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Resistência: A voz que vem de fora, mas mora dentro

  • Foto do escritor: UN4RTificial
    UN4RTificial
  • 31 de mai.
  • 17 min de leitura

Atualizado: 29 de jun.


Gravado por mim, sem cortes e edições, mas com áudio de qualidade :P

Já reparou que toda vez que estamos prestes a fazer algo importante, que nos fará crescer, evoluir e nos auto desenvolver, acontece alguma coisa que nos impede? É como se existisse uma trava de segurança que paralisa nossa realização. Essa “trava” pode ser em forma de um pensamento que diz para não seguirmos em frente ou através de comentários/julgamentos de pessoas próximas ou até mesmo como sentimentos que nos fazem congelar.

 

É como se tudo ao nosso redor se tornasse mais importante do que fazer aquilo que queremos fazer…

 

Não existe um ser humano sequer que já não tenha se deparado com essa “força” que se disfarça de consciência, bom senso e maturidade. Mas o que nós não sabemos é que ela é o eco do mundo, disfarçado de pensamento íntimo e que não se trata de preguiça ou indisposição. É mais como um mecanismo interno maquiavélico, quase que transvestido de prudência e perfeccionismo.

 

Estamos falando da Resistência é claro, algo que parece ter nascido do cruzamento incestuoso entre medo, condicionamento social e um sistema nervoso já cansado de levar porrada. Na maior parte do tempo, nós achamos que estamos escutando nossa consciência, quando na verdade estamos escutando a voz coletiva de tudo o que nos disseram para não ser.

 

O Sabotador de Gravata Borboleta

 

Ao contrário do que muitos pensam, a resistência não chega gritando ou metendo o pé na porta. Não, muito pelo contrário. Ela é sorrateira, tira os sapatos, entra de fininho e se acomoda no sofá da nossa mente com um sorriso sarcástico, pronta para iniciar o seu discurso.

 

A desgraçada é mais articulada do que político em ano eleitoral e mais convincente do que vendedor de pirâmide financeira. A resistência é, em sua excelência, o algoritmo mental mais potente que aprendeu a nos manter em “modo de segurança e economia de energia”.

 

Ela mais parece um comando, programado como um antivírus em nossa psique, que detecta qualquer tentativa de transcendência, rechaçando-a como se fosse uma ameaça. Pois é, tente escrever um livro, lançar um projeto, sair de um relacionamento falido, iniciar uma dieta… voilá, a resistência aparece.

 

Ela é o inimigo ardiloso dos artistas, dos criadores, dos empreendedores e dos apaixonados, mas acima de tudo de qualquer um que ousar querer sair da mediocridade. E não se engane, quando escutamos a voz da resistência, nós não estamos sendo “apenas realistas”. Não. Nós estamos sendo domados.

 

No Buffet da Autossabotagem, a Resistência é o prato de entrada

 

uma mulher careca parada em meio a um quarto com livros e telas de computador

A resistência é uma força ancestral e coletiva. Ela reverbera em nossa mente. Um eco das vozes da sociedade que disseram que você era medíocre, que não prestava para nada, que você era ordinária e desnecessária, burra e sem juízo, daqueles chefes que exigiram cada vez mais produtividade, mas mataram sua criatividade...

 

Com o tempo, todas essas vozes foram se tornando tão constantes que acabaram por virar uma parte da mobília mental. Elas se tornaram a resistência, aquela que adora uma resposta sofisticada, que usa terno, gravata borboleta e fala difícil, às vezes até citando alguns filósofos.

 

É aquela parte nossa que adora procrastinar projetos com a desculpa clássica: “estou amadurecendo a ideia”, mesmo quando a ideia em si já está podre de tão madura…

 

Não acredita? Te dou alguns exemplos:

 

  • “Estou esperando o momento certo.” (esse momento aí nem existe)

  • “Eu comprei mais um curso, custou baratinho. Esse vai me ajudar.” (tudo para adiar a ação só mais um pouquinho)

  • “Ah, mas o fulano já faz isso melhor do que eu…” (e daí?)

  • “Não quero parecer egoísta ou arrogante…” (então parecer medíocre é melhor?)

