossas expectativas é - no minimo - egocentrismo.   A Liberdade do Desapego   Agora, antes que você caia em um poço de desespero existencial (embora isso possa ser bastante revigorante de vez em quando), considere o lado positivo deste aparente niilismo cósmico. Se ninguém nos deve nada, nós também não devemos nada a ninguém.   Liberdade! Estamos livres para criar, falhar, tentar novamente, sem estarmos presos às correntes das expectativas alheias e de também de um reconhecimento que pode nunca chegar. Podemos viver de acordo com nossos próprios valores e desejos, sem a necessidade de aprovação externa.   Até porque - fala sério - gente feliz não perde tempo enchendo o saco dos outros. Por isso se alguém resolver encher o seu saco, saiba que essa pessoa com certeza não tem mais o que fazer e sim, ela é infeliz - mesmo que de forma inconsciente. Simples assim!   A filósofa Simone de Beauvoir astutamente já dizia: "Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância." E o irreverente Oscar Wilde também observou: "Seja você mesmo; todos os outros já estão ocupados." Se ninguém nos deve nada, nós temos toda a liberdade do mundo para sermos exatamente quem somos e/ou quem desejamos nos tornar.   A Ironia do 100% de Responsabilidade   É irônico e peculiar como, ao abdicarmos da ideia de que o mundo nos deve algo, passamos a assumir total responsabilidade por nossas vidas. Não podemos mais nos dar ao luxo de terceirizar culpas, pois, essa história de culpar o destino, os astros ou os vizinhos pelo que acontece de ruim - de bom ou até mesmo quando não acontece nada - simplesmente deixa de ter valia, desaparece. Nós somos, de fato, os arquitetos do nosso destino, pois o construímos ao longo do tempo a partir de nossas ações (escolhas).   Como disse o filósofo grego Epicteto : “Não são as coisas que nos perturbam, mas a opinião que temos delas.”. Portanto, ao mudar a perspectiva e aceitar que ninguém nos deve, podemos focar no que realmente interessa: nossas ações e nossas reações.   Digamos que com essa mudança de atitude, nós transformamos a expectativa em ação, a esperança em planejamento e o “por que eu?” em “por que não eu?”.   Digamos que nós passamos a nos parecer com o famoso gato de Schrödinger, mas com a grande diferença de: ao invés de estar vivo ou morto em uma caixa, estamos simultaneamente livres e responsáveis por nossa própria existência. Essa ideia é fascinante e aterrorizante, não é?   O Grande Paradoxo   O mais interessante, curioso e irônico é que quando paramos de esperar que o mundo nos deva algo é quando começamos a receber mais dele. Pois é, aquela velha filosofia do Soltar para Receber.   Vamos a um exemplo prático e real:   Durante os anos que morei em Berlim, trabalhei como Bartender  em um bar em Kreuzberg . Geralmente, ao fim do expediente - entre 3 e 5 horas da manhã - eu ia a um outro bar situado nas redondezas do qual eu trabalhava. Lá, eu me sentava junto ao balcão, degustava um Cocktail , enquanto fumava e lia um livro. Se engana quem pensa que eu ia a este lugar em busca de interação com humanos - eu não estava nem aí para ninguém. Mas, justamente nas noites em que eu mais queria ser deixada em paz, era quando um número absurdo de pessoas estranhas procuravam iniciar uma conversa. Muitas vezes, isso ocorria com os “motivos” mais esdrúxulos, que iam desde pedir o isqueiro emprestado até perguntar sobre o que eu estava lendo e em qual idioma. Em uma noite memorável me vi dando conselhos amorosos a um estranho que quis acender meu cigarro com seu próprio isqueiro - sendo que ele nem fumante era!   A brilhante Marie Curie, que certamente não esperou que o mundo lhe entregasse descobertas científicas em uma bandeja radioativa, disse:  “Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos.”   Sobrevivência no Mundo Real Com a frase da Marie Curie em mente, elaborei estes pequenos e singelos passos - ninguém disse que você deve segui-los! Não espere aplausos ou tapinha nas costas por fazer o mínimo (ou o máximo). Se resolver fazer qualquer coisa, faça por livre e espontânea vontade. Aprenda a dizer Não. Estude e aprenda a questionar. O conhecimento te liberta do papel de trouxa. Pare de fazer as coisas por obrigação e faça por escolha. Se você quer ver algo realizado, então esteja pronto para fazer o que precisa ser feito. Aceite que gratidão é um bônus, não uma obrigação. Você não controla nada além dos seus pensamentos, sentimentos e ações. Não deixe as coisas importantes virarem urgentes. Perdoar não é um sentimento é uma escolha. Reclamações são declarações de amor aos problemas, portanto não perca seu tempo com elas. Pare de dar conselhos os quais você não segue. Vá cuidar da sua vida e deixe a dos outros em paz. Se sua fala não tem a contribuir, fique em silêncio. O que os outros pensam a seu respeito é problema deles, não seu. Portanto não tente convencer ninguém de nada.   A Filosofia do “E daí?”   Conforme declarou Nietzsche (sim, ele de novo) antes de enlouquecer (ou de tornar-se completamente consciente): “O que não me mata me fortalece”. Bem, ele talvez tenha ficado louco, mas o ponto ainda é válido. A vida vai continuar não nos devendo nada, e quanto antes nós aceitarmos isso, mais rápido poderemos começar a construir algo significativo.   Maaas talvez - e apenas talvez - nós é que devemos algo a vida. Essa possibilidade assusta ou alivia? Pois se devêssemos algo a nossa vida, o que estamos fazendo para “sanar essa dívida”? Estamos nos tornando o que de fato gostaríamos de nos tornar? Ou estamos apenas nos contentando em seguir modelos previamente estabelecidos por pessoas as quais nós, nem ao menos, conhecemos as intenções? Fica a reflexão.   Resumão para os Impacientes   O mundo não te deve nada. Nem satisfação, nem explicação, nem realização. A única pessoa que tem alguma obrigação com você é você mesmo. E isso, paradoxalmente, é a melhor notícia que você poderia receber.   Minha opinião sobre isso tudo aí Como alguém que já esperou muito do mundo e aprendeu da maneira mais difícil, posso dizer que entender que ninguém te deve nada é o primeiro passo para uma vida mais consciente e menos frustrada. É doloroso? Sim. É necessário? Absolutamente.   Portanto não veja isso como uma sentença de desesperança, mas um convite a autonomia. Essa é a chave da gaiola que você mesmo construiu. É a permissão que você nunca soube que precisava para viver a sua vida nos seus próprios termos.   Em minha mais humilde e ligeiramente sarcástica opinião, abraçar esta “verdade” é como tomar um shot de realidade com um twist de liberdade - queima na hora, mas deixa você mais leve e possivelmente dançando com muito mais desenvoltura.   E agora, que tal sair dessa zona de conforto das expectativas e mergulhar no oceano da ação? Pois se esse artigo mexeu com suas estruturas (ou seu ego), você pode adorar explorar mais conteúdos provocativos aqui no blog.   Sinta-se a vontade para deixar seus comentários, sugestões e até mesmo compartilhar este artigo com aqueles que também pensam que existe uma grande conspiração onde o universo trama uma vendetta  pessoal contra nós. E, é claro, compartilhe também com aquele amigo que ainda está esperando que o universo pague as contas dele.   No entanto, se você for alguém realmente sedento por mais conteúdos que desafiam suas percepções e talvez até a sua sanidade, não deixe de se aventurar em nosso backstage UN4RT . Pois lá, nós vamos além da superfície e mergulhamos ainda mais fundo nesses conceitos desconfortáveis.   PS : Se você chegou até aqui e está se sentindo pessoalmente atacado, ótimo. Era essa a intenção. Agora vá fazer algo a respeito, porque, bem… ninguém fará por você.   “A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT   Well, well, well … se você é como eu e gosta de ir fundo nas coisas, como se não houvesse amanhã - as fontes, referências e inspirações para este artigo estão aí. Vai lá ler. Só não vem se queixar depois e dizer que eu não avisei.   Papai Noel , personagem com origem relacionada a figura de São Nicolau de Mira, bispo nascido na Turquia em 280 d.C. A imagem dos dias atuais foi popularizada devido a ilustrações do século XIX e em 1930 através campanhas publicitárias de uma marca de refrigerante famosa. Coelho da Páscoa , O coelho é um símbolo associado à fertilidade e ao renascimento, originando-se do antigo Egito, onde o coelho representava a vida nova. A tradição também se relaciona com a adoração de deuses da Primavera e fertilidade, como a deusa Ostara, cujo símbolo era o coelho. Fada do Dente , figura mítica que faz parte de uma tradição infantil em diversos países. Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra, Crepúsculo dos Ídolos e Humano, Demasiado Humano. Hannah Arendt , Responsabilidade e Julgamento. Dorothy Parker , Escritora e poetisa americana conhecida por seu humor ácido. Virginia Woolf , Um Teto Todo Seu. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Oscar Wilde , a citação que se encontra no texto é frequentemente atribuída ao escritor irlandês conhecido por seu humor afiado, mas não há registros concretos de que realmente tenha sido escrita ou dita por ele. Epicteto , Manual de Epicteto (Enchiridion). Gato de Schrödinger , se trata de um experimento metafórico criado pelo físico Erwin Schrödinger em 1935, para ilustrar um paradoxo da mecânica quântica. O experimento ilustra o conceito de superposição quântica, que sugere que, até que se observe um sistema, ele pode existir em múltiplos estados ao mesmo tempo. Berlim , capital da Alemanha e uma das cidades mais importantes da Europa. Com uma rica história, a cidade foi o centro de eventos marcantes. Hoje, Berlim é conhecida por sua diversidade cultural, vida noturna vibrante, arte de rua e pontos turísticos. Bartender , (ou barman , no masculino) é a profissional responsável por preparar e servir bebidas em bares, restaurantes, casas noturnas e eventos. Além de misturar cocktails, ela também deve conhecer técnicas de preparo, combinações de sabores e, muitas vezes, oferecer uma experiência interativa aos clientes. Kreuzberg , é um dos bairros mais famosos de Berlim. Faz parte do distrito Friedrichschain-Kreuzberg e é conhecido por sua diversidade, cena artística alternativa e vida noturna intensa. Cocktail (ou coquetel em português), é uma bebida alcoólica misturada, geralmente feita com uma combinação de destilados e outros ingredientes. Marie Curie , cientista polonesa naturalizada francesa, pioneira no estudo da radioatividade. Foi a primeira mulher a ganhar um Prêmio Nobel e a única a receber o prêmio em duas categorias diferentes. Vendetta , palavra que vem do italiano e significa vingança. É utilizada para descrever uma busca prolongada por retaliação, geralmente envolvendo disputas familiares ou entre grupos rivais. Mark Manson , A Sutil Arte de Ligar o F*da-se. Ayn Rand , A Revolta de Atlas.

