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Por que nos sentimos perdidos?

  • Foto do escritor: UN4RTificial
    UN4RTificial
  • 8 de ago.
  • 11 min de leitura

Atualizado: 19 de ago.

Gravado por mim, sem cortes e edições, mas com áudio de qualidade ;P

A sensação de estar perdido não é exatamente nenhuma novidade na história da humanidade.


Desde que deixamos de caçar mamutes e iniciamos o pagamento de contas, as nossas noções de confusão existencial apenas trocaram de narrativa: saímos do campo aberto para os escritórios e fábricas.


Há quem diga que essa “perda de rumo” se trata apenas de um sintoma moderno, um simples efeito colateral da hiperconectividade contemporânea. Quando, na verdade, desde a Grécia Antiga, filósofos e pensadores já se questionavam a respeito do sentido da vida.


Sócrates se perguntava: “Quem sou eu?”, Diógenes respondia com um olhar cínico, enquanto vivia em seu barril, rindo da seriedade das pessoas. Hoje, este “barril” se tornou, em alguns casos, um apartamento de 40m² financiado em 30 anos. Os tempos podem ter mudado, mas as ironias continuam as mesmas.


Será que a sensação de rodar em círculos realmente se trata de um problema ou é apenas uma característica inevitável daqueles que respiram e pensam?


“Afinal, por que nos sentimos perdidos, mesmo diante de tantas opções?”


Estamos vivendo em uma era em que temos opções de aplicativo para praticamente tudo. Podemos pedir comida, encontrar o amor, chamar um carro, meditar, nos distrair… A lista é longa.


Em meio a isso, percebemos que não existe aplicativo, site, IA ou rede social que seja capaz de nos dizer com precisão qual é o nosso papel no mundo. Não existe algoritmo que substitua a complexidade da experiência humana, e isso não é por falta de tentativas na criação de uma inteligência que nos responda o porquê das coisas serem como são.


A ilusão do GPS existencial é quando acreditamos que existem caminhos certos, lineares e seguros para seguirmos. Parece que, muitas vezes, entendemos a vida como uma espécie de bússola espiritual automatizada: “Em 300 metros, vire à esquerda em rumo à felicidade plena”.


O querido e mal compreendido Nietzsche costumava dizer que precisamos criar nossos próprios valores, pois o “mapa” universal das ideias de moralidade desmoronou.


Jung falava sobre a integração da “sombra”, o lado obscuro e reprimido de nossa psique, pois só assim nós realmente nos conheceríamos. Essa ideia soa muito poética, mas isso é só até percebermos que, para integrarmos a nossa sombra, nós precisamos encará-la nos olhos.


Teríamos que nos despir da persona que usamos para interagir com o mundo, dizendo adeus aos sorrisos falsos e as frases do tipo: “está tudo bem!”, quando, na verdade, tudo está menos do que bem.


O Marketing da Positividade


Digamos que, se o status quo fosse uma religião, o seu principal mandamento seria: “Serás o tempo todo feliz, ou morrerás tentando.”


As nossas narrativas atuais nos vendem um cardápio interminável de soluções para os nossos problemas, mesmo aqueles que não temos. Navegamos em meio a um mar de cursos de produtividade, mindset milionário, coaching, livros de autoajuda, retiros espirituais, terapias diversas, e até mesmo consultorias e masterclasses que nos ajudam a encontrar o nosso propósito.


UN4RTificial - ciborg de uma mulher careca

A diversificação deste mercado, bem como a busca por ajuda, não são atos a serem condenados. A questão aqui são as interpretações diversas que navegam em meio às entrelinhas destas práticas, ferramentas e métodos que, muitas vezes, são vendidos como estilos de vida 100% eficazes.


Ao acreditarmos que a felicidade é algo que pode ser comprado com dinheiro ou promessas de uma vida perfeita e sem limites, muitos de nós acabam presos em um novo ciclo. A cada nova técnica ou método milagroso que compramos, renova-se a motivação. E esta, dura quanto tempo?


Quando não conseguimos manter a constância, criar disciplina ou seguir cegamente o passo a passo, o vazio retorna e a cobrança interna também, só que agora acompanhados de 12 prestações a serem pagas. Desta forma, parte-se em busca de uma nova solução, seja ela mais uma técnica, mais um método, mais um emprego ou mais um agente externo que preencha o nosso espaço interno.