 

A sabotagem interna é um ciclo vicioso de baixa intensidade. Não mata de forma rápida, mas suga a vida em doses homeopáticas.

 

O Diagnóstico de um Mal Invisível

 

Se você ainda não leu “A Guerra da Arte” de Steve Pressfield, seria legal que o fizesse. Faça antes de resolver comprar mais um curso online que promete destravar sua produtividade e disciplina.

 

Steve fala da Resistência como a força mais insidiosa do universo criativo. É uma coisa, quase metafísica, que age contra qualquer impulso de evolução, inovação ou expressão autêntica.

 

Se em algum momento da sua vida, você tentou montar um negócio, eliminar peso ou simplesmente mudar aquele hábito nocivo (como fumar, por exemplo), e de alguma forma você fracassou misteriosamente… parabéns. Você já deu de cara com a Resistência.

 

O mais perverso dessa força é que ela se disfarça de racionalidade, usando os nossos próprios argumentos contra nós mesmos. Pressfield afirma: “… quanto mais importante é o projeto para a nossa alma, mais forte será a resistência…”, ”… a resistência é impessoal, implacável, inesgotável…”. Ela age como a gravidade, ela não quer saber da nossa biografia, apenas irá transformar nosso tropeço em queda.

 

O interessante é que, se nós reconhecermos sua existência e criarmos o compromisso diário com o nosso ofício (escrever, pintar, criar, meditar, viver com propósito…), nós também podemos superá-la. Não de uma forma heroica e definitiva, mas em batalhas diárias.

 

Pressfield nos introduz também à figura do Profissional, aquele que, diferentemente do amador, aparece todos os dias para fazer o trabalho. O Profissional pode estar com medo, sem inspiração, com dor de barriga… não interessa. Ele enfrenta a Resistência com disciplina e não com motivação barata.

 

O Medo como Capital Simbólico

 

Mas se você está aí, achando que a Resistência se trata apenas de uma questão individual, tanto Pressfield quanto outros pensadores poderiam discordar educadamente de você ou até te dar um tapa na cara metafórico...

 

Nós vivemos em uma sociedade que lucra com a nossa paralisia. Toda uma indústria está montada em cima da nossa baixa autoestima e falta de autovalorização. A máquina lucrativa do bem-estar espiritual, do coaching motivacional e até de certos nichos da psicologia pop explora justamente a lacuna deixada pela resistência: aquele buraco existencial do “eu poderia, mas não consigo”.


uma mulher careca com o rosto atravessado pelos simbolos da matrix

O resultado? Todo mundo gastando dinheiro em pílulas que prometem livrar da ansiedade e dar coragem, cursos de como encontrar propósito e, enquanto isso... a sociedade segue batendo palmas para o esforço inacabado. O fracasso, como sempre, sendo socialmente aceitável.

 

Todo mundo já falava dessa peste

 

Embora o Senhor Pressfield tenha batizado com o nome Resistência, não é novidade que diversos filósofos, pensadores e criadores de ambos os sexos e que ousaram viver fora da norma também já tenham sido vítimas dessa “força”.

 

Arthur Schopenhauer, aquele tio de cara triste, por exemplo, acreditava que a vida era dominada por uma “vontade cega” e irracional que nos empurra para a dor e o tédio. O que, em outras palavras, significa que a resistência seria uma consequência natural da nossa existência. Ela se trata de uma força que, se não for devidamente dominada, nos arrastará para a resignação.

 

Por outro lado, Angela Davis falou da resistência como ato político. Ela dizia que o ato de resistir se trata de sobrevivência e reinvenção, não só pessoal, mas coletiva. Quando decidimos enfrentar a resistência interna, estamos dizendo “não” às estruturas que nos querem inertes, conformados e calados.

 

O filósofo Søren Kierkegaard já falava que o maior desespero é não ser a si mesmo. A resistência age nesta ferida aberta, ela nos impede de sermos a nós mesmos, mas nos propicia o sermos como todos os outros. Ela assim o faz, não porque nos quer mal, mas porque ela é, de fato, a força da inércia fantasiada de autopreservação - e como toda força de inércia, ela só perderá quando a força da ação a superar.