  • O que é Autossabotagem? Como resolver?

    Ah, a tão temida autossabotagem! Fenômeno curioso e de certa forma, universal - onde nós mesmas, com toda nossa suposta genialidade, nos tornamos nossas piores inimigas. Seja por medo do sucesso, insegurança ou simplesmente um desejo quase perverso de provar que não somos capazes, acabamos por minar nossas próprias oportunidades. Em um mundo onde a busca pelo desenvolvimento pessoal e autoconhecimento deveria estar no centro das discussões, entender e enfrentar a autossabotagem torna-se não apenas uma tarefa, mas uma verdadeira arte. Mas não se preocupe, você não está sozinha nessa performance! Vamos começar entendendo de fato o que é isso. O que é Autossabotagem? Em termos simples - autossabotagem é quando você, munida de toda a sua capacidade, decide fechar a porta na sua própria cara. É o fenômeno pelo qual atitudes, pensamentos e comportamentos acabam bloqueando o sucesso ou a felicidade, mesmo quando as condições são favoráveis. Vamos a um exemplo: Imagine-se como uma arquiteta genial, projetando o arranha-céu mais impressionante do mundo. Você passa noites em claro, calculando cada detalhe, escolhendo os melhores materiais. E então, no dia da inauguração, você secretamente substitui os alicerces por marschmallows . Por quê? Porque você é uma mestre da autossabotagem, é claro! O curioso é que essa dinâmica pode se repetir em diversas áreas da vida: relações, carreira, saúde mental e até mesmo projetos pessoais. O filósofo Sartre daria a explicação de que "Somos condenados a ser livres." E aparentemente, nós usamos essa liberdade para nos condenar a falhar espetacularmente. Seria quase poético se não fosse trágico. Sócrates, o carinha do "Conhece-te a ti mesmo", diria que no caso da autossabotagem seria a negação desse autoconhecimento, um grito silencioso de "eu não mereço o melhor". Essa contradição entre o potencial e a ação pode ser vista sob várias lentes: a psicológica, a filosófica e até a existencial. Ela tem muitas faces é como uma espécie de camaleão psicológico, que assume diversas formas para nos pegar desprevenidas. Ás vezes, ela se disfarça de procrastinação - afinal, por que fazer hoje o que podemos deixar para os 45 minutos do segundo tempo, right ? Outras vezes, ela se apresenta como perfeccionismo - porque é muito mais fácil nunca começar algo do que arriscar fazer algo imperfeito. Como bem observou a escritora e filósofa Simone de Beauvoir : "O homem é definido como um ser em busca de sentido". E aparentemente, muitas de nós encontramos sentido em sabotar nossas próprias chances de sucesso. Quem precisa de inimigos quando temos a nós mesmas, não é mesmo? Já a sabedoria excêntrica de Nietzsche , nos lembra que "aquele que tem um porquê pode suportar quase qualquer como", sugerindo que a autossabotagem, em alguns casos, é fruto da falta de um propósito claro ou de uma narrativa de vida bem definida. Por trás da Autossabotagem Agora vamos mergulhar um pouquinho mais fundo nesse poço auto-depreciativo que chamamos de mente humana. Os psicólogos têm várias teorias sobre por que nos engajamos nesse comportamento aparentemente irracional. Uma linha de pensamento sugere que o ato de se sabotar é uma proteção. É tipo aquela amiga que te convence a não ir à determinada festa porque "provavelmente vai ser chata", quando na verdade ela só está com medo que você conheça pessoas mais legais e interessantes do que ela. Outra teoria propõe que a autossabotagem é uma forma de manter o controle. Afinal, se vamos falhar, é melhor que seja nos nossos próprios termos, certo? É como ser a capitã de um navio afundando - mas com a ressalva de que podemos escolher em qual iceberg bater. Sigmund Freud já nos ensinava que os impulsos reprimidos podem vir à tona de maneiras inesperadas - como aquele hábito de procrastinar que adora transformar uma simples tarefa em um drama épico existencial (e quem não gosta de ser " drama Queen " de vez em quando?). Como o pai da Psicanálise já dizia: "A maioria das pessoas não quer realmente a liberdade, porque a liberdade envolve responsabilidade, e a maioria das pessoas tem medo de responsabilidade". E que melhor maneira de evitar responsabilidade do que garantir que nunca alcançamos nada significativo? Punk né?! Citando mais uma vez a nossa querida Simone de Beauvoir , ela que desafiou as convenções e, com perspicácia, destacou como a autossabotagem pode estar enraizada em estruturas sociais que moldam nossa autoimagem. Assim, a sabotagem interna não é apenas um problema individual, mas também um espelho das limitações impostas por uma sociedade que, ironicamente, prega o autoconhecimento enquanto alimenta inseguranças coletivas (leia isso de novo e pense a respeito). A autossabotagem tem raízes profundas, muitas vezes alimentadas por fatores como a baixa autoestima, o medo do fracasso e a insegurança. Nossos cérebros, por vezes, parecem "programados" para seguir padrões de comportamento que garantem a familiaridade do sofrimento, mesmo que isso signifique renunciar ao sucesso. Além da sociedade moderna nos bombardear com expectativas irreais - um verdadeiro "manual de instruções" para uma vida perfeita que, na realidade, só alimenta a ansiedade. Nesse contexto, a autossabotagem se torna a resposta do nosso inconsciente a um mundo que, de certo modo, nos convida a falhar gloriosamente. Ui! Autossabotagem no Mundo Real e na Era Digital Agora vamos saber um pouco mais de como isso se manifesta no mundo real, shall we ? Pense naquela sua amiga que sempre reclama que está solteira, mas rejeita qualquer um que demonstre interesse. Ou que tal aquela pessoa (que definitivamente não sou eu) que passa horas pesquisando e planejando "como ser mais produtiva" em vez de, você sabe, realmente fazer algo produtivo? Como observou muito sabiamente a filósofa e matemática Hipátia de Alexandria: "Reserve o seu direito de pensar, porque mesmo pensar erroneamente é melhor que não pensar". Com o advindo da era digital, a coisa toda se elevou a novos patamares. Agora temos infinitas formas de nos distrais e evitar nossas responsabilidades. Quem precisa estudar, meditar, ler, estudar, se exercitar quando pode passar horas scrollando infinitamente o feed das redes sociais e depois ainda reclamar da falta de tempo? É quase como se tivéssemos evoluído de uma espécie "caçadora-coletora" para "procrastinadora-compartilhadora". Nossa capacidade de encontrar novas formas de perder tempo e terceirizar responsabilidades é verdadeiramente impressionante. Darwin com certeza ficaria orgulhoso (ou horrorizado, difícil dizer). Como disse o filósofo Slavoj Žižek : "O verdadeiro ato de amor é deixar o outro em paz". Bem, parece que muitos de nós realmente ama o próprio potencial, porque certamente o deixa bem em paz, não é? Agora a hora que todo mundo estava esperando... Como identificar e Combater a autossabotagem? Então, com podemos quebrar esse ciclo vicioso? Bem, o primeiro passo é RECONHECER que estamos fazendo isso. É como ser fumante - o primeiro passo é admitir que você tem um problema (experiência própria, fui fumante por quase 20 anos, até parar de usar a desculpa: "eu fumo por que eu gosto" e reconhecer de fato que eu tinha um problema, e bem grande). Mas antes de mais nada, é bom que você saiba uma coisa: o bagulho só vai funcionar realmente se você estiver alinhada com os três pilares abaixo. Eu chamo isso de tríade do sucesso e não, não fui eu que inventei isso. PILAR N° 1 - Querer mudar. (Esse querer aí não pode ser meia boca e muito menos por causa de outros. É você escolher fazer somente por você e para você!) PILAR N° 2 - Assumir a responsabilidade. (Sim, 100% dela, ninguém vai assumir isso por você. Tua vida Tua responsabilidade, simples assim!) PILAR N° 3 - Persistência. (Não vai adiantar m... nenhuma fazer dois dias mal e porcamente e achar que fez demais. Vai desistir? A responsabilidade é inteiramente sua, então não use os ouvidos alheios como penico). Agora sim, aqui vai algumas dicas que me ajudaram e ainda ajudam a mandar a autossabotagem pro inferno: Auto-observação sem julgamentos: Basicamente é nos tornarmos detetives de nós mesmas, mas sem ser uma crítica implacável e intragável. Observe seus padrões de comportamento, identifique momentos em que a dúvida ou o medo impedem suas ações e questione: "Por que estou me sabotando agora?". Admito, é chato, principalmente nos primeiros dias, o