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Manual de Práticas para Não Ter Expectativas

  • Foto do escritor: N3ssa UN4RTificial
    N3ssa UN4RTificial
  • 3 de mai.
  • 10 min de leitura

Atualizado: há 6 dias


Ouça o Artigo (Sem Edição e Sem Cortes :P)gravado por N3ssa UN4RTificial

Pega um café, adoça-o com desdém e senta aí. Concentre-se e vamos lá, alma inquieta, porque hoje nós vamos falar sobre um vício social que ninguém gosta de admitir que tem, mas que todos praticam.

 

Sabe aquela sensação de que alguém te deve alguma coisa? Aquela pontinha de frustração que aparece quando alguém não corresponde às suas expectativas mais simples? Pois bem, criatura esperançosa, vamos rasgar o véu da ilusão, porque sim, esperar é a arte de sofrer por antecedência, e nós merecemos melhor!

 

Respira fundo. Solta. Repita comigo: “Ninguém me deve nada

 

E agora, continue lendo…

 

A Origem do Vício

 

Por que esperamos tanto dos outros?

 

Desde a infância, somos doutrinados pela maior indústria de ilusões que já existiu, a “sociedade”. Ela, como uma boa vendedora, sempre nos empurra o pacote completo: amor incondicional, lealdade eterna, disponibilidade fraterna 24 horas, chefes compreensivos e “humanos”, relacionamentos dignos de contos de fadas… E tudo isso por um precinho módico: nosso tempo, atenção e, em alguns casos, a sanidade.


uma mulher careca vestida com uma armadura negra abraça um monstro

Sartre, nosso lúcido mal-humorado predileto, já dizia: “O inferno são os outros.” E não porque os outros sejam monstros sem coração, mas porque insistimos em projetar sobre eles tudo aquilo que gostaríamos de receber - mesmo que esse recebimento, por algum motivo místico-cármico, jamais chegue.

 

Expectativas: a Mãe da Frustração (e o Pai Ausente da Paz de Espírito)

 

Já parou para pensar que toda decepção é filha bastarda de uma expectativa não comunicada?


Normalmente fantasia-se, projeta-se, romantiza-se e depois reclama-se que o outro não corresponde, quando ele se quer sabia que fazia parte de um roteiro de novela mental.

 

Esperar que o outro retribua, entenda, perceba e leia nas entrelinhas das nossas ladainhas neurais… é como usar uma rede de Wi-Fi aberta e achar que vamos navegar seguros.

 

O problema não é o outro, mas sim a conexão que esperamos ter.

 

Galera inteligente que já tinha sacado essa muito antes de virar trend

 

Epicteto, o estoico raiz, já falava que devemos controlar o que depende de nós e ignorar o resto. Esperar que os outros façam algo é o contrário da filosofia estoica. Se queremos paz, temos que abandonar o “ele(a) devia” e abraçar o “tanto faz”.

 

Nietzsche, com o seu eterno retorno e a aceitação do caos inevitável, já tinha cantado a pedra: “se você tivesse que viver sua vida, com todas as suas decepções, infinitas vezes… você viveria?”. Pois é, né, então é melhor parar de ser igual a CD riscado, repetindo o mantra de esperar que os outros sejam como você é com eles.

Querer que o mundo se encaixe em nossos valores é pura arrogância. O sofrimento é inerente à existência, mas resistir a ele nos transforma. O Übermensch ("Super-Homem"/"Além-do-homem") não espera nada de ninguém. Ele cria. Ele transforma o “você me decepcionou” em “tô nem aí! Vou me autosuperar!”. Portanto, não esperar nada dos outros é parar de resistir ao óbvio: o outro é e sempre será imprevisível.

 

Simone de Beauvoir, maravilhosa e sarcástica, já avisava: “…o outro é livre, mesmo quando isso nos fere...”. Esperar que os outros nos compreendam ou nos tratem como nós gostaríamos é negar a liberdade deles. Não deveríamos querer moldá-los ou manipulá-los só porque queremos carinho, atenção, aceitação ou boletos pagos. A liberdade alheia raramente é simpática aos nossos caprichos emocionais.

 

Simone Weil, a filósofa mística, já afirmava que dar sem esperar é o único ato que caracteriza a verdadeira liberdade. O amor genuíno se doa sem pedir ou esperar retorno. Não porque quem assim o faz seja fraco, mas porque este é consciente de sua força.