 

O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, chamaria a resistência de “mecanismo de defesa do ego”. No momento em que estamos prestes a encarar nossos desejos mais profundos ou traumas mais intensos, nossa mente sempre dá um jeitinho de sabotar o processo.

 

Jung dizia que aquilo que mais tememos confrontar guarda o maior tesouro da nossa psique. O que, em outras palavras, significa que aquilo que ignoramos, resistimos e não queremos é, na verdade, exatamente onde deveríamos estar focando nossa atenção.

 

Nietzsche falou amplamente sobre superar o “homem comum”, em matar o “espírito de rebanho” para tornarmo-nos o Übermensch (além-do-homem/super-homem). Isso tudo, não no sentido fascista que alguns ignorantes interpretam, mas a fim de sermos seres que criam seus próprios valores. Porém, para que isso ocorra, se faz necessário silenciar o eco da moral imposta.

 

Simone de Beauvoir, em “O Segundo Sexo”, falava de resistência, expondo como a mulher é educada desde cedo para ser o “outro”, o coadjuvante, a sombra. Somos educadas a renunciar, a recuar, a duvidar de nós. Ela falava no quanto o outro nos define, nos limita e nos molda. Essa resistência seria, às vezes, apenas o reflexo do olhar do outro, tatuado a fogo em nossa testa.

 

Quando analisamos essas diferentes visões, percebemos um certo ar de dualidade. Enquanto alguns veem a resistência como prisão, outros a transformam em ferramenta de libertação. Digamos que é, exatamente em meio a essa tensão de opostos, que nós, indivíduos modernos, nos encontramos - entre nos deixar levar ou nos tornarmos mestres de nosso próprio caminho.

 

A questão é que a resistência, tal qual os deuses do panteão hindu, possui muitas faces… e, para enfrentá-la, é preciso reconhecer todas elas. Para isso, talvez devêssemos pensar um pouco mais como Albert Camus, que, ao olhar para o absurdo da vida, não se deixou cair no niilismo, mas encontrou sua própria liberdade. A resistência até pode nos dizer que é inútil tentar, mas a resposta camusiana é: sempre tentar e fazer mesmo assim.

 

Quando a Resistência “Veste” um Rosto Conhecido

 

Provavelmente você já deve ter assistido ao clássico The Matrix. No filme, o antagonista Agente Smith - aquele homem de terno escuro, óculos escuros, fala monocórdica (“… Why, Mr. Anderson? Why?, Why do you persist?...”) e presença onipresente - papel brilhantemente interpretado pelo ator Hugo Weaving. O cara não é só um vilão, mas o sistema encarnado, a resistência em sua forma mais pura e agressiva.

uma mulher careca vestida de terno e gravata usando óculos escuros

O que assusta não é o Smith em si, e sim o fato de que qualquer pessoa pode se tornar um agente. É muito fácil lembrar da cena em que um civil comum e aparentemente inofensivo presencia um potencial risco à estabilidade da Matrix e, em segundos, seu corpo é possuído pelo programa. E assim, como num passe de mágica, surge mais um Smith para manter a ordem.

 

É exatamente desta forma que a resistência age no mundo real. Ela infiltra-se em amigos bem-intencionados, na família superprotetora, nos casamentos… tudo para nos “poupar de frustrações”. Desta forma, frases do tipo surgem: “Você tem certeza...?”, “Não seria melhor esperar mais um pouco?”, “Eu no seu lugar faria…"...

 

Frases revestidas de carinho e atenção, mas embebidas na lógica da contenção. As pessoas que usam essas frases, inconscientemente, viram agentes da resistência. Claro que elas não se tratam de pessoas más, elas só foram plugadas no sistema que considera perigoso qualquer um que ouse sonhar fora dos padrões aceitáveis.

 

Identificação de Possíveis Agentes

 

Sim, eles estão por toda parte. Muitas vezes, nós somos eles - principalmente em dias de cansaço, baixa autoestima ou quando estamos vivendo no piloto automático. O maior problema não é que esses agentes/pessoas existam em nossa vida. O problema é quando nós damos ouvidos a eles.

 

Abaixo seguem alguns truques que podem ajudar na identificação de um “Agente Smith” infiltrado no seu cotidiano.

 

  • Possuem o hábito de projetar as frustrações deles nos outros - Tudo o que não tiveram coragem de fazer, tentarão nos impedir de realizar.