não se julgar é o maior problema mas se você estiver firme nos três pilares (citados acima) você consegue. Se eu consegui, você consegue também, se dê uma chance! Desafie suas crenças limitantes (eu escrevi um artigo sobre isso, o link está no final deste aqui): Muitas vezes, acreditamos em narrativas internas negativas. Lembre-se das palavras de Nietzsche : "Aquele que tem um porquê pode suportar quase qualquer como". Encontre seu "porquê" e desafie as crenças que insistem em minar seu potencial. (PS: Se quiser saber mais sobre o "como encontrar o porquê" comenta lá embaixo, se tiver comentários suficientes eu escrevo um artigo contando como eu fiz para encontrar o meu). Estabeleça Metas realistas e divida seus Objetivos: Tem um sonho grandioso? Transforme ele em pequenos passos. Afinal, tentar correr uma maratona sem treinar é tão absurdo quanto decidir fazer uma revolução sem ter sequer dominado o básico, que é saber caminhar. (PS: Não sabe como fazer isso? Vai lá e meta comentários, se tiver engajamento eu escrevo contando como eu faço.) Procure apoio: Seja através de amigos, terapia, aqui embaixo nos comentários ou comunidades que compartilhem do mesmo desejo de transformação, conversar sobre essas questões pode ser um poderoso antídoto contra a autossabotagem. Aceite-se e permita-se errar e ser imperfeita: Se tudo fosse sempre perfeito, o que haveria de interessante? E qual seria a graça de fazer ou aprender algo novo se já soubéssemos tudo? A imperfeição é o tempero da existência! Aprenda a rir dos seus tropeços, aprenda a perdoar-se. Perdoar não é um sentimento, é uma escolha! Veja cada "falha" como uma oportunidade de aprendizado e crescimento - ou, pelo menos, como material para boas histórias e piadas ácidas. Já dizia o psicólogo e filósofo Érich Fromm : "O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é". Talvez seja hora de aceitarmos quem somos e trabalhar a partir daí. Reflexões finais Minha opinião? Como observadora e participante desse espetáculo, não posso deixar de sentir uma certa admiração pela criatividade com que nos sabotamos. É quase uma forma de arte - embora preferiríamos não pratica-la tão frequentemente. Mas embora a autossabotagem pareça um obstáculo intransponível, é também um convite - um chamado para repensar nossas prioridades e ressignificar nossos medos. Ao encararmos nossos próprios demônios com um sorriso irônico, abrimos caminho para uma transformação genuína, onde cada passo, mesmo que vacilante, é uma vitória sobre a paralisia interna. Em suma, nossa capacidade de nos sabotar é um testemunho da complexidade da nossa mente. Somos criaturas contraditórias, capazes de grandes feitos e grandes falhas. E agora que tal usar sua tendência de autossabotagem de forma produtiva? Ao invés de sabotar seus objetivos de vida, que tal sabotar sua rotina normal lendo mais artigos deste blog? Afinal, procrastinar pode ser produtivo se você estiver aprendendo algo novo, certo? Sinta-se a vontade para deixar comentários, sugestões de temas, perguntas... E não se esqueça de recomendar esse blog porque compartilhar é se importar! E se você realmente quer levar sua jornada de autodescoberta a um novo nível, não deixe de visitar o site da UN4RT ele funciona como um "backstage pass" para o show da sua própria mente. Lembre-se: a vida é curta demais para deixar que apenas os outros nos sabotem. Faça você mesma - mas com estilo! Até a próxima! "A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade" - UN4RT Ah, mas se você é uma masoquista intelectual e gostaria de se aprofundar mais nesse tema, as fontes, referências e inspirações seguem abaixo. Só não esqueça da palavra de segurança! Jean-Paul Sartre , Existencialismo é um Humanismo. Sócrates , Apologia de Sócrates (escrito por Platão ). Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Friedrich Nietzsche , Crepúsculo dos Ídolos . Sigmund Freud , A Interpretação dos Sonhos . Hipátia de Alexandria , filósofa neoplatônica e a primeira mulher documentada como sendo matemática, não há uma obra específica neste caso, se trata de um "citação popular" dela. Slavoj Žižek , filósofo esloveno o qual a frase é atribuída. Érich Fromm , O Medo à Liberdade.

  • Autoestima: O que é e como dar um jeito nela?

    Ah a Autoestima! Um conceito abstrato mas, também tão material. Tanto que é motivo de inúmeros tropeços, enganos e vergonhas alheias. Todas nós já ouvimos falar dela, mas quantas de nós realmente sabem o significado que ela possui? E o mais importante, quantas de nós sabem como cultivá-la? Portanto, se você, assim como eu é daquelas que sempre viram essa palavra apenas como um termo bonito, bastante utilizado nas legendas de fotos e em conversas terapêuticas mas, nunca como algo praticável, então bora! Vamos dar uma olhada nisso de uma perspectiva diferente (e um tanto impertinente). O que é Autoestima? Vamos começar com o significado desta palavra segundo o dicionário: Autoestima é a característica da pessoa que se valoriza e que está satisfeita com sua aparência. Digamos que a autoestima é como o valor que damos a nós mesmas, a maneira como nos vemos e o como nos sentimos em relação a nós. Muitas pessoas confundem a autoestima com arrogância ou egoísmo, quando na verdade uma boa autoestima significa ter um senso saudável de autoconfiança e respeito próprio. Apenas a leitura sobre a definição desta palavra, já é motivo suficiente para a maioria de nós rir pelo nariz. Até hoje eu não conheci uma mulher que dissesse estar satisfeita com sua aparência. Por isso, eu não sei você, mas eu acho isso algo longe do que deveria ser considerado normal. Eu mesma sofri durante anos com as "exigências" irreais do como minha forma física deveria ser para que fosse aceitável e/ou atrativa aos meus olhos e ao dos outros. Somente esse pensamento para mim hoje já é absurdo. Porém, infelizmente, isso ainda é uma realidade, em pleno ano de 2025 depois da humanidade ter criado a IA, a aparência física segue sendo o que gera os maiores comentários (e os maiores ganhos). Não precisa você acreditar em mim. Observe as propagandas, quais são os elementos mais presentes nelas? Onde estão as maiores variedades de artigos para consumo (em todos os níveis)? E nas redes sociais, todo mundo sabe o que são influencer's , as/os com o maior número de seguidores são as/os que influenciam em que? Assim como existe uma diferença gigantesca entre pensar e ter pensamentos, o mesmo "fenômeno" se aplica entre o ver e o observar. Sherlock Holmes já dizia: "Você vê, mas não observa. A diferença é clara." Talvez, nosso amigo Epicteto nos diria: "Não são as coisas em si que nos perturbam, mas sim as opiniões que temos delas". O que traduzindo para o bom português significa: não é o fato de você ter tropeçado na frente da pessoa que você está afim que é um problema, mas o fato de você achar que isso faz de você a maior idiota do universo. Já o querido e incompreendido Nietzsche emendaria com um sonoro "Torna-te quem tu és" . Essa frase que é tão enigmática quanto um poema de T. S. Eliot , me lembra que a verdadeira liberdade reside em aceitar e cultivar a própria singularidade, por mais que ela pareça contraditória e sem sentido aos olhos alheios. As muitas faces da Autoestima As diferentes linhas de pensamento e suas mais diversas abordagens "sempre alardeiam" que são a solução para os problemas relacionados a autoestima. Em função disso e afim de satisfazer a nossa vontade de saber a opinião alheia, vamos dar uma olhada em algumas delas. Com o devido respeito, é claro (ou falta dele). Comecemos pelo estoicismo. Fundado por Zenão de Cítio, por volta de 300 a.C, em Atenas. O pensamento estoico vem ganhando cada vez mais adeptos (e pregadores) nos últimos anos. Se você em algum momento já ouviu a frase "fulana recebeu a notícia (de algo ruim, trágico etc...) de forma estoica", então você já entendeu o cerne desta filosofia, que teve como seus principais representantes nome como: Epicteto , Sêneca e Marco Aurélio (sim, o Imperador Romano). Basicamente, o estoicismo ensina a importância do autocontrole, da virtude e da razão para se alcançar a felicidade verdadeira. Quando falamos sobre autoestima dentro dessa filosofia, é importante entender que os estoicos acreditavam que a verdadeira autoestima não está, nem minimamente, ligada ao status social, as opiniões externas ou a qualquer coisa que os outros possam pensar, mas sim as