Estoicos, como Sêneca, já nos alertavam. Eles diziam que a vida é repleta de incertezas, e a busca por eliminar o sofrimento é inútil. O objetivo não seria evitarmos o caos a qualquer custo, mas sim aprendermos a dançar com ele, a vê-lo como um fenômeno de mudanças – o caos criativo, que nos impulsiona a seguir em frente, a nos abrirmos para as nossas próprias soluções. Afinal, quem sabe melhor sobre a nossa própria vida do que nós mesmos? Ninguém calça os nossos sapatos e não existe método ou passo a passo no mundo que substitua o nosso próprio entendimento de nós mesmos.


Mas, vivendo em uma sociedade onde é preferível a venda de ilusões de conforto, é óbvio que possamos nos sentir ainda mais perdidos. Principalmente, quando percebermos que o pacote “felicidade premium” não funciona com a eficácia que vinha impressa em sua embalagem.


A Cultura da Comparação


Nada nos deixa mais confusos do que a insistência que possuímos em nos comparar com os outros. O ditado popular: “O gramado do vizinho é sempre mais verde.” (clique aqui para ler o artigo sobre isso), nunca foi tão profético e universal.


Essas comparações mentais são alimentadas pela lógica de “escassez emocional”, ao vermos os outros felizes – mesmo que sejam apenas aparências – podemos pensar que estamos falhando em alguma coisa. E, como resultado, perde-se a referência interna. Em vez de nos perguntarmos “O que eu quero?”, passamos a nos perguntar “O que é aceitável querer para não parecer um fracassado?”.


Quando refletimos com mais coerência sobre nossas crenças, percebemos que esses mecanismos comparativos são apenas repetições herdadas. Elas ainda estão presentes, simplesmente porque não nos questionamos sobre elas.


A Ideia de Separação

 

Ao contrário do que escutamos, é curioso perceber que o se sentir perdido não se trata apenas de uma questão mental. O nosso corpo também dá sinais muito claros de que algo precisa mudar. Cansaço crônico, insônia ou excesso de sono, dores e alergias sem causa aparente, tudo isso pode ser o nosso físico gritando: “Ei, você está ignorando o que realmente importa.”


Nós ainda possuímos certas crenças cartesianas que colocam o nosso corpo em segundo plano. Estas crenças vêm se agravando ao longo dos anos, uma das consequências desta visão separatista é o crescimento da produção de alimentos altamente processados.


Damos, muitas vezes, preferência a substâncias altamente palatáveis que nos alimentam, mas não nutrem. Um exemplo disso é a diferença de preço: substâncias comestíveis se tornaram muito mais baratas do que os alimentos naturais, aqueles que nossos antepassados plantavam e colhiam.


O filósofo Maurice Merleau-Ponty foi um dos tantos que defenderam e ainda defendem o fato de a nossa consciência não ser algo separado do nosso corpo, nós somos o corpo.


Na vida moderna, a nossa mente virou uma espécie de painel de controle lotado de notificações e botões vermelhos, já o nosso corpo… bem, ele passou a servir apenas para carregar a nossa cabeça até o próximo objetivo.


Reconectar-se com o próprio corpo, seja por meio de caminhadas, exercícios que utilizam o nosso próprio peso, meditação, diálogos com nós mesmos, cozinhar sem pressa utilizando produtos naturais…, nos ajuda, tanto na resolução de nossos dilemas existenciais quanto na percepção de que estamos nos cobrando mais do que vivendo.


O Labirinto das Escolhas

Ao escutarmos as histórias e vivências de nossos avós, percebemos que as opções de vida até podiam ser poucas, porém eram muito claras. Hoje, temos uma “liberdade” maior dentro do nosso escopo de escolhas.


Essa diversidade de profissões, conhecimentos e marcas de shampoo até pode parecer algo libertador. Mas, para muitos de nós, essa infinidade de possibilidades pode ser também paralisante.


UN4RTificial - uma mulher careca em arte surrealista

O filósofo existencialista Jean-Paul Sartre dizia que “estamos condenados à liberdade”, o que significa que cada escolha, mesmo a mais ínfima, carrega o peso de todas as outras as quais deixamos de escolher. Portanto, para quem se sente perdido, essa visão funciona, praticamente, como mais um galão de gasolina despejado em cima do fogo da indecisão.


Expectativas Terceirizadas

Agora, se existe um combustível que alimenta ainda mais o incêndio do "Por que nos sentimos perdidos" e, consequentemente, a nossa confusão mental, é: as expectativas - nossas e alheias (clique aqui para ler o artigo sobre isso).


Desde tenra idade, nós recebemos um manual invisível escrito pelas crenças familiares, sociais e culturais. Este manual diz o que é “ser bem-sucedido”, “ser responsável”, “ser adulto”, praticamente ele nos diz como devemos ser para sermos aceitos e vistos como membros da sociedade.