  • Sempre apelam para a lógica conservadora - Estabilidade, segurança e não se destacar demais. Esses são os argumentos utilizados. Não chamar atenção, ser somente mais um. Isso é com eles.

  • Muitos usam a palavra amor como arma - “Só digo isso porque me importo…”. Pois é, a maioria cai nessa, pois todos esquecem que um amor mal interpretado aprisiona o outro.

  • Quando estamos prestes a romper um limite interno, eles aparecem - Coincidência? Definitivamente, não. A resistência sempre sabe quando agir.

  • Gostam de zombar de forma discreta e sutil - Piadas sem graça, ironia e sarcasmo… o alvo? Seu sonho. Tudo, muito bem disfarçado de “brincadeira”.

 

Essa galera não usa terno, mas está por toda parte, inclusive no seu espelho. Pois é, às vezes, o Agente Smith mora dentro de nós - e nós nem percebemos.

 

Qual Pílula Escolher?

 

Neo inicia sua saga de forma insegura, frágil e duvidando de tudo, inclusive dele mesmo. Exatamente como nós, quando decidimos agir contra a resistência. O escolher a pílula vermelha, no fundo, não é sobre enxergar a verdade de uma vez só. É sobre decidir ver a verdade diariamente, mesmo quando ela é dolorosa.

 

A resistência odeia questionamentos, perguntas, movimento, improviso. O sistema ama e incita a previsibilidade e é por isso que qualquer ação criativa, ousada ou contraintuitiva é vista sempre como ameaça.

 

Toda vez que alguém reage com desdém ou medo ao que eu almejo, eu visualizo a cara do agente Smith. Vejo seus óculos escuros, sua testa franzida e seu tom de voz robótico. E então eu pergunto-me: É essa a pessoa que irá definir a minha vida?

 

Essa ação pode parecer extrema para alguns, mas lembre-se: a voz da resistência pode vir da sua tia ou com a assinatura do RH da sua empresa. Portanto, se estivermos vivendo de acordo com a nossa verdade, nós estaremos fora da Matrix, mesmo que ainda estejamos aprendendo a voar.

 

Quando o Gatilho vira Granada

 

Já sabemos que a resistência é uma mestra da manipulação, que ela não entra pela porta da frente e anuncia sua presença. Portanto, é bom que saibamos que ela também pode entrar rastejando pela fenda deixada pelo passado mal resolvido.

 

Ela vasculha nossos traumas tal qual um hacker emocional faria e, uma vez que encontre algum gatilho, transforma qualquer frase inocente em um cenário de guerra.

 

Sabe aquele comentário bem bobinho de alguém, que não deveria ter nos afetado tanto, mas nos faz explodir? É, pois é.

 

Ela se alimenta daquilo que não curamos, daquilo que varremos para baixo do tapete persa da mente. Não importa se isso foi uma rejeição na infância ou um abuso disfarçado de brincadeira, uma comparação feita entre irmãos e até mesmo o silêncio depois da primeira desilusão amorosa pode servir de munição.

 

A resistência irá reciclar nossos traumas e bloqueios, colocando-os na boca dos outros. E esses outros, muitas vezes, são os mais próximos, queridos e íntimos.

 

Por isso, não se engane. Não serão os haters da internet que mais te impedirão de crescer. Serão aqueles que amamos. Não por maldade! Mas porque essas pessoas, muitas vezes, têm medo, medo de nos perder, medo que mudemos e as deixemos para trás… Assim, nossos gatilhos acabam por virar verdadeiras granadas emocionais.

 

Uma simples frase como “Você está diferente ultimamente…” pode se transformar em uma discussão ridícula. Tudo isso por quê? Porque toca naquele ponto onde ainda sangramos. Aquele trauma de não nos sentirmos aceitos, de sermos rejeitados e julgados… e isso é o que a resistência mais adora.

 

Esse ciclo de sabotagem acontece de forma silenciosa, além disso, se trata de algo socialmente aceito. Começamos a nos moldar a fim de não “incomodarmos”, para evitarmos o “conflito”, para não nos “indispormos” e mantermos as coisas “em paz”. Mas adivinha? Essa paz aí se torna o túmulo onde a nossa evolução e crescimento têm seu descanso eterno.