coisas como a virtuosidade interior e a capacidade de exercer o controle sobre as próprias emoções e atitudes. Tem quem diga que controlar emoções é tão impossível quanto a ideia de controlar pensamentos. Para essas pessoas eu afirmo que: É completamente possível, quando existe querer e prática, muita prática. (Dica: Comece pelos pensamentos, assim você acerta o alvo de forma dupla). Já os existencialistas, como Sartre , nos lembra que "a existência precede a essência". Simone de Beauvoir , percursora do pensar fora da caixa, desafiava a sociedade com sua afirmação: "Não se nasce mulher: torna-se mulher." . Em um contexto de autoestima, essa ideia se transforma em: "Não se nasce perfeito: torna-se único." . É uma espécie de convite para que abracemos nossas imperfeições. Albert Camus , com seu famoso: "No meio do inverno, descobri em mim um verão invencível." , nos oferece uma metáfora poderosa: mesmo nos momentos mais sombrios, há uma centelha de força interior capaz de nos impulsionar a florescer, como uma rosa que teima em desabrochar em meio a um asfalto árido e cinza. Clarice Lispector é dona de uma frase profunda e incrível: "Eu sou mais forte do que eu" . (repita esta frase para você mesma e observe o que você pensa e sente). Marco Aurélio aprovaria a frase acima. Em sua obra " Meditações ", ele nos ensina a tratarmos a nós mesmos com bondade e paciência, reconhecendo que somos seres humanos com falhas e erros. Ao invés de nos culparmos, devemos aprender com nossas experiências e buscar melhorar sempre. Essa prática de autocompaixão é essencial para a construção de uma autoestima saudável, pois permite que aceitemos nossas falhas sem perder a confiança em nossa capacidade de evolução. Por último mas nem por isso menos importante temos a visão da ciência. Os cientistas e psicólogos têm se debruçado sobre este tema há décadas, talvez porque eles mesmos estão desesperados para entender por que se sentem tão inseguros apesar de todos aqueles diplomas na parede. Estudos mostram que a autoestima está ligada a várias áreas do cérebro, incluindo o córtex pré-frontal e a amígdala (não é aquela da garganta! não confunda). Em outras palavras, sua autoestima é o resultado de uma complexa dança neurológica que acontece dentro do seu crânio. É quase poético, não é não? Seu cérebro está literalmente fazendo malabarismos com a sua autoimagem enquanto você tenta decidir se tem coragem de usar aquela camisa rosa com estampa de demônios na reunião de família (Observação: sim eu usei). Agora, falaremos de algumas abordagens mais conhecidas e também de algumas teorias. Não se admire, para algumas eu dei uns nomes mais adequados - pelo menos ao meu ver. A Abordagem do Espelho Mágico: Essa daqui é aquela que sugere que você deve se olhar no espelho todos os dias e dizer afirmações positivas. É como se você fosse a Branca de Neve e o espelho fosse aquele bajulador que sempre diz que você é a mais bela do reino. Eficaz? Talvez, para alguns (principalmente para as leoninas. Brincadeira!). No meu caso a toda frase que eu repetia o meu cérebro respondia "não minta pra mim que eu não trouxa!". "O Método" da Super Heroína Interior: Baseado na ideia de que todas temos uma super-heroína interior (olha C. G. Jung com seus arquétipos) só esperando ser descoberta. Digamos que é como se você fosse a Diana Prince da sua própria vida, só esperando o momento certo para sair rodando e revelar a Mulher-Maravilha que existe dentro de você. Só cuidado pra não sair "salvando" todo mundo e esquecer do mais importante, você mesma (experiência própria). Estilo "tacando um Foda-se" (eu ainda uso essa): Uma abordagem mais moderna e, digamos, direta. Ela consiste em simplesmente não dar a mínima para o que os outros pensam - é libertador. Como diria a 'filósofa' contemporânea RuPaul: "O que os outros pensam de mim não é da minha conta", maravilhosa. É como se a gente fosse um gato em forma humana, (adoro). A Ferramenta da "Criança perguntadeira" (adaptei essa e ainda uso): Abordagem que consiste em Aformações. Elas são "o antônimo" das afirmações, você não afirma e sim pergunta. Exemplo disso seria: "Por que eu mereço ser amada por mim mesma?". A ideia é você "forçar" o seu cérebro a lhe trazer as respostas para essas perguntas. Sacou né?! A Ideia da Pirâmide (não é a dos Illuminati, não confunda): Sabemos que a Psicologia oferece várias abordagens para entender a autoestima. Uma das mais conhecidas é a de Abraham Maslow , que a coloca como parte da sua famosa pirâmide das necessidades. Para Maslow , a autoestima está no topo da pirâmide, sendo uma necessidade fundamental para o bem-estar humano, logo após a satisfação das necessidades fisiológicas, de segurança e sociais. A Teoria do Copia e Cola: De acordo com essa teoria, a autoestima é influenciada pela sociedade e pela cultura em que a pessoa vive. Os padrões de beleza, os sucessos e as conquistas dos outros podem afetar como nos vemos. Um exemplo disso seria aquelas que constantemente se comparam com celebridades e influenciadoras nas redes sociais. Esse comportamento pode acarretar em uma visão completamente distorcida e negativa sobre a própria aparência e além disso leva a um agravamento nos quadros de ansiedade (não diga?!). Autoestima nas Relações: É inegável que a nossa autoestima está profundamente ligada ao modo de nos relacionarmos com os outros. Quem tem uma boa autoestima tende a manter relações mais saudáveis, pois sabe impor limites e tem mais autoconfiança para expressar suas necessidades. É também em função disso que algumas pessoas passam a aceitar comportamentos desrespeitosos de seus parceiros (as). A autoestima baixa dessas pessoas contribui para uma ideia de que elas não merecem algo e alguém melhores. O papel da Infância na jogada: Não é preciso ser especialista para saber que a infância é uma fase crucial para o desenvolvimento da autoestima. Crianças que crescem em ambientes acolhedores e com pais que as incentivam, encorajam a acreditar em si mesmas tendem a ter uma autoestima mais positiva e saudável na vida adulta. A Massa Cinzenta: Pesquisas mostram que a autoestima também está relacionada à atividade cerebral. Pessoas com maior autoestima têm maior ativação em áreas do cérebro relacionadas à tomada de decisões e à autoconfiança. Estudos em neurociência mostram que ao tomar decisões importantes, uma pessoa com boa autoestima pode sentir uma maior sensação de controle e menos estresse. Como resolver o problema da falta de autoestima? (ou ao menos tentar) Agora vamos para as dicas de práticas. Não, não é somente sair pintando o cabelo ou comprando roupas novas (eu que o diga). Inclusive é bom que você saiba que essas dicas não são para serem feitas um dia e depois, somente quando o seu cérebro resolver lembrar delas. Isso aqui é como começar uma reeducação alimentar ou ir a academia. Exige disciplina, persistência e acima de tudo ação! 1° Pratique o Autoconhecimento: Reserve um tempo para si mesma todos os dias, não importa quanto. Isso aqui é como as amizades, o que vale é qualidade não quantidade! Faça qualquer coisa que lhe agrade, importante é que seja algo para e por você. Um bom exemplo seria você fazer algo que sempre quis mas nunca teve tempo, e/ou iniciar aquele projeto que está a tanto tempo em sua gaveta. Marque esse compromisso em sua agenda, não falte e não se atrase! Leia aqui o artigo sobre Autoconhecimento. 2° Reavalie suas Prioridades: Questione os padrões impostos pela sociedade. O que realmente importa pra você? Será que o que você está replicando é mesmo seu ou só algo que alguém lhe disse que seria bom pra você? Se em algum momento você ouvir um guru dizendo que o segredo está em "pensar positivo", lembre-se que positividade não substitui uma análise honesta sua sobre os seus sentimentos. 3° Pratique a Autocompaixão e o Autocuidado: Ter autocompaixão significa ser gentil consigo mesma, especialmente em momentos de falha! Isso envolve abandonar a crítica excessiva (e nada construtiva) e aceitar-se de forma mais compreensiva. O que leva diretamente ao cuidar de si mesma, seja através de uma alimentação mais saudável, exercícios físicos, ler mais livros, meditação ou simplesmente permitindo-se descansar. 4° Desafie suas Crenças Limitantes: Na grande maioria das vezes nós carregamos crenças negativas sobre nós mesmas. Essas crenças não são baseadas em fatos. Desafia-las e substituí-las por pensamentos mais coerentes pode ter um grande impacto na autoestima. Leia aqui o artigo sobre Crenças Limitantes. 