 

Schopenhauer, aquele tio pessimista de cara fechada, dizia que toda forma de apego se trata de um potencial sofrimento. “A vida oscila como um pêndulo entre a dor e o tédio.” Então, adicionar “expectativas sobre algo ou alguém” nesse pêndulo seria como pedir para levar uma tijolada nos dois lados da cara. Portanto, esperar algo é cavar a cova da nossa própria tranquilidade com uma colher de chá.

 

Lacan falava que o desejo é sempre do outro, ou seja, estamos fodidos. O que queremos que nos ofereçam - seja lá o que for - é algo que os outros não fazem ideia que existe. Esperar é como controlar algo inconsciente, coisa que nem o “destinatário da tal espera” compreende.

 

Chico Xavier - sim, vamos dar um tempero espírita na coisa - pregava o “Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier.”. É, até o médium predileto da galera sabia disso e jogou essa sabedoria estoica embalada de espiritualidade na cara da sociedade brasileira.

 

O Paradoxo Social: quanto mais esperamos, mais nos dizem para ter paciência
 

Quem nunca escutou a frase irritante “Tudo a seu tempo.” não sabe o que é querer dar na cara de alguém.


uma mulher careca vestida com uma armadura negra esta de costas para um monstro

Nós temos consciência de que vivemos ‘á mercê de leis temporais’, já dizia Severo Snape: “O tempo e o espaço contam na magia, Potter.” Mas, mesmo assim, existem os ‘Einsteins’ da vida que amam repetir essa frase como se ela fosse o elixir da resolução de problemas, quando quem está do outro lado - na maioria das vezes - se encontra em meio a uma tempestade emocional.

 

É curioso como muitos de nós exigimos somente o mínimo - respeito, consideração, uma resposta que não seja apenas um emoji... - muitas vezes, apenas esse mínimo já se torna motivo suficiente para ouvir um “calma” ou “pois é, uma pena, mas isso é normal…”.

 

Mais curioso ainda - na minha opinião - é quando paramos de esperar, de dar atenção, ou de chamarmos um comportamento escroto de “normal” é aí que, como num passe de mágica, nos transformamos em frios, egoístas, “desiludidos”, negativos… e até mesmo loucos niilistas.

 

Dependência Emocional em Tempos Líquidos

 

Nossas relações possuem prazo de validade curto, mas com cobranças eternas. Sendo assim, não podemos depender emocionalmente de gente que muda de avatar a cada semana e promete amor com 233 caracteres e emojis.

 

Esperar é dar poder e a espera é o altar onde o desespero se casa com a desilusão. É quando transformamos os outros em donos da nossa paz.

 

E por que isso nos dói tanto?

 

Porque somos treinados a agradar e sermos agradados. Condicionados, feito os cachorros de Pavlov, salivando a cada migalha de aprovação.

 

Porque o ego sempre grita “eu mereço mais!”. E talvez até mereça mesmo, mas o universo não tem a menor obrigação de entregar nada, quando o ser não faz isso por ele mesmo.

 

Práticas para Mandar as Expectativas para o Inferno

 

Isso aqui são sugestões, faça por sua conta e risco. A ideia é sempre criar unicórnios, mas não criar expectativas.

 

  • Comece o dia dizendo “ninguém me deve nada, mas eu me devo tudo” - Repita isso feito um mantra. Escreva no espelho. Imprima em uma camiseta. Isso liberta mais do que terapia barata.

  • Cole na testa: “não sou o centro do universo” - Isso não é falta de autoestima. É maturidade emocional. Aceitar que ninguém tem obrigação de agir como você quer é o puro suco da liberdade.

  • Tenha uma lista de tudo o que o mundo não te deve - A lista é longa, mas começar a escrevê-la é perceber o quanto de responsabilidade você tem sobre você mesmo.

  • Mantenha o sarcasmo em dia - O sarcasmo é o escudo filosófico dos sensíveis. Use com parcimônia e com ironias pontuais.

  • Pratique a generosidade anônima - Faça o bem e esqueça, porque esperar um “obrigado” é só mais um vício não diagnosticado.