 

O que enfraquece a Resistência

 

Enquanto permitirmos que o nosso passado dite o nosso presente, a resistência sobreviverá. E isso não é papinho motivacional barato, é apenas biologia. O nosso cérebro reage a gatilhos com o mesmo nível de ameaça de um assalto à mão armada. Ele paralisa e nos faz reagir feito uma criança assustada e não como um adulto consciente.

 

Em função disso, o curar-se não é mais um luxo, é estratégia de guerra. Cada trauma que nós reconhecemos, nomeamos e processamos se torna um pedaço de arsenal que retiramos das mãos da resistência. Cada conversa difícil que enfrentamos com vulnerabilidade torna-se uma armadura construída por nós.

 

Não devemos esperar que os outros mudem para que possamos nos libertar. A iniciativa da mudança começa por nós. Mudamos para que os outros revelem suas verdadeiras intenções. Se algumas de nossas relações irão acabar? Sim, mas somente aquelas que funcionavam tendo como base a nossa versão limitada.

 

Pois, se tem uma coisa que a resistência odeia é quando nós nos curamos. Quando nos curamos, passamos a agir diferente. Passamos a responder com clareza onde antes havia raiva. Começamos a dizer “não” onde antes havia apenas silêncio. Passamos a acreditar mais e a dizer “sim” para nós mesmos e isso, queridos, é a maior afronta que podemos fazer ao sistema.

 

Quanto menor o alvo, mais difícil de acertar

 

Imagine o seu ego como um alvo, aquele com um círculo vermelho no centro. Quanto maior esse alvo for, mais fácil será para qualquer um - independente de amigo, parente ou desconhecido - acertá-lo em cheio com críticas, desprezos sutis, julgamentos e olhares enviesados.

 

uma mulher careca parada em meio a um quarto com livros e telas de computador

Agora, imagine que esse alvo encolha significativamente. Digamos que ele diminua até caber em nosso bolso. Fica muito mais difícil de acertá-lo, não é? Pois é. Essa é a ideia que eu faço de um ego saudável. Pequeno, centrado e firme. Ele é invisível quando precisa e presente quando necessário.

 

A resistência sempre vai querer inflar o nosso ego. Quanto maior, melhor, pois um ego grande e pomposo é sempre muito mais fácil de ferir - e quanto mais ferido ele for, mais vulnerável a pessoa estará para a autossabotagem.

 

A Síndrome da Vítima Universal

 

Quando levamos tudo a sério demais, tudo vira ataque. Uma opinião divergente se torna uma ofensa. Uma crítica construtiva se torna desrespeito. Além disso, toda e qualquer forma de desacordo será vista como uma ameaça direta à nossa identidade.

 

O ego desproporcional, aquele que necessita de aprovação, reconhecimento e validação externa, é o alvo que a resistência mais gosta. Ela sussurra no ouvido do ego inflamado: “Você é especial demais para fracassar…”. Quando lá no fundo, ela gostaria de dizer: “Você não deve arriscar absolutamente nada, porque não suporta falhar.” O velho truque do falso orgulho, aquele que se disfarça de autoestima.

 

Mas, por mais paradoxal que pareça, quando conseguimos diminuir nosso ego, é aí que crescemos por dentro. Quanto menos espaço nosso ego tomar, mais lugar sobra para tentarmos sem medo de parecermos ridículos.

 

Nietzsche amava um paradoxo e dizia que “… você precisa ter caos dentro de si para poder dar à luz uma estrela dançante…”. Isso se torna possível no momento em que desinflamos nosso ego ao ponto de podermos nos mover com maior liberdade. Um ego inflado é como uma prisão invisível, estaremos sempre mais preocupados com o que aparentamos ser, do que com o que realmente somos.

 

A resistência trabalha duro para que nós nos ofendamos, para que nós retruquemos, para que briguemos… tudo em prol de defender algo que não precisa ser defendido. Ela quer sempre manter nosso ego como um alvo fácil, destacado, exposto, carente e emocionalmente dependente da opinião dos outros.