5° Estabeleça Metas Realistas: Pare de colocar metas absurdas que você sabe que não alcançará no curto prazo. Ao estabelecer metas mais claras e tangíveis, você conseguirá medir seu progresso e fazer ajustes se necessário, tudo isso de maneira mais eficiente, sem o mimimi e a cobrança descabida. 6° Ria de Si Mesma: A vida é uma comédia repleta de tragédias cômicas. Caia na real e permita-se rir das suas falhas, afinal você não é o "Alecrim dourado" que vive alheia as leis do universo. Fala sério! Todas essas práticas se temperadas com toques de ironia e pitadas de sarcasmo podem te levar a ter aquele sentimento - tão bom - de libertação. 7° Cerque-se de Pessoas que te Inspiram: O seu círculo social influencia muito mais na sua autoestima do que você imagina. Nós somos uma média das pessoas as quais temos maior proximidade, por isso avalie muito bem quem você deixa fazer parte "desta zona". Evite ter pessoas do teu lado que vêem o mundo através de uma lente amarelada de críticas e negatividade. Sobretudo procure se afastar de pessoas que só reclamam. Reclamações são declarações de amor aos problemas e estar ao lado de pessoas que nos apoiam, respeitam e encorajam é fundamental. Ah muito importante, não confunda quem te encoraja com quem te bajula. A porta da rua deve ser a serventia da casa para a bajulação e a vitimização também! 8° Celebre Pequenas Conquistas: Cada vitória, mesma que pequena aos seus olhos, é um tijolo na construção do seu castelo interno e nesse castelo você que é a Rainha, portanto em seu Reino só entra quem você permite! Não se esqueça de reconhecer o valor de cada passo dado! Ao levar em conta essas dicas aí, não significa que o seu caminho será linear, sem obstáculos ou tropeços ocasionais. Mas com certeza será ascendente, crescendo de maneira exponencial! Agora, La grande finale Mas depois de toda essa divagação filosófica e humor duvidoso, eis que a minha conclusão sobre a autoestima: ela é confusa, complicada e absolutamente essencial. É como oxigênio para nossa saúde mental - só percebemos o quanto precisamos quando estamos sem. Desenvolver autoestima é um processo contínuo, cheio de altos e baixos. Uma perfeita montanha-russa emocional que não nos lembramos de ter comprado ingresso para entrar. Mas Hey, já que estamos nesse passeio, porque não aproveitarmos a viagem? Independente da abordagem que você escolha para cuidar da planta da sua autoestima saiba que, essa atitude é de extrema importância. Embora algumas (ou muitas) de nós não tenhamos aprendido a fazer isso em nossa infância ou adolescência, isso não deve se tornar algo imutável. Não deixe algo importante se tornar urgente! Tudo na vida se inicia com a cognição (aprendizado), por isso trate de fazer por você mesma. Nós somos seres que aprendemos com a repetição, por isso não desanime. O amadurecimento mostra que muitas vezes não teremos ninguém que nos puxe pela mão e que nos mostre um caminho exato, portanto cabe a nós assumirmos essa responsabilidade. Para e por Nós, sempre! Você é única. Literalmente falando, não há e nem haverá novamente alguém igual a você neste universo. Isso pode ser tanto uma benção quanto uma maldição, tudo depende de como você olha para isso. Porém, uma coisa é certa: você é a protagonista da sua própria história - e se não é deveria ser! Sendo assim, faça dessa história uma que valha a pena ser contada! Chamada para Ação (porque todo bom artigo precisa de uma) E aí leitora, o que você achou dessa jornada pela terra da autoestima? Já está se sentindo mais iluminada ou apenas ligeiramente confusa? De qualquer forma, não pare por aqui! Continue desbravando os meandros da sua mente em nossos outros artigos igualmente irreverentes e possivelmente exóticos. Se você tem uma opinião sobre Autoestima e acha que eu estou completamente equivocada (ou fui surpreendentemente precisa), deixe seu comentário! Afinal, interagir com estranhos na internet é o que nos faz humanas no século XXI, não é mesmo? E se você gostou deste artigo, por que não compartilhar com os outros? Espalhe a palavra como se fosse um vírus da autoestima (mas, você sabe, o tipo bom de vírus - se é que existe algum). Ah, antes que eu me esqueça, para as verdadeiras aficionadas por conteúdo que vai além do convencional, dê uma passadinha no site da UN4RT . Lá é como se fosse o "backstage" de um show de heavy metal - só que para o seu cérebro. Conteúdos exclusivos que te levarão a questionar tudo o que pensava saber sobre si mesma (de um jeito bom, prometo). "Se você não consegue amar a si mesmo, como diabos vai amar outra pessoa?" - RuPaul. O que está esperando? Vá desenvolver essa autoestima aí! Ou pelo menos finja que está tentando. Ás vezes, fingir até conseguir é metade do caminho. "A ilusão se desfaz quanto questionamos a realidade." - UN4RT Agora, se você é do tipo que curte entrar de cabeça nas coisas. Abaixo segue as fontes, referências e inspirações para este artigo. Vai lá, lê. Mas depois não vem encher o saco se ficar com a cabeça mais cheia. Sherlock Holmes , detetive e consultor famoso por sua inteligência excepcional, habilidades de dedução lógica e conhecimento enciclopédico em diversas áreas. Este personagem foi criado pelo escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle . Holmes apareceu pela primeira vez no romance " Um Estudo em Vermelho " de 1887. Epicteto , A Arte de Viver. Friedrich Nietzsche , Assim Falou Zaratustra . T. S. Elliot , poeta, ensaísta e dramaturgo influente do século XX. Laureado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1948. Um dos seus poemas mais emblemáticos é o " A Terra Desolada " que fala do desespero, fragmentação e a desilusão na sociedade pós-Primeira Guerra Mundial. Estoicismo , uma das escolas filosóficas mais importantes da Grécia Antiga. Busca ensinar as pessoas a viverem de acordo com a razão e a natureza, com foco em desenvolver um caráter virtuoso, a autossuficiência e a resiliência diante das dificuldades da vida. Zenão de Cítio , filósofo grego fundador do Estoicismo. Nasceu em Cítio, uma cidade cituada onde hoje é a atual Chipre. Diz-se que, após sofrer um naufrágio e perder sua fortuna, começou a estudar filosofia em Atenas como forma de consolo e para superar suas dificuldades. Sêneca , Sobre a Brevidade da Vida e Sobre a Firmeza do Sábio . Marco Aurélio , Meditações . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Albert Camus , a origem exata da citação não é associada a uma obra específica, mas reflete bem o espírito de resiliência. Clarice Lispector , Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres. Branca de Neve , princesa de beleza incomparável, alvo de extrema inveja por parte de sua madrasta. Personagem de um conto de fadas popularizado pelos Irmãos Grimm ( Schneewittchen ), porém eternizado na cultura pop como sendo o primeiro longa-metragem da Disney. Carl Gustav Jung , O Homem e seus Símbolos. Diana Prince , princesa amazona da ilha mística de Themyscira, filha da Rainha Hipólita. Esse nome é a identidade secreta da Mulher-Maravilha uma das super-heroínas mais icônicas da DC Comics. Criada por William Moulton Marston e desenhada por H.G. Peter apareceu pela primeira vez no " All-Star Comics #8 " em 1941. RuPaul Andre Charles , cantor, ator, drag queen e apresentador norte-americano, considerado a drag mais famosa do mundo. Criador e apresentador do reality show RuPaul's Drag Race , lançado em 2009. Ordem dos Illuminati da Baviera , sociedade secreta fundada em 1776. Grupo que tinha como objetivo promover o iluminismo, assim combatendo a influência da Igreja e do Estado na sociedade. A ordem foi banida e dissolvida oficialmente em 1785 pelo governo da Baviera. Mas, ao longo dos séculos surgiram teorias afirmando que a ordem ainda existe e opera em segredo, controlando governos, economia e até a cultura pop. As teorias os colocam como parte de uma "nova ordem mundial" que manipula eventos globais para assim manter o poder sobre a sociedade. Abraham Maslow , psicólogo norte-americano conhecido por desenvolver a Teoria da Hierarquia das Necessidades ou Pirâmide de Maslow, que é um dos conceitos mais influentes da psicologia. Maslow fazia parte da psicologia humanista que possui uma abordagem que enfatiza o crescimento pessoal. Obra que eu recomendo dele: "Rumo a uma Psico logia do Ser".