  • Desconfie de promessas (inclusive as suas) - Valorize mais quem te surpreende do que quem te promete alguma coisa. Promessas são iguais a balas de goma vencidas, têm boa aparência, mas o gosto decepciona.

  • Aprenda a rir do drama antes que ele resolva rir de você - Se tudo der errado, ria. Mas ria com força, quase gritando. O riso é a forma mais barata e indolor de vingança emocional.

  • Quando alguém falhar com você, repita: “Isso é sobre ele(a), não sobre mim.” - A responsabilidade por criar expectativas é e sempre será sua, mas o fato de o outro ter feito alguma cagada não é problema seu.

  • Esteja presente, mas com um pé na porta - Isso não quer dizer que você deva ter relacionamentos rasos. Empatia, sim. Mas com bom senso. Se a porta do afeto bater, que não seja na sua cara.

  • Use o “foda-se” com consciência espiritual - Não se trata de ser insensível, mas sim de saber onde começa a sua paz e onde termina a ‘obrigação’ do outro.

  • Desenvolva um relacionamento erótico com a palavra “não” - Ela é curta, honesta e vai te poupar o dinheiro de algumas sessões de terapia.

  • Tenha planos de fuga emocional - Sim, eles funcionam como um botão de emergência. Quando a merda começar a feder, pelo menos você tem para onde ir (nem que seja tomar um banho gelado).

  • Recompense-se quando não explodir - Nada como um chocolate, uma caminhada ou um bom livro para comemorar a maturidade. Portanto, a cada vez que você não manda aquele textão, ou aquele podcast em formato de áudio, comemore. Isso é evolução espiritual.

  • Faça de você a sua melhor companhia - Existe uma diferença bem grande entre solidão e se sentir sozinho. Portanto, quando a solidão vira escolha, ela deixa de ser prisão e todos que estiverem ou se aproximarem de você poderão ir e vir como quiserem.

  • Crie vínculos, não dependências - Quem precisa, se prende. Quem compartilha, se liberta.

  • Desconfie de elogios exagerados - Eles são tipo aquele aperitivo que vem antes do prato principal: cobrança disfarçada de afeto.

  • Desapegue do “reconhecimento” - A maioria só vai te reconhecer depois que você morrer. Então, vá viver de forma mais leve.

  • Construa sua rotina sem depender do “vamos marcar” - Se alguém quiser, pode ter certeza, vai aparecer. Quem quer, dá um jeito e quem não quer, dá um ghost  ou uma desculpa.

  • Faça planos consigo mesmo e convide os outros, mas sem pressão - Se alguém vier, ótimo. Se não, o rolê continua e é vida que segue.

  • Esteja inteiro antes de esperar pela metade de alguém - Isso aqui é para os adeptos do termo “alma gêmea”, “outra metade da laranja” e sei lá mais o que... Invistam em autodesenvolvimento e amadureçam emocionalmente, assim vocês não precisarão de alguém para completar e sim para multiplicar.

  • Aprenda a curtir e a respeitar o silêncio dos outros - Nem todo vácuo é rejeição - e mesmo se for, ninguém é obrigado a aceitar quando não quer. Às vezes é só falta de vontade de responder ou alguém sendo… ele mesmo. E tudo bem.

  • Evite usar frases como “no seu lugar eu faria diferente” - Você não está no lugar do outro e talvez nem aguentasse estar. Então, se não tiver algo melhor para falar, só cale a boca. Não se esqueça, sempre terá alguém pronto para julgar o que você faz, sente ou escolhe. Mas essas pessoas nunca estão no seu lugar, né? Coincidência?

  • Seja generoso por escolha, nunca por carência - Não seja um mártir das boas intenções, até porque martírio não paga as tuas contas. Fazer o bem esperando palmas é só teatrinho e dar alguma coisa já esperando algo em troca é transação, não generosidade. E, como toda boa transação, sempre existe o risco de um calote. Faça se quiser e esqueça se não vier retorno.

  • Trate expectativas como ex: agradeça e vá embora - Elas fizeram parte da sua vida e agora só te atrapalham. Dê tchau com classe.

  • Crie uma lista de ilusões quebradas e leia-a de vez em quando - Nada educa mais do que um bom choque de realidade documentado. É terapêutico.