 

Algumas formas de enfrentar a Resistência, educar o Ego e Crescer como Ser Humano

 

  • Dê nome aos bois - identifique a voz da resistência, personalize-a se quiser, utilize uma frase do tipo “Salta para o campo, princesa” (Spring ins Feld, Prinzessin!).

  • Seja ridículo de vez em quando - faça isso de propósito, conte piadas ruins, use roupa brega, dance e cante em público. Isso desestabiliza a vaidade.

  • Estabeleça micro-metas - elas podem ser absurdamente pequenas, não interessa. A ideia é te levar até o próximo passo.

  • Peça desculpas por primeiro - independente de você ter razão ou não, peça desculpas. Isso ajuda a educar o orgulho.

  • Escreva para a resistência - escreva uma carta, dialogue com ela como se ela fosse um ex-namorado tóxico.

  • Ouça críticas sem rebater - anote, analise e talvez aprenda algo com elas.

  • Questione suas desculpas como se fosse Sherlock Holmes - investigue quais as desculpas que você adora dar para você mesmo e os outros, depois pergunte-se por que você as usa.

  • Fale menos sobre si mesmo - em conversas, interesse-se genuinamente pelo outro, caso contrário, não converse com ninguém. O ego sempre esperneia com essa, ignore-o.

  • Visite sua “caverna do medo” uma vez por semana - sim, analise e questione seus medos. Saiba exatamente por que você ainda os carrega.

  • Cite seus pensadores favoritos - Use citações como quem usa uma arma. “Nietzsche disse: torna-te quem tu és, então cala a boca, resistência.”

  • Saia imediatamente da caverna de Platão - se você está sentindo dor ao encarar a claridade do dia de forma consciente, então parabéns, você deixou a caverna.

  • Adote a dúvida como filosofia - o ego ama certezas e a resistência também. Nós evoluímos por meio das perguntas, portanto use isso a seu favor, não contra.

  • Volte amanhã - não deu certo hoje? Sem problemas, amanhã você tem mais uma chance. A resistência odeia persistência.

 

A Resistência não nos quer mortos, ela nos quer neutralizados

 

Para deixar bem claro. A resistência não quer que desistamos, ela quer apenas que nós nos tornemos inofensivos, medianos, silenciosos, previsíveis… Em suma, que nós continuemos existindo sem viver de verdade. Ela quer nos ver postando stories motivacionais, enquanto evitamos confrontos reais. Ela quer nos observar enquanto lemos sobre espiritualidade, mas sem meditar sequer uma vez ou aplicar o que acabamos de ler. Ela quer que a gente diga, eternamente, “um dia eu vou…” até o nosso último suspiro.

 

A resistência sempre irá se adaptar, evoluir e, às vezes, ela até irá parecer uma aliada, mas o que ela realmente almeja é que nós continuemos no limbo existencial confortável, aquele que fica entre a ação e o potencial. A ideia é que continuemos sendo zumbis emocionais com aparência de pessoas bem-sucedidas.

 

E a única saída para essa merda toda é o enfrentamento consciente. É quando desenvolvemos coragem emocional para nos posicionar diante da vida e dos outros. Não como mártires, mas como indivíduos que finalmente entenderam que viver se trata de um ato criativo.

 

A resistência é a voz de um sistema que está, também, dentro de você, tentando te manter exatamente onde você está. Não a escute mais. Faça algo. Comece de uma vez. Se errar, tudo bem, ria. Se doer, se trate. Mas, não pare, não mais!

 

Bom, se você curtiu esse artigo, continue explorando os outros aqui do blog. Interaja, deixe seu comentário, sua crítica, suas sugestões, perguntas, histórias enfim… faça alguma coisa! E, é claro, recomende esse blog para quem precisa ouvir ironias com afeto.

 

Ah, se você é do tipo que gosta de conteúdo mais underground, nu e cru, acesse o site da UN4RT - nosso backstage gratuito, mas reservado apenas para as mentes mais exigentes, inquietas e livres.

 

PS: Algumas informações finais dignas de serem citadas.

  1. A resistência nem sempre será negativa, ela pode sinalizar as áreas importantes da vida onde existe medo, traumas não resolvidos, bloqueios inconscientes… Enfrentá-la leva sempre à evolução pessoal.