  • O que são crenças limitantes? E como elas podem estar prejudicando seu crescimento?

    Já houve alguma situação em sua vida onde você almejava/sonhava com algo maior (material ou imaterial), mas como num passe de mágica surgiram pensamentos do tipo: "Eu simplesmente não consigo", "Não tenho tempo/dinheiro/capacidade para...", "Isso é demais pra mim..." "Eu não mereço..." etc. Se sim, parabéns - você já conheceu e fez amizade com suas crenças limitantes. Essas pequenas, porém poderosas, vozes internas são como correntes invisíveis que, com um toque de ironia quase poética, nos impedem de explorar todo o potencial que carregamos. Essas crenças são "instaladas" gratuitamente na nossa mente, cortesia da sociedade, da cultura e das experiências pessoais (nossas e de outros). Mas antes de começarmos a chutar essas ideias ultrapassadas para longe, vamos entender o que elas são de fato pois, como já dizia Alvo Dumbledore : "...Compreender é o primeiro passo para aceitar, e somente aceitando podemos nos recuperar..." O que são crenças limitantes? Crenças são aquelas convicções que possuímos acerca do mundo, formadas desde a infância e moldadas pela família, cultura e, é claro, pela sociedade. Elas nos orientam, proporcionando um conjunto de respostas prontas, mas nem sempre corretas. Um conjunto de crenças é denominado paradigma. Afim de facilitar o entendimento deixe-me dar um exemplo simples: Imagine sua mente como um vasto jardim, repleto de possibilidades. Agora, imagine que, ao invés de você cultivar flores e árvores frondosas (crenças fortes), você se contenta em regar e cuidar apenas de ervas daninhas. Sim, as ervas daninhas representam as crenças limitantes, e como o próprio nome já diz, são concepções que colocam limites naquilo que acreditamos ser possível e/ou merecido. Importante ressaltar que, elas não vêm do além - são construídas com base em interpretações distorcidas de experiências passadas, ensinamentos culturais e até mesmo do medo do desconhecido. Essas ideias internalizadas atuam como barreiras para o nosso crescimento pessoal pois, elas não mostram a verdade, mas fazem questão de te convencer de que são justas e verdadeiras. Digamos que nosso maior problema em relação a elas é que, na maioria das vezes, não sabemos que elas estão ali, presentes, regendo nossas escolhas. De onde elas vêm? As raízes das crenças limitantes Certo mas, por que persistimos em agir com base em crenças, as quais não sabemos de onde vêm? Simples: somos seres de hábitos preguiçosos. Ou será que é porque acreditamos tanto em nossa própria narrativa que preferimos a estagnação à ousadia de desafiar o que nos limita? Aliás, é bom citar que diversas escolas de pensamento já se aventuraram na análise deste fenômeno, (que novidade). Os filósofos cínicos argumentariam que o verdadeiro propósito da vida é manter-se confortável, e não alcançar a verdadeira liberdade. Já Aristóteles dizia que "somos o que fazemos repetidamente" e que as crenças limitantes violam o equilíbrio entre medo e ousadia. Platão nos alertou em sua famosa Alegoria da Caverna, onde as sombras são confundidas com a realidade. Carl Jung , por sua vez, explicou que o inconsciente coletivo é uma força poderosa, que molda nossa psique a partir de ideias herdadas. Modernamente, a psicologia cognitiva sugere que nossa mente cria "atalhos" para evitar dores emocionais, resultando em convicções que nem sempre são verdadeiras, o que em outras palavras significa que as crenças são frutos de experiências passadas, reforçadas por padrões de pensamento negativo. Um exemplo disso seria: uma criança que presenciou os problemas financeiros dos pais e escutava constantemente as frases "dinheiro é difícil de ganhar" ou "é necessário trabalhar muito para ganhar dinheiro", cresce acreditando que nunca será próspera, ou que para isso precisará aderir a jornadas de trabalho absurdas. Resultado? Ela, muitas vezes, nem ao menos tenta se aventurar em novas oportunidades, pois já "sabe" que irá falhar. Pura autossabotagem embalada com fita de cetim e uma etiqueta bem grande dizendo "verdade". Albert Ellis, um dos pioneiros na reestruturação cognitiva, diria que essas ideias disfuncionais podem - e devem - ser identificadas e desafiadas. Já o filósofo Friedrich Nietzsche , sempre muito sutil, nos daria um tapa na cara metafórico ao afirmar que "o homem é algo que deve ser superado", sugerindo que somos prisioneiros de nossas limitações porque queremos. Os existencialistas viam essas crenças como um entrave à liberdade e à responsabilidade de ser quem realmente somos. Sartre proclamava "a existência precede a essência", sugerindo que somos livres para definir nosso próprio caminho, as crenças limitantes se manifestam justamente como essa voz interna que insiste em manter o status quo , mesmo quando o mesmo é, no mínimo, entediante. A sabedoria contemporânea de autores como Tony Robbins e Brené Brown por exemplo, nos lembram que a transformação pessoal começa justamente quando decidimos desafiar as barreiras mentais. E a neurociência, por sua vez, diz que as crenças limitantes podem estar literalmente gravadas em nosso cérebro, sim, não é ótimo?! Isso ocorre da seguinte forma: ao repetir determinados padrões de pensamento, nós estabelecemos ligações sinápticas (conexões que os neurônios fazem entre si, basalmente falando). Portanto, quanto mais repetimos uma crença, mais essas conexões se fortalecem, e assim acabamos aceitando que essa é a única "realidade". Pessoas religiosas diriam que se trata da vontade divina, os ateus diriam que é uma predisposição genética, os filósofos argumentariam que se trata da nossa interpretação arbitrária do que denominamos "verdade" mas, independente de tudo isso, seja qual for a justificativa ou linha de pensamento - incluindo nisso a análise freudiana dos conflitos internos e a abordagem comportamental que vê o comportamento humano como produto de condicionamentos - tudo converge para a ideia de que as crenças limitantes são obstáculos a serem superados, ou seja, no final deste túnel existe saída, é totalmente possível mudá-las. Como as crenças limitantes podem estar prejudicando seu crescimento? Bom, se você leu o bloco acima já deve ter entendido ou tem, pelo menos uma ideia de como isso pode estar te afetando, mas vamos deixar tudo ainda mais claro. Imagine que sua mente é como um campeonato de crossfit, onde o objetivo é testar a força, a resistência e a determinação com objetivo de se conquistar novos recordes. Agora, imagine que, ao invés de utilizar equipamentos modernos e funcionais, você está utilizando equipamentos enferrujados e com grande risco de acidentes (sério, se você já viu como funciona um campeonato de cross , vai perceber que a qualidade dos equipamentos é essencial) - pois é, esses equipamentos ferrados representam exatamente o que você está pensando, as crenças limitantes. Cada "eu não posso" é um lastro que te impede de levantar a barra do seu potencial (nossa, me superei com essa frase). É como tentar competir em uma maratona com correntes atadas aos pés. Na prática, essas crenças só nos levam a um ciclo de autossabotagem, que se repete várias e várias vezes através de padrões. B. F. Skinner , com sua paixão pela análise comportamental, provavelmente diria que estamos reforçando comportamentos negativos, mesmo que inconscientemente, através de um ciclo de repetição que nos mantém presos a um estado de inércia. Deixa eu simplificar a fala desse cara com um exemplo: você por acaso já teve a sensação engraçada de repetir experiências em relacionamentos? Como se toda vez a mesma "história se repetisse" mas com pessoas diferentes? É como se tudo estivesse "programado" para evitar o seu sucesso naquela área da vida... Isso lhe é familiar? Sim? Pois é... entendeu né? Sabemos que, se deixarmos que essa mentalidade se perpetue, acabaremos por acreditar que a mediocridade é a nossa zona de conforto. O que seria mais irônico do que se contentar com o "ok" quando se pode aspirar ao "extraordinário"? É como se, ao invés de atualizar o sistema, decidíssemos viver eternamente com o " Windows 98" da nossa própria existência. Agora, bora para a parte prática! Como substituir crenças: Um convite a libertação A notícia boa é que, assim como um software pode ser atualizado, a nossa mente também pode ser "reprogramada" (essa palavra não deve ser interpretada de forma literal, se trata somente de uma figura de linguagem, até porque não somos robôs). O primeiro passo é RECONHECER que aquela voz crítica interna NÃO É UMA VERDADE ABSOLUTA, até porque verdades absolutas não existem! Essa voz é apenas um resquício de padrões antigos, prontos para serem questionados. Aqui vão algumas