 

Não esperar é ser livre, não se trata de frieza

 

É bem fácil confundir. A ausência de expectativas não é cinismo, é só clareza. A gente segue amando, se doando, convivendo, amaldiçoando - mas sem deixar que o outro defina nossa paz. Nós fazemos, oferecemos, contribuímos… porque escolhemos assim e não porque esperamos retribuição.

 

A real é que a única pessoa que pode garantir alguma coisa para você é… você mesmo. Esperar dos outros é uma aposta alta em um cassino. Você pode até ganhar, mas vai perder mais vezes do que gostaria.

uma guerreira careca com asas negras paira sobre o espaço ao seu lado a Terra e a Lua

O segredo da paz está em deixar ir, desapegar, soltar… expectativas, idealizações, sonhos terceirizados. Quem não espera nada de ninguém não se decepciona e ainda se surpreende de vez em quando.

 

Para não deixar dúvidas:

 

Ninguém está aqui para atender às suas expectativas. E isso não é ruim. Isso é, na verdade, libertador.

 

Se libertar da necessidade de aprovação, reconhecimento e retorno emocional nos deixa mais leves. E não, isso não nos torna insensíveis. Nos torna mais lúcidos. A vida fica melhor quando nós paramos de carregar a bagagem emocional dos outros.

 

Preguiça mata ambição, ciúmes mata paz, raiva mata sabedoria, medo mata sonho.” (Agora leia isso ao contrário) - Augusto Cury.

 

Se você gostou dessa surra filosófica, então chega mais:

 

  1. Leia mais artigos do blog - diretos, afiados e sarcásticos.

  2. Prefere ouvir? Temos tudo em versão áudio, sem cortes e sem filtros.

  3. Comente, critique, sugira, pergunte. Este espaço também é seu e a revolução começa na troca.

  4. Compartilhe com aquelas pessoas que vivem esperando migalhas e chamando isso de banquete.

  5. E claro, visite o site da UN4RT - o nosso backstage onde só os corajosos têm acesso. Lá tem conteúdo exclusivo e gratuito, nu e cru, só esperando por aqueles que realmente querem sair do script.

 

PS: Para o caso de alguém estar se perguntando como praticar isso tudo com pessoas próximas, tipo família, amigos… A resposta é simples: Com a mesma leveza de quem visita uma exposição, ou seja, admire, respeite… e vá embora. Mas, caso você queira esperar algo de alguém mesmo assim, a resposta seria: Esperar é humano, só não construa castelos em cima das promessas alheias...


 

 

“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade.” - UN4RT

 

 


Ah, dê uma olhada nas fontes, referências e inspirações que estão aí embaixo. Tire suas próprias conclusões e pare de ser papagaio dos outros.

 

  • Jean-Paul Sartre, Huis Clos (Entre Quatro Paredes).

  • Epicteto, A Arte de Viver  e Manual de Epicteto (Enchiridion).

  • Friedrich Nietzsche, Assim falou Zaratustra e A Gaia Ciência.

  • Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

  • Simone Weil, A Gravidade e a Graça.

  • Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação.

  • Jacques Lacan, Os Escritos.

  • Chico Xavier, médium e filantropo brasileiro. Embora a frase tenha sido amplamente divulgada como parte do seu pensamento, ela não aparece de forma explícita em uma obra única, mas sim em suas mensagens espirituais e conselhos durante suas palestras e escritos ao longo da vida.

  • Severo Snape, um dos personagens mais complexos e intrigantes da saga “Harry Potter”, escrita por J.K. Rowling.

  • Zygmunt Bauman, Amor Líquido: Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos  e Modernidade Líquida.

  • Cachorros de Pavlov, referência a um famoso experimento conduzido pelo psicólogo Ivan Pavlov, que demonstrou o princípio do condicionamento clássico. No experimento, Pavlov usou um som (estilo toque de campainha) sempre que oferecia comida a um cachorro. Depois de várias e várias repetições, o cachorro já começava a salivar apenas ao ouvir o som da campainha e, mesmo que não recebesse nenhuma comida. Isso ocorreu pois o som foi associado à comida, e o cachorro começou a responder automaticamente ao som com a salivação, sem a necessidade da presença da comida em si. Esse fenômeno mostrou como os comportamentos podem ser condicionados por associações com estímulos externos.

  • Augusto Cury, O Vendedor de Sonhos.

 

 

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Guest
há 2 dias
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amazing

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