  2. Para saber se você está agindo por você mesmo ou por influência da resistência, questione-se: “Estou evitando isso por medo ou por escolha consciente?” A resposta será muito clara caso você seja honesto consigo mesmo.

  3. As pessoas próximas podem, muitas vezes, reforçar a resistência em função de proteção inconsciente, medo de perder ou até simplesmente porque também estão dominadas pela própria resistência.

  4. A terapia, quando facilitada por um bom profissional, ajuda a identificar os padrões, resgatar a autonomia emocional e desmontar os mecanismos invisíveis da autossabotagem. Tudo isso ajuda efetivamente no combate a resistência.

  5. Não é possível viver sem a resistência. Ela é onipresente, sempre irá existir. A diferença é que, quando agimos conscientemente, a tornamos menor e enfraquecida. Mas para isso é necessário que estejamos em movimento, em criação e, acima de tudo, em presença.



 

 

“A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” - UN4RT

 

 



Pega aí as fontes, referências e inspirações. Boa sorte!

 

 

  • Steve Pressfield, A Guerra da Arte.

  • Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e Representação.

  • Angela Davis, A Liberdade é uma Luta Constante.

  • Søren Kierkegaard, O Desespero Humano.

  • Sigmund Freud, Inibições, Sintomas e Ansiedade, A História do Movimento Psicanalítico e Conferências Introdutórias à Psicanálise.

  • Carl Gustav Jung, Aion: Estudos sobre o Simbolismo do Si-mesmo.

  • Friedrich Nietzsche, Assim Falou Zaratustra e Ecce Homo.

  • Simone de Beauvoir, O Segundo Sexo.

  • Albert Camus, O Mito de Sísifo.

  • The Matrix, filme de ficção científica lançado em 1999, escrito e dirigido pelas irmãs Lana e Lilly Wachowski. É considerado um marco do cinema por sua profundidade filosófica, estilo visual inovador e por popularizar o conceito da “realidade simulada”.

  • Agente Smith, é um programa de inteligência artificial criado pelas máquinas dentro da Matrix. Sua função original é manter a ordem e eliminar ameaças ao sistema, como Neo e os humanos despertos. Ele é uma espécie de "anticorpo do sistema", que age contra tudo o que tenta perturbar o status quo.

  • “… Why, Mr. Anderson?. Why?, Why do you persist?...”, Essa frase ocorre no clímax final do terceiro filme da franquia Matrix, "The Matrix Revolutions" (2003), durante a última batalha entre Neo e o Agente Smith, em uma versão chuvosa e apocalíptica da Matrix. Smith, já corrompido em um vírus descontrolado e cínico, questiona isso a Neo em tom de desprezo e incompreensão. Traduzindo para o português seria: Por quê, Sr. Anderson? Por quê? Por que você insiste (ou persiste)?

  • Hugo Weaving, é um renomado ator australiano, nascido na Nigéria. É conhecido por sua presença e voz marcantes e por interpretar personagens icônicos, como: Agente Smith na Trilogia The Matrix (1999–2003), Elrond nas Trilogias O Senhor dos Anéis (2001–2003) e O Hobbit (2012), V (voz e corpo) no filme V de Vingança (2005) e Crânio Vermelho (Red Skull) no filme Capitão América: O Primeiro Vingador (2011)

  • Neo, protagonista da série de filmes The Matrix, interpretado por Keanu Reeves. Seu nome verdadeiro no mundo real é Thomas A. Anderson, um programador de software que vive uma vida dupla como hacker codinome Neo. Ele representa o "escolhido" — uma figura messiânica destinada a libertar a humanidade da ilusão da Matrix, um mundo simulado criado por máquinas para manter os humanos sob controle.

  • Spring ins Feld, Prinzessin!, se trata de um ditado alemão que, basicamente, significa “Vai para o mundo, princesa!”, um chamado a sair da segurança da zona de conforto e encarar o mundo real. Essa frase é muito usada aqui em casa pelo outro UN4RT.

  • Sherlock Holmes, personagem fictício criado pelo escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle em 1887. Ele é considerado o detetive mais famoso da literatura e um ícone da cultura ocidental, conhecido por seu intelecto afiado, lógica implacável e habilidade em resolver crimes complexos com base na arte da dedução.

 

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