algumas das estratégias práticas que eu utilizei para desconstruir algumas das minhas barreiras: Identifique-as e Desafie-as: Dê nome aos bois sim! Preste atenção aos seus pensamentos, quando os autolimitantes surgirem, questione-os. Escreva-os em um caderno ou no celular se quiser. Use a pergunta: "Isso é realmente o que eu penso sobre isso?" ou "De onde veio essa ideia?" ou "Quem foi F%D#P que disse que isso é verdade?" Isso vai lhe exigir prática! Sim, pensar com a própria cabeça dá trabalho mas é extremamente gratificante. Então PERSISTA, é a tua vida e o teu crescimento em jogo! (Pensar e ter pensamentos são coisas completamente diferente, a maioria das pessoas tem pensamentos e acham que estão pensando. Um erro elementar). Reestruturação Cognitiva: Reescreva, substitua, transforme o "eu não posso" em "por que não tentar?", por exemplo. A maioria das pessoas não dá a mínima atenção a qualidade de suas narrativas internas, quem dirá saber que podem mudá-las. Uma simples mudança pode abrir portas para novas possibilidades. Meditação e Autoconhecimento: Dedique alguns minutos do seu dia para refletir sobre seus pensamentos, parece um exercício contraditório porém é extramente benéfico. Você pode começar com apenas 5 minutos, a meditação ajuda a observarmos esses padrões sem julgamentos, permitindo que você os modifique de forma consciente. Humor Ácido, Ironia e Ação: Ás vezes, rir de si mesma é a melhor forma de tirar a força das crenças. Sim, Oscar Wilde já dizia: "A vida é muito importante para ser levada a sério", portanto encare suas limitações com uma pitada de sarcasmo também e veja como elas perdem um pouco do peso que possuem. Muito importante: agir é essencial, levante o traseiro da poltrona e utilize toda e qualquer pequena ação de forma consistente para reforçar as suas novas crenças. Simone de Beauvoir nos lembra que "mudamos a nós mesmos todos os dias", e essa transformação depende, em grande parte, de como escolhemos interpretar nossas experiências. Ao invés de se deixar paralisar pelo medo do fracasso (ou do sucesso), que tal abraçar a incerteza com a curiosidade de uma cientista e o humor de uma poetisa? Considerações Finais Em síntese, as crenças limitantes são barreiras mentais formadas a partir de experiências, medos e condicionamentos culturais e sociais que nos impedem de alcançar nosso verdadeiro potencial. Seja pela pela perspectiva da psicologia cognitiva, da filosofia existencialista ou de abordagens modernas de autoajuda, todas as linhas de pensamento concordam: romper com as limitações é essencial para um crescimento pessoal autêntico. Eu acredito que reconhecer e desafiar nossas crenças é o primeiro, e talvez o mais importante, passo para uma vida mais plena. Abandonar o casulo confortável da dúvida e abraçar a incerteza com humor e coragem é o caminho para nos tornarmos a melhor versão de nós mesmas. Como diria a genial filósofa Hannah Arendt , "pensar sem um certo grau de inquietação é simplesmente complacência", e não há nada mais libertador (na minha opinião) do que transformar nossa inquietação em ações coerentes e criatividade. Gostou deste conteúdo? Então deixe seu comentário e não pare por aqui! Continue explorando os demais artigos para descobrir mais insights sobre crescimento pessoal, autoconhecimento e desenvolvimento. Sua interação é fundamental - deixe seus comentários, sugestões de temas, perguntas e compartilhe este post com suas amigas que também precisam romper com suas barreiras internas. Convido você também a visitar o site da UN4RT , um verdadeiro " backstage " repleto de conteúdos exclusivos que podem transformar sua perspectiva. Venha fazer parte dessa revolução do pensamento e descubra um universo de criatividade e autoconhecimento! "A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade" - UN4RT Agora, se você tem um desejo obscuro de se aprofundar nisso, as fontes, referências e inspirações seguem abaixo. Boa sorte, você vai precisar... Alvo Percival Wulfrico Brian Dumbledore , um sábio e poderoso bruxo da série literária Harry Potter escrita pela autora britânica J. K. Rowling . Os cínicos , esses filósofos da Grécia Antiga, adeptos do cinismo eram conhecidos por sua falta de apego material e seu repudio pelos costumes e valores da sociedade. Aristóteles , Ética a Nicômaco. Platão , A República. Carl Gustav Jung , O Homem e seus Símbolos. Albert Ellis , Fundador da Terapia Racional-Emotiva Comportamental (TREC), conhecido por sua abordagem na reestruturação cognitiva. Friedrich Nietzsche , Assim falou Zaratustra. Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada. Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo. Tony Robbins , Poder Sem Limites e Desperte Seu Gigante Interior. Brené Brown , A Coragem de Ser Imperfeito e A Arte da Imperfeição. Norman Doidge , O Cérebro que se Transforma: A Neurociência da Transformação Pessoal. Crossfit , programa de força e condicionamento que combina exercícios de alta intensidade variados. B. F. Skinner , Ciência e Comportamento Humano. Windows 98 , sistema operacional que sucedeu o Windows 95, foi a primeira versão da plataforma desktop a ser pensada e desenvolvida para consumidores finais. Criada pela empresa Microsoft. Oscar Wilde , O Leque de Lady Windermere. Hannah Arendt , A Condição Humana.

  • O que é autoconhecimento? E qual sua importância?

    Vamos dissertar sobre este tema complexo e que sempre dá o que falar, sim, ninguém nega que essa palavra possui um significado mais profundo mas que hoje em dia é glamourizada, sendo frequentemente usada como recheio de palestras motivacionais, manuais de autoajuda baratos e é claro, nas legendas das fotos de alguns gurus . Parece tudo muito simples, você faz busca na internet, aparecem alguns sites anunciando um Guia prático com o passo-a-passo e com as técnicas a serem aplicadas, como se o autoconhecimento fosse uma receita de bolo e que você só precisa seguir uma ordem específica. Tudo muito legal e tal, mas em algum lugar entre o entretenimento de baixa qualidade, a promessa de respostas fáceis, a angústia existencial do momento e a procrastinação do dia a dia aquelas perguntinhas continuam ecoando na mente: "O que é autoconhecimento?", "O que eu fiz para merecer?", "Porque isso aconteceu comigo?" e assim por diante... Essas perguntas inconvenientes nos guiam até uma outra pergunta, a maior, a mais antiga e temida, a mãe de todos os questionamentos: "Quem sou eu afinal?" Normalmente, é em meio ao caos de emoções, contradições e problemas que o tema autoconhecimento resolve despontar, mas antes que você ache que estou prestes a te entregar uma história trágica com uma reviravolta épica ou um manual de instruções digno de uma máquina de lavar roupa, é bom você respirar fundo pois o caminho é cheio de surpresas. Vamos ao que interessa! O que é autoconhecimento? Porque diabos isso é importante e porque cada vez mais pessoas vendem cursos sobre isso? Sim, se você também já investiu seu suado dinheirinho em um curso que prometia milagres, então bem vinda ao clube! Digamos que essa história de se conhecer é em essência, a arte de decifrar o enigma mais complexo que você jamais encontrará: você mesma. Vou dar um exemplo, imagine que sua mente seja um software em constante atualização, onde bugs emocionais e falhas de sistema se combinam para criar uma versão única de você - ou pelo menos, uma versão que dá dor de cabeça cada vez que a temida tela de erro aparece. Pois bem, autoconhecimento nesse caso não significa somente rodar um diagnóstico ou reiniciar o sistema, não, conhecer-se funciona como um upgrade! Como praticar o autoconhecimento? Sim, é necessário aprender, estudar e colocar em prática! Com isso em mente abordaremos o inevitável, mergulharemos em um oceano de pensamentos e teorias que, por vezes, parecem dialogar (ou até discutir acaloradamente) entre si. Diferentes vertentes de pensamento já encararam este labirinto de formas bastante distintas, e, honestamente às vezes parece que cada uma delas detém apenas parte do mapa, mas mesmo assim é interessante conferir o que algumas delas dizem a respeito. Comecemos filosofando e falando de Sócrates, o filósofo famosão que adorava uma máxima e que amava uma ironia, ele dizia: "Conhece-te a ti mesmo" , em sua visão, isso não era um luxo, mas sim uma necessidade para a vida ética. Platão , seu discípulo concordaria, mas com um ar de quem já estava de saco cheio de escutar essa frase e também por que suas ideias eram um tanto quanto diferentes. Ele e sua Alegoria da Caverna diriam que nós estamos fadados a ver o mundo de forma distorcida, apenas vemos as sombras projetadas em uma parede e acreditamos que isso é tudo o que existe, enquanto