Até certo ponto, não há problema algum nisso. Porém, esse manual, na maioria das vezes, não leva em consideração quem nós realmente somos. Poderíamos querer viver de estudos e escrita, mas a narrativa grita que o certo é buscar “um emprego vitalício”, sendo que este, muitas vezes, é relacionado a algo o qual não temos real interesse.


Uma consequência possível deste cenário é que passamos a viver uma vida projetada para outros, não importando se estes são nossos pais, amigos ou estranhos. A vida e a carreira que deveríamos escolher para nos satisfazer se tornam uma limitação de escolha.


Søren Kierkegaard falava muito a respeito de que “a maioria das pessoas vive em um estado de desespero silencioso”, justamente por escolherem seguir caminhos que não escolheram de forma consciente. E, o que é mais irônico nisso, quanto mais se tenta atender às expectativas, mais nos afastamos de nós mesmos e, por consequência, ficamos ainda mais perdidos.


O Medo

Um dos motivos que intensifica toda a confusão é quando evitamos o silêncio e o vazio a qualquer custo. Nesses momentos, paradoxalmente, é quando encontramos mais distrações: televisão ligada, celular à mão, música nos fones de ouvido, qualquer coisa serve para não encararmos o eco das nossas próprias perguntas.


O vazio, por mais que tenhamos aprendido o contrário, nunca foi nosso inimigo. Ele é um terreno fértil, de onde imergem as soluções das quais não somos capazes de perceber em meio às tantas distrações.


É nele que as novas ideias nascem e que a intuição fala mais alto. Filósofos como Pascal possuem extenso material sobre o assunto. Ele já dizia que “toda a infelicidade do homem provém de não saber ficar quieto em seu quarto”. Nós trouxemos, hoje, para dentro de nosso quarto, ambiente de descanso e acolhimento, timelines infinitas. O que faz com que prestemos muito mais atenção a elas do que a nós mesmos.


Aceitar o nosso próprio vazio como uma parte natural de nossa existência pode não ser algo que aconteça em um estalar de dedos. Exige, sim, a coragem de desligar o barulho externo e encarar o que sobra. E, que sobra, muitas vezes, somos apenas nós, sem filtros nem distrações.


As Armadilhas

Existe uma narrativa popular de que todos nós possuímos um propósito fixo ou único, como uma espécie de missão secreta à espera de nós a descobrirmos. Essa ideia, mesmo que sedutora, também exige uma certa cautela. Pois, se acreditamos na existência de um único propósito ou caminho específico o qual precisamos tomar as decisões certas para encontrá-lo, nós passamos a viver com ansiedade.


UN4RTificial - rosto de uma mulher careca com pinturas artísticas

A filosofia oriental, especialmente o taoísmo, nos sugere algo bem diferente: em vez de perseguirmos um destino fixo, que vivêssemos de forma alinhada ao fluxo natural da vida (o Tao). Isso significaria aceitar as mudanças de rota, os interesses temporários e as múltiplas paixões que surgem ao longo da nossa existência.


Talvez, a ideia de “propósito” tenha muito mais a ver com a nossa forma de caminhar, do que com um endereço final.


A Nossa Bússola Interna

Como não podemos comprar um GPS existencial, que tal afinarmos a nossa bússola interna?


Sim, isso existe e se chama: Autoconhecimento a partir do autoquestionamento.


Quando observarmos nossas reações às situações e questioná-las quando necessário, passamos a perceber e a entender de uma maneira mais ampla, os nossos gatilhos emocionais. Aprendemos sobre o que nos faz avançar e o que nos prende a ciclos infrutíferos. O autoconhecimento nos ensina a diferenciar o que de fato queremos, daquilo que fomos treinados para querer.


O filósofo estoico Epicteto falava: “Não são as coisas em si que nos perturbam, mas as opiniões que temos sobre elas.” Ao conhecermos essas opiniões, e de onde elas vêm, se trata de um grande passo para sairmos da sensação de estarmos perdidos.


O Tempo e a Nossa Confusão

É inegável que o tempo é um dos maiores ilusionistas da existência. Quando somos jovens, parece que ele se arrasta. Mas quando envelhecemos, ele voa.


A sensação de estarmos perdidos, muitas vezes, vem por meio da percepção de que “o tempo está passando” e nós ainda não “chegamos lá” – seja lá onde esse “lá” for.


Heidegger, o filósofo que já se intrigava com o tempo, falava que viver de maneira autêntica significa reconhecer a nossa finitude e que deveríamos usar o tempo como um aliado, e não como um carrasco.


O nosso problema, neste contexto, talvez não seja a “falta de tempo”, mas sim o não saber o que queremos fazer com ele.