isso a verdadeira realidade está lá fora, sob sol e nós só não a vivenciamos por que a caverna é mais confortável. Mas se você acha as ideias dos antigos um tanto confusas e é do tipo que mais irreverente preferindo algo menos "certinho", digamos que Nietzsche pode te ajudar. Ele não acreditava em um "eu" fixo. Ao invés disso, o verdadeiro eu seria uma construção contínua, algo sempre em transformação. "Se conhecer? Boa sorte com isso!", ele diria, com um tom provocador. Seria como tentar acertar um alvo em movimento - frustrante no começo mas com a vantagem de ser sempre interessante. Já Freud , insistiria que entender a si mesmo era desvendar os recantos do inconsciente - aquele lugarzinho escuro, onde criamos e escondemos nossos demônios internos, desejos reprimidos e os traumas infantis. Carl Jung , pai da psicologia analítica e contemporâneo de Freud , também tinha um pé no porão da casa, ele nos traz seu conceito de arquétipos, sugerindo que, dentro de cada uma de nós, habita um universo coletivo de símbolos e imagens que moldam nossa personalidade. Mas enquanto os dois aí de cima desbravavam os meandros da psique com a seriedade de um investigador de crimes, Simone de Beauvoir , sempre cirúrgica em sua fala e a frente de seu tempo, aponta que o autoconhecimento é também uma questão de liberdade e responsabilidade existencial. "Não se nasce mulher, torna-se mulher" , dizia ela, lembrando-nos que o processo de se conhecer e de se transformar é tão crucial quanto as construções sociais que nos moldam. O inconfundível Oscar Wilde , brincava com a ideia de autenticidade ao afirmar que " ser natural é uma pose difícil de manter ". Assim, conhecer-se pode ser visto como uma espécie de performance - uma dança entre o que somos, o que queremos ser e o que o mundo espera de nós. Agora Monsieur Jean-Paul Sartre com sua perspectiva existencialista e seu sarcasmo filosófico, sugere que o "eu" é uma construção que realizamos ao longo da vida - e que, portanto, somos livres para nos reinventar, mas também somos condenados a essa liberdade. Ele defende que o autoconhecimento não se trata tanto de descobrir uma essência oculta, mas sim reinventar-se todos os dias, o que, sinceramente, me parece até uma boa desculpa para justificar as crises existenciais como sendo "parte do processo". Por último mas não menos importante e para aquelas que são fãs de uma abordagem mais "zen", a visão da filosofia oriental pode ser uma opção. No budismo, por exemplo, o "eu" é visto como uma construção temporária, um emaranhado de desejos, sensações e pensamentos que surgem e desaparecem. O que em outras palavras quer dizer, o conceito de "eu" não passa de uma ilusão, então se desejamos encontrar algo estável e definitivo, é melhor esperarmos deitadas, pois a busca será longa e infrutífera. Laozi , mestre do Taoismo, diria em tom enigmático: "Pare de tentar se encontrar e apenas seja." Simples não? É uma pena que este conceito de "apenas ser" é quase ofensivo para a mente ocidental, que vive para dissecar, rotular, diagnosticar e encaixar cada aspecto da nossa identidade em caixinhas bonitas e confortáveis, compradas na última "queima de estoque" a um preço imbatível. E agora? O que fazer com tantas informações? Ao unirmos todas essas perspectivas diferentes percebemos que o autoconhecimento é, em última análise, um processo onde saber a opinião alheia até pode nos fornecer insights mas que no fim pode nos deixar mais confusas do que quando começamos, tudo é uma espécie de descoberta onde somente nós mesmas somos capazes de lidar. Tem quem prefira ignorar, tem quem prefira que tudo volte "ao normal ou a como era antes...", sinto informar que, depois que esse processo começa não existe retorno. E é justamente neste momento que percebemos que nós não aprendemos a nos olhar com os olhos da compreensão e percebemos o quão carrascas somos com nós mesmas. Nós aprendemos a sempre ter uma palavra de consolo para aqueles que nos procuram para desabafar, nós acolhemos essas pessoas, emprestamos nosso ombro... Porém quando se trata de nós mesmas a coisa é completamente diferente. O Autoconhecimento é a porta de entrada para nós aprendermos a nos acolher, a perceber de fato que não somos perfeitas e está tudo bem, que nós merecemos o nosso próprio carinho e compreensão. Mas para isso, é necessário deixar a "chibata da penitência" de lado, é necessário coragem e prática, sim, mas acima de tudo persistência pois, ao meu ver, este é um dos únicos "trabalhos" que realmente vale cada gota de suor. Talvez você discorde de tudo o que escrevi aqui, é seu direito, você tem sua "própria" visão de mundo. O que temos em comum é o fato de sermos seres humanos em aprendizado e desejarmos o melhor para nossas vidas. Ninguém erra de propósito (com exceções), estamos todas procurando acertar, cada uma a sua maneira. O exercício é sem dúvida paradoxal, quanto mais procuramos nos conhecer mais camadas surgem e isso pode se tornar confuso, portanto aqui vai uma dica - não se deixe levar por embates do tipo: ser racional OU emocional. Onde de um lado, a lógica fria e calculista diz para analisar seus sentimentos com a precisão de um matemático; do outro, a caótica e apaixonada bagunça que é o coração humano. Não existe essa história de termos que escolher entre ser um robô programado para eficiência e ser uma poetisa que se recusa a seguir regras gramaticais. A liberdade pode ser alcançada quando abraçamos nossa própria dualidade, aceitando que, por vezes, ser livre significa conviver com o absurdo e a imperfeição inerentes à nossa condição. Calma, respire fundo, você está no caminho certo! Pode acreditar! O autoconhecimento, a meu ver, se trata de uma ferramenta indispensável para vivermos de maneira mais consciente. Mesmo que as vezes tenhamos vontade de mandar tudo para aquele lugar ou que nosso caminho esteja repleto de surpresas desconcertantes (e de gente idiota), ou daquelas situações que provocam um certo riso nervoso acompanhado do pensamento "Dai-me paciência e não força...", enfim, em algum momento aprenderemos a lidar com as nossas próprias falhas e a dos demais, sem cobranças. Cada um a seu tempo, não há pressa, pois afinal, se a vida não fosse também uma comédia de erros, como poderíamos aprender a apreciar o verdadeiro significado de sermos humanos? Nietzsche , aquele que gostava de tacar fogo no cabaré com suas ideias, utilizava uma máxima a qual adotei para minha vida, que é: " Torna-te quem tu és! ", o que pra mim soa como um chamado não apenas para abraçar a mim mesma, mas também para enfrentar de frente os absurdos e as contradições que aparecem em meu caminho. Em resumo, conhecer-se é como desmontar e remontar o próprio quebra-cabeça (sem as instruções), é abraçar a si mesma e a própria dualidade, é reconhecer que cada passo, (por mais que o julguemos desajeitado), é parte da nossa jornada de contínua autodescoberta. E nessa história não existe ponto final, apenas reticências. Então se você chegou até aqui, parabéns! Isso significa que sua curiosidade está alimentando o motor do seu autoconhecimento. Não pare por aqui! Te convido a explorar os demais artigos do blog, onde outros temas igualmente instigantes e repletos de reflexões (muitas vezes inconvenientes) aguardam sua visita. Sinta-se a vontade para interagir - deixe seus comentários, sugestões de temas e perguntas, compartilhe suas experiências, até reclamar você pode :) Ah, e não esqueça de recomendar o blog para quem você conhece! PS: Agora se você é curiosa mesmo, faça uma visita ao nosso site UN4RT - o nosso " backstage " virtual que reúne conteúdos exclusivos e diferenciados, feitos especialmente para aqueles que realmente tem sede de conhecimento e gostam de irreverência. Continue explorando, questionando e, acima de tudo, conhecendo-se - pois, no fim das contas, essa é a aventura mais divertida, surpreendente e insana que podemos viver! Você é tanto a artista quanto a obra. Então, mãos a obra! "A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade". - UN4RT Se quiser se aprofundar nesse assunto e conhecer um pouco mais do que foi citado no artigo, abaixo seguem as minhas fontes, referências e inspirações. Mas, olha, não venha reclamar depois! Sócrates , Máximas de Delfos . Platão , Apologia de Sócrates e A República ( Alegoria da Caverna ). Friedrich Nietzsche , Assim falou Zaratustra . Sigmund Freud , O Ego e o ID. Carl Gustav Jung , Psicologia e Alquimia e O Homem e seus Símbolos . Simone de Beauvoir , O Segundo Sexo . Oscar Wilde , O Retrato de Dorian Gray . Jean-Paul Sartre , O Ser e o Nada . Laozi ou Lao Zi também conhecido como Lao-Tzu e Lao-Tze , Tao Te Ching .

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