E se a lógica não der conta?

A sensação de estar perdido não significa, em nenhum momento, que possamos estar completamente à deriva. Pequenos hábitos, quando inseridos em nossa rotina, podem funcionar com grande eficácia. Eles nos proporcionam uma espécie de âncora no meio da confusão.


Isso não quer dizer que tenhamos que seguir uma rotina rígida e inflexível, mas sim criar pontos de referência que nos lembrem quem somos. Não importa se estas pequenas ações são em forma de um café da manhã tranquilo sem celular, um caderno de anotações, alguma forma de exercício físico ou até mesmo um momento diário de silêncio.


Essas pequenas âncoras podem não eliminar completamente a dúvida, mas nos auxiliam a navegar por ela sem sermos engolidos. Seria como se usássemos boias salva-vidas para atravessar um rio extenso, nós ainda precisaremos nadar, enquanto sabemos que não afundaremos.

 

Aceitação

Em meio às nossas rotinas, talvez a maior virada de chave que podemos ter neste momento seja entender que se sentir perdido não é um problema, não é um defeito, não é um sinal de fracasso. É simplesmente um lembrete de que estamos vivos, procurando fazer o nosso melhor ao mesmo tempo que nos movemos por territórios desconhecidos.


UN4RTificial - mulher careca com uma espiral surrealista na testa

A própria palavra “encontrar-se” pressupõe que, em algum momento, nós estivemos perdidos. Isso pode ocorrer em diversos estágios de nossa vida, onde cada transição – trabalho ou carreiras novas, mudanças de cidade ou país, fins e começos de relacionamentos – um pedaço de nós precisará se reorganizar.


O truque é parar de vermos isso como falhas e começarmos a encarar como oportunidades para nos reinventar.


O Luxo de Estar Perdido

Se pararmos para pensar, o sentir-se perdido é um privilégio da consciência.


Uma pedra não se sente perdida. Um gato, provavelmente, também não. Mas, nós sim, porque temos pensamentos demais e pensamos de menos.


Talvez, o estar perdido seja “o preço” de termos liberdade. Como diria Sartre: “a liberdade é o que você faz com aquilo que foi feito de você”. E, se for assim, estar perdido não é um problema a resolver, mas sim um estado a se atravessar.


Simplificando

Sentir-se perdido é normal. É resultado da liberdade, das expectativas externas, das comparações, do excesso de escolhas e da dificuldade de ouvir a si mesmo. Não existe uma fórmula pronta que evite isso. Mas o que existe são pequenas práticas, reflexões, questionamentos e coragem para vivermos em meio às possíveis incertezas da vida.


Na minha visão, essa busca excessiva por “encontrar-se” pode ser tão opressora quanto estar perdido.

Talvez seria um negócio melhor se nos permitíssemos viver sem precisar saber o próximo passo o tempo todo. Às vezes, é no improviso que encontramos nossos momentos e ideias mais autênticas.


Obs.: a ideia para escrever este artigo surgiu exatamente no dia em que eu deveria postá-lo, ou seja, quando, ao me sentir perdida por não saber sobre o que escrever, foi que este tema surgiu. Até nos momentos de autocobrança, nós podemos tirar algumas lições.


No fim das contas, podemos dizer que o autoconhecimento é essencial, e não um luxo. Portanto, se você leu até aqui, convido-o(a) a refletir sobre o que realmente importa para você hoje.


Assim chegamos ao fim de mais um artigo, interaja (ou não) deixando seus comentários, sugestões, perguntas, reclamações ou apenas recomendando este texto para alguém que também está “se procurando”.


Visite nosso site oficial UN4RT, o nosso backstage gratuito com conteúdos exclusivos e, um tanto quanto ousados (no bom sentido, é claro).


E, além disso, se você quiser, pode apoiar este projeto acessando o nosso perfil no “Buy Me A Coffee”, lá você encontra materiais gratuitos, e-books escritos por nós, plano de membros e muito mais.


Obrigada e até a próxima!




A ilusão se desfaz quando questionamos a realidade” – UN4RT




Fontes, referências e inspirações a vista. Faça uma viagem segura!


5 comentários

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Vitor
23 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Épico!1!!1!

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Convidado:
22 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

😱

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UN4RTificial
UN4RTificial
22 de ago.
Respondendo a

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Lele
10 de ago.
Avaliado com 5 de 5 estrelas.

Ouvir o texto exatamente no momento em que se está perdida é deixar bastante perdida 😅

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UN4RTificial
UN4RTificial
22 de ago.
Respondendo a

"Coincidências" da vida hehe 